Punição coletiva em Gaza
Por Rashid Khalidi*, na New Yorker, sugerido por Alexandra Peixoto, que publicou em seu blog
Três dias após o Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter iniciado a atual guerra em Gaza, ele reuniu uma coletiva de imprensa em que disse, em hebraico, de acordo com o jornal Times de Israel: “Eu acredito que o povo israelense entenda agora o que eu sempre disse: que não pode haver uma situacão, sob nenhum acordo, em que nós abandonemos o controle de segurança do território a oeste do Rio Jordão”.
Vale a pena ouvir cuidadosamente quando Netanyahu fala sobre o povo israelense. O que ocorre na Palestina hoje não diz respeito ao Hamas. Não diz respeito aos foguetes. Não diz respeito aos “escudos humanos” ou terrorismo ou túneis. Diz respeito ao controle permanente de Israel sobre as terras palestinas e sobre as vidas de palestinos. É disso que Natanyahu está falando, e é o que ele agora admite ser aquilo de que ele “sempre” falou: a inabalável política israelense, há decadas em vigor, de negar a autodeterminação, liberdade e soberania da Palestina.
O que Israel está fazendo em Gaza configura uma punição coletiva. É uma punição pela recusa de Gaza a ser um gueto dócil. É uma punição aos palestinos por ter a pachorra de unificarem-se, e do Hamas e outras facções, por responderem ao estado de sítio e suas provocações com resistência, armada ou não, depois de Israel ter reagido repetidamente com força destrutiva contra protestos desarmados. Apesar de anos de cessar-fogo e tréguas, o estado de sítio de Gaza nunca foi suspenso.
Como as próprias palavras de Netanyahu desmonstram, contudo, Israel não aceita que os palestinos não concordem com sua própria subordinação. Aceita apenas um “estado” palestino despido de todos os atributos de um verdadeiro estado: controle sobre sua própria segurança, fronteiras, limites marítimos, contiguidade territorial e, portanto, soberania. A farsa de vinte e três anos de “processo de paz” mostra que isto é tudo que Israel oferece, com a aprovação total de Washington. Sempre que palestinos resistiram ao seu patético destino (como qualquer outra nação o faria), Israel os puniu por sua insolência. Isso não é novidade.
Punir palestinos por existir tem uma longa história. Essa foi a política de Israel anterior ao Hamas, e seus rudimentares foguetes foram o bicho-papão do momento para Israel, antes de tornar Gaza uma presídio a céu aberto, saco de pancadas e laboratório de armas.
Em 1948, Israel matou milhares de inocentes e aterrorizou outros milhares em nome da criação de um estado de maioria judaica numa terra com 65% de árabes. Em 1967, desalojou centenas de milhares de palestinos novamente, ocupando o território que até hoje controla, em grande medida, 47 anos depois.
Em 1982, numa cruzada para expulsar a Organização pela Liberação da Palestina e extinguir o nacionalismo palestino, Israel invadiu o Líbano, matando 17 mil pessoas, a maioria civis.
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Desde os anos 80, com o levante da ocupação palestina, de forma geral atirando pedras e organizando greves gerais, Israel prendeu dezenas de milhares de palestinos: mais de 750.000 pessoas foram para prisões israelenses desde 1967, um número equivalente a 40% da população adulta hoje.
Eles sairam da prisão com depoimentos de tortura, fundamentados por grupos de direitos humanos como o B’tselem.
Durante a segunda intifada, que começou em 2000, Israel invadiu novamente a Cisjordânia (de onde de fato nunca saiu). A ocupação e colonização das terras palestinas continuou ininterruptamente através do “processo de paz” dos anos 90, e até os dias de hoje. E, ainda assim, nos Estados Unidos a discussão ignora esse contexto opressivo crucial, e está sempre limitada à “auto-defesa” de Israel e à suposta responsabilidade de palestinos por seu próprio sofrimento.
Nos últimos sete anos ou mais, Israel sitiou, atormentou e atacou regularmente a Faixa de Gaza.
Os pretextos mudam: eles elegeram o Hamas; eles se recusam a ser dóceis; eles se recusam a reconhecer Israel; eles lançam foguetes; eles constroem túneis para contornar o estado de sítio etc.
Mas cada pretexto é uma falácia, porque a verdade dos guetos – o que acontece quando você aprisiona 1,8 milhão de pessoas em 225 mil metros quadrados, quase um terço da área da cidade de Nova York, com controle de fronteiras, quase sem acesso ao mar para pescadores (apenas três de 20 quilômetros são permitidos, segundo o Acordo de Oslo), sem meio de entrada ou saída e com mísseis guiados sobre suas cabeças noite e dia – é que eles acabarão contra-atacando. Isso aconteceu em Soweto e Belfast e acontece em Gaza.
Nós podemos desaprovar o Hamas e alguns de seus métodos, mas isso nao é o mesmo que aceitar a ideia de que palestinos devem concordar de maneira apática com a recusa do seu direito de existir como povo livre em sua terra ancestral.
Esta é precisamente a razão pela qual o apoio dos Estados Unidos à atual política de Israel é insano.
A paz foi alcançada no norte da Irlanda e na África do Sul porque os Estados Unidos e o mundo acordaram para o fato de que eles teriam de colocar pressão no lado mais forte, cobrando responsabilidade e dando fim à impunidade.
O norte da Irlanda e a África do Sul estão longe de serem exemplos perfeitos, mas vale a pena recordar que para conquistar um resultado justo foi necessário que os Estados Unidos lidassem com grupos como o IRA e o Congresso Nacional Africano, que se envolveram com guerrilha e até mesmo terrorismo.
Essa foi a única maneira de trilhar um caminho em direção à paz verdadeira e à reconciliação. O caso da Palestina não é fundamentalmente diferente.
Ao invés disso, os Estados Unidos estão fazendo pender a balança em favor do lado mais forte.
Nessa visão de mundo surreal e inversa, o que parece é que os israelenses foram ocupados pelos palestinos — e não o contrário.
Nesse universo distorcido, aqueles aprisionados nos presídios a céu aberto estão sitiando armas nucleares nas mãos de uma das mais sofisticadas forças militares do mundo.
Se pretendemos nos afastar dessa irrealidade, os EUA precisam mudar suas políticas ou abandonar o argumento de que são um “mediador honesto”.
Se o governo estadunidense quer subsidiar e armar Israel e repetir os argumentos israelenses que ignoram a razão e o direito internacional, então que o façam.
Mas não deveriam então reinvidicar autoridade moral e falar solenemente sobre a paz. Com certeza, não deveriam insultar palestinos ao dizer que se preocupam com eles e suas crianças, que estão morrendo hoje em Gaza.
*Rashid Khalidi é Professor Edward Said de Estudos Árabes na Columbia University e editor do Journal of Palestine Studies, e foi conselheiro da delegação palestina nas negociações palestino-israelenses em Madrid-Washington de 1991 a 1993. Seu livro mais recente é intitulado “Brokers of Deceit.”
Tradução fraterna de Fernanda Pinto de Almeida
Leia também:
Patrick Cockburn: Uma aula sobre como funciona a propaganda de Israel
Comentários
Fabio
Israel 1 dia apos voltar ser uma nação na terra de direito deles foi atacada por paises arabes, e de lá pra cá continuamente vem sendo atacado por paises arabes, que nao aceitam a legalidade do estado de Israel por mais que vcs nao acreditem em mim deem uma olhada noque foi o tratado de oslo, que o proprio lider de gaza, nao aceitou, pq eles nao qrem paz nem terra, eles querem destruir israel a decadas, o hamas vem lançando misseis em Israel, se nao fosse a tecnologia de Israel, Israel teria sido destruida, apósto que voces que defendem a palestina, defendem tbm os direitos das mulheres, dos homossexuais a liberdade de expressão, pois bem ipocritas voces sao pois Israel é o unico pais do oriente medio onde todos esses direitos sao mantidos e respeitados, por ser o unico pais democratico, se voces tivessem um visinho jogando bomba em seus filhos todos os dias como israel tem garanto que pensariam diferente, vao estudar um pouco a historia de israel e a historia do islã.
abolicionista
Israel é um estado fascista e imperialista, não há dúvidas. Já é um dos países que mais violou a Convenção de Genebra e cometeu confessadamente diversos crimes de guerra, como o uso de fósforo branco e de bombas de fragmentação. Contudo, países como o Egito, que fecham suas fronteiras para os desesperados habitantes que querem fugir do campo de concentração chamado Gaza, são cúmplices de Israel, não devemos esquecer. Todos os países que recusam apoio militar e político aos palestinos são cúmplices dessa barbárie. Gaza, sozinha, não tem força para defender seus habitantes, ela precisa do apoio de países mais fortes. Infelizmente, na política internacional, ainda prevalece a lei da selva, E a vida humana conta muito pouco.
Manoel Teixeira
Criei um abaixo assinado para ser enviado a Presidente Dilma, solicitando o fim dos contratos militares entre o Brasil e iSSrael.
http://www.peticaopublica.com.br/psign.aspx?pi=BR73606
Manoel Teixeira
O Brasil precisa cancelar todos os contratos militares com iSSrael. Não podemos ser cúmplices da matança.
Dilma pode fazer mais do que retórica. Se o bolso dói o coração sente.
Urbano
Quem caçará os bandidos nazi-fascistas responsáveis pelo holocausto palestino, iraquiano, libanês, sírio, a fim de levá-los ao Tribunal Internacional? Sem contar a devastação estrutural dessas Nações.
FrancoAtirador
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PESQUISA APONTA QUE 76,1% DOS POLICIAIS MILITARES
SÃO FAVORÁVEIS À DESMILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA
93,6% acreditam que é preciso modernizar
os regimentos e códigos disciplinares.
Uma pesquisa, divulgada hoje (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que 73,7% dos policiais brasileiros são a favor da desvinculação do Exército.
Entre os policiais militares, 76,1% responderam ser favoráveis à desmilitarização e 93,6% acreditam que é preciso modernizar os regimentos e códigos disciplinares.
Quando questionados sobre a regulamentação do direito à sindicalização e de greve, 86,7% dos entrevistados se dizem favoráveis.
Para 87,3%, o foco de trabalho da Polícia Militar deveria ser reorientado para proteção dos direitos da cidadania.
Os dados indicam ainda que 66,2% dos cerca de 21 mil entrevistados acreditam que as carreiras policiais não são adequadas da maneira como estão organizadas;
80,9% acreditam que as polícias deveriam ser organizadas em carreira única com ingresso por meio de concurso público,
58,3% acreditam que a hierarquia nas polícias provoca desrespeito e injustiças profissionais
e 86,2% afirmam que a gestão deve ser mais eficiente.
De acordo com a pesquisa, 65,9% disseram terem sofrido discriminação por serem policiais
e 59,6% afirmaram já terem sido humilhados ou desrespeitados por superiores.
Outro dado mostra que 43,2% acham que policial que mata um criminoso deve ser premiado e inocentado pela Justiça
e 83,7% afirmaram que um policial que mata suspeito deve ser investigado e julgado (83,7%).
Entre as dificuldades no trabalho, 99% apontam os baixos salários,
98,2% o treinamento e formação deficientes,
97,3% o contingente policial insuficiente
e a falta de verbas para equipamentos e armas.
Foram citadas ainda as leis penais inadequadas (94,9%)
e a corrupção nas polícias (93,6%).
O coordenador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, explicou que muitas vezes se confunde a Polícia Militar com polícia militarizada.
“Os policiais disseram que isso é importante para o trabalho da polícia, que é preciso ter regras, estar parametrizado sobre o que podem ou não fazer. Eles querem autonomia, mas é preciso modernizar o regulamento para que eles também tenham seus direitos preservados”.
O professor de direito constitucional da Faculdade Getúlio Vargas, Oscar Vilhena Vieira, lembrou que há várias definições do que significa desmilitarização.
“Não estamos dizendo que tem que ter uma polícia sem hierarquia. Ela tem que ser hierarquizada, uniformizada e tem que ter um código disciplinar adequado e compatível com os padrões democráticos que hoje existem.
A desvinculação é das Forças Armadas e não do Estado”.
Para a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, nem sempre o que o policial quer dizer sobre o termo desmilitarização contemplará o que a sociedade espera disso, por isso o debate tem que ser muito bem feito.
“Talvez, tenhamos mudanças internas na polícia e a sociedade não fique contente. Os policiais de base e a cúpula certamente enxergam de forma distinta a desmilitarização por diversas razões. Certamente, até mesmo nas corporações não têm consenso”.
A pesquisa ouviu 21.101 policiais militares, civis, federais, rodoviários federais, bombeiros e peritos criminais em todos os estados, de 30 de junho a 18 de julho.
Entre os entrevistados, 52,9% são da Polícia Militar; 22%, da Polícia Civil; 10,4%, da Polícia Federal; 8,4%, do Corpo de Bombeiros; 4,1%, da Polícia Rodoviária Federal; e 2,3%, da Polícia Científica.
(http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/mais-de-70-dos-policiais-sao-a-favor-da-desmilitarizacao-aponta-pesquisa)
(http://jornalggn.com.br/noticia/mais-de-50-dos-policiais-sao-favoraveis-a-desmilitarizacao)
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Luís Carlos
Israel, um Estado terrorista, legitimado pelos EUA, outro Estado terrorista.
wendel
Excelente artigo, mas cabe apenas uma ressalva.
Esta invasão e genocídio praticados por Israel com o aval dos EUA e de toda a UE, somente confirma o que todos nós sabemos! Será?
Os Presidentes “eleitos” nos Estados Unidos, depois de Abraham Lincoln foram provavelmente “eleitos” com o massivo apoio da comunidade judaica, e ultimamente o AIPAC, tem exigido o compromisso de todos os eleitos defenderem o estado genocida de Israel, caso contrário…..
Os que não o fazem, são assassinados quando não “acidentados”
Vide a historia.
Quanto aos países europeus, não ficam muito atrás, pois as contribuições para as campanhas eleitorais, das entidades e emmpresas judaicas, são uma regra!
Mar da Silva
Voltaremos sempre a mesma questão: os EUA.
“A paz foi alcançada no norte da Irlanda e na África do Sul porque os Estados Unidos e o mundo acordaram para o fato de que eles teriam de colocar pressão no lado mais forte, cobrando responsabilidade e dando fim à impunidade.
O norte da Irlanda e a África do Sul estão longe de serem exemplos perfeitos, mas vale a pena recordar que para conquistar um resultado justo foi necessário que os Estados Unidos lidassem com grupos como o IRA e o Congresso Nacional Africano, que se envolveram com guerrilha e até mesmo terrorismo.”
A pressão internacional – da sociedade civil – precisa aumentar sobre a responsabilidade dos EUA nesse crime de Israel contra Gaza.
Os artistas de verdade precisam ser questionados. Eles também precisam opinar e entrar em ação. De que lado estão?
Luiz
Os leigos acham que é apenas uma guerra religiosa, não é mesmo.
Antônio Peter
O pior de tudo que vejo o fundo do conflito como religioso, sim. É o povo escolhido na terra prometida e parece que isto justifica qualquer coisa. É o Estado Sionista que querem colocar no lugar de um Estado Muçulmano e o Estado Muçulmano não quer sair de lá. Isso é mais que suficiente para não haver argumentos racionais para terminar com essa guerra.
Jair de Souza
Na verdade, não há argumentos racionais para os que não querem ser racionais. É mais fácil encontrar na religião as desculpas para não sentir tanta indignação diante de um crime medonho que o colonialismo europeu impulsado pelos nazi-sionistas está cometendo.
Joel Miranda
Azenha, o que entristece é que com estas ações, Israel está justificando o holocausto dos judeus, dando troco, não acha!
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