Lívia Tiede: Sobre mães que abandonam os filhos

Tempo de leitura: 3 min

Mães que abandonam seus filhos e as chagas de Obaluaiê

por Lívia Tiede, no Tabnarede

Conta-se na mitologia yorubá que Obaluaiê (orixá das curas) nasceu repleto de pústulas, e, por isso, sua mãe Nanã teria abandonado o recém-nascido a própria sorte numa floresta. O bebê-orixá entretanto, foi encontrado por Iemanjá, que cuidou das feridas e criou o menino, até que ele atingisse idade suficiente para seguir seus próprios desígnios.

Hoje faz uma semana que os veículos de comunicação mostraram as cenas gravadas por uma câmera de segurança em que uma mulher caminha até uma caçamba de entulho e lá deixa um embrulho. O pacote, descoberto por um catador de lixo, continha um bebê de poucos dias de vida. Essa não é a primeira história de abandono de filhos recém-nascidos realizados pelas mães, a exemplo da lenda narrada.

Compartilho outra, nem atual, nem mitológica. Numa tarde qualquer por volta do 1900, um grupo de crianças que saia do colégio nas imediações da Avenida Paulista, avistou uma caixa de papelão que se mexia. Ao aproximarem-se descobriram o frágil corpinho de um bebê. Nos autos policias que se lavraram a partir do falecimento do minúsculo ser, ficou registrado que a vítima era da cor parda. A partir desse fato, algumas pessoas apresentaram-se para testemunhar: tinham categoricamente avistado uma mulher de cor escura largar um pacote na avenida. A comoção popular chegou aos jornais, e esperava-se arduamente pela punição daquela que, tendo o privilégio de parir, não era digna o bastante para manter sua cria. Foram enviados destacamentos aos hospitais da região, e toda mulher negra ou parda que procurasse por socorro clínico devia ser avaliada, para que se houvesse a certeza de que seus problemas não eram oriundos do infortúnio que gerou a morte do rebento abandonado. Não conseguiram, alhures, encontrá-la.

Quando ouvi pela primeira vez a história de Obaluaiê, abandonado pela mãe, coberto de chagas, obviamente me compadeci do indefeso. A senhora de idade que me narrou a lenda, entretanto, emendou sem pestanejar: na minha crença não julgamos as mães que abandonam seus filhos, elas tiveram seus motivos.

Penso que há um motivo para que uma história de abandono de incapaz seja parte constituinte de um mito ligado às raízes da cultura brasileira. É assustador realmente pensar que uma mãe, ao acabar de parir, tenha abandonado o seu filho. Mas é ainda mais aterrorizante pensar nos descaminhos que a levaram a tal “opção”. Como é possível pensarmos em termos de julgamento, e ainda de prévia condenação, sem questionar o que historicamente faz com que essa mácula se repita acintosamente?

Parece que tudo que envolve a vida de um ser indefeso torna-se sagrado, e , de fato, o direito a vida deve ser assim considerado. Mas, será que nessa áurea que envolve o ser puro não deveria estar inclusa também a mãe, como parte indissociável da criação? Porque, que quando a sociedade passa a discutir a crueldade do abandono não chega a óbvia conclusão de que as políticas públicas de saúde exigem revisão urgente para que esta história não se repita? Será que é cruel também discutir o aborto frente à vida que luta numa caçamba? Parece insuportavelmente óbvio que os direitos reprodutivos da mulher perpassam diversas questões tantas vezes já abordadas, mas sempre tratadas por um raso moralismo. Entre a compaixão pelo recém-nascido abandonado e a imputação da monstruosidade à mãe, o que está mais evidente é o total desamparo de uma mulher frente a uma gravidez indesejada.

Há ainda que se considerar que um outro mito acompanha esta discussão. Aquele em que apenas a mulher é responsável pelo recém nascido. Como que para cumprir uma função “anti-machismo” e calar comentários óbvios demais, a principal matéria jornalística sobre o assunto informa: o pai da bebê, que trabalha no mesmo local que a mãe, não tinha sido encontrado pela reportagem. Mas quem realmente o procurou? Antes do abandono na caçamba, houve o abandono de uma grávida com seis filhos. Isso é menos cruel? Que régua nós, cidadãos, usamos para medir tais eventos?

Na mesma matéria sobre o caso da Praia Grande há um “entusiasmo de Salém” pela mãe ter sido encontrada. A mulher afirma que não pode criar mais um filho, porque é mãe de outros seis, e que para sustentá-los ganha salário de R$600. A reportagem alardeia que apenas três desses filhos são menores de idade, mas não nos informa sobre quantos dependem dessa parca renda.

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O advogado da mãe afirma que ela está com depressão pós-parto e arrependida. Fica um certo clima de que a “depressão pós-parto” seria uma desculpa esfarrapada para um ato de crueldade premeditado. Mas que mulher no mundo escolheria ter um filho pelo prazer de abandoná-lo? É a mesma discussão de outrora: nenhuma mulher deseja abortar um filho, nem abandoná-lo. Por mais insana que ela seja, isso não é uma escolha. Entretanto, todas as mulheres são constitucionalmente obrigadas a levar adiante uma gravidez indesejada, correndo o risco inclusive de padecer de outros males, como o tormento de se ver só e sem condições de criar um bebê.

As chagas das crianças brasileiras são mais profundas que a caçamba da Praia Grande. Obaluaiê se fez homem e orixá, segundo tal cultura, e traz consolo para os pobres filhos abandonados, mostrando uma história de superação. Mas por ora, temos que superar a insistência em demonizar mulheres alijadas de autonomia sobre seu corpo e que sofrem ausência de direitos.

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Comentários

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Roberto Santos

A tv ao apresentar notícias desse tipo, entre outras, quando não julga, sugestiona as pessoas para que vejam o abandono como um ato plenamente consciente e mal-intencionado. Isto atende aos propósitos sensacionalistas. Ninguém jamais procura fazer uma reportagem séria sobre o por quê desse tipo de abandono ocorrer, e não é só abandono físico não, há também o abandono psicológico que não dá na vista e por isso não é mostrado na tv.

Marcia Costa

A frase fantástica do texto da Lívia que me ajuda a refletir: Porque, que quando a sociedade passa a discutir a crueldade do abandono não chega a óbvia conclusão de que as políticas públicas de saúde exigem revisão urgente para que esta história não se repita?

Rubia

é realmente difícil julgar uma mãe dessa com tantos argumentos…. mas ela pode entregar a criança a adoção.. não faz porque deixando em um lugar qualquer ninguém saberia e o crime seria perfeito …. se ela falasse aos conhecidos que a criança morreu ao nascer ninguém ia ao hospital confirmar a historia.. mas será que ela sabia disso que poderia deixa-lo para adoção? se ela não foi capaz de usar os métodos contraceptivos também não teria conhecimento para entrega-lo a adoção. mas também tem esse pai que talvez tenha feito juras de amor e a convencido disso… mas dessa historia ninguém sabe nem nunca vai saber…

Anônimo

Monstras, vocês não tem o direito de fazer isto com uma criança, e tão pouco abortar um feto (uma vida ceifada antes mesmo de ver a luz do sol pela primeira vez)

    Mari

    Ainda é covarde,s e esconde no anonimato total. Vai se enterrar, que aqui não há lugar para covardes, não

Professora Nina

Só um adendo, uma mulher que depois de ter 5 filhos, não foi capaz de usar métodos anticoncepcionais que são ENTREGUES DE GRAÇA em postos de saúde, será que teria procurado um hospital para realizar um aborto?

jonas de caravlho

Boa noite a todos e eu os convidpara ler minha opinião, modesta e sem nenhuma influencia no mundo, neste endereço: http://jotagebece.blogspot.com/2011/04/vida-dentr

jonas de caravlho

Boa noite a todos e eu os convidpara ler minha opinião, modesta e sem nenhuma influencia no mundo, neste endereço: http://jotagebece.blogspot.com/2011/04/vida-dentr

Obrigado

Vinícius

Queridões, no dia que a sua cara metade, ou praticamente desconhecida, ou golpista do baú, der à luz, a gente sente alegria, êxtase, medo. Mas pensem muito na mulher que acabou de realizar a função biológica mais perigosa e desgastante que existe… Na verdade, tentem deixar o medo de lado, o êxtase de lado e até a alegria de lado um pouco. Você vai ser necessário por inteiro. Posso estar sendo um mané, mas queria que alguém tivesse me dito isso. Minha mulher teve depressão pós parto e só fiquei sabendo meses depois.

Esqueçam-se um pouco, esqueçam um pouco do milagrinho. Olhem mais pra mãe. Sério mesmo.

    rosa prouvot

    contra fatos não há argumentos Vinicius, concordo com vc.
    tive 3 filhos todos partos normais, não tive nenhum problema, mas vivenciei alguns, em que mulheres enquanto gravidas era só alegria e com muitos projetos e logo após o nascimento do bebe ou algum tempo depois se transformaram em "zumbis" conheci uma que infelismente foi ao suicidio, justo pela falta de conhecimento de quem estava perto e dividindo a "alegria" da chegada de um filho/neto/sobrinho…
    enfim…depressão mata/ dilapida um ser/ descontroi o amor e aterroriza com o panico…

Vinícius

Depressão pós-parto é horrível. O mundo todo está sorrindo, mas sobre a mãe com depressão, o mundo está é a pesar nas costas dela. A única pessoa, nessa ciranda toda de alegria, que entende o acontecido pra além da mágica. Que entende a dor no corpo, a responsabilidade frente aos outros e frente a si mesma, o absoluto egoísmo do pequeno ser que está ali…

O pior é que, seja por causa dessa espiral descendente toda, ou espontaneamente – o subconciente agredindo a moral e as necessidades a troco de nada – o interruptor do amor materno desliga e se recusa a ligar. Aí a confusão da mãe, vivendo este filme de terror, deve ser inimaginável…

Márcia Regina

Prezada Lívia,
Simplesmente irretocável seu texto! Parabéns pela lucidez, clareza e precisão de argumentação.
É um verdadeiro "tapa" na hipocrisia sensacionalista, moralista, machista e covarde da nossa "pura" classe média e elitista conservadora medíocre. Senti-me solidarizada, diante de tantas insanidades moralistas que ouvi esses dias, incluisve de colegas de trabalho que "se acham", porque pautam suas vidas e visõs de mundo pelo submundo da hipocrisia burguesa, tacanha, machista, midiática e religiosa conservadora.
Parabéns pela excelente argumentação!

Gerson Carneiro

O desespero tem razões que só o desesperado entende.
Há certas situações na vida que só quem passa sente e sabe o que é. É muito fácil para alguém que tem ao redor um mundo inteiro de conforto fazer beicinho e carentas de reprovação na tela da televisão.

Pensando sobre esse caso concreto. O abandono veio cedo. Se não ocorresse naquele momento seria muito provável que ocorreria em algum outro momento posterior na vida daquele ser humano que foi abandonado. Digo quando muitos se tornam crianças. E têm que se virar e trabalhar.

Certa vez em um mercadão (um entreposto de comércio de alimentos) passou por mim uma garota de uns 12/13 anos de idade com uma tabuleta vendendo chicletes. Falei para ela que queria comprar. Ela passou por mim e seguiu. Fui atrás achando que ela tivesse deficiência auditiva. Passei na frente dela e disse que queria comprar. Ela perguntou então qual eu ia querer. Daí eu perguntei por que ela passou por mim e não parou. Ela respondeu: – Porque os homens mexem comigo.

Aquilo me deixou arrasado. Não esqueço. Isso aconteceu em 1997. E podemos dizer que seja uma das histórias mais suaves. Fiquei pensando nas inúmeras possibilidades de misérias que acontecem e que eu não tomo ciência. Isso é horrível.

    Paulo A

    Esses dias estava conversando com uma militante feminista, e ela estava me propondo uma visão de mundo a partir da misoginia, e não da religião, raça, economia, etc. Achei surpreendente.

Mário SF Alves

É insofismável o entendimento da autora: "Parece que tudo que envolve a vida de um ser indefeso torna-se sagrado, e , de fato, o direito a vida deve ser assim considerado. Mas, será que nessa áurea que envolve o ser puro não deveria estar inclusa também a mãe, como parte indissociável da criação?"
Mais um paradoxo social a zoar nossas cabeças e a realimentar nossa indignação.
Parece mesmo é que a vida só tem valor, e é sagrada, enquanto em processo de gestação. Após isso, para a grande maioria dos brasileiros prevalece o signo do "nasceu, viu a luz, se vira, salve-se se puder!".

Andrea Serpa

Texto corajoso e sensível.Muito diferente da forma noticiada , piegas e estigmatizante.Espanta a facilidade de se julgar os atos dos outros, sem qualquer reflexão séria das questões que envolve o fato.Um grande alívio encontrar pessoas que se preocupam em levar o debate para um patamar mais realista e humano , execrando o sensacionalismo midiatico.

Daci

Lívia, parabéns vc foi clara e objetiva, quando vi ela chegando na delegacia fiquei me perguntando: será que alguma alma generosa lhe ofereceu a chence de fazer uma laqueadura antes de ser confinada em uma cela?? é pedir muito… lendo esse texto fico feliz por não esta sozinha pensando na maneira brutal como tudo é feito para crucificar e nada para ajudar, até o advogado a abandonou.

    Bruno

    E ela ofereceu à criança a chance de ser deixada com alguém, em um abrigo, em qualquer lugar, antes de jogá-la em uma caçamba de entulho?

Miryam Mager

Ninguém vai bater na igreja?? Além de tudo que já foi dito – os aspectos culturais, os sociais, os econômicos e educacionais, que atuam não só na hora de não aceitar a tarefa de ficar com a criança para sempre mas também estabelecem os canones para os duros julgamentos que a sociedade (todos os que se acham chamados para dar palpite sobre a vida de uma pessoa conhecida) temos as igrejas se metendo no assunto. Não pode fazer contracepção! Assim como se as mulheres e os homens fossem máquinas programadas. É óbvio que o planejamento familiar é a solução civilizada, não é mesmo??? Mas pela ruas do Brasil existem muitos Zumbis que não foram abandonados no momento primeiro, mas são abandonados até que alguém os vicie, coloque na cadeia ou lhes dê um tiro. Precisamos de menos hipocrisia e mais humanidade. Não adianta rezar, o problema é muito mais complexo.

Lousan

Penso que isso é ainda pior quando pensamos que tantas outras crianças brasileiras que possam ter sido jogadas, enterradas, ou qualquer outra monstruosidade inpensável e não foram flagradas por cameras ou encontradas por alguém que por ventura passava em busca de uma latinha ou passeava pelo lago (caso de MG).
é um fato repugnante e que deve ter acompanhamento pesado do governo, principalmente na conscientização e trabalho com as futuras mães nas escolas e comunidades.

Parabéns pelo ótimo artigo Livia!

Débora Natazia

O ato de abandonar uma criança é muito covarde, principalmente em uma lixeira, mas o "homem" que abandona a mulher grávida é covarde duas vezes.

Maria Thereza

Parabéns, Lívia. Além de ser um belo texto, aborda questões que sempre são jogadas para baixo do tapete. Parece que já esquecemos o bispo que excomungou a menina de 11 anos, estuprada e grávida, mas faltou pouco para dispensar honrarias e indulgências ao responsável pela situação. A gravidez é compulsória para as mulheres e opcional para os homens? Evitar a gravidez é responsabilidade só da mulher? Enquanto essa questão da paternidade responsável não for colacada em debate, muitos outros casos de abandono acontecerão.

Ética

É mais fácil condenar a mulher do que termos consciência de que nossa sociedade está doente, que maltrata as mulheres, crianças, idosos, pobres, indios e negros. Todos nós somos responsáveis por esta e outras situações que caracterizam um drama humano.Quando iremos condenar a corrupção, o domínio9 do espaço público como se privado fôsse? Quando vamos exigir daqueles elegemos que ajam com ética e respeito a nós eleitores, quando vamos exigir que nossos representantes trabalhem pelo fim da desigualdade no país? E a Constituição Federal está sendo cumprida? Jogar um bebe indefeso na rua é um grito de dor, de socorro. Nosso país precisa amar e respeitar suas crianças, as mulheres, indios, negros, quilombolas e pobres, vítimas da ganância da oligarquia que produziu problemas que os destratados/marginalizados não são responsáveis, nem nossos bebes atirados à rua, que nesta condição são parte de cada um de nós que temos consciência e sabemos que este bebe é vida e ao lutar pela vida, já está lutando por justiça.

Marcelo

Abandonar uma criança por não poder cuidar é aceitavel , jogar no lixo é monstruoso e nada justifica .

    Miriam

    Marcelo, você não entendeu nada. Tem que ler tudo de novo. E de novo. E de novo. E de novo.

    Bruno

    Eu li algumas vezes. Abandonar uma criança em um abrigo, na porta de uma casa de estranhos, no hospital, é aceitável. Jogá-la no lixo é MONSTRUOSO mesmo.

Armando S Marangoni

Tudo o que um homem pode falar sobre ter filhos é o que conhece de ver, de conviver, mas não de sentir. Reproduzir-se, partir-se em geração, alimentar de si, não dá nem para imaginar.

Por quê, então, a mãe é separada do filho para julgá-la? Que conveniência é essa? Deve fazer parte do mesmo corpo de critérios que conduz o insistente lado machista da nossa sociedade, ou seria o lado conveniente, preguiçoso, covarde?

A pergunta feita pela Lívia Tiede: " … será que nessa áurea que envolve o ser puro não deveria estar inclusa também a mãe, como parte indissociável da criação? " é, penso eu, a grande pergunta a se fazer em qualquer situação que envolva mãe, filho e desespero.

Oliveira

Resumindo. Lívia Tiede defende que a criança deve ser morta no ventre da mãe, sem defesa, sem direito a chorar e sem um enterro digno. O bebê jogado no lixo, pelo menos, vai ter a chance de ser um cidadão. Vai decidir o seu destino. Quanto aos pais da criança, terão a oportunidade de corrigir o erro, pois o filho sobreviveu.

    Luís

    Nossa. Abandonar um babê no lixo é mil vezes melhor do que interromper uma gravidez indesejada.

    Parabéns champz!!

    Almeida Bispo

    Cê vai acabar apanhando ou assado na fogueira por dizer "esse monte de asneiras"; ser "politicamente incorreto". Por acaso não conheces o que é "modernidade", criatura? Surfemos na onda…

    Henri

    Onde está escrito isso no texto dela? Acho que você precisa se alfabetizar.

    Bruno

    O texto tenta justificar o injustificável, Henri. NADA, nem condições sociais, nem o abandono do "parceiro", nem NADA, justificam abandonar uma criança na lata do lixo. A discussão do aborto é oportunismo.

    Carolina Souza

    Qual a diferença entre a pílula do dia seguinte e um aborto no segundo mês de gestação? Um aparece nas estatísticas e o outro não? Em um dos casos há várias células com vida e o outro não?

    Bruno

    Nenhuma diferença, Carolina. Dê o exemplo, não use a pílula do dia seguinte, ora! Camisinha é, entre outras coisas, para isso.

    Carolina Souza

    Vc pode ter certeza de que quem se nega a usar a camisinha não são as mulheres.
    E, assim, presumo que vc concorde com o aborto em casos de estupro, né? Ou é culpa das mulheres tb não obrigarem seu agressor a usar camisinha?

Luci

Há décadas o exemplo que temos presenciado em nossa TV é o da sexualidade desde a infância e os problemas que estamos presenciando tem origem, neste incentivo a sexualidade antes da plena maturidade. Vemos exemplos grotescos na TV, mas nunca assistimos uma campanha que eduque sobre sexualidade, sobre afetividade, amor e gravidez na adolescência, ou sem o minimo de estrutura para este momento importante para a mãe, a família e o bebê. Repito a sociedade supostamente está abandonada, esta é a mensagem de quem deixa o filho, é a desumanidade que nos une na dor de conviver com momentos dolorosos de saber e ver nossas crianças neste desamparo. Jogar uma criança representa o abandono da mãe, a luta pela vida do bebe e nossa falta de atenção para os proble gravíssimos de pobreza e exclusões que a situação desumana indica.Privilegiar obras gigantescas é um sistema de exclusão.O secretário Geral da Anistia Internacional Salil Shetty, conheceu um pouco de nossos probelemas sociais, vale a pena conferir a entrevista.Estes bebes abandonados são um grito de alerta, de que estamos desumanizando-nos.

Mévia

Toda discussão é bem vinda, mas, tenho observado que a sociedade normalmente quer "crucificar" as pessoas que cometem erros. No entanto, no meu ponto de vista, tudo tem contribuido para esse caos social pelo qual estamos passando. Mulheres que abandonam seus filhos, mulheres que matam filhos, homens que querem assumir os filhos e a justiça determina que permaneça com a mãe, e vice-versa, homens que deveriam ser tão responsáveis pela relação segura quanto as mulheres, afinal não é condição "sine qua non" da mulher. A midia faz um "carnaval" em cima da notícia, e repete tantas vezes as mesmas coisas, que a criança pelas minhas contas já foi abandonada pelo menos umas cem vezes, e o que isso resolveu??? Parece que até agora nada. É isso…

    Mário SF Alves

    Faz carnaval mesmo; e não é um carnaval qualquer, não. É um carnaval prá lá de elaborado, com mestre-sala e porta-bandeira travestidos de deuses, donos da verdade e com ares de tão infalíveis quanto um dia, dizem, já teria sido o Papa. É sim, o carnaval da descontextualização, o carnaval da fragmentação do real, o carnaval-show da manipulação das consciências. E tinha de ser assim, mesmo porque a Casa só se mantém Grande quando todo o entorno se mantém Senzala.

    Mévia

    Com certeza, e parece que essa senzala vai continuar por muito tempo.

Dani Tristão

Sequer houve na reportagem uma preocupação com o destino dos seis filhos dessa mulher, ao contrário, para fazer o assunto render mais disseram que provavelmente ela já havia abandonado mais três filhos e não mostraram nenhuma prova disso, nenhuma evidência. Deixando a mulher como se fosse um bicho irracional. Uma mulher que sustenta sozinha seis filhos com um salário de 600 reais deveria ser tratada com um pouco mais de compreensão.

Dani Tristão

Impressionou-me o machismo das reportagens feitas pela emissora Rede Globo, que tratou o pai da criança com um respeito que foi negado a mãe. Ele teve o direito de esconder seu rosto e se defender dizendo que não sabia da gravidez e preferia não mostrar o rosto porque era casado. Ora, era casado, tinha uma amante, não usou camisinha e teve amplo direito de se defender na TV? A mãe já havia dito aos policiais que tinha contado ao pai e que, não houve interesse algum da parte dele em ajudá-la. E alguém duvida disso? A necessidade da reportagem em criminalizar mais ainda essa mãe ficou notoriamente visível quando tratou o pai como um total inocente. Por fim o homem sai de vítima da história enquanto a mulher vai para a cadeia deixando seis filhos a própria sorte.

Maísa Pardo

De fato, um excelente texto.
Parabéns Lívia!
Refletir sobre a responsabilidade social parece ser o melhor caminho para esse e outros debates que muitas vezes são difundidos de maneira tão sensacionalista. Passa da hora de arrancarmos o véu do moralismo fácil e buscarmos enxergar a teia complexa que jaz por detrás de temas delicados como é o abandono de criança, aborto, gravidez indesejada, e muitos outros que são facilmente tratados de maneira simplista pela grande mídia e engolidos passivamente por uma sociedade cada vez mais insensível.
Mais uma vez, parabéns!

@_taw_

Se já tinha seis filhos, e não queria outro, seria melhor ter feito uma ligadura de trompas. Não é justo jogar toda a opressão que ela recebe da sociedade para o bebê. Ao menos, poderia ir a um fórum e informar seu desejo de entregar para adoção. Ninguém precisa morrer.

Como disse o Valdeci Elias: “Partindo-se do pré-suposto que o homen é bom, e que algum motivo levou a cometer um crime, ninguem mais vai ser preso, a não ser os loucos.”

Agora, concordo que deveríamos discutir formas de se evitar uma gravidez indesejada, de tornar os pais mais responsáveis com os bebês, com a vida humana. Mas, ao meu ver, o aborto é uma injustiça perversa contra um inocente, tanto quanto o abandono de incapaz… ou mais.

Não se trata de condenar a ela, mas ao comportamento.

@anitasoares

O texto é muito bom e discute questões bastante pertinentes, mas na minha opinião é importante lembrar que a solução desse problema passa também pela educação, uma vez que há meios eficazes para se combater a "gravidez indesejada". Nenhuma mulher, seja qual for sua condição social, está fadada a ter um filho (ou seis, como a que foi citada no texto) se ela estiver consciente dos métodos anticoncepcionais e os tiver a sua disposição. Além disto, a lixeira não é o único destino possível no caso de se ter um filho indesejado ou que não se possa criar. Há outras saídas mais dignas e menos cruéis, inclusive a entrega para a adoção que foi citada em um dos comentários. Enfim, acho que seria útil se pensar em como conscientizar e educar as mulheres, desenvolvendo seu poder de escolha, em vez de colocá-las como vítimas indefesas do Estado, do parceiro, da sociedade, etc etc

    Luci

    O texto é tão preciso. É preciso educar melhor os homens. Os meios de comunicação precisam deixar de ver mulheres com lentes retrógradas e machistas. E todos nós temos a responsabilidade de mudar o que está estabelecido.O bebe não é indesejado, é vítima de um sistema cruel de exclusão social.

    Daci

    Luci,concordo com vc e acho que os hospitais deveriam atender melhor essas mulheres carentes e fazer um laqueadura sem tantos sacrificios, para quem não vive na pele o drama acha que é facil conseguir, conheço mulheres que só fizeram porque voltaram para suas terras de origem (nordeste) lá é muito mais facil hoje, nem sempre foi assim!
    Porque ninguém oferece uma cirurgia a essa senhora ao inves de só lhe oferecer uma cela?? Cade o lado humano do estado??
    Essa senhora precisa urgente fazer uma laqueadura, já devia ter feito, mais só ela sabe das suas angustias e dores.

    Luci

    O dia que pedirem laqueadura para corruptos, ai sim quero ver.

    Bruno

    Ou fechar as pernas.

    bruna

    engraçado vc não dizer e "cortar o pau", né?! Conveniente, não acha?!

    bruna

    engraçado vc não dizer "ou não usar o órgão masculino", né?! Conveniente, não?! A mulher deve fechar as pernas, o homem pode fazer o que quiser! Que absurda a sua incoerência!

joao

excepcional

Ana cruzzeli

Azenha
Como já disse no passado e vou dizer até alguém me mandar calar atravez da omissão de meus comentários:
No Brasil o GRANDE problema, o grande TABU não é nunca foi ,e não será o ABORTO e sim ADOÇÃO, A Lígia sem querer diz que seu VERDADEIRO TABU É A ADOÇÃO . Aqui uma parte do texto que isso fica CLARISSIMO:
¨….como o tormento de se ver só e sem condições de criar um bebê.¨
Meu Deus, por que uma mulher tem que carregar esse tormento, por que não entregar esse bebê para adoção? PORQUE O MAIOR TABU NO BRASIL É ESSE, ADOÇÃO.
Nos dito países ¨CIVILIZADOS ¨ esse tabu também existia, parou de exister, por quê? Eu respondo, porque se instituiu o aborto e as MENORES DE IDADE NÃO PODEM FAZER ABORTO SEM AUTORIZAÇÃO DO TUTOR. É só por isso. Ao conversar com os tutores que estavam gravidade, estes orientavam a levar a gravidez até o fim e depois entregar para ADOÇÃO!!!

AZENHA, UM DIA VOCÊ OU CONCEIÇÃO vão fazer uma reportagem sobre isso que eu falo aí emcima.
Sei que vai levar algum tempo, tenho MUITA PACIENCIA, posso esperar .

    Vinícius

    Clap clap clap. Demorou.

    Tenho 3 irmãos, um deles adotado. Quando conheci ele, era minúsculo, magro. Quase morreu, todo cagado e suado, no orfanato. Sem brincadeira. sem exagero. O descuido que se tem pros órfãos no Brasil é assassino.

Kelly Passos

Excelente. Não havia pensando por esse lado.

Ivonete

Floripa, um homem e duas mulheres, de classe média, sentados numa sala de espera de um hospital assitem a TV, que transmite a notícia sobre a mulher que abandonou o filho. Que coisa triste e absurda, diz uma delas. O homem imediatamente responde: "a culpa é do governo". As duas mulheres imediatamente perguntam: "como assim"? O homem continua: "o governo deveria fazer laqueadura compulsória nas mulhere miseráveis que não tem condições de criar filhos". "isso seria invadir o corpo das pessoas", diz uma das mulheres. "Isso é falta de ética", diz a outra. Irritado, o homem se levanta a sai, mas antes de sair, ainda diz algum desaforo a respeito dessa discussão ética. Esse é um perigo que ronda a sociedade, na falta de uma discussão política ampla e democrática sobre esses problemas sociais, corre-se o risco de que soluções fascistas sejam colocadas como opção dos conservadores. Mas além disso, lendo o texto, me ocorre uma reflexão a mais: A não responsabilização dos pais de crianças abandonadas encontra seu nexo na atitude daquele homem da sala de espera.

Valdeci Elias

Ao se visitar uma penitenciaria, e entrevistar os presos, vai se descobrir que todos tiveram um motivo pra cometer um crime. Partindo-se do pré-suposto que o homen é bom, e que algum motivo levou a cometer um crime, ninguem mais vai ser preso, a não ser os loucos.

Luci

Parabéns Livia Tiede.Em qualquer outro país do mundo esta situação mobilizaria autoridades do país, para uma mensagem à sociedade, para garantir o direito à vida, a relacionamentos mais responsáveis para com uma provável gravidez. Antes do debate (importante sobre o aborto) é preciso o debate sobre o direito de crianças serem respeitadas desde a concepção, o direito à vida. E um diálogo aberto dirigido aos homens sobre paternidade responsável. Quando será que uma cabeça solidária e iluminada ira manifestar-se, sem blá, blá, blá?

    Armando S Marangoni

    Um diálogo aberto dirigido aos homens ou um diálogo dirigido aos homens abertos, que é o que imagino ser a única possibilidade de se obter algum avanço no esclarecimento dos machos da espécie, ainda que quase sempre insignificante.
    Uma mulher falando a um homem é só o que ainda é possível. Falta-nos idade para sermos indivíduos, falta-nos experiência acumulada na cultura para nos amparar. Precisamos dos exemplos de nossos avós para acreditar, e nossos avós eram piores nisso.

Luci

Cada criança abandonada representa o abandono a que todos nós estamos submetidos, que nos desumaniza e nos torna apáticos à política.Quando assistimos TV (por exemplo) constatamos o abandono a que estamos submetidos, programação violenta, manipuladora, sem conteúdo e com destruição de valores solidários.Estes bebes abandonados somos nós.

Luci

Uma mãe que abandona o filho, é uma mulher abandonada pelo parceiro, pela família, pela Constituição Federal, pelo Estado e pela sociedade. Se o artigo 6º de nossa Constituição Federal fôsse cumprido, não veríamos esta situação reiteradas vezes.Se as Metas do Milênio estivessem sendo cumpridas….

Mariana Andrade

Disse tudo!!!
Lindo texto!

José

Nas sociedades tradicionais se diz que toda criança é filha da sociedade. Entre nós existe esse conceito de posse e separatividade que diz "quem pariu Mateus que o balance"…
Não é justo atribuir a responsabilidade pela subsistência de uma criança exclusivamente à mulher que o pariu, nem tampouco ao pai que a fecundou.
A tragédia do abandono não se esgota no episódio da lata do lixo. Milhões de crianças são criadas por mulheres e homens contrariados e oprimidos pelo peso de uma responsabilidade absurda que alimenta um ciclo vicioso de violência doméstica insidiosa.Talvez por isso as pessoas demonstrem tanta raiva daquela mulher, porque na verdade enxergam a si mesmas ali.
Precisamos discutir o direito ao aborto como ponto de partida mas também o próprio conceito de posse sobre pessoas idéias e objetos que vem construindo uma sociedade perversa e repleta de crianças abandonadas.

Antonio Morais

Muito bom.

T. Sanches

Lívia, obrigada pelas suas corajosas palavras.

Mário Toledo

LIndo!

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