Maringoni: Depois do fiasco de domingo, não vale mais a pena estigmatizar os “coxinhas”

Tempo de leitura: 3 min

O BOLO EMBATUMOU: NÃO VALE MAIS A PENA ESTIGMATIZAR OS “COXINHAS”

por Gilberto Maringoni, no Facebook, sugestão de Emílio Lopez

Depois do fiasco das manifestações deste domingo (26), arrisco um palpite: a conjuntura parece estar mudando. Neste cenário, é importante parar de estigmatizar os chamados “coxinhas”. Boa parte deles pode mudar de lado, na dinâmica da luta política.

Não é ingenuidade. Explico.

A possível virada dos ventos deve ser entendida pelo conjunto de uma obra que veio a público há menos de quinze dias. As manifestações nacionais contra a reforma da Previdência – essas sim, de êxito retumbante! – na semana anterior e o aluvião humano que cercou Lula em Monteiro (PB), no domingo (19), mostram que gente há anos ausente das ruas decidiu deixar a passividade de lado.

Mesmo em redutos exclusivos da classe média remediada, como o Lollapalooza, as manifestações em favor do ex-presidente acendem uma luz amarela para o Planalto.

Some-se a isso a aparente vitória de Pirro que representou a aprovação da terceirização, na noite da quarta (22). Ali, a arrogância e a soberba dos dirigentes da base governista chegou ao auge. Avaliaram poder aprovar qualquer barbaridade “sem conversar com ninguém”, como declarou há dias o inimitável Romero Jucá.

A ação parlamentar do golpe pode ter batido no teto. Caiu substancialmente o número de deputados favoráveis às reformas. Eram 359 governistas na aprovação da PEC 241/55, em outubro. Agora, apenas 231 parlamentares apertaram o “sim” da terceirização.

A violência da medida é tão grande e suas consequências no desarranjo da convivência social são tão devastadoras que até o capital hesita sobre o passo seguinte. Editoriais e reportagens da imprensa econômica registram essa ambiguidade.

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Como diz Artur Araújo, caiu a ficha da classe média.

Michel Temer lhe aplicou um tremendo estelionato político, ao garantir que o pós-PT geraria tempos de bonança e felicidade. O golpista não aprendeu nada com o estelionato eleitoral de Dilma, em 2014; o povo não gosta de se sentir enganado.

É bem provável que a massa que acorreu às ruas há um ano, vestida de verde e amarelo e seguindo patos e lobões, agora esteja amuada e arrependida até os dentes pelo inferno que ajudou a montar. Bobamente serviu de massa de manobra para um governo que lhe retira a aposentadoria e tolhe a possibilidade de ascensão social de sua prole, via fim dos concursos públicos.

Com a base social do golpe paralisada, me parece que a pior viagem é seguir estigmatizando os “coxinhas”. Cobrar deles uma conta que não podem pagar pode desopilar o fígado da esquerda, mas não serve para atrair possíveis participações na luta, ou pelo menos para se reduzir resistências e ruídos das forças antipopulares.

Esse setor de classe média pode ser atraído ou permanecer neutro nas movimentações contra as reformas.

Boa parte pode mudar de lado, a depender da dinâmica da – desculpem – luta de classes. Não se fala aqui da cúpula fascista dos movimentos (MBL, VPR etc.), mas no enorme contingente que envergou camisa da seleção depois da Copa do mundo.

Assim, não vale a pena seguir com a toada de “E agora coxinhas?”, “Quero ver a cara de vocês” e “Enfiem a panela sabem onde”.

Atrair o coxinhato para as mobilizações é essencial para derrotar a patranha golpista. Não é algo fora de propósito.

A conjuntura é sempre uma caixinha de surpresas.

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Comentários

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João Paulo Ferreira de Assis

Não sei se devemos ter compaixão dos coxinhas. Por acaso eles tiveram de nós? Talvez devamos perdoar aos que foram massa de manobra, mas cada caso é um caso. Pois não tenho mesmo. Se eu tivesse um carro de som eu gravaria uma paródia da música do pato. E a colocaria no mais alto volume perto das casas dos coxinhas. Teria coragem de cantar até na minha família coxinha.

A paródia é a seguinte (autoria de Guido de Araújo Costa, Teresina PI):

Lá vai o pato pata aqui pata acolá Lá vai o pato sem ”carteira” trabalhar.
O pato pateta achou que era esperto pra tirar a Dilma vestiu amarelo lotou a Paulista inflou o pixuleco chamou de vadia quase teve um treco.
Depois do impeachment foi caindo a ficha que aquela conversa era pura lorota. A economia nunca melhorava mas pro ‘seu’ juiz o salário aumentava. A corrupção tinha todo dia mas já lhe adiaram a aposentadoria. A Lava Jato foi logo estancada. E o Temer golpista só dava risada. Foi terceirizado. Comeu carne fraca. E até a bagagem agora é cobrada. Caiu no golpe. Era tudo esparrela. E agora está frito… Cadê a panela?

Quá, quá, quá… Quá (mais 11 vezes).

Edgar Rocha

Bobinho…
A única certeza que vejo é a de que, com o descontentamento aumentando, aumenta também o peso do braço contra os descontentes. Isto somado à oferta do bode na sala para expiar o pecados da crasse média: vem mais “ações contra o crime organizado”, mais chacinas e um relativo recuo do crime organizado de fato nas ações de intimidação e coação da classe trabalhadora e da classe média. Em resumo, mais adolescente preto e pobre morto pro deleite da burguesia descontente. Com as bênçãos de Alexandre de Morais e da utra direita. É pra isto que servem e sempre serviram estes meninos do crime. Chegou a hora de dar uma aliviada no terror e na tortura psicológica das pequenas gangues que atuam em funks, com a vida loka que lhes é permitida até o momento. Se este refresco não for suficiente pra acalmar a coxinhada, aí sim, vem estado e exceção declarado por aí.

EURICO DA SILVA FERNANDES

A alta classe média não vai somar-se conosco nunca. Fazem parte da velha elite branca e golpista de sempre: golpista em 32; 54, 55, 61, 64, 89, às vezes até separatista como em 32, 64 e 2014 com a vitória da Dilma. É claro que a massa de manifestantes de rua coxinhas não participam dessa classe verdadeiramente. Uma porcentagem grande deles vai continuar odiando signos da esquerda, mas, como a realidade é dura, como o golpe também os atingiu feio, desmobilizarão-se a direita sem se mobilizarem à esquerda. Claro que isso já corresponderá a uma enorme vitória da esquerda. Candidatos a generais fascistas não terão seu soldados dispostos a barbarização, como se encenou em 2015 e 2016, mas a única grande chance da esquerda é a mobilização massiva dos sub-proletariados e dos desempregados, além, é claro, dos segmentos de esquerda da própria classe média. Se isso acontecer, nem o céu é o limite!

Luiz Reis

O artigo todo é uma ode ao pragmatismo… coisa de linha acessória tucana…

    EDER

    CONCORDO EM NÚMERO, GÊNERO E GRAU CONTIGO.

Mau Rufino

O problema maior vai ser se as baratas correrem para outro buraco em 2018 (Bolsonaro)

Belmiro Machado Filho

Insisto na ingenuidade. A carga de manipulação foi e continua sendo muito intensa. Essas pessoas abdicaram de um fundamento essencial ao ser humano, a liberdade de pensamento. Demorará ainda um tempo para que descubram que a Casa Grande só lhes oferecerá as migalhas que sobram à sua mesa.

Roberto

Maringoni é do PSOL.
PSOL torce pela prisão de Lula.
PSOL apoiou o golpe.
PSOL apoia a lavajato.

Leonardo M G.

Chamar o “Vem Pra Rua” de VPR é uma ofensa à Vanguarda Popular Revolucionária. Sugiro correção.

    Osmar Gonçalves Pereira

    Correção urgente e com pedido de desculpas à memória dos que tombaram.

    Mau Rufino

    Concordo! Correção urgente!

    Mark Twain

    Fato! Ótima colocação.

Mario

“Atrair o coxinhato para as mobilizações é essencial para derrotar a patranha golpista.” Isso não seria estelionato, né? Será que o autor desse texto esqueceu que foram as ligações ‘amplas’ do PT que o destruiram? Certamente não…

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