O voto
Paulo Metri*, no Correio da Cidadania
Dilma e Aécio querem muito seu voto. O voto no Brasil é um cheque em branco, em que o beneficiado passa quatro anos usufruindo da ação do eleitor.
Poderia ser diferente se, no meio do período, existisse uma nova votação para validar ou não a continuação do mandato, o chamado “recall”.
Há anos, o professor Fabio Konder Comparato propôs esta validação, existente em outros países, como forma do político se tornar mais fiel ao seu discurso.
Muitas pessoas pensam que o eleito terá que corresponder à confiança nele depositada, senão não irá receber de novo aquele voto. Ledo engano, pois o eleitor comumente não se lembra das promessas do candidato, que o sensibilizaram, quando não ocorre de ele não se lembrar do candidato em quem votou.
Por isso, vários congressistas ineficientes e corruptos são frequentemente reeleitos. Antecipando uma conclusão, muitos dos nossos eleitores são infelizmente pouco politizados e, portanto, não dão o valor que uma eleição como esta tem.
Neste momento, os candidatos buscam ganhar a sua aceitação, mas o eleitor define seu voto considerando diversos fatores e alguns deles só são processados no subconsciente. Um dos mais citados argumentos de convencimento usados hoje para escolha do candidato é a necessidade de alternância no poder.
Este critério, usado à exaustão pela oposição que não tem conseguido chegar ao poder pelo voto, não resiste a uma mínima análise.
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Por exemplo: que louco decide largar a família simplesmente porque há necessidade de fazer uma alternância de família? O membro da família pode largá-la quando o relacionamento traz mais infelicidade que felicidade para os envolvidos.
Outra argumentação usada por engabeladores é o novo ser sempre melhor que o antigo. A racionalidade recomenda considerar a possibilidade de o novo ser bom ou ruim, assim como o antigo também.
Para exemplificar, lembro-me de Fernando Collor quando se candidatou a presidente. O argumento da modernidade durante a campanha era muito usado. Eleito, fez o governo que fez e, assim, tivemos uma modernidade péssima. Entrando em uma seara em que não sou especialista, será que alguns políticos não estariam querendo atuar sob a psique humana, principalmente a dos jovens, que crêem haver necessidade de os velhos saírem de cena para o crescimento da sua geração?
A corrupção denunciada atualmente por toda mídia comercial, que pertence ao capital e é grande aliada dos candidatos conservadores, deve ser totalmente averiguada, levada à Justiça e os culpados punidos.
No entanto, é preciso ser honesto e desprendido de paixões para concordar que, se esta mídia é aliada política do grupo que é a oposição e quer chegar ao poder, ela irá denunciar os mínimos sinais de corrupção no atual governo e procurará conseguir o máximo de repercussão com estas denúncias. E, na época em que seus aliados estiverem no poder, o mesmo tratamento não ocorrerá. Infelizmente, a dura verdade é que não temos uma mídia comercial honesta.
O voto é conquistado por argumentações lógicas, pela escolha de bandeiras que sensibilizem o eleitor, mas também através da credibilidade transmitida na exposição dos argumentos e bandeiras. E dependendo da importância dada pelo eleitor à credibilidade, ela pode ser decisiva.
Assim, um candidato ganha tanto mais adesões, quanto melhores são suas propostas e argumentações, e quanto mais crível ele demonstra ser. É óbvio que quem tem facilidade de expressão e sabe representar bem tem enorme vantagem. Não é por outra razão que grandes atores têm sucesso também na carreira política. Muitas vezes, não se precisa estar acreditando no que se fala, basta estar atuando bem.
A motivação do candidato a favor da coletividade ou apenas a um pequeno grupo é definidor do voto para muitos eleitores. Aliás, deveria ser um dos mais importantes critérios para definição do voto, pois aquele com interesse coletivo tende a ser um ótimo representante do povo.
O grande problema é que alguns candidatos camuflam suas intenções, passando a ser difícil saber quais são os de interesse coletivo e os que irão beneficiar prioritariamente grupos de interesse da sociedade.
Candidatos que pregam que a livre iniciativa consegue resolver os problemas sociais; que o grande problema da nossa sociedade é o custo Brasil e a carga de impostos; que o assistencialismo, mesmo para aqueles em situação de desespero, é reprovável; e que o Estado deve abrir mão indiscriminadamente de suas empresas, tornando-se o mínimo possível, além de outras teses neoliberais, é com certeza um candidato do poder econômico e de pensamento não coletivo.
Sugiro ao eleitor saber com detalhe o passado de cada candidato, os grupos aos quais pertenceu, como se comportou nestes grupos, como administrou algum órgão público, se foi o caso. Assim, o eleitor começará a ter uma idéia de como será o governo do candidato.
O PT e o PSDB já detiveram a Presidência da República e, nestes períodos, existiram erros e acertos. Cabe ao eleitor avaliar quais acertos de cada candidato foram mais valiosos para a sociedade e quais erros foram mais penosos.
Como a diversidade humana é rica, analogamente aos candidatos, existem eleitores com posições que miram atingir a coletividade e outros que objetivam só atingir interesses próprios ou de grupos aos quais estão relacionados.
Estes últimos têm esperança de acumular muita riqueza, e as teses neoliberais são as regras mais propícias ao atingimento do acúmulo desejado, sem se importarem com o fato de que será necessário enganar seu semelhante e, também, de que poucos irão conseguir. Mesmo assim, o discurso neoliberal os atrai muito.
A racionalidade nos levaria a crer que as regiões mais carentes tenderiam a eleger os candidatos com posições mais coletivas. Em grande parte, isto tem ocorrido e, quando não ocorre, é por influencia da mídia comercial, que traveste os acontecimentos.
Só com esta mídia não há liberdade de imprensa, pois o oligopólio que a compõe cerceia esta liberdade. Este fato permite compreender porque a classe média, que contém a parte da classe pobre que ascendeu, graças ao PT, declara maior intenção de voto ao Aécio.
Alguns partidos de esquerda focam em um mundo ideal e eu admiro o esmero dedicado à arquitetura da sociedade.
Contudo, devido aos dois candidatos não representarem caminhos seguros para este mundo puro, eles recomendam voto nulo no segundo turno.
Como a minha sobrevida não permitirá, em hipótese alguma, conhecer este mundo, porque irá demorar muito para a sociedade humana estar preparada para conquistá-lo, não recomendo o voto nulo ou em branco.
Estes partidos deveriam, pelo menos, recomendar o voto nulo, em branco ou em Dilma.
Em outras palavras, o voto não deve ser dado ao Aécio em hipótese alguma, como declarou o Psol.
Isto porque Dilma e Aécio não podem ser colocados no mesmo patamar, por inúmeras razões.
Eu gosto mais destas: em respeito aos empregos gerados, ao aumento real do salário mínimo e do salário médio dos trabalhadores, à mobilidade social promovida e às vagas na educação superior criadas pelos governos do PT.
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Comentários
rita pinheiro
Filhos
Quero que saibam que foi com muita luta que consegui criar voces sem a figura masculina presente.
Ao ser agredida, lembrava que não podia falhar porque voces me esperavam
Por decadas contava o que ganhava e dividia pelo dia dos meses e gastava somente aquilo.Caso uma doença acometesse voces teria que pedir naquele mes a amigos, bancos , familiares , .Já disfarcei muito ao dizer que não podiamos almoçar fora , esse ou aquele brinquedo estava dificil. procurava nas lojas mais baratas o calçado da escola publica, porque particular , nem pensar…meu salario nao aumentava nunca.
sua avo me ajudava, mas ela tambem , sem marido .
Quando finalmente ela me disse para votar no Lula , a promessa do momento, votei sem mesmo acreditar..Fui como se diz no bolo…
Respeitando o que prometia, Rapidamente ele mandou pagar o que ela levou a vida inteira para receber em outros governos.
Meu salario aumentou..pouco, mas as vezes pediamos ate pizza, como qualquer vizinho.Comprei ate computador e celular para voces. ninguem tinha.Conseguimos respirar um pouco.
Agora filhos, voces ja casados, com seus filhos, fazem suas escolhas.
Só não esqueçam e ponderem em quem votar, para que eu, nem seus filhos sejamos mais humilhados pelas diferenças sociais, porque mulher nenhuma merece ser agredida e não terei força suficiente para ver voces passando tudo outra vez. e nem conseguirei escutar direito o choro, pois de tanto apanhar fiquei meio surda, mas meu coração continua valente
autordesconhecido
— lendo Autor Desconhecido.
Urbano
Rita, a senhora venceu por ser uma heroína como tantas outras mães no Mundo. Também venceu porque teimou em vencer, como bem aconselhava Dona Lindu aos seus filhos, sendo o Eterno Presidente Lula um deles, que seguiu à risca. Rita… a senhora é Luz e viva como tal, juntamente com todos os seus entes queridos. Estamos aqui nessa seara porque ainda somos muito imperfeitos, mas temos que teimar é em fazer o bem em tudo por tudo e, obviamente, para todos.
Satoshi
Paulo Metri, caro amigo, parabéns pela pedagogia e pelo pragmatismo. Artigo com conteúdo lapidar, para uma ampla reflexão do projeto de país e da sociedade que queremos. Vc já se encontra no limiar da estrada e eu me vejo, já percorridos 2/3 dessa mesma estrada. Mas, os sonhos e as utopias não devem nunca serem abandonados, não só por nós, mas principalmente por aqueles que estão no início desta jornada. Que ao final é uma grande espiral em circular! A vida é uma eterna luta, por isso lhe dedico a música “Dias de Luta”, do grupo Ira.
Anna
Quem vota nulo elege bandido pra estropiá-lo.
É um estúpido.
Simples assim.
Urbano
Nulo mesmo é aquele que vota assim… Quanto ao Recall, a que sempre fui a favor, creio que a reeleição, dentro de uma condição normal de temperatura e pressão, vem a fazer o mesmo papel. No nosso caso, em que milhões e milhões não sabem sequer enxergar a diferença gritante, entre a Presidenta Dilma Rousseff e um aéreo never e uma czarina da vida, a contribuição do Recall seria tão-somente a de embolar ainda mais o meio de campo.
Francisco
Cá pra nós, acho uma derrota pessoal da esquerda ter sofrido o que sofreu para podermos votar e 12 anos depois de assumir o poder ter mais – e não menos – abestado cogitando de voto nulo.
Voto nulo é uma coisa para se cogitar quando estão de um lado Hitler e do outro Mussolini.
Mas o nosso caso aqui é outro: tem um partido que acabou com a fome (SOZINHO E CONTRA TODOS) e o outro que… que sei lá.
Qual a dúvida?
PS. Se honestidade é critério de diferença? Bem, todas as fontes históricas asseguram que Hitler nunca roubou um tostão do povo alemão> Vota nele…
FrancoAtirador
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Com as honrosas exceções de praxe,
a Maioria dos Extremistas da Esquerda,
que dizem agora que vão Anular o Voto,
são os Mesmos que se Iludiram em 2013
pensando que as tais ‘Jornadas de Junho’
fossem Estopim da Revolução do Proletariado
contra o Capitalismo Imperialista Vigente,
quando em verdade aquele ‘ContraTudoQuistaí’
foi um Preparo de Golpe da Direita Fascista,
comprovado há pouco nas Eleições Parlamentares,
e que pretende ser consumado em 26/10/2014.
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Julio Silveira
Que mané voto nulo ou branco, que nada, não tem que ter nada disso. Tem que votar, exercer o direito. É dever votar naquele que esteja mais próximo ideologicamente, votar foi uma conquista que não pode ser desperdiçada nunca. A Direita não faz isso, desde sempre é a esquerda e seus puristas que acabam por benficiar esse grupo que é menor dentro da sociedade e esperam que aqueles numericamente superior façam justamente isso para terem chance de equilibrar ou até mesmo superar seus adversários populares. Esses que pregam a omissão, a
Pregam o desrespeito a cidadania e esqueçem que não se constroem conquistas instantaneamente, por mais que queiramos, a história humana mostra isso. Temos é que investir no melhoramento, no aprimoramento cada vez maior, na direção da politica que queremos. Para mim aqueles que se omitem viram cúmplices de tudo que possa prejudicar o país e tudo por que? Só para marcar uma falsa posição. Coisa de covardes.
Bacellar
Dois lados do voto nulo/branco; o purismo ideológico e a aversão à política. O purismo é compreensível mas penso que inocente e em alguma instância covarde. Já a aversão política vejo com enorme preocupação…Latet Anguis…
Primeiramente entendo que a criminalização do meio político (fartamente defendida pela media mainstream internacional, não apenas pela jornalística, reparem na tendência ideológica do entertainment) é perigosa. O meio político é o reflexo da sociedade civil e não o contrário. Não me refiro ao velho papinho furado de “a culpa é tua que suborna o guarda de trânsito” mas ao funcionamento do sistema de lobbie e composição das casas legislativas. A cooptação judiciária. A doutrinação midiática. Esse mundo é das transnacionais, dos cartéis e das financeiras, e sem o anteparo do meio político oq resta entre as demandas de nós trabalhadores e pequenos proprietários e os objetivos (aliás objetivo, no singular; maximização dos lucros) da oligarquia transnacional? Nada!
Em segundo lugar dos 2 projetos com arcabouço eleitoral temos duas fundamentações de pensamento: Neoliberalismo e desenvolvimentismo. Temos a oposição entre o pensamento de cunho furtadiano e o pensamento importado dos Chicago boys. O primeiro compreende o sistema internacional em suas relações centro-periferia e avalia que como economia acessória o Brasil precisa corrigir suas deformações históricas políticas e sócio-econômicas para tentar atingir as decantadas potencialidades que todos sabemos que possuímos. O segundo é o laissez-passer requentado do Deus-mercado com sua ridícula (ou cínica) defesa da auto-regulação como massagem cardíaca de um sistema internacional que vive de crises cíclicas desde os anos 70 e que de 2008 pra cá aponta para o nada. Se fossemos alemães talvez valesse a discussão do que é mais útil ou pragmaticamente falando melhor para a população….Mas numa economia acessória, dependente do preço de commodites agrícolas e minerais e com um deficit social gigantesco não dá nem pra cogitar voltarmos às medidas dos anos 90. O pensamento importado mercadista é um fator chave da potencialmente desastrosa falta d’água que se avizinha. O voto crítico em Dilma não é uma questão de preferência ideológica mas uma decisão muito palpável e pragmática!
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