Wagner Iglecias: Elite brasileira prefere o papel de capacho

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capacho

UM PAÍS SEMI-FEUDAL

por Wagner Iglecias, vai Facebook

Volto a bater na mesma tecla: uma grande parte da sociedade brasileira definitivamente repudia a ampliação do capitalismo a setores mais amplos da população, bem como repudia um maior grau de aprofundamento da democracia e dos direitos de cidadania. O PT, se foi socialista um dia, só o foi nos seus primeiros documentos, lá nos anos 1980.

No exercício do governo mostrou-se um partido conciliador, que priorizou um grande pacto entre as classes sociais destinado a ampliar o mercado de consumo e alguns direitos sociais a setores da população que antes não tinham acesso a eles. Num certo sentido algo similar ao que fez Vargas em seu tempo e ao que sinalizava fazer Jango caso a direita não tivesse interrompido seu governo através do golpe de Estado de 1964.

Muito provavelmente o petismo exagerou em sua moderação, em suas opções medrosas de não fazer determinados enfrentamentos necessários a que o país avançasse mais. Mas fato é que a elite brasileira, seguramente uma das mais reacionárias do planeta, não suporta sequer este tipo de modelo de desenvolvimento ponderado que o petismo tem proposto nestes 12 anos.

Nossa elite econômica, ao invés de partilhar com setores da classe trabalhadora a condução de um projeto autônomo de nação, prefere a velhíssima inserção subordinada, no contexto mundial, às grandes potências, mantendo dentro do país uma das piores distribuições de renda do mundo. Até ai, trata-se de um traço tão antigo da formação do Brasil quanto a escravidão que nos marcou por quatrocentos anos.

Triste mesmo é ver gente de classe média, que se parar de trabalhar hoje não consegue pagar as contas no fim do mês, ou mesmo gente pobre, que infelizmente ainda vive da mão pra boca, abraçando um projeto de país totalmente contrário aos seus interesses, como é o que já vimos nas urnas no domingo e voltaremos a ver em algumas semanas.

Por fim, seria interessante que os direitistas, em nome do bom debate, nos poupassem de argumentos rasos do tipo “voto contra a corrupção do atual governo”. Fosse assim, teriam de votar nulo neste segundo turno, dado que o principal partido de oposição está de corrupção até as tampas, conforme demonstram as tantas denúncias publicadas na grande imprensa nos últimos anos, e que são de conhecimento geral.

E isso para não mencionar o ainda mais patético argumento de que “a alternância é importante para a democracia”, posto que não o fizeram no caso da votação para o comando daquele que ainda é o estado mais rico da federação e já caminha para 1/4 de século sob o comando do mesmo grupo político. Coincidentemente o mesmo grupo político que está ai, agora, com grandes chances de dar um basta ao reformismo moderado do PT.

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