Vagner Freitas: Parlamentar que votar contra trabalhador e aposentadoria vai morrer abraçado a Temer
Tempo de leitura: 5 minFotos: Roberto Parizotti/CUT e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil, via Fotos Públicas
“A crise política só começará a ser debelada com novas eleições”
Presidente da CUT, Vagner Freitas fala sobre a greve geral de 28 de abril, contra as reformas de Temer, e sobre o movimento pelas Diretas Já
por Rodrigo Martins, em CartaCapital, 21/04/20171
Michel Temer vive um período de profundo descrédito com a população. De acordo com uma pesquisa do Instituto Vox Populi, encomendada pela Central Única dos Trabalhadores e divulgada em primeira mão por CartaCapital, 78% dos brasileiros desejam que o Tribunal Superior Eleitoral casse o mandato do peemedebista pelas supostas irregularidades cometidas pela chapa Dilma-Temer em 2014.
Não é tudo: nove em cada dez brasileiros desejam que o novo presidente seja escolhido por eleições diretas, e não pelo Parlamento, como previsto pela Constituição.
Com a implosão do sistema político pelas delações da Odebrecht, Vagner Freitas, presidente da CUT, diz não esperar do Legislativo qualquer solução.
“A crise política só começará a ser debelada com novas eleições, e somente uma intensa mobilização popular, com os movimentos sociais e a população nas ruas, será capaz de antecipá-las”, afirma.
As centrais sindicais planejam, para o próximo dia 28, uma greve geral contra as as reformas trabalhista e previdenciária de Temer.
Desde o início do ano, o movimento sindical tem enfrentado dificuldade para garantir a adesão de trabalhadores de setores estratégicos da economia em um cenário de elevado desemprego. Agora Freitas se mostra confiante em uma megamobilização, impulsionada pelo próprio governo.
Apoie o VIOMUNDO
“Cada vez que Temer se manifesta pelas reformas que retiram direitos dos trabalhadores, ele aumenta as nossas chances de sucesso. A sociedade civil é absolutamente contrária a essas propostas”. Na entrevista a seguir, Freitas fala sobre a mobilização. E defende a inclusão da bandeira pelas “Diretas já!” nos atos previstos para 28 de abril.
CartaCapital: Diante do tsunami causado pelas delações da Odebrecht, dá para esperar uma saída para a crise política construída pelo Legislativo?
Vagner Freitas: Não acredito. Boa parte dos deputados e senadores que estão aí sabe que não será capaz de se reeleger em 2018, até pelos reflexos da Lava Jato. Muitos parlamentares parecem negociar o fim de suas carreiras. A crise política só começará a ser debelada com novas eleições, e somente uma intensa mobilização popular, com os movimentos sociais e a população nas ruas, será capaz de antecipá-las.
A exemplo do ocorrido nos anos 1980, a campanha pelas “Diretas Já” voltará com força.
A pesquisa CUT/Vox Populi mostra claramente isso. Para 78% dos entrevistados, o Tribunal Superior Eleitoral deveria cassar o mandato de Michel Temer. E um total de 90% deseja que o novo presidente seja escolhido diretamente, e não pelo Parlamento. Por isso, estou otimista. Acredito que a implosão do sistema político brasileiro possa desaguar em uma reforma com mais participação popular, com mais democracia.
Nesse sentido, uma eleição indireta seria uma tragédia.
CC: Seria o caso de novas eleições apenas para a Presidência da República ou também para o Parlamento? Pergunto isso porque parcela significativa dos congressistas está envolvida até o pescoço nesse escândalo.
VF: Nossa proposta é convocar eleição geral, renovar tanto o Executivo quanto o Legislativo. Todo o sistema está corroído. Na verdade, precisamos de uma ampla reforma política. Convocar novas eleições pelas atuais regras é melhor do que uma escolha indireta, sem dúvida, mas precisamos aperfeiçoar a legislação para evitar a repetição dos mesmos vícios que têm contaminado as campanhas eleitorais.
CC: Por outro lado, parece temerário confiar a reforma política ao atual Parlamento, ou estou enganado?
VF: É temerário, sim. A emenda pode sair pior que o soneto, corremos o risco de herdar uma legislação pior. Novas eleições contribuíram, porém, para arejar o ambiente político e promover as mudanças necessárias. E há sinais de melhora do ambiente político para os setores progressistas. O movimento sindical cresceu muito nos últimos tempos, bem como a atuação dos movimentos sociais. O próprio ex-presidente Lula tem aumentado a sua projeção, a despeito da caça às bruxas contra ele. Nossa pesquisa revela que ele ganharia as eleições presidenciais tanto no primeiro quanto no segundo turno.
CC: As centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo prometem uma greve geral para 26 de abril contra as reformas de Temer. Haverá, de fato, uma forte adesão dos trabalhadores ao movimento?
VF: Será a maior greve geral da história do Brasil, pode acreditar. Todos os sindicatos estão engajados no País inteiro. Cada vez que o Temer se manifesta pelas reformas que retiram direitos dos trabalhadores ele aumenta a chance de sucesso da nossa mobilização. Recentemente, em reunião com ministros e parlamentares da base, ele disse que a saída política é aprovar a reforma da Previdência. Seria uma forma de demonstrar que o seu governo não está paralisado diante da Lava Jato. No entanto, a população é absolutamente contrária à proposta.
Essa é uma pauta que mobiliza toda a sociedade civil, e temos fortes manifestações de oposição da CNBB, da OAB. Se insistir nessa agenda, Temer só aumentará a sua impopularidade. Os deputados e senadores que quiserem morrer abraçados com ele irão votar com o governo.
Se ainda possuem algum sonho de voltar em 2018, pensarão duas vezes, como estão fazendo, segundo os relatos de rebeliões na base noticiadas até pelos jornais que apoiam o governo. A greve geral vai acontecer porque Temer está ajudando a mobilizá-la, com uma medida mais impopular que outra, que afeta todos os trabalhadores.
CC: Como a Força Sindical se posiciona nesse momento? Algumas lideranças, como o deputado Paulo Pereira, apoiaram a “solução Temer”…
VF: A Força vem para a greve. Independentemente das posições pessoais do presidente da central, eles estão convocando a sua base. E eu espero mesmo que estejamos juntos nessa luta, porque a sanha em retirar direitos dos trabalhadores nunca foi tão grande como nesse governo. A unidade de todas as centrais e movimentos sociais é fundamental.
CC: A Força também apoia a proposta de antecipação de eleições?
VF: Não. Eles estão juntos conosco nos quatro pontos da greve geral: não à reforma trabalhista, não à reforma previdenciária, não à terceirização e nenhum direito a menos. Não se envolveram na pauta das Diretas Já.
CC: E os movimentos sociais? Estão alinhados com essa proposta?
VF: Diretas Já é uma pauta consensual nas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, nenhum movimento se opõe. Alguns defendem, além de novas eleições, a proposta de um plebiscito para a reforma política. Outros acham que não é o melhor momento. Há divergências de opinião, mas não uma divisão. Dentro do movimento sindical é que não há unidade em torno dessa pauta de antecipação de eleições. A Força e UGT, por exemplo, preferem não entrar nesse debate.
CC: Os parlamentares de partidos de esquerda estariam dispostos a abreviar seus mandatos por novas eleições?
VF: Acredito que sim, porque eles são muito influenciados por sua base social, que hoje está reunida nas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.
CC: Antecipar eleições é o suficiente para dar fim à crise política?
VF: Não diria isso, mas é uma etapa necessária. O Brasil não sairá da crise sem passar por uma eleição direta, entendida como um divisor de águas. É como Lula tem dito, precisamos retomar o caminho da democracia. Sem isso, não há chance de superar a crise política, que aprofunda a crise econômica e social. A única chance de o País se reerguer é eleger um governo com a legitimidade do voto, para que a agenda política não seja sequestrada pelos interesses de meia dúzia.
A eleição direta é o primeiro e essencial passo. Depois, vem o desafio de eleger um governo realmente comprometido com os trabalhadores. E manter a mobilização para que esse governo coloque em prática a agenda prometida à população, que não enverede por outra negociada com setores conservadores. O Brasil precisa retomar o caminho da democracia para que a sociedade volte a participar dos destinos políticos.
Leia também:
Roberto Teixeira pede que relação de Emílio Odebrecht com a TV Globo seja investigada
Comentários
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!
Deixe seu comentário