por Marcio Aurélio Mello
O “modus operandi” é o mesmo. “A vítima” ingressa com uma ação, ganha em primeira instância, um site publica a sentença e pronto, o serviço está feito. Que serviço? O assassinato de reputações. Dar publicidade à uma ação que ainda não transitou em julgado tem um impacto negativo sobre a imagem do “condenado”, impacto muitas vezes irreparável.
É a segunda vez sou condenado em primeira instância numa ação movida pelo número um do jornalismo da TV Globo. Primeiro foi em 15 mil, agora o dobro, 30 mil. Isso sem contar os honorários que são acrescidos ao valor das causas, as custas dos processos e os salários dos advogados.
No primeiro Encontro Nacional de Blogueiros, em 2010, Paulo Henrique Amorim cunhou a seguinte frase: “diga quem te processas, que eu te direi quem és.” Ele se referia a muitos, não só a ele próprio, PHA, mas ao Azenha, ao Rodrigo Vianna, ao Nassif, ao sr. Cloaca. Mais tarde veio juntar-se ao grupo o Miguel do Rosário, aquele mesmo que revelou o escândalo do DARF que a TV Globo nunca mostrou.
Não é preciso ler Kafka para saber que um processo é sempre uma angústia, uma aflição permanente, não só para si, mas para todas as pessoas próximas, que compartilham solidariamente a mesma inquietação.
Quem me conhece sabe que sou um pacifista, adepto do diálogo e absolutamente contrário a qualquer forma de violência e arbítrio. Transformei a luta pelos mais fracos em razão de viver e sou intransigente na defesa de todos os que não tem voz e que são massacrados por interesses mesquinhos e excludentes tão comuns num país desigual e provinciano, como o nosso.
Fui demitido sumariamente depois de 12 anos de bons serviços prestados e não entrei sequer com uma reclamação trabalhista. Razões não faltavam para isso: assédio, intimidação, humilhação…
No dia em que fui comunicado do meu desligamento, minha mulher, grávida de sete meses, ficou sem a maternidade e o obstetra. Tive que pleitear um plano de saúde tampão, porque um novo exigiria carência. Mesmo assim, para ter as mesmas condições anteriores, tivemos que fazer up grade, no popular, “pagar por fora”.
Nada disso nos tirou do eixo. Contornada a situação, segui minha carreira normalmente e obtive — ao lado de tantos parceiros — importantes prêmios jornalísticos, entre eles, o Prêmio Petrobras de Comunicação, em 2013.
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Em meu blog pessoal, mantido voluntariamente até março deste ano, aperfeiçoei uma técnica de ficção ácida e bem humorada, e também fiz severas críticas à maneira desastrosa e desonesta como se pratica telejornalismo no Brasil. A internet permitiu que eu ganhasse relevância e passasse a influenciar leitores, entre eles ex-colegas de trabalho. Tanto como editor do Jornal da Globo, por três anos, quanto do Jornal Nacional, por quatro, fui testemunha ocular de fatos históricos relevantes, por isso, minhas análises passaram a ter importância no meio.
Escrevi sobre como se dá a criminalização dos movimentos sociais, sobre como o racismo é disfarçado no noticiário e sobre como é feita a obstrução ao debate de temas sensíveis, entre eles: a influência da indústria farmacêutica e da indústria do álcool, esta última um dos maiores patrocinadores dos meios de comunicação, para ficar apenas em dois exemplos. Também apontei para um sem-número de desvios na cobertura econômica e política.
Nos textos de ficção tinha uma predileção por histórias que misturavam poder, o mundo da TV e muita, muita sacanagem. Assim, em séries, desnudei figuras que, apesar de terem glamour, são seres humanos como nós, sujeitos às desilusões seja na vida profissional, pessoal, amorosa… A brincadeira dos internautas passou a ser identificar quem teria inspirado cada texto.
Mas como a arte imita a vida (ou seria o contrário?) hoje tenho que lidar com uma situação no mínimo curiosa: fui condenado duas vezes por um texto de ficção, repito, ficção, envolvendo uma prosaica disputa judicial de vizinhos, causada pelo odor exalado pela fumaça de maconha, usada por jovens num apartamento chique da zona Sul do Rio de Janeiro.
Para a maioria das pessoas — muitas delas por desinformação — a culpa é atribuída antes mesmo do pronunciamento final das instâncias superiores. Assim, o justiçamento virou expediente preferencial de quem quer causar dano antecipado, antes do feito legal consumado. Vale sempre lembrar que só se firma a culpa depois de trânsito em julgado. Mas o que importa, não é mesmo?
E por que é assim? É assim porque no Brasil não há controle externo dos abusos cometidos pelos meios de comunicação. É assim porque não há quem investigue e puna, quando for o caso, abusos cometidos em coberturas jornalísticas. É assim porque não há um órgão com legitimidade para regular questões que envolvam relações entre jornalistas e produção de conteúdo jornalístico. E é assim porque questões de interesse privado ganham ampla publicidade depois de congestionarem as comarcas, também chamadas de primeiras instâncias.
E o debate, que poderia ser franco, republicano, dá lugar ao pugilato, ao uso e abuso da força coercitiva do poder econômico. É por tudo isso que digo: sinto-me perseguido. E sei bem o porquê. Participo de uma disputa que é muito maior do que um mero embate entre dois contenedores sobre técnica jornalística. Estamos falando aqui de uma pequena batalha dentro de uma guerra muito maior, a Democratização dos Meios de Comunicação.
E, se estamos realmente construindo uma democracia com ampla participação popular, com mais igualdade e justiça social tenho que acreditar que as instâncias superiores serão capazes de – amanhá – reparar decisões tomadas ao arrepio da lei.
Quando recebi a notificação de que estava sendo processado mais uma vez pelas mesmas razões tomei a iniciativa de suspender o blog. Sou profissional liberal, assalariado, com patrimônio modesto, mas com convicções inabaláveis. A principal delas: a de que estou do lado certo. Infelizmente neste momento estou legalmente sob censura.
Para quem quiser me ajudar nesta luta:
Marco A. C. de Mello
Bradeco
agência: 1363
c.c.: 120558-7
CPF: 075.298.408-00
Leia também:
Garotinho surpreende entrevistadora da Globo: “Vamos para o IPVA?”
Comentários
Renner Malta
Mello, passa ai uma conta do bb!
Paulo Cezar
Caro Marco Mello,
Fiz o depósito de 50,00 em sua conta no dia 25 passado, não é muito, mas espero que ajude.
Boa sorte na batalha.
Cláudio
‘Grande’ Mídia: um dos problemas centrais do Brasil, problema do qual derivam outros tantos.
Com o pouco que posso contribuir, conte comigo. Vou fazer amanhã de manhã mesmo um depósito na conta informada.
Com Dilma, a verdade vai vencer a mentira assim como a esperança já venceu o medo (em 2002 e 2006) e o amor já venceu o ódio (em 2010). ****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar melhorando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D
Cláudio
Com Dilma, a verdade vai vencer a mentira assim como a esperança já venceu o medo (em 2002 e 2006) e o amor já venceu o ódio (em 2010). ****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar melhorando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D
Rafael Oliveria
“Dar publicidade à uma ação que ainda não transitou em julgado tem um impacto negativo sobre a imagem do “condenado”, impacto muitas vezes irreparável.” Bom, na opinião do jornalista os meios de comunicação assim noticiariam a ocorrência de crimes/fatos relevantes: “Fulano matou a esposa a facadas (não divulgaremos o nome do autor do delito, pois sequer houve condenação)” ou ” O assessor do candidato a senador do partido tal foi pego transportando 180 mil reais em dinheiro (não divulgaremos o nome do assessor, do candidato e do partido porque o caso ainda não transitou em julgado”. Ou só no caso concreto, o jornalista julga que sua condenação não deveria ter sido divulgada!
Eduardo
M. A., em frente mesmo com limitado poder econômico!
El Cid
E viva a “Nova Política” (Modo Irônico ON)
Marina Silva autoriza divulgação junto a Geraldo Alckmin!
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2014/09/1520369-marina-silva-autoriza-nome-de-geraldo-alckmin-em-panfletos-do-psb-em-sp.shtml
Ari
Azenha, cadê a pesquisa Vox Populi que a Record divulgaria ontem?
Ari
É vergonhoso ter um Judiciário que se submete ao poder econômico. É o único dos três poderes que não tem controle externo.
Mudando de assunto: Azenha, cadê o Vox Populi?
Luiz Carlos Azenha
Procurei aqui em casa. Não encontrei. Rsrsrs abs
Julio Silveira
Se a Globo, covardemente, dá a ultima palavra na inquisição contra a presidente Dilma, o que não faz com gente menos proeminente? Nunca esqueço o caso da escola base, para mim um caso emblematico no meu julgamento desse grupo.
Adriano Medeiros Costa
Mídia golpista!!!
Terezinha
Nós aqui em casa admiramos e confiamos muito no viomundo. Não podemos ajudar com muito, mas de pouco em pouco se chega ao total. Vamos ajudar.
Mário SF Alves
Lamentável, prezado Azenha.
Deplorável esse processo subterrâneo de minar as forças do povo do Brasil. Começam assim mesmo, de início calam nossos melhores, processam-nos, martizam-nos, para ao fim, calar-nos a todos.
As tecnologias de comunicação estão em estágio avançado, complexo e de difícil apropriação por grupos hegemônicos absolutistas. Acresça-se a isso a conquista do Marco Civil da Internet. No entanto, temos tido exemplos recentes e preocupantes de candidatos a presidente da República tentando censurar blogs, tweeters e assim autoritariamente calar a voz de seus críticos ou adversários.
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
Eduardo Alves da Costa
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Hoje assisti mais uma entrevista com a presidenta da República de meu País [http://vimeo.com/106819210]. E ela, a exemplo daquilo que eu já havia percebido bem antes de Lula nomeá-la ministra, exala responsabilidade; exala capacidade, compromisso e comprometimento com o presente e futuro do Brasil. Pensei se meus filhos ainda terão a chance que tenho tido de compreende-la em sua grandeza. E se terão a sorte de continuar tendo-a como presidenta. Temo que estejamos diante de um dos últimos presidentes da República no Brasil, pois, sem ela, decerto, o massacre será tão dramático que tão cedo teremos força para afastar riscos de o Brasil ser novamente governado por fantoches travestidos de presidentes.
Francisco
O que os sindicatos de jornalistas dizem disso?
Blogueiro é jornalista? Se é jornalista, o sindicato tem um “juridico” para ajudar, não tem? Se não é jornalista, está processando o que? Literatura? Se é literatura que está sendo censurada, que diz a ABL (Academia Brasileira de Letras)?
Cercear a liberdade de imprensa é danoso. O que a Anistia Internacional tem a dizer sobre a instituição que MAIS CENSURA a IMPRENSA HOJE no Brasil: a IMPRENSA.
Já passou da hora de os movimentos sociais sairem das suas caixinhas e categorias profissionais e formarem fundos coletivos. Todos os moviments sociais se beneficiam de um jornalismo que busca a república e o direito coletivo: já passou da hora de ser dada a contrapartida!
Mário SF Alves
“Já passou da hora de os movimentos sociais sairem das suas caixinhas e categorias profissionais e formarem fundos coletivos.”
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A propósito, foi divulgado anteontem, 20/09, num jornal de grande circulação no ES, que os evangélicos do estado fazem doações/dízimos que anualmente somam R$ 350 milhões.
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Sua proposta fez-me lembrar um bispo, do mesmo estado, Dom João Batista da Mota e Albuquerque, que teve a sensatez e a coragem de afirmar que “só o povo salva o povo”¹. Neste termos, sim, com certeza, sua proposta faz todo sentido.
¹Contexto da sentença:
“Qual capixaba que não se
recorda da frase histórica
Só o Povo Salva o Povo
,quando ficamos abandonados durante as enchentes de
1979, se não me engano?”
Fonte:http://www.al.es.gov.br/appdata/anexos_internet/diario_oficial/2169.pdf
Edir
Näo sei até quando a gente vai aguentar essa mídia.
Cada que passa vejo mais distante a possibilidade da ley de medios.
adão paim
Lamentável eu não poder ajudá-lo. Marco, força e fé num sonho que na terceira oportunidade o PT consiga dar algum passo no sentido de democratizar os meios de comunicação.
Anderson
Você poderia postar mais informações sobre o seu processo? Se você pudesse dar os detalhes do seu processo e publicar isso, no blog, ou em qualquer lugar que seja, eu e outras pessoas podemos além de ajudar financeiramente, analisar as falhas, os abusos e os mecanismos usados para coagir a liberdade de expressão.
Na minha opinião, este seria o melhor modo de expor tal injustiça! Também acho que, a divulgação de tais informações poderia promover uma rede colaborativa com o objetivo de investigar e solucionar deste caso.
Se não pode-se vence-los pela força, então que seja pela competência, não desista!
Abraço
Mário SF Alves
Boa ideia.
El Cid
Dilma Rousseff no Bom Dia Brasil – 22-09-2014
https://vimeo.com/106819210
Mário SF Alves
Segui sua sugestão, fui lá e vi:
Ela, a exemplo daquilo que eu já havia percebido bem antes de Lula nomeá-la ministra, exala responsabilidade; exala capacidade, compromisso e comprometimento com o presente e futuro do Brasil.
Grato.
O Mar da Silva
Pena que a Marina da ‘nova política’ não dá uma palavrinha sobre o crimes cometidos pela mídia e sua proposta política mudar isso. A ex-seringueira, ex-católica, ex-petista, ex-pobre prefere os encontros com banqueiros e empresárias da Oscar Freire.
Pior. A Dilma e o PT tiveram três mandatos para começar a enfrentar os crimes da mídia com uma regulação democrática dos meios de comunicação e preferiu sair pela tangente, esperando que a internet faça o trabalho foi eleito para fazer.
Recuso-me, aqui a tratar do tucano Aécio. Por ser desnecessário.
Márcio
O Mar da Silva, governar um País não é igual a governar uma casa: “Mandei e tá mandado”. Já quando os filhos crescem, a porca torce o rabo, não é? Não lhe falece razão em criticar Presidentes ou governantes. Provavelmente você não leu nada sobre Furnas e o estrago que um deputado do PMDB, da base governista fez com o Brasil, não deixando, com seus aliados, passar vários projetos importantes, quando lhe foi tirado o poder sobre a Administração da Estatal. Talvez, também, você se esquecido que a CPMF com o Fernando Henrique era importantíssima para a Saúde, mas com o governo do PT ela foi eliminada, inclusive com deputados governista votando contra o brasileiro, dizendo que não era mais importante. Podia ser injusta, por ser 0,38% sem fim, mas obrigava e ajudava no controle da movimentação das empresas e pessoas de relativo poder financeiro a fazer o caixa 2,3,4,5 etc. Somente se a Presidenta, como em Minas Gerais 2 governadores recentes fizeram, utilizasse um Instituto Jurídico de período Revolucionário ou Estado de Sítio” a governar por intermédio de Lei Delegada, quase equipara aos famigerados AIs.
Roberto Locatelli
A Constituinte pela reforma política terá uma tarefa prioritária: a democratização dos meios de comunicação, para que a Globo deixe de ter esse poder imperial. Recomendo fazer um Ctrl-C Ctrl-V na lei recentemente aprovada na Inglaterra.
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