Oriente Médio: nada será como antes
por Emir Sader, no seu blog
Por duas fortes razões o Oriente Médio tornou-se um pilar da política externa do império norteamericano: a necessidade estratégica do abastecimento de petróleo seguro e barato para os EUA, a Europa e o Japão, e a proteção a Israel – aliado fundamental dos EUA na região, cercado por países árabes.
Por isso o surgimento do nacionalismo árabe tornou-se um dos fantasmas mais assustadores para os EUA no mundo. Por um lado, pela nacionalização do petróleo pelos governos nacionalistas, afetando diretamente os interesses das gigantes do petróleo – norteamericanas ou europeias –, pela ideologia nacionalista e antimperialista que propagam – de que o egípcio Gamal Abder Nasser foi o principal expoente – e pela reivindicação da questão palestina.
A história contemporânea do Médio Oriente tem assim na guerra árabe-israelense de 1967 sua referência mais importante. A união dos governos árabes permitiu a retomada da reivindicação do direito ao Estado Palestino, que foi respondida por Israel com a invasão de novos territórios – inclusive do Egito -, com o apoio militar direto dos EUA.
Novo conflito se deu em 1973, agora acompanhado da política da OPEP de elevação dos preços do petróleo. A partir daquele momento ou o Ocidente buscava superar sua dependência do petróleo ou trataria de dividir o mundo árabe. Triunfou esta segunda possibilidade, com a guerra Iraque-Irã, incentivada e armada pelos EUA, que golpeou dois países com governos nacionalistas, que se neutralizaram mutuamente, em um enfrentamento sangrento. Como subproduto da guerra, o Iraque se sentiu autorizado a invadir o Kuwait – com anuência tácita dos EUA -, o que foi tomado como pretexto para a invasão do Iraque e o assentamento definitivo de tropas norte-americanas no centro mesmo da região mais rica em petróleo no mundo.
Os EUA conseguiram dividir o mundo árabe tendo, por um lado os regimes mais reacionários – encabeçados pelas monarquias, a começar pela Arabia Saudita, detentora da maior reserva de petróleo do mundo, e por outro governos moderados, como o Egito e a Jordânia. A maior conquista norteamericana foi a cooptação de Anuar el Sadar, o sucessor de Nasser, que supreendentemente normalizou relações com Israel – o primeiro regime da região a fazê-lo -, abrindo caminho para a criação de um bloco moderado, pró-norteamericano na região, que se caracteriza pela retomada de relações com Israel – portanto o reconhecimento do Estado de Israel – e praticamente o abandono da questão palestina. Passaram a atuar também dento da OPEP, como força moderadora, favorável aos interesses das potências ocidentais.
O Egito, como país de maior população da região, com grande produção de petróleo e país daquele que havia sido o maior líder nacionalista de toda a região – Nasser – passou a ser o peão fundamental no plano político dos EUA na região. Não por acaso o Egito tornou-se o segundo país em auxilio militar dos EUA no mundo, depois de Israel e à frente da Colômbia.
Essa neutralização do mundo árabe, pela cooptação de governos e pela presença militar dos EUA no coração da região – atualizada com a invasão do Iraque – constituiu-se em elemento essencial da politica norteamericana no mundo e da garantia de abastecimento de petróleo para complementar a declinante produção dos EUA e todo o petróleo para abastecer a Europa e o Japão.
É isso que está em jogo agora, depois da queda das ditaduras na Tunísia e no Egito. Impotente para agir de forma direta no plano militar, os EUA tentam articular transições que mudem a forma de dominação, mas mantenham sua essência. O Exército preferiu a renúncia de Mubarak, porque se deu conta que sua presença unia a oposição. Tem esperança que, sem ele, possa cooptar setores opositores para uma coalização moderada – com El Baradei, a Irmandade Mulçumana, com o apoio dos EUA e da Europa – que possa fazer reformas constitucionais, mas controlar o processo sucessório nas eleições de setembro, conseguindo desmobilizar o movimento popular antes que este consigar forjar novas lideranças.
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Indepentemente de que possa se estender a outros países da região – de que a Argélia, a Jordânia, o Marrocos, a Arábia Saudita, são candidatos fortes – a queda das ditaduras na Tunísia e no Egito demonstra que os EUA já não poderão manter o esquema de poder montado há mais de três décadas. O menos que se pode esperar é a instabilidade política na região, até que outras coalizões de poder possam se organizar, cujo caráter dará a tônica do novo período em que entra o Oriente Médio.
Comentários
pap
SARAH PALIN, futura presidente dos eua, vai querer ficar sem o oriente medio a seus pés?
monge scéptico
A USA derrubou mubarak(será que foi o povo?) E logo estarão por trás do novo títere,
puxando as cordinhas. O que mudou foi a foto e, logicamente, haverá algumas "mu-
-danças" plano político, para dar uma aparência de independêcia. Mas na raíz do
governo estão os militares, "catequizados" pela USA! Éassim, aqui ali e lá.
Quero me enganar e reconhecer meu engano. BOA SORTE!(PHA)
mariazinha
Poxa, MONGE. Eu estava tão feliz pensado que o POVO EGÍPCIO e, em cadeia, o povo muçulmano e os árabes estavam recuperando a HONRA! Já imaginava até todos unidos, botando ordem no OM. Cheguei a sonhar que os iranianos judeus haviam corrido com os sionistas e que os palestinos cantavam e dançavam após serem libertados de Israel!
VC jogou água fria, gelada, em mim.
SILOÉ
Agora é tarde. O povo está ciente da sua importância no contexto mundial, sabe que o destino do seu país depende unicamente deles. Se os EUA não negociar com transparência vai se ferrar.
Roberto Locatelli
Posto aqui um trailer do excelente filme Watchmen. Abaixo, a tradução da trilha sonora do "Muse".
[youtube aU02FSndbLY&feature=player_embedded http://www.youtube.com/watch?v=aU02FSndbLY&feature=player_embedded youtube]
Corrupto, você é corrupto,
E traz a corrupção e tudo o que você toca.
Espere, você vai ver,
E será detido por tudo o que você fez.
E um feitiço, você lança um feitiço,
Lança um feitiço sobre o país em que você vive.
Risco, você vai pôr em risco,
Você vai pôr em risco as vidas e as almas de todos eles.
E queimar, você vai queimar,
Você vai queimar no inferno, sim você vai queimar no inferno.
Você vai queimar no inferno, sim você vai queimar no inferno por seus pecados.
E a nossa liberdade está consumindo a si mesma,
O que nos tornamos é o contrário do que queremos.
Aceite.
Morte, você traz morte e destruição a tudo que você toca.
Pagar, você tem que pagar
Você tem que pagar por seus crimes contra a Terra.
Sortilégio, alimente o sortilégio,
Alimente o sortilégio do país que você ama.
E implorar, você vai implorar
Você vai implorar pelas vidas deles e pelas almas deles.
Sim,
Queimar, você vai queimar,
Você vai queimar no inferno, sim você vai queimar no inferno,
Você vai queimar no inferno, sim você vai queimar no inferno,
Queimar no inferno, sim você vai queimar no inferno por seus pecados.
Roberto Locatelli
O combustível da Revolução é a fome e a miséria. As chamas se expandirão por toda a África e Oriente Médio. E pode chegar à China.
uikiliki
Não sei não, mas não confio nesse tal de El Baradei. O "cara" foi presidente da AIEA, deu umas explicações esquisitas quando das denúncias norte-americanas de Sadam deter armas nucleares. Vive no Ocidente se ofereceu a assumir governo provisório. Acho que ele é pau-mandado dos States. Melhor para o EGITO é que o poder esteja em mãos de nacionalistas-democratas.
Roberto Locatelli
Assino embaixo!!
renato
Esta conversa que os judeus, bem como os árabes são descendentes de Abraão é de cunho religioso e não tem qualquer comprovação histórica. O Livro do Gênesis está cheio de anacronismo. Israel Finkelstein de Neil Asher Silberman no livro "A Bíblia não tinha razão", Editora Girafa dão valiosas contribuições para sabermos como a Bíblia foi produzida.Não há prova alguma que Abraão existiu. Basear reivindicações territoriais com base em texto bíblicos é o supremo absurdo. Judaísmo, Cristianismo, Islamismo e outros "ismos" tem sido fontes de guerras e perseguições ao longo da História. Infelizmente em pleno secúlo XXI vemos multidões acreditando em mitos produzidos num contexto histórico completamente diferente do nosso . Abaixo todas as crendices, estultices e burrices que infestam o planeta.
José Vitor
A bíblia, como qualquer livro religioso, não é um documento histórico, está cheia de mitos e contradições.
Agora, que os judeus (pelo menos os originais, de 2000 anos atrás) são aparentados aos árabes não é muito difícil de ver. Isso fica bastante evidente quando se consideram as línguas hebraica e árabe, que são parecidíssimas.
N verdade, na minha opinião os judeus eram originalmente apenas mais uma das incontáveis tribos árabes que viviam na religião. A exclusividade que sempre se arrogaram foi um artefato surgido durante a diáspora, que com o tempo foi ganhando força dentro dos judeus espalhados **pela Europa**.
Taí, meus R$0,02.
malu
A libertação do povo egipcio parece coisa de Bíblia.
allan mahet
Enfim
Allan Mahet
Acompanhar a história sendo feita, ali na sua frente, é um privilégio que acontece de tempos em tempos. E nesta sexta-feira presenciamos um importante capítulo sendo escrito na história mundial. O faraó, como os egípcios chamavam Mubarak, caiu. Após quase vinte dias de grandes manifestações e pressões internacionais, o ditador múmia arregou e levou junto sua cópia, o vice Suleiman.
Um feito extraordinário fruto da mobilização e resistência do guerreiro povo egípcio. E essa febre de luta já contaminou outros países e podemos ter uma onda de revoluções no mundo árabe ao longo do ano. Síria, Jordânia, Arábia, Argélia e Iêmen poderão passar pela transformação iniciada pela Tunísia.
http://amahet.blogspot.com/2011/02/enfim.html
Julio
Excelente artigo. A retórica de liberdade e democracia esconde os real interesse que seria o controle das fontes de petróleo. Controle este que só pode ser conquistado com a desestabilização de movimentos nacionalistas que visam o bem comum destes povos, em contraponto com o bem das corporações de petróleo – vide articulações entre José Serra e Chevron.
Neste segundo caso, a articulação se da através da cooptação de políticos afinados com os interesses corporativos norte americanos. Já no oriente médio, há maior risco de empregarem meios menos sutis, devído à natureza volátil da situação atual, com um movimento em direção a mas sem efetiva consolidação da democracia, o que leva anos, ou mesmo gerações.
Os tempos mudam mas também as garras do imperialismo neo-liberal se transfiguram, encontrando sempre novos meios de se apropriar daquilo que deveria pertencer ao povo, nomenadamente, as fontes nacionais de riqueza mineral. Ou alguém dúvida que as grandes corporações preferem mais poder sobre o pré-sal do que vê-lo entregue ao povo Brasileiro?
Bonifa
As "garras do imperialismo neoliberal" vão estar muito ocupadas com o que vai estar a acontecer em seus próprios países. Seus povos estão a ponto de repensarem seus destinos, estão a ponto de se desinfantilizarem, depois de passarem anos dopados por uma sensação de dignidade que agora se vê falsa e vazia. Não acreditamos que a revolução egípcia seja apenas um sintoma a anunciar a necessidade de por em prática um novo e engenhoso sistema de dominação. É bem mais provável que seja uma rachadura enorme na muralha de uma represa que já não pode conter a força das águas da História em marcha. Um Egito desenvolvido e democrático, com um povo altivo e bem educado, é o futuro que os egípcios reivindicam e do qual esta revolução é o marco muito bem fincado e definido. A aspiração a este futuro não pode ser negada ou travada por nenhum outro país, a não ser que este outro país assuma tornar-se abertamente um bandido internacional.
Valdir
Luana: O problema é que Hagar além de ser egipcia era escrava e Sara não era. Parece que a encrenca começa por aí. Gostei imensamente do seu esclarecimento. Pode crê. O problema entre as classes temos visto aqui tambem, Lula é" analfabeto", filho de pobre e nordestino.Vejam como ele é tratado pelas "zelites".
Carlos Mendonça
Como efeito colateral dessa linda revolução do povo egípcio, a canção "Into The Fire" da banda Thirteen Senses alcançou fama mundial ao se tornar trilha sonora daquele vídeo no YouTube com cenas da Revolução Egípcia, que alcançou mais de 1 milhão e meio de visualizações em menos de uma semana (aquele vídeo no qual o rapaz aparece gritando que não importa sua religião, cristão, muçulmano ou ateu, você tem que lutar pelos seus direitos).
Nunca vou esquecer essa canção. Sempre me lembrará a belíssima revolução feita pelo bravo povo do Egito. Sempre me lembrará o ano de 2011!
Colin Brayton
Eu estou lembrando-me da minha primeira professora da língua árabe, uma egípcia vivaz e engraçada. "Ora, me visto de jeito esquisito mas meus tênis são Nike!" Meu segundo professor era um gringo que trabalhava por Aramco por muitos anos e tinha um sotaque esquisito. Estou torcendo hoje pela felicidade da minha querida Umaima Abu Bakr, com seu jeito de trazer uma modernidade à vida tradicional do povo e mater as tradições sem as quais um povo não o povo, só um bando gente sem nada a fazer. Faria um ótima ministra de cultura.
O embaixador brasileiro Amorim foi muito elegante apontando as falhas da tése da Guerra Meio Inefinida Contra Uma Emoção Difusa, mais temo que o próximo homem forte de Egito será o clone do antigo. Em qualquer caso, logo haverá mais saraivadas do mais execrável e nojento racismo da turma de DIRTYARAB.PAJAMAS.MEDIA.COM, mais vai difícil essa vez conter o sentimento de identificação com aqueles jovens de al-Qahira.
Infelizmente, é possível votar democraticamente contra um candidato complacente com A Maior Democracia do Mundo. Democracia é assim. A eleições só não são farsescas se eu tiver a liberdade de denunciar uma farsa. Então, a gente terá que engolir isso agora. Pìsamos na bola irrecuperávelmente, e ainda por cima tem pessoas em cidades norteamericanas estudando as táticas dos Sem-Teto. Li ontem no UseNet. Por incrível que parece.
A questão palestina terá que ser tocada por quem tiver mais moral e menos sangue nas mãos. A gemte fala de "ter um cão na briga." Quem não tem terá o moral de intermediar. O Israel agora terá que fazer novos amigos, sem o luxo de ficar falando grosso por ser o amiguinho do fortão do bairro.
Sader, você que sabe, mas tem muito a fazer. A situação India-Pakistão me espanta. O caos social de hipotecas executadas lá em casa me espanta. Uma nova normalidade, e civilidade, precisa ser estabelecida no mundo o quanto antes. Estou apostando que um pais cujo corpo de diplomatas produziu um Vinícius poderia ajudar bastante.
Luana
Talvez o melhor seria, são vinte e dois países semitas, de origem árabe – Abraão/Hagar/Isamel Esaú/Edom – as origens genealógicas dos árabes.
Um país semita de origem, judaica – Israel – Abraão/Sara – todos semitas de Ur dos Caldeus, atual Babilônia/Iraque que moravam na Mesopotâmia e migraram para a terra de Canaã, Egito e lá ficaram até entrarem na terra prometida, segundo a Bíblia.
P A U L O
Israel não é um país, é uma base terrorista..
Sergio F. Castro
E com armas atômicas!
Jade
E comem criançinhas!!!
Jorge
Apoiado!
Luana
Desde os primórdios que o Egito sempre recebeu hordas de pessoas. O Egito não é um país predominantemente árabe com a ascensão do Império Otomano os árabes conquistaram a Afrícá e o Egito não ficou de fora, haja vista fazer parte do OM. Para deixar claro: há vinte e dois países árabes, ou seja, descendentes diretos de Abraão/Ismael com Hagar/egípicia e com Esaú/Edon, Ou seja, árabes são semitas por parte de pai e egípicios por parte de mãe. Os egípicios são misturados, são canitas, jafetitas e semitas, pois outros povos semitas que são da linhagem de outro filho de Sem. Portanto, há vinte e dois países árabes/semitas descendentes de Abraão/Isamel e Isaú/Edom.
vera oliveira
uai Luana e o que isso tem à ver???os judeus também são misturados
Luana
Sim, são, mas não origem casaram entre si, ou seja, semitas direto. Melhor dizendo, no que respeita à promessa, não se misturaram. O filho da promessa não é Ismael, é Isaque, Sara e Abraão têm a mesma origem, Isaque e Rebeca, Jacó, Leia e Raquel, há também suas escravas, que a Bíblia não diz a origem, mas Judá da qual vem Jesus e José outro patriarca importante, são filhos de Leia e Raquel, não que os outros não sejam importantes, Mas na divisão de Israel foram a casa de José e Judá. Enfim, é uma longa história.
Luana
Se te interessar, talvez esta série de vídeos ajude a entender, Vera, é bastante didático e interessante,
http://www.youtube.com/watch?v=ZWBus9BGWVg&fe…
Scan
"O filho da promessa não é Ismael, é Isaque…"
Folgo muito em sabê-lo! Não conheço a mãe, Promessa, mas desde já lhe envio parabéns pela genitura. Alvíssaras!
A biblia com manual de geopolítica é dose pra javalí ensandecido…
Luana
Azenha,
E cinquenta e sete países que são islâmicos, ou seja, são teocráticos na forma de governar, pois tem no islã, sua forma de governo, melhor dizendo teocracias, mas não são semitas. Durante o Império Otamano, restaram estes países com estas qualidades.
Há um outro país semita, Israel, estes são descendentes de Abraão com Sara. Portanto, como sabemos, árabes e judeus são semitas/primos, têm mães diferentes, mas tem o mesmo pai em comum, Ou seja, Abraão, que está sepultado em Macpela e, segundo a Bíblia, Isaque o Ismael foram sepultá-los.
Continua
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