Sotelo: Dilma, governar com o povo ou para quem quer o destino de Zelaya?

Tempo de leitura: 5 min

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Quem ganha com o povo governa com o povo

por Márcio Sotelo Felippe, em Justificando

Por volta de 20,15 hs da noite de domingo último quem assistia a Globo News já vislumbrava que Dilma estava reeleita lendo as expressões faciais desoladas dos comentaristas.

Não muitos minutos após a confirmação matemática da vitória o tema STF emergiu. Lembrou-se que Dilma deverá nomear até 2018 cinco ministros do STF.

O que explica que temas tão candentes de macroeconomia, como política de juros, salários, inflação, crescimento, empregos, etc., não tenham sido os primeiros a vir à mente do jornalista? O que explica que um assunto que sempre foi distante das preocupações do eleitor, em tal momento pelo menos, em que se apurava o resultado de uma eleição presidencial, emergisse imediatamente na emissora que é um dos polos – talvez o mais relevante – do conservadorismo cuja derrota havia sido então anunciada?

Lembrar de alguns fatos não muito longínquos pode nos ajudar a entender isto.

O golpe contra Lugo no Paraguai somente foi possível com a eficaz cumplicidade do Judiciário. O jurista Pedro Estevam Serrano lembrou na ocasião, tendo tido a paciência de deter-se sobre a Constituição do Paraguai, que um infrator de trânsito teria mais recursos de defesa do que o concedido ao presidente privado de seu mandato.

O presidente Zelaya, de Honduras, foi preso por ordem judicial e em seguida embarcado em um avião para a Costa Rica.

Aqui houve a violação de regras triviais de Direito Penal e Processo Penal para condenar políticos na Ação Penal 470 (“mensalão). Muitos de nós, juristas comprometidos, não com alguma militância partidária, mas com os cânones iluministas do bom Direito, denunciamos isto incansavelmente (e até o extremamente conservador Ives Gandra o fez).

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Vimos a sessão do STF, transmitida pela televisão para todo o país, em que o ministro Joaquim Barbosa dirigia sorrisos e palavras de escárnio a um colega que propunha uma pena que redundaria em prescrição. E então ficamos sabendo que as normas do Código Penal relativas à dosimetria da pena estavam sendo descumpridas pelo relator Barbosa para que a pena de prisão fosse aplicada a políticos de projeção nacional. E assim foi, na véspera de um 15 de novembro, em um estapafúrdio espetáculo midiático.

A conclusão é que a direita deu-se conta de que pode perder eleições, mas ainda assim conservar parte do poder pela utilização de um dos instrumentos mais importantes do aparelho do Estado, o Judiciário, e por meio dele dar golpes que antes eram dados pela força das armas. Não vivemos mais o tempo dos golpes militares. Este é o tempo dos golpes constitucionais.

Uma leitura política – mas também psicológica – daquele comentário na Globo News a respeito do STF, minutos após a confirmação da reeleição de Dilma, seria a de um consolo, para si e/ou para os frustrados eleitores de Aécio: “calma, não é assim tão grave, ainda temos o STF”.

Considerando algumas das nomeações para a mais alta Corte do país feitas nos últimos 12 anos, o alívio do pessoal da Globo e a nossa preocupação procedem. Nisto, os últimos governos ganharam a eleição mas não levaram o aparelho do Estado em sua integralidade, como era da regra do jogo. Parece haver uma grande preocupação com o “bom mocismo” para não assustar as vetustas estruturas de poder e garantir a “governabilidade”. A julgar pelo passado bem recente, é o velho tiro no pé.

Ao tentar mostrar-se “confiável” para garantir o mandato conquistado nas urnas, concedem-se instrumentos para golpistas e comete-se o erro que pode ser trágico para a democracia neste momento: abrir mão do poder real em benefício dos que jamais se conformarão com a derrota e farão de tudo para ganhar o “terceiro turno”.

Tem-se dito que será um grande problema para Dilma o clima de radicalização que a eleição gerou. E seguem-se os cansativos discursos de “conciliação” e “união nacional”. Esta é uma sociedade de classes, desigual, injusta. É a chamada visão ideológica da sociedade que explica essa ladainha conciliatória, que é ideológica no sentido marxista da palavra, de aparência que encobre ou deforma a apreensão da realidade. Não há “união nacional” nem “conciliação” entre os que sugam 40% do orçamento da União na condição de rentistas e a população que mal sobrevive com a bolsa família e precisa de investimentos sociais e de políticas públicas.

Após a apuração um amigo, conservador que respeito e admiro pelas qualidades intelectuais e de caráter, me dizia (lembrando ser leitor de Burke) que eu estava comemorando uma vitória de Pirro por causa do clima de radicalização e das dificuldades que se avizinham em vista disso. Eu respondi a ele (lembrando ser leitor daquele que Burke considerava seu maior inimigo filosófico, Rousseau) aproximadamente o seguinte: é bom que as tensões aflorem e que não haja mais a histórica prática nacional de conciliação que, ao fim e ao cabo, sempre deixa de lado os excluídos.

Vejo que não estou sozinho nisso ao ler na edição da Folha de São Paulo de quinta-feira, 30 de outubro, o que pensa o filósofo Marcos Nobre: “a eleição acirrou a luta de classes. Estamos num momento em que a democracia brasileira tem que se decidir se vai se aprofundar ou se vai continuar patinando. As instituições até agora funcionaram para bloquear a diminuição da desigualdade no país. É a ideia de que todo mundo tem que andar em bloco para que todos fiquem mais ou menos onde estão”. Respondendo a uma pergunta sobre o ódio nas eleições, Nobre diz que “não devemos recuar de medo, dizendo que isso é muito perigoso. É preciso ver esse ódio como manifestação de uma sociedade que quer aprofundar sua democracia”.

A presidenta Dilma bem que poderia fazer uma placa e colocar em seu gabinete esta advertência de Atílio Boron, em um artigo postado na segunda-feira após a eleição: “uma das lições mais ilustrativas [sobre os últimos doze anos de governos do PT]  é a ratificação da verdade contida nos ensinamentos de Maquiavel quando dizia que por mais que se façam concessões aos ricos e poderosos jamais deixarão eles de pensar que o governante é um intruso que ilegitimamente se imiscui em seus negócios e no desfrute de seus bens. São, dizia o florentino, “insaciáveis, eternamente inconformistas e sempre propensos à conspiração e à sedição”.

Assim, ao tomar decisões transcendentes para o país, seja uma nomeação de ministro do STF, seja uma decisão de política econômica, a presidenta lembrará quem a elegeu e lembrará quem quer para ela o destino de Zelaya, aquele presidente que foi preso por ordem judicial, posto em um avião e deportado. E que decida para quem governa, afinal.

Que tenhamos medo apenas do medo.

Marcio Sotelo Felippe é pós-graduado em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Procurador do Estado, exerceu o cargo de Procurador-Geral do Estado de 1995 a 2000. Membro da Comissão da Verdade da OAB Federal.

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Comentários

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Andre

É boa a lembraça do que aconteceu com Zelaya para tentar traçar as estratégias da extrema direita no Brasil hoje. Sinceramente, esse negócio de pedir ‘golpe militar’ é só parte da campanha de terror, acho pouquíssimo provável que isso aconteça. Mas é bom olhar outros cenários: a Ucrânia por exemplo. Alí, um golpe falsamente constitucional feito pela direita no congresso foi fustigado por uma massa fascista nas ruas, junto com bois de piranha da esquerda. Indo mais longe, dadas todas as características do fascismo clássico presente na extrema direita brasileira de hoje, é bom lembrar que nem Hitler e nem Mussolini deram um golpe de Estado, mas também não foram eleitos. Criou-se uma situação que tornou o governo inviável – no que a ação dos próprios grupos fascistas foi fundamental -até que um arranjo legal ou semilegal levou os dois ao poder: Hitler foi nomeado chaceller pelo presidente da Alemanha e Mussolini primeiro ministro pelo Rei da itália. Esqueçam o tal do ‘golpe militar’, não é isso que eles estão planejando, isso é para a resistência não prestar atenção no que eles realmente estão armando.

O Mar da Silva

Pois é. Vamos ver se a Dilma vai indicar mais Barbosas para o STF. Se o PT não aprendeu com o mensalão, não aprenderá com mais nada.

Gilmar Mendes está aí para comprovar isso. Indicado por FHC, depois de ser o seu governo, foi agente principal das desventuras do tucanato, dando-lhes ares de legitimidade.

O PT não pode dizer que não sabia de seu dever de indicar o STF que pense como seu programa de governo e do povo que lhe elegeu.

FrancoAtirador

.
.
Houve Interesse Geopolítico Estratégico dos United States of America

na América do Sul, com a derrubada do Presidente eleito do Paraguai,

país institucionalmente mais frágil da Região e, portanto, suscetível

à desestabilização política, considerando todo o processo de isolamento,

no Parlamento, do Chefe do Poder Executivo Federal, ao longo do Mandato,

e de aparelhamento do Poder Judiciário Paraguaio promovido pelas Cúpulas

dos Partidos Oposicionistas Colorado e Liberal, coadunadas com Forças

das mais Retrógradas, algumas até ligadas a Organizações Clandestinas,

associadas às Corporações Econômicas Apátridas e à Mídia Empresarial

[Latifundiários Ruralistas (como Tranquilo Favero, Amigo do Ditador Stroessner); (http://abre.ai/golpe-paraguai_parlamento-judiciario)
Transnacionais Cargill, Monsanto (Sementes/Venenos) e Rio Tinto Alcán
(http://abre.ai/golpe-paraguai_rio-tinto-alcan); e Narcotráfico],

que, por fim, culminaram por abortar o que seria a primeira Transição Democrática,

com Legitimidade Constitucional, através da transmissão pacífica de Governo,

de um mandatário eleito por um partido para o de outro partido político

nos Duzentos Anos de Independência Política do vizinho Estado Paraguaio.

Depois desse Golpe Jurídico-Parlamentar, ficou cristalinamente evidente

o Objetivo Principal dos United States em atingir indiretamente os Países

mais Fortes da Zona Continental do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL):

Argentina e Brasil, que, naquele momento, só escaparam do esfacelamento econômico,

pretendido pelo Império do Norte com a Colombianização do Paraguai no Bloco,

porque os Governos Argentino, BraSileiro e Uruguaio, de forma Soberana,

tiveram a Altivez e a Perspicácia de imediatamente suspender do MERCOSUL

o Estado Paraguaio que encontrava-se sob Regime de Exceção e, por conseguinte,

havia ofendido Cláusula Perene do Tratado Internacional, condicionante

à Permanência de um País-Membro, qual seja, a de Vigência de Democracia Plena.

(http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/paraguai-e-suspenso-do-mercosul)

A Consumação co ContraGolpe viria logo em seguida com a aceitação da inclusão

da Venezuela, País de Importância Econômica Fundamental nas Relações Comerciais

em toda a América Latina, e que, por sinal, nos últimos 15 anos, realizou

o maior número de Escrutínios, pelo Voto Direto da População, em todo o Planeta.

(http://www.forumcienciapolitica.com.br/anais/2013/especific_files/papers/6N2T.pdf)

Mesmo assim, como sempre ocorreu com as Nações que foram Objeto da Ação de Golpistas,

o Paraguai, ainda que tenha aparentemente retornado à ‘Normalidade Democrática’,

sendo, por tal razão, readmitido ao Conjunto dos Países do Mercado do Sul,

continua desavergonhadamente como Quartel General Norte-Americano, aqui ao lado,

exercendo atualmente o Papel de Submissão aos Interesses Geopolíticos e Econômicos

dos United States Of America, da mesma forma que o desempenhado pela Colômbia.
.
.

Bacellar

Cautela e canja de galinha…

Não é por acaso que a “estreia” do “muda mais” foi um aumento de 0,25% na Selic. Embora o antagonismo dos projetos de nação professasse que o projeto vencedor é o do juro mais baixo não é possível fugir da realidade prática.

O tal “aceno ao mercado” (falam como se fosse um capricho de concessão) na verdade foi uma manobra inescapável após o FED anunciar que cessará a injeção de cerca de 80biU$ mensais via compra de títulos e bônus no mercado americano. Ao fechar a torneira da impressão de dólar por lá e aparentemente terminar com o quantitative easing os juros por lá não sobem mais. Pela indexação de contratos em dolar no Brasil os juros subindo por lá elevam o juro real aqui, não estava sendo necessário mexer na Selic por conta disso mas agora que lá não sobe mais, puxando o nosso junto, por enquanto o jeito foi mexer na Selic mesmo…Dilma é economista e sabe que o limite da inflação controlada e da hiperinflação pode ser tênue nesse patamar que flerta com os 7%.

Só um exemplo do quanto o debate fica longe da operacionalização concreta.

A missão é dificílima nos próximos 4 anos…Evitar a desestabilização, combater o inimigo ideológico o programático, domar a base aliada…Tudo isso com essa margem de manobra estreita de quem tem uma das sociedades mais complexas e engessadas do mundo para administrar.

A rua não faz milagre. A esquerda precisa ser muito inteligente no confronto. Medir com exatidão o bate e assopra.

Flavio de Oliveira Lima

Texto irretocavel.
Quem ganha eleição da o norte das mudanças futuras na sociedade.
Chamar de aparelhamento é mais um tipo de chororô cínico de golpista.
Perdeu playboy!

Rodrigo

Em outras palavras: Vamos aparelhar tudo.

    Caracol

    Sim! Há que aparelhar TUDO!
    Como não? Por que não?
    Aparelhamento do Legislativo, sim? Aparelhamento do Judiciário, sim? Aparelhamento do PIG, sim? Aparelhamento da direita, sim? Aparelhamento da classe média, sim? Aparelhamento do estamento burocrático sim? Aparelhamento da PQP, sim?
    Então… por que o PT – que governa sem ter Poder – não pode aparelhar?
    Que aparelhem! Que aparelhem, porra!
    (E eu nem sou petista… imaginem se fosse).

    Rodrigo

    Ei!? você não sou eu!!!

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