Paulo Nogueira: Aécio promete o paraíso e entrega o inferno

Tempo de leitura: 3 min

Ronald-Reagan

O que vai acontecer no Brasil caso a receita de Thatcher seja reaplicada com Aécio

Por Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo

O terrorismo econômico está aí.

Essencialmente, o que os conservadores estão dizendo é que a política econômica descarrilhou sob Dilma.

Só Aécio salva, é a mensagem.

O que a direita quer para a economia é, numa palavra, a receita thatcheriana.

Os pilares da doutrina consagrada nos anos 1980 por Margaret Thatcher podem ser resumidos assim: privatizar, desregulamentar e reduzir ao máximo as despesas sociais.

A busca, em suma, do Estado mínimo.

É o que o “mercado” quer por razões óbvias: as empresas, nacionais e internacionais, ganham barbaramente com isso.

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Como em todo jogo alguém perde, os trabalhadores pagam a conta. A Inglaterra sob Thatcher regressou a níveis de desigualdade próximos do abismo que existia na era vitoriana.

Esqueça, por um momento, questões como ideologia ou mesmo justiça. A questão é: a receita funciona?

Ou sob outro ângulo: se o Brasil adotar os preceitos thatcherianos reivindicados pelos conservadores a economia vai deslanchar?

A resposta, se você olha a história, é: não.

Os mandamentos de Thatcher são bons apenas para o chamado 1%. Para os demais 99%, não.

Para o país como um todo, para a saúde da sociedade, menos ainda. Seguir Thatcher é uma calamidade nacional.

O thatcherismo está na raiz da crise econômica que castiga o mundo desde 2008.

Sob Reagan, os Estados Unidos abraçaram o thatcherismo. O mercado financeiro foi desregulamentado, para dar liberdade aos bancos e assim, alegadamente, promover a economia.

Depois de alguns anos, veio a hecatombe.

Na busca de lucros exorbitantes, os bancos americanos – livres de regulamentação – afrouxaram todos os controles para quem pedia empréstimo para comprar casa.

Até que começou a inadimplência.

Milhares, milhões de tomadores de empréstimo não tinham condições de honras as dívidas.

Os calotes se multiplicaram. Grandes bancos quebraram. E a crise econômica se espalhou rapidamente pelo mundo.

Nunca mais a economia mundial se recuperou. A locomotiva dela, os Estados Unidos, vem se arrastando desde então.

Em breve, graças à estagnação americana, a China deve se converter na maior economia do mundo.

Também a Inglaterra de Thatcher ainda hoje enfrenta as consequências econômicas e sociais da falsa revolução da Dama de Ferro.

A ressaca do thatcherismo tornou Thatcher tão detestada que os ingleses fizeram celebrações em praças públicas quando ela morreu.

Não existe uma única estátua dela na Inglaterra, sequer em sua cidade natal: ela seria derrubada em dias, talvez horas.

É esta mesma receita que os conservadores querem para o Brasil agora.

Suponha que ela seja adotada pela próxima presidência. Rapidamente, os suspeitos de sempre lucrarão – a plutocracia, ou o 1%.

Num país cujo maior desafio é mitigar a desigualdade social, seria uma tragédia.

O país avançou socialmente nos últimos anos. Menos do que poderia e deveria, é verdade. Mas avançou.

O thatcherismo faria o Brasil retroceder várias casas na questão social em pouco tempo.

Num momento de franqueza desconcertante, Aécio prometeu a empresários “medidas impopulares” caso se eleja.

Seu guru econômico, Armínio Fraga, um fundamentalista do thatcherismo, falou que o salário mínimo cresceu muito nos últimos anos.

Avisos do que vem por aí caso o thatcherismo seja posto em ação no Brasil não faltam, portanto.

Os thatcheristas prometem a você o paraíso. Mas entregam o inferno. Paraíso, só para eles mesmos.

PS do Viomundo: Eu, Azenha, vivi o reaganismo nos Estados Unidos. Licença para que as grandes empresas montassem suas “sedes” em paraísos fiscais, sonegando impostos. Demolição da agência de proteção ao meio ambiente, a EPA; enfraquecimento da FDA, que monitorava a qualidade dos remédios; da FCC, a Federal Communications Comission, que regulamentava a mídia. Criminalização dos movimentos sociais, como os sindicatos de professores e a ACLU, a American Civil Liberties Union. Ser “liberal”, o que significa ser social democrata nos EUA, tornou-se um palavrão. Corte de impostos no topo com a suposição de que a riqueza acumulada eventualmente desceria para beneficiar a todos. Reagan fez mais que qualquer outro para demolir o New Deal reformista de Roosevelt, assim como FHC, no Brasil, queria demolir o legado de Getúlio Vargas. Não estamos falando de direita ou esquerda, que nenhum deles era. Estamos falando de colocar a engrenagem estatal para beneficiar 1% ou 99%.

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Comentários

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Urbano

Perdoe-me, Paulo Nogueira, mas com o aéreo never não existe essa coisa de oferecer o paraíso para o povo, não… Nem de brincadeira. Tanto isso é verdade, que ele só tem falado em medidas antipopulares. Nisso ele está sendo honesto e muito, incrivelmente. Podendo-se dizer nesse caso, que a regra é clara até nas suas exceções…

Ari Silveira

Com seus ataques de sincericídio, a equipe econômica de Arrocho Neves é mais honesta que o candidato: já promete direto o inferno.

Murdok

O Brasil é o país certo e a bola da vez para ressuscitar o thatcherismo, essa política de 30 anos atrás. Nossa economia está solidificada e como consequência com as reservas financeiras dentro das metas estabelecidas. É esse o dinheiro que o mercado financeiro quer.

pimenta

Fazenda do aeroporto de Cláudio (MG) foi flagrada com trabalho escravo

A construção de um aeroporto em Cláudio (MG) não é o único estorvo envolvendo a propriedade rural da família do senador Aécio Neves, candidato à Presidência. Em outubro de 2009, uma inspeção de auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, com a presença do Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal, encontrou 80 trabalhadores que cortavam cana para uma destilaria da região, sob responsabilidade da família Tolentino (a mesma da avó materna de Aécio), trabalhando em regime análogo ao da escravidão. Destes, 39 estavam na fazenda Santa Izabel, pertencente a mesma família e localizada, hoje, ao lado da área desapropriada para o aeroporto.

Por conta dessa fiscalização, que também encontrou trabalhadores em outra fazenda, a Santo Antônio, a Destilaria Alpha Ltda, foi responsabilizada pela situação e inserida no cadastro de empregadores flagrados com mão de obra análoga à de escravo em junho do ano passado – a chamada “lista suja”. A relação, mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, é utilizada por bancos públicos e privados e empresas nacionais e estrangeiras para evitar negócios.

O blog tentou contato com advogado da Destilaria Alpha, mas ainda não obteve sucesso. Assim que conseguir uma posição da empresa, publicará neste espaço.

Aécio Neves evidentemente não pode ser responsabilizado pela forma com a qual seus parentes tratam os trabalhadores.

Mas o caso é uma amostra de algo que muitos ainda fingem não enxergar: como grupos próximos do centro do poder político são capazes de subverter a lei para garantir a perpetuação da exploração dos trabalhadores. E como damos pouca importância a isso.

A assessoria de imprensa da Coligação Muda Brasil encaminhou uma nota para o blog: “É inadmissível que, em pleno século XXI, trabalhadores tenham seus direitos básicos desrespeitados pelos empregadores. O senador Aécio Neves condena veementemente esse tipo de infração, não importando quem a tenha cometido. Os responsáveis devem se sujeitar a todas as punições previstas em lei”. A nota encerra afirmando que “o senador também lamenta a tentativa de exploração política desse episódio, que não tem a mínima relação com ele nem com a sua candidatura à Presidência da República”.
Local onde o grupo de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego encontrou trabalhadores em condições análogas às de escravo. Ao lado, o famoso aeroporto no município de Cláudio (MG)

Local onde o grupo de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego encontrou uma das frentes de trabalho de cortadores reduzidos a condições análogas às de escravo. Ao lado, o famoso aeroporto no município de Cláudio (MG)

É interessante que algo tão deplorável quanto trabalho escravo contemporâneo esteja tão perto de famílias que detém o poder econômico e político. Mais ainda: como essas famílias criam formas sofisticadas para burlar a legislação trabalhista de forma a contornar direitos e baratear o custo da produção. Legislação que, esses mesmos grupos de poder no poder, deveriam ter a obrigação de zelar.

Estou tomando a fazenda Santa Izabel como exemplo, mas isso se repete em território nacional, com grupos políticos que apoiam os principais candidatos à eleição presidencial.

Os trabalhadores foram atraídos por falsas promessas de boa remuneração, alojamento e alimentação. Porém, ao chegarem ao município se deparavam com condições diferentes do prometido. Se a vontade apertasse no meio do expediente, teriam que fazer suas necessidades atrás de algum monte de cana. Não havia alojamentos ou equipamentos de proteção adequados ou mesmo água potável. Descontos irregulares aconteciam na remuneração. E quem quisesse ir embora deveria conseguir dinheiro por conta própria para voltar pois, apesar de terem sido trazidos, a Destilaria teria afirmado que só retornaria os trabalhadores ao final da safra. Isso sem contar que já havia sido firmado um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público do Trabalho, em 2007, proibindo diversas dessas situações.

Ou seja, não muito diferente de casos similares flagrados pelo Ministério do Trabalho e Emprego nos últimos 19 anos, quando o governo Fernando Henrique criou o sistema de combate a esse crime e teve a coragem de reconhecer diante das Nações Unidas a persistência de formas contemporâneas de escravidão por aqui.

Mais do que as condições em que estavam os trabalhadores, gostaria de me ater, contudo, à forma de contratação.

O relatório de fiscalização resultante do resgate dos trabalhadores em Cláudio (MG) detalha, com provas documentais e entrevistas, como se dava o processo para burlar a lei e tirar da Destilaria Alpha a responsabilidade trabalhistas pelos cortadores de cana.

A “cantina”, local utilizado para preparo das refeições dos trabalhadores, era mantida por José do Carmo Pereira dos Santos e seus familiares. Ele era o responsável por aliciar os trabalhadores em suas cidades de origem (Brasília de Minas e Luislândia, ambas em Minas Gerais) e trazê-los para prestar serviços diretamente à Destilaria Alpha Ltda, através da empresa Vanilda da Silva Santos-ME.

Através de inspeções nas frentes de trabalho das fazendas Santa Izabel e Santo Antônio, verificou-se que os trabalhadores atuavam no corte de cana-de-açúcar. Parte deles acreditava que o patrão era a usina. Porém, a maioria não sabia explicar porque suas carteiras de trabalho não eram anotadas pela Destilaria Alpha e sim por Vanilda da Silva Santos-ME, que nem sequer conheciam. Outros trabalhadores estavam empregados por uma outra empesa, a Ômega Agrícola Ltda.

A Destilaria Alpha foi representada à equipe de fiscalização por Quinto Guimaráes Tolentino Filho, Onias Guimaráes Tolentino e Mariana de Campos Tolentino. De acordo com a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, a Alpha é quem controlava o trabalho dos cortadores de cana.

Segundo o relatório, apesar de todos os pressupostos de relação de emprego se darem com a Destilaria Alpha Ltda e do cultivo de cana-de-açúcar ser uma de suas atividades-fim, a mesma valeu-se de um aliciador de mão de obra, de nome José do Carmo Pereira dos Santos e alcunha “Gambá” para arregimentar esses trabalhadores em seu município de origem já pelo terceiro ano consecutivo, conforme afirma o relatório com base em depoimentos e análise documental.

Este, além de ter um acordo financeiro com a usina para aliciar e controlar o trabalho desenvolvido por esses trabalhadores, ampliava, com a anuência da Destilaria Alpha Ltda, seu esquema de exploração e lesão aos direitos desses cortadores, sendo o fornecedores de todas as suas refeições.

Ainda buscando redução de custos trabalhistas e fiscais, conforme depoimentos prestados pelos próprios prepostos legais da usina aos fiscais, a Destilaria Alpha Ltda valeu-se da empresa Vanilda da Silva Santos – ME como empregadora formal dos trabalhadores aliciados por José do Carmo Pereira dos Santos. Vanilda – ME não teria idoneidade econômica, sendo utilizada com o único fim de intermediar a mão de obra em favor da Destilaria Alpha Ltda.

De acordo com os auditores fiscais, Vanilda da Silva Santos, proprietária da empresa, era esposa de Antonio Newton dos Santos, contador da empresa Destilaria Alpha Ltda e detentor de procuração pública com amplos poderes de representação da empresa registrada em nome de sua esposa.

O relatório afirma que Onias Guimarães Tolentino possuía poderes de representação informal tanto da Destilaria Alpha Ltda quanto da empresa Ômega Agrícola Ltda, e junto com o Eduardo Henrique da Silva, gerente industrial da usina, teria estabelecido e concebido com José do Carmo Pereira dos Santos todo o sistema de arregimentação e controle da mão de obra, sendo além disso, um dos idealizadores da relação triangular com a empresa Vanilda da Silva Santos – ME. A estrutura teria sido gestada também com o contador da usina, Antônio.

Este caso mostra como grupos próximos do poder político são capazes de sentir-se seguros o suficiente para subverter a lei a fim de garantir a exploração dos trabalhadores. Flagrados, alguns usam o “mas sempre foi assim”, que justifica a maiores aberrações pela manutenção da exploração como “tradição”. Outros culpam o Estado, que se interpõe sobre a relação de compra e venda de força de trabalho. Para eles, a legislação impede a livre negociação. Como se a relação capital-trabalho fosse baseada sempre em igualdade de condições.

Como disse, esta história não tem vinculação com este ou aquele grupo. E ninguém escolhe a própria família.

Porque a superexploração do trabalho não vê fronteiras ideológicas ou partidárias. O mesmo vale para os de Dilma Rousseff. Por exemplo, Armando Monteiro Neto é irmão e ex-sócio de Eduardo Queiroz Monteiro, proprietário da então Destilaria Gameleira (hoje Araguaia), no qual foram libertados 1003 pessoas em condições análogas às de escravo em 2005 – uma das várias operações de resgate ocorridas naquela fazenda de cana. Armando é candidato ao governo do Estado de Pernambuco, na frente nas pesquisas e é da base de Dilma.

Infelizmente a pauta dos direitos do trabalhador passa ao largo do período eleitoral. Quando aparece, diz respeito à geração de empregos, sem que se discuta a qualidade do emprego que estamos gerando. Isso é ótimo para quem não se importa com a qualidade de vida da população e sim com os lucros oriundos da exploração desta.

Gerson Carneiro

É chegada a época de campanha presidencial.

Sem discurso, sem propostas e sem voto, a oposicinha apela para a ladainha de sempre: a Economia (que por sinal nunca esteve tão bem).

Christiano Almeida

Pense num artigo porreta, este! Disse ao que veio. Economia. Sem apontar tendências (esquerda ou direita) nos pôs no quadrado. Assim: “Prestem atenção ao que ocorreu e ao que pode ocorrer. Há seis anos o mundo cambaleia. Os EUA, a UK, idem. Crise mundial. Reflexos aqui. Queremos o quê? Inclusão social ou – ETERNIZAR – os 1% com direito a tudo que produzimos? Ou seja, tudo para o 1% e os 99% fiquem com as migalhas? Vou falar bem regional: varei, peste. Te dana, desgraça. Vôte gota serena!

Fabio Passos

A minoria branca e rica quer o retorno do neoliberalismo desvairado que promoveu durante o desgoverno fhc.

Tudo para os especuladores milionários… e para os trabalhadores sobra desemprego, baixos salários e o corte das políticas sociais.

aécio neve é o boneco das oligarquias financeiras.
A função do boneco é liberar a roubalheira privata e destruir todos os avanços sociais conquistados por Lula e Dilma.

Luís Carlos

No Brasil, a concentração e renda inda é tão grande, que Aécio e sua turma governariam para menos que 1%. Não admitem menos que tudo, e querem muitos súditos, imensa vassalagem para sabrearem sua imensa diferença da pobreza. Como diriam os Titãs, para Aécio, ” riquezas são diferente”.

Elias

Interessante que quando se fala em “beneficiar 1%”, não nos damos conta de que no Brasil isso equivale a dois milhões de pessoas. Ou seja, temos contra nós um contingente parrudo de militantes do egoísmo, da ganância, do danem-se os pobres. Se o Partido dos Trabalhadores e todos que votam nele não se mobilizarem diuturnamente até outubro, por mais otimistas que sejamos em crer na vitória de Dilma no 1º turno, a mídia e mais esses dois milhões pode sim levar as eleições para o 2º turno. Isso só me ocorreu agora, depois de ler este artigo de Paulo Nogueira e o PS do Viomundo. E devo confessar que um 2º turno me preocupa. Mesmo com a opinião valiosa de Lula: “Eu fui para o segundo turno em todas as eleições que eu disputei e nunca vi nenhum problema. Eu acho que é um momento importante da política brasileira porque você constrói aliança antes de chegar ao governo.” Concordo com Lula, mas penso que os cães de guarda da elite (os jornalões e seus ecos radiofônicos e televisivos), estão mais raivosos nestas eleições. E estamos em agosto, mês do cachorro louco. Dá-lhe Dilma! Como disse Eduardo Guimarães:”O grande fato político que a sabatina da presidente pelo UOL revelou é o de que ela poderá tirar a mídia para dançar na campanha eleitoral.” Creio nisso e que nos preparemos todos para o bom debate.

    Julio Silveira

    Perfeita analise Elias.

    Elias

    Valeu, Julio. Forte abraço.

FrancoAtirador

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O retorno do PSDB ao Governo

é o verdadeiro ‘Risco-País’.

‘Muda Brasil’ é BraSil Nunca Mais.
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    FrancoAtirador

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    Para reduzir o ‘Custo BraZil’,

    Aécio promete aos Milionários

    Bolsa-Ferrari e Vale-Helicóptero.

    (http://imgur.com/Lr5ue1J)
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