Urariano Mota: Ariano Suassuna, um amante incurável do nosso povo
Tempo de leitura: 4 minUrariano Mota: Ariano Suassuna, nacionalista e popular
por Ramon de Castro, para a Rádio Vermelho
Em sua coluna Prosa, Poesia e Política, o jornalista e escritor pernambucano, Urariano Mota, fala sobre a importância de Ariano Suassuna para o Brasil.
Confira o depoimento de Urariano Mota abaixo e no final do texto o áudio na íntegra:
Ariano Suassuna, pelo menos há mais de 30 anos, esteve sempre em pleno exercício da glória. Contrariando o adágio de que ninguém é profeta em sua terra, Suassuna é, foi querido em Pernambuco, na Paraíba, no Brasil e no mundo. Sem deixar Pernambuco. Sem deixar o bairro de Casa Forte, onde morava. Ainda a semana passada em Garanhuns, no Festival de Inverno da cidade do interior de Pernambuco, para ouvi-lo as filas dobravam esquinas, ou quarteirões, como se chamam em São Paulo.
Caso raro também de escritor, ele sabia falar, tão bem ou melhor que escrevendo. E ele usava a fala, o dom de contar estórias, como poucos atores já vi até hoje. Os atores de palco, os humoristas de profissão, até mesmo os do gênero que chamam agora de comédia stand-up, um nome que Ariano teria horror, stand-up, fiquem de pé, por favor, para melhor estudá-lo. E não adianta fazer dele a caricatura, os traços exteriores, porque o fundamental do escritor, a sua cultura e vivência são irreproduzíveis.
Ele dizia: “A minha voz é feia, fraca, baixa e rouca, eu tenho essa dificuldade”. E ganhava de imediato o auditório, com um sem se dar importância, como um ótimo ator e estudioso da psicologia humana, do público, que ele mantinha na rédea, à mão. “Eu sou um palhaço frustrado”, ele dizia nas palestras.
Insuperável em contar histórias, todas acontecidas. Como a história dos doidos, na inauguração de um hospital para loucos na Paraíba. Na inauguração do sanatório, que aplicava a psicoterapia do trabalho, os doidos entraram em fila com os carros de mão. Um deles entrou com o carro invertido, virado. Ao ser recriminado, o louco diferente: “eu sei, doutor, que o carro está na posição errada. Mas se botar certo, eles botam pedra pra eu carregar”. E Ariano dizia que admirava os loucos porque eles têm um ponto de vista original, como os escritores devem ter.
Noutra, ele contava que o doido oficial de Taperoá, terra natal, ficou uma vez com o ouvido colado no muro, e as pessoas começaram a imitá-lo, pondo o ouvido no muro também. Até que uma pessoa normal, com o ouvido no muro, reclamou para o doido oficial: “eu não estou ouvindo nada”. Ao que o doido oficial respondeu: “Não é? Desde manhã que tá assim”. Era um sucesso absoluto.
Na homenagem que faço a ele, no Dicionário Amoroso do Recife, escrevi:
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“…tudo o que Chico Anysio, Lima Duarte e Rolando Boldrin tentam fazer na televisão, conversando, há muito Ariano vem fazendo: ele é um humorista narrador de casos, ajeitados à feição de vivíssimos causos. Ele é um showman sem smoking, metido em roupa de caroá, ou em calça e camisa de brim cáqui…” (Melhor dizê-lo palhaço sem fantasia na vestimenta)
A gente não sabe se Ariano Suassuna criou o seu personagem, ele próprio, Ariano, ou se o seu personagem criou o narrador de auditório, Ariano. Conversando, ou melhor, somente ele falando, parece que conversa, porque ele narra de um modo que nos mergulha no meio da sua narração. Ele gera a ilusão da conversa pela comunhão, até mesmo pela cumplicidade, com os fatos narrados.
Ariano, ‘conversando’, é ator de picadeiro sem trejeitos ou caretas, que substitui pelos movimentos da voz, pelas inflexões na fala, pela escolha de palavras chãs, pelo rasgo de olhos pícaros que nos fitam, acompanhando o efeito das armadilhas que lança. Ele narra nesse ator – ele próprio – pela ambientação que situa, uma ambientação absolutamente econômica de cenários, cenários só personagens, e, o que reforça a ilusão de conversa, ele aparenta ser também ouvinte, quando na verdade faz pausas de radar, para ver como se refletiram aqueles sinais que lançou”.
Um nacionalista sem trégua. Amante do povo brasileiro, amante incurável, sem remédio ou subserviência. Dizia ele, lembrando Machado de Assis: “No Brasil existem dois países: o Brasil oficial e o Brasil real”. Eu interpreto, dizia Ariano Suassuna, que o Brasil oficial é o nosso, dos privilegiados. E o país real é o do povo. E Machado dizia: “o país real é bom, revela os melhores instintos. Mas o país oficial é caricato e burlesco”. Falava mais Suassuna: “a classe dirigente do Brasil quer que o Brasil seja uns Estados Unidos de segunda ordem. Eu não quero nem que seja Estados Unidos de primeira. Eu quero que o Brasil seja o Brasil de primeira”.
Amado por todos, até mesmo pela vanguarda, que ele mais de uma vez hostilizou. É verdade, ele era um conservador em matéria de costumes e de arte. Pra se ter uma ideia, ele nunca aceitou o teatro de Nelson Rodrigues, por achá-lo um amontoado de perversão e perversidade. Mas isso pouco importa agora. O mais importante é destacar que ele era um humanista, um conhecedor de humanismo clássico, um homem cultíssimo, um erudito que se disfarçava bem na fala de sertanejo, no sotaque pernambucano, nordestino entranhado.
No seu amor pelo povo, no nacionalismo que busca o melhor da civilização brasileira, era um exemplo a ser seguido por todos os escritores brasileiros.
Ouça a coluna na íntegra na Rádio Vermelho
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Comentários
Edgar Rocha
Me maravilhei no primeiro contato com a obra de Ariano Suassuna. Confesso, foi pelo “Alto da Compadecida”. Não tenho culpa. Em minha época de escola, Ariano nunca era citado em livros didáticos, intelectuais pouco o utilizavam como referência por razões óbvias e eu, como a maioria dos brasileiros, sou fruto da sociedade midiática e da ‘era da informação’, sob a qual a mesma nos chega apenas de forma conveniente a quem controla os meios de comunicação. Mesmo assim, tentei de alguma formacompensar esta defasagem imperdoável. Virei um fã. Com uma certa vergonha de vê-lo já tão velhinho sem ter conhecido sua obra anteriormente. Enfim, uma das aparições de Ariano Suassuna que mais me foram reveladoras, foi uma breve entrevista concedida por ele a um outro gênio da cultura mundial (sim, porque diz respeito a todos) chamado Carlos Nuñez. Suassuna declarou ao ilustre músico galego, neo-viajante e descobridor do Brasil real que nos é usurpado (um estrangeiro, hispânico de fala galega desbravando as novidades ocultas em nossa terra, nada mais clichê!) sua profunda reverência à cultura celta-galega, da qual somos tributários atávicos e ignorantes. Fez menção àquela que foi pra mim a maior descoberta sobre nossas origens culturais, as quais me foram sonegadas nos bancos da Faculdade de História da USP (coloquem pontos de exclamação infinitas nesta colocação. Um absurdo!). Falou das “honoráveis Cantigas de Santa Maria”, um conjunto de 427 cantigas trovadorescas em honra ao Feminino Sagrado, muito mais do que à própria Mãe de Jesus. Estão presentes nesta obra, cujo organizador foi o Grande rei sábio da Idade Média, Afonso X de Castela, toda a gama de padrões e referências musicais que ajudaram a gerar nossa musicalidade, nosso senso estético mais profundo e inconsciente. É só ouvi-las pra confirmar tal afirmação. Além do que, revela-nos nossa alma galega ainda viva, sobretudo na língua e no falar dos brasileiros, em especial, nos caipiras e nos nordestinos. Como diriam em linguagem medieval: ‘Ome, seu menino, moller, ssa menina! Atire a premeira brita quen non sabe punnar a groriosa verdad’en craro!’. Se entendeu esta frase, Verbalize-a com sotaque caipira e sinta-se um trovador medieval autêntico.
Obrigado, Suassuna!
Cláudio
Ariano Suassuna, um amante dileto do nosso povo. ****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar mudando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D
Cláudio
****:D:D . . . . ‘Tá chegando o Dia D: Dia De votar bem, para o Brasil continuar mudando!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D . . . . Vote consciente e de forma unitária para o seu/nosso partido ter mais força política, com maioria segura. . . . . ****:L:L:D:D . . . . Lei de Mídias Já!!!! ****:L:L:D:D ****:D:D … “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. ****:D:D … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …:L:L:D:D
Julio Silveira
Suassuna quando vivo declarou voto. Na Dilma.
Assalariado
Ai dele se declara no Aécio né? Ai toda sua obra seria lixo e ele uma pessoa horrível.
Regina Braga
Imagine,se ele tivesse ouvido, o Ministro de Israel, nos chamando de anões?Ah! Nem ia ficar preocupado…afinal, a branca de neve e os sete anões derrotam a rainha má!Grande perda para todos nós!E com humor se dá tres voltas nas cabeça do emplumado!
maria ana caixe
Urariano, meu amigo! Mais uma bela reflexão e conto do nosso..do meu e do conterraneo brasileiro, Suassuna! Os bons estão se escasseando…segue nossa esperança que mais bravos desenhe nossa história e alegre com os contos…como Suassuna tanto faz com sabedoria….parabeeens pelo texto e por me alegrar com ele, embora triste pelo querido Suassuna! beijo dos Caixe!
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