por Robert Silva, nos comentários
Lendo o artigo do Ricardo Kotscho, sugerido pela Eliane Faccion, podemos fazer uma reflexão sobre como o antipetismo se alastrou Brasil afora e fincou raízes.
Este problema me incomoda muito pois sou professor de Filosofia e leciono em uma escola pública de SP.
Considero que meu trabalho foi quase todo em vão em todos esses anos pelo fato de perceber que não há reflexão crítica, não há espaço para o bom senso ou um simples debate racional por parte dos jovens. Eu ouço deles apenas a reprodução daquilo que a grande mídia propaga por aí no rádio, na TV, na mídia em geral.
Em uma sala de 35 alunos quando muito dois ou três sabem e se interessam pelo debate e pelo diálogo político à partir da leitura de certos textos clássicos da filosofia.
Costumo brincar com colegas, mas muito seriamente, dizendo que nós não fazemos nenhuma diferença quando pensamos em como a cidadania e a discussão da democracia e da justiça social está travada pelo fato de haver uma majoritária onda reacionária e conservadora em nossos jovens alunos.
Isso é sério pois ver um jovem propagar ideias contrárias à democracia, à tolerância e à consciência social é um perigo! Além de ser um perigo é triste demais.
Os jovens são os seres humanos que carregam nos seus olhos as esperanças e as utopias. É difícil ver um velho com utopias, não é? Os jovens me perguntam sobre política e sobre as eleições. Claro!
E quando conversamos sobre isso muitas coisas podemos descobrir. Por exemplo, quando digo que voto em Dilma eles me respondem: “Nossa! Eu odeio a Dilma, por que vai votar nela, professor?”
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Eu fico espantado pois ao perguntar: “Ora, por que você a odeia?” Eles me dizem: “Não sei. Só sei que não gosto dela.”
Muitos jovens odeiam a Dilma mas não sabem dizer porque dizem isso “naturalmente”.
Pensando nisso, refleti muito e cheguei à conclusão de que o anti petismo foi catalisado e fortalecido no Brasil, principalmente em SP, por causa do trabalho sujo da chamada grande imprensa.
Lendo o artigo de Kotscho podemos desconfiar que o jornalismo e a mídia estão realizando um trabalho pedagógico extraordinário no sentido de “educar” as pessoas para o o ódio a um campo político importante para a história recente do país. Afinal, o simbolismo da ascensão de Lula e do PT à presidência é algo que ainda não foi digerido pela elite ou classe dominante.
Um retirante da seca lá em Garanhuns chegar ao mais alto posto da República é algo que tem que ser des-construído. Tudo que ele representa e que a ele se alia deve ser destruído. Por isso, foi inventado tudo isso que se chama “mensalão”, pois a memória daquilo que representa o projeto do PT deve ser destruído. Com o mensalão tentaram destruir 30 anos que o PT construiu.
A estratégia ou ponta de lança desse projeto das elites dominantes é usar o que chamamos de “mídia”: e isso a cada segundo 24 horas por dia. O estado de SP destruiu a educação por causa disso.
Ou vocês acham que não é proposital tudo isso que aconteceu nesses últimos 25 anos? Imaginem o que seria do Brasil se SP tivesse colocado na educação a evolução tecnológica e investimentos pesados nos professores e na formação dessa geração? Com certeza o Brasil seria outro, e inevitavelmente não haveria espaço para essa elite estar no poder.
PS do Viomundo: Modéstia à parte, caro professor, o Viomundo foi o primeiro a dizer, faz meses, que o antipetismo tinha se espraiado até as bases eleitorais mais tradicionais do PT, como o interior do Nordeste. Chegamos a narrar a experiência de ouvir, nas cercanias de Sobral, Ceará, o professor Marco Antonio Villa, entrevistado pela Jovem Pan, detonar Dilma. A mídia realizou um trabalho de desconstrução desde 2003, enquanto o PT deitava em berço esplêndido com a própria Globo; mais recentemente, a presidente Dilma recomendava às pessoas usar o controle remoto. Mas, se você mudar de canal hoje em dia, vai ver a mesmíssima versão dos fatos contada por âncoras diferentes. O “senso comum”, cuja matriz é a Globo, domina.
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Comentários
Andre
Como alguém que lida com jovens diariamente concordo com a observação do autor: acho que estamos diante da geração mais conservadora dos últimos 40 anos. Mas acho que a análise deve ir além do óbvio de sempre: a rede Globo, conservadorismo identificado com anti-petismo. É muito pior que isso. Esse não é um fenômeno só brasileiro em primeiro lugar – li recentemente um livro sobre os jovens americanos, cujo título em tradução livre é ‘a geração mais idiota’. Então há mais do que a grande mídia para explicar isso. Em primeiro lugar e sobretudo acho que são décadas seguidas de políticas ultraliberais que se espalharam pelo mundo tudo e que levaram a uma geração crer que o ‘mercado’ é a própria natureza – senão o próprio Deus – e que cada indivíduo é dono de um mundo próprio e que os outros só devem ser a ampliação do seu ego. Ademais há a o uso excessivo da internet : a nova geração é incapaz de refletir, pensar criticamente, formar uma opinião própria.Vive de ‘memes’, respostas imediatas, textos de 400 caracteres – todos com erros gramaticais – e lidam com uma linguagem icônica, quase como se voltássemos a idade das cavernas. Além do mais há, desde a década de 1960, a juventude é supervalorizada em detrimento da sabedoria que a maturidade traz, o que é no mínimo estranho em um mundo em que o número de jovens diminui e o de pessoas com mais idade aumenta.
Eduardo
Infelizmente o Brasil é um país de jovens alienados cujas mentes foram doutrinadas pela mídia! Pobre a nação cujos jovens não pensam! Com as elites no poder como no governo recente do PSDB/DEM , a realidade poderá se tornar ainda mais grave! A mídia brasileira, capitaneada pelo Sistema Globo, destrói valores, forma mentes alienadas escravas de suas mentiras e interesses financeiros e dominantes! Gostaria muito de ser ainda jovem com o conhecimento e experiência e os recursos hoje existentes, para poder agir e reagir como os jovens de meu tempo! Quero louvar os jovens nacionalistas brilhantes brasileiros do período ditatorial de 64, dirigindo-me à grande libertadora Dilma e ao grande sonhador brasileiro Lula que continuam libertando e sonhando!
Edgar Rocha
Também acho assim como bem disse o Igor Tkaczenko (ô, meu Deus, desculpa aí, nome difícil!) que é preciso avaliar a permeabilidade do discurso anti-petista. Deveria se pensar que conjunto de valores são incutidos (consciente ou inconscientemente) na sociedade que conseguem canalizar as perspectivas dos jovens para o discurso anti-petista. Tenho a impressão de que estes valores vão além do discurso direto apresentado pela mídia e também pelo currículo escolar (este também deve ser levado em conta e muito). A própria dinâmica do sistema educacional (refiro-me à prática “pedagógica” adotada pelas mentes brilhantes que lecionam), bem como a própria relação do aluno (e família) com o ambiente escolar (incluindo o administrativo).
Acho que esta percepção do professor que escreveu o post é consenso. O problema é que os educadores em geral deveriam se preocupar em dialogar com esta realidade, com este distanciamento do jovem da vida escolar, política e social de fato. Mas, o professor assume a postura do médico que só apresenta o diagnóstico e não aponta procedimentos. Nossos jovens, assim como a juventude de todos os tempos, são a força motriz das esferas autoritárias quando estas se empenham em conquistar espaços ou garantir o que possuem. Jovens sempre lutaram para que velhos governassem. É uma sina, mas é verdade. Não esperem tanto da juventude. Utopias são indispensáveis para a garantia de homens capazes. Enquanto sonhamos com elas, desgraçadamente, o fazemos ao mesmo tempo em que nos deparamos com as possibilidades. Não se realiza um sonho enquanto sonhamos. É preciso acordar, ver a escuridão. Jovens não têm que realizar nada. Jovem tem que aprender e pronto. O que conseguir realizar, é lucro. Se nos esforçássemos para não transformar as utopias da juventude em cinismo diante da falta de possibilidade, já estaria bom demais. Pra isto, o exemplo é o melhor contraponto diante do discurso autoritário e manipulador. Por fim, ajuda muito saber como estes valores distorcidos se concretizam nas NOSSAS vidas, antes de avaliar a vida dos jovens. Por exemplo, quando se faz uma greve longa e prejudicial ao ano letivo, contenta-se apenas com a merrequinha conquistada no final, mesmo que se reivindique apoio da comunidade escolar inteira “em nome da qualidade na educação”. Entenderam???? Precisa discurso da mídia pro aluno entender o que significa tal postura?
Igor Tkaczenko
Edgar, você escreveu certinho, tranquilo.
Igor Tkaczenko
Oi, Edgard, você escreveu certinho. Talvez no íntimo e no pensamento possa ter dado um ####, mas a escrita está correta rsrsrs
Alexandre Tambelli
Vivemos até a pouco o Governo dos Trackings diários, não é verdade?
E vivemos o Governo dos cálculos. Criou-se a ideia de que a balança pendia para o Governo e que a velha mídia tinha menos peso e que estava se desmilinguindo.
Hoje, se sabe que a velha mídia assusta o brasileiro vive com o tema da corrupção 24 horas por dia na cabeça e tudo praticamente associado ao PT, infelizmente.
Sem Lei de médios vamos chegar ao ponto de que só a extrema-direita será preservada na mídia, só neles o povo votará.
E nós ficaremos falando para as paredes, isto se o Aécio não ganhar e implantar a censura das Minas Gerais no Brasil todo.
Quando os moradores da Vila Mariana, São Paulo – bairro de classe média-alta, onde moro, dizem que vão votar no Aécio porque ele é Ficha Limpa e católico (imagino que acreditam que ele é católico praticante) ai penso comigo:
Como pôde haver essa negligência da informação no Brasil?
Eu juro que aqui e isto deve se alastrar pelo Brasil todo teve gente que ia votar na Marina, depois virou Aécio, certamente, porque o Comunismo ia ser implementado no Brasil, e é gente com formação universitária. Aqui só não tem curso superior em boas faculdades, que fique claro, as senhoras de bastante idade que eram as donas de casa dos anos 70 para trás.
Eduardo
E o “feicebúqui” ajuda muito nesta deposlitização dos jovens. Adora um meme babaca-engracadinho, mas não conseguem ler um artigo de 10 parágrafos. Juro, ja recebi esses memes toscos num grupo de e-mail (nao tenho conta no ‘feice’) e respondi com um texto do Nassif. NINGUEM leu, e 2 pessoas reclaram do texto ser longo!!
Eduardo
Aqui em SP, muita gente (mas muuuuuuuuita mesmo) acredita que o PT é o pai da corrupção e de longe mais corrupto que qualquer um (até Maluff).
Conversando com pessoas do meu trabalho, nota-se que o mantra desta eleição é ‘contra a corrupção’. Perguntei então porque trocaram o Suplicy (que nunca teve nome envolvido em qualquer escândalo) pelo Serra, a respota é: “Porque ele (Suplicy) é do PT”.
Ou seja, sabem que os avdersários não são bons, mas basta o candidato ser do PT pra ser pior que qualquer outro.
Urbano
Desconfio que haja alguma escaterina por trás dessa leva imensa de energúmenos em mais alto grau. A burrice extrema está virando pandemia no Brasil, independentemente da classe social.
Jair de Souza
Quanto à juventude, creio que, de outros textos e comentários, já deve estar claro para os leitores de Viomundo que ela não é intrinsicamente revolucionária nem reacionária. Pode ser uma coisa ou outra. Sobre os dias que nos restam de campanha, creio que Dilma e o PT terão de partir pra luta contra o verdadeiro partido que precisa ser derrotado: a máfia midiática. Tomara que haja disposição para assumir esta luta.
Gabriel Braga
Belo texto e o só PS do Viomundo já valeria outro post.
O que dá mais raiva é que o PT foi alertado de que não adiantava os afagos que fazia à mídia,pois na hora do vamos ver ela partiria pra cima do partido uma vez que ela jamais permitiria pacificamente que um projeto político com origem popular se mantivesse no poder.
Mas depois de uma eleição dura como a de 2010,em que foi vítima de todo tipo de ataques sujos,a primeira coisa que Dilma fez foi ir na bancada do Jornal Nacional.Quem não se lembra dela fazendo omelete com a Ana Maria Braga?Fica a pergunta:de que adiantou tudo isso?
Infelizmente talvez seja tarde demais para fezer em duas semanas o que não foi feito em 12 anos.
jaide
Se vc se refere à quebra do monopólio das comunicações, pode ter certeza de que sem pressão popular nenhum governo consegue realizar. Lembre-se que no Congresso Nacional encontram-se diversos beneficiários do sistema em vigor. Desde a época em que Antonio Carlos Magalhães, à frente do Ministério das Comunicações, concedeu as benesses aos seus pares no parlamento, blindando o esquema.
Gabriel Braga
Concordo com vc que sem pressão popular quebrar o monopólio da mídia é muito difícil,quase impossível.
Acho até que sem pressão nenhuma reforma importante sai,ainda mais agora que o congresso ficou mais conservador.
Mas o que me incomoda é o fato de que o PT se escondeu atrás da tal correlação de forças desvaforável e nem tentou regulamentar a mídia.Por exemplo,será que Lula,com seu enorme carisma e comandando um governo altamente bem avaliado,não poderia bancar essa reforma?
Lili X
Concordo com absolutamente tudo. Sempre disse que a grande culpada disso tudo é a imprensa. As pessoas simplesmente não refletem mais. E não só jovens, são adultos também, de todas as classes. Já ouvi coisas do tipo “Se o Lula roubou, a Dilma DEVE ter roubado também” partindo de uma pessoa de classe média alta, graduada em Direito. Ontem uma funcionária do meu prédio disse que não vota na Dilma porque não simpatiza com ela. Perguntei o por quê e ela não soube explicar. Só disse que não simpatiza com essa gente. Isso é muito sério. Sempre desconfiei de que aquelas jornadas de junho não foram nada daquilo. Não teve nada de o gigante acordou. O que teve foi manipulação mesmo. Temos que repensar o futuro do nosso país. O PT tem sua parcela de culpa nisso. Espero que a Dilma ganhe, mas o PT tem que dar uma guinada para a esquerda, é questão de sobrevivência.
Leo V
O diganóstico apresentado pelo Robert é o mesmo que tenho.
Acabou o debate racional. O voto no PSDB é puramente emocional. Não tem argumentos quando se pergunta. É trabalhador e assalariado votando em quem vai arrochá-lo.
A grande imprensa conseguiu fazer virar ‘cool’ ser anti-PT. Conseguiu fazer o PT ser a encarnação do mal, pior que o capeta.
Em junho de 2013 tivemos um belo exemplo do enorme poder da grande imprensa, ao conseguir enviar gente pra rua pra abafar manifestações de esquerda.
A grande imprensa ainda tem um poder enorme. E desde 2010 o PSDB e a direita mobilizam através do irracional, dos preconceitos difusos. É terrivel porque sabemos que quando a política se junta com a irracionalidade e o ódio no que pode dar.
Carlos
O PS do Viomundo escancara as coisas. Um eleitor de 18 anos tinha apenas 6 ou 7 em 2003 e cresceu com a babá eletrônica e a mídia impressa satanizando o PT diuturnamente. O partido fez alguma coisa para impedir a doutrinação? Se até eu, pessoa comum, percebia que era preciso, como eles que estão na política a tanto tempo não perceberam? O caso parece aquela situação do 1984 em que filhos eram doutrinados pelo estado (no nosso caso, a mídia hegemônica) e acabavam por denunciar os próprios pais aos órgãos de repressão. Se não tiver a coragem que tiveram a Kirchner e o Chavez de bater de frente com a mídia de direita, a coisa vai regredir mesmo. Torço pela eleição de Dilma e depois apoio incondicionalmente todo tipo de ação contra a mídia que esteja dentro dos limites da legalidade. O quadro que se desenha é de meter medo. Os barões praticamente assumiram o contrôle do país.
Andrer
O cerne do antipetismo não é a corrupção, é o bolsa família! É ele que marca a distinção entre políticas de governo de direita e de esquerda, e os de direito estão convencendo a sociedade que o bolsa-família é bolsa-vagabundagem!
É preciso jogar na cara do religioso mediano, que costuma ser contra o PT, a hipocrisia em ser contra o bolsa-família e professar uma fé religiosa.
Todas as religiões pregam o humanismo, em particular as cristãs… o aborto é um nada se comparado à ajuda do governo aos pobres.
É preciso acabar com essa estória de bolsa-vagabundo, mostrar quanto realmente ganham as famílias e apresentar como estão funcionando as portas de saída e, principalmente jogar na cara do eleitor a hipocrisia de seu egoísmo, de seu falso moralismo, de sua mesquinhez em querer que o Estado não seja humanista e dê um mínimo de dignidade a quem não teve as mesmas oportunidades da vida!
Este é o cerne do debate político com o eleitor médio, o resto é acessório.
Igor Tkaczenko
Nenhum som ecoa se não há espaço para seu percurso. Culpar apenas a grande imprensa e mídia por criar o imaginário de massa com sua ideologia antipetista, revela uma semiótica perigosa. O PT apresenta algumas dificuldades de absorção de críticas. Eu mesmo escrevi um texto desabafo em ocasião à retomada de posse do bairro Pinheirinho em São Paulo e aumento das passagens de ônibus. Hoje, sei que este texto foi exagerado de minha parte. Embora o “Meu Rio” tenha publicado, escrevi às pressas e com vários erros de português, e, pior, ilações confusas e sem muito fundamento. Porém, o sentimento de culpabilizar o que o PT “ainda não fez” já estava lá.
É esse sentimento que possibilitou o enraizamento do antipetismo propagado e trabalhado no imaginário popular, e que se verifica na expectativa criada a partir de 2002 somada à falta de uma educação política de nossos jovens, filosófica mesmo. Por isso, também, que a declaração de Dilma sobre a reforma do currículo escolar e a citação que a presidenta fez sobre filosofia e sociologia causou uma forte reação, mesmo que tenha sido este governo que implementou a obrigatoriedade dessas disciplinas no currículo escolar.
Outro ponto além da dificuldade de assimilar as críticas é a dificuldade que o PT tem de se comunicar com a sociedade. Clássico, mas que pode ser resolvido, a meu ver, de forma bem simples. Não consigo compreender como o governo deixa passar a oportunidade de mostrar seus serviços com mais frequência! Trabalhar isso didaticamente com mais incursões de rádio e tv. Usando uma expressão bem popular, se eu fosse a Dilma estaria ao menos duas vezes por mês em cadeia de rádio e tv falando dos projetos, realizações e criações de leis com propósitos tal e tal. Se me lembro, ela só fez isso uma vez para falar do pré-sal e outra para falar do plebiscito, é muito pouco! Outras vezes apareceu em datas específicas de nosso calendário comemorativo, ou seja, sem muita catarse, digamos assim.
Essa questão de se comunicar com a sociedade é imprescindível para o progressismo, não dá para ficar parado, é preciso mexer, é preciso ir além de tempos determinados. Ora, a grande imprensa é suja e estelionatária, não dá para ficar esperando apenas o horário eleitoral para tentar reverter todo o imaginário construído. A questão é mais séria, pois é uma questão política, é politizar, é educar politicamente nossos jovens.
Leandro_O
E depois ainda tem gente que acha que a desconcentração da mídia, a quebra do atual monopólio, trata-se de fazer algo restrito a jornalistas, notícias e afins. Poucos fazem uma reflexão das consequências de tal monopólio – e nem se esforçam para relacionar as famílias mais ricas do país com tudo isso.
Sidnei Brito
O PT, para se reconstruir no imaginário, terá dois caminhos:
O primeiro, que só dependeria dele, é fazer um trabalho de formiguinha bastante pesado, que demorará anos. Terá que ter a mesma boa vontade e perseverança que a grande mídia teve no incutir o reacionarismo e o antipetismo na cabeça das pessoas. Admitamos, os caras foram perseverantes e não se deixaram abalar nas sucessivas derrotas eleitorais que tiveram – e vêm tendo (vide o Haddad em 2012, em pleno auge do julgamento do mensalão, e o Rui Costa na Bahia, insistindo em não seguir o que “determinam” o Ibope e a afiliada da Globo). Desnecessário dizer que tal caminho é bastante difícil, em vista da ausência de instrumentos, em razão da covardia de enfrentar o aparato midiático e ante a óbvia impossibilidade de fazê-lo munido de um simples controle remoto.
O segundo seria na base da “dor e sofrimento” de toda a população. Vai ser o PT retornar nos braços do povo, no vácuo do fracasso de seus opositores, o qual teria que ser muito acachapante, de modo que nem a blindagem midiática conseguisse nos manipular (algo tipo a tragédia do segundo mandato de FHC). Na cidade de São Paulo, por exemplo, de 12 em 12 anos, o conservadorismo permite que um petista venha salvar a cidade dos estragos que a direita promove (alô, alô, 2024: olha um petista chegando para nos salvar aí, gente!).
Sinceramente, torço para que a segunda hipótese não vingue. Prefiro que, no caso de uma derrota já agora em 2014 (na qual não acredito), que não se destruam as conquistas e que as “medidas amargas”, se vierem, sejam na base do “pouso suave”, como já vem sugerindo, em um medido recuo, o “ministro da Fazenda” Armínio Fraga.
O André Singer compara as mudanças de Lula com o New Deal americano. Lá, nos anos 1950, depois de sucessivas derrotas a oposição ganhou, mas não teve força política para retroceder nas conquistas da era Roosevelt. Tomara que seja assim aqui também, no caso de o pior acontecer.
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