Dowbor: ausência de reformas bloqueou lulismo
do Engenharia em Revista, via Outras Palavras
Depois de enfrentar capital financeiro em seu primeiro mandato, Dilma cedeu a ele. Para Ladislau, consequência é dramática: “Bancos capturaram o imenso esforço que o Brasil fez de redistribuição e de inclusão no mercado de dezenas de milhões de pessoas”. Para economista, país viveu doze anos de avanços, mas processo atingiu seu limite – e hesitação do governo frustrou mudanças estruturais indispensáveis
Ladislau Dowbor, entrevistado por Maria Inês Nassif*
O Brasil andou muito nas últimas duas décadas. Obteve um avanço social histórico desde o governo Lula, mas entrou no “ciclo travado”, a partir do qual sobram apenas duas alternativas: ou a coragem para fazer reformas estruturais, eternamente adiadas, ou o recuo. Jamais ficar no mesmo lugar.
O raciocínio é do incansável economista Ladislau Dowbor, da PUC de São Paulo. Do alto de um invejável currículo acadêmico – graduação em Lausanne, doutorado em Varsóvia, professor em Coimbra – e profissional, Dowbor carrega consigo uma vocação de eterno militante. Era um dos 40 presos políticos que, nos primeiros dias de 1971, foram trocados pelo embaixador suiço Giovanni Bucher, numa operação comandada por Carlos Lamarca.
Hoje brinca que a ditadura incentivou muito o “intercâmbio” daqueles jovens brasileiros que vagaram pelo mundo – os banidos do Brasil que ficaram preferencialmente pela Europa, depois de terem sido trocados por embaixadores sequestrados em ações da guerrilha urbana.
É com alma de militante que Dowbor tem participado de todas as intermináveis reuniões que acontecem em São Paulo desde o início do ano entre intelectuais, e professa uma “oposição” que se traduza numa unidade de forças progressistas capazes de empurrar o governo para a esquerda, garantir os avanços conquistados de direitos civis, políticos e sociais desde a Constituinte de 1988 e romper com o que ele chama de “ciclo travado”, ou seja, as limitações impostas por uma elite financeira ao desenvolvimento pleno do país.
No centro de seu pensamento está a constatação de que o rentismo impôs uma ciranda de juros elevados para rolagem da dívida pública e alto custo do crédito para pessoas físicas e jurídicas. E essa realidade se traduziu, na prática, em um severo limite ao ciclo de crescimento baseado no mercado interno, iniciado no governo Lula.
Apoie o VIOMUNDO
A partir de agora, ou o país banca reformas estruturais, inclusive uma reforma financeira, ou retrocederá de um período de quase três décadas de avanços contínuos – sociais, econômicos e políticos. Ladislau Dowbor concedeu esta entrevista, em São Paulo, logo depois de uma rodada de debates sobre o futuro do Brasil entre os integrantes do chamado “Fórum Brasil 21”, que tem por objetivo definir uma agenda política comum para as forças progressistas do país. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu à jornalista Maria Inês Nassif.
Um acumulado de impasses
O Brasil hoje vive vários impasses. Um deles tem dimensão internacional e sofre o impacto de movimentos especulativos, sobretudo no mercado de commodities. Nos últimos 12 meses, o minério de ferro, por exemplo, que tem um grande peso na pauta de exportações brasileiras, perdeu 40% do seu valor; a soja, a laranja e outras commodities encolheram entre 20% e 30%. São cifras bastante significativas. No plano interno, o país vive um limite estrutural. O Brasil conquistou um conjunto de avanços, em particular nos governos de Lula e no primeiro governo de Dilma, mas os processos de expansão das políticas sociais chegaram a um limite, a partir do qual são necessárias mudanças estruturais.
As eternamente adiadas reformas de base não são mais adiáveis.
A resistência das elites e a crise política
Nesta tensão, a resistência das elites mostra-se extremamente forte. É por isso que a crise que se gera é essencialmente política. Não há base para falar numa crise de enormes proporções, ou que o país está quebrado, ou ainda que vai quebrar. Isso não faz o mínimo sentido. Podem até ocorrer ajustes que levem a uma racionalização de gastos do governo, mas isto não anula simplesmente a realidade de que o país está num ciclo de avanços absolutamente impressionante.
Socialmente, o Brasil mudou a sua cara. Entre 1991 e 2010, o brasileiro, que vivia até 65 anos, passou a viver 74 anos; em 2012, já vive 75 anos; ou seja, estamos falando de um país onde os brasileiros vivem 10 anos a mais. A mortalidade baixou de 30 por mil para 15 por mil. Isso resulta de uma convergência de mudanças: essas pessoas passaram a ter uma casa mais decente, a comer, são benefi ciários da expansão do serviço básico de saúde, o SUS, etc. São fatores que convergem para uma expansão do tempo de vida e para a redução da mortalidade infantil – e, convenhamos, dividir pela metade a mortalidade infantil é um gigantesco avanço. Além disso, temos um conjunto de outros números já conhecidos: a criação de 20 milhões de empregos formais e 40 milhões de pessoas que saíram da miséria.
Segundo dados do Atlas das Regiões Metropolitanas elaborado conjuntamente pelo PNUD, Ipea e Fundação João Pinheiro, houve uma redução drástica da pobreza em todas essas regiões e um aumento dos Indicadores de Desenvolvimento Básico (IDB). Mais recentemente foram divulgados os Indicadores de Progresso Social, o IPS, que acompanha 54 indicadores que são o PIB, e coloca o Brasil no 42º lugar entre 130 países, puxado para baixo essencialmente pelo problema da segurança, que é o ponto crítico e está diretamente ligado ao problema da desigualdade.
O sistema financeiro emperra a locomotiva
Escrevi um documento chamado “Bancos: o peso morto da economia brasileira”, em que eu descrevo como os juros internos da economia esterilizam as ações de política econômica social. O Rubens Ricupero e o Bresser Pereira, que foram ministros da Fazenda e entendem disso, aprovaram as minhas anotações. O capitalismo financeiro impõe severas limitações ao momento seguinte desses avanços sociais, ao avanço do Brasil em direção ao futuro. Está em curso um processo de globalização financeira mundial que torna difícil ao país adotar políticas macroeconômicas independentes e as reformas financeiras que são necessárias. Quando se cobra nos crediários mais de 100% de juros, a intermediação financeira está se apropriando da metade da capacidade produtiva da população. O imenso esforço que o Brasil fez de redistribuição e de inclusão no mercado de dezenas de milhões de pessoas, os bancos, os comerciantes com crediários, as administradoras de cartões de crédito capturaram. As instituições de crédito sugaram a capacidade de compra da população, e dessa forma esterilizaram a dinamização da economia pelo lado da demanda. Os juros para pessoas jurídicas são absolutamente escorchantes, o que trava também a economia pelo lado do investimento. Os empresários já tendem a investir pouco quando a economia está travada. Quando, ainda por cima, adquirir equipamentos e financiar empresas custa de 40% a 50% de juros, então esqueça de novos investimentos.
Veja o poder político que esses grupos têm para obrigar o governo americano, o Banco Central Europeu, Bruxelas, a encontrar trilhões de dólares em poucos meses, quando os recursos são escassos para resolver o problema da destruição ou da pobreza.
“A financeirização não é abstrata. Grupos financeiros controlam os conselhos de administração das mais diversas empresas e ditam as políticas das corporações”.
A urgente reforma financeira
Sem dúvida, são urgentes as reformas política e tributária, mas é igualmente central uma reforma financeira em profundidade.
O componente rentista da crise é parte de minha análise. Na minha avaliação, o fator central dessas limitações ao futuro é que não temos mecanismos de canalização adequada dos recursos do país. O Brasil tem uma renda per capita de US$ 11 mil – e isso é um nível de renda de um país rico. O nosso país também domina tecnologias e tem instituições. Não existem razões plausíveis para a economia não funcionar. Contudo, a generalização da inclusão social e a redução dos desequilíbrios internos esbarram em razões estruturais.
O Brasil andou para frente nas últimas duas décadas
No Atlas Brasil 2013 de Indicadores de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), se compararmos os índices de 1991 e 2010, observamos avanços espantosos. Em 1991 nós tínhamos 85% dos municípios do Brasil que tinham um IDH muito baixo, inferior a 0,50. Em 2010 apenas 32 municípios estavam nessa situação, ou seja, 0,6%. Essa é uma mudança extremamente profunda e estrutural. O Brasil começou a se transformar, na fase anterior ao governo Lula, com a aprovação da Constituição de 1988, que criou regras do jogo democrático que permitiram o início dos avanços.
Foi um avanço também a ruptura com a inflação. Afinal, numa hiperinflação não se consegue fazer administração do setor público.
Tudo isso viabiliza uma série de avanços significativos na década de 1990. A partir do governo Lula isso se sistematiza, e os avanços se tornam extremamente poderosos.
Mundo em explosão
Nós estamos num ano crítico em termos mundiais. Chegamos a limites críticos de destruição do planeta. Em 40 anos, destruímos 52% da vida vertebrada do planeta. O relatório da WWF é dramático: nós estamos esterilizando solo e liquidando a cobertura florestal.
Além desses problemas na área ambiental, persistem também um conjunto deles na área da desigualdade. O relatório da Oxfam sobre a desigualdade é devastador. Nós temos 85 famílias que têm mais patrimônio acumulado do que a metade mais pobre da população, ou seja, 3,5 bilhões de pessoas. Se você junta o ambiental e o social, conclui-se que o mundo está explodindo.
Coffee Party
O Tea Party paralisa os Estados Unidos. Estes mesmos grupos estão querendo um Coffee Party no Brasil. Partem do mesmo fundamentalismo, do mesmo discurso radical conservador sem propostas. O que eles querem, afinal? Aumentar a desigualdade?
“O capitalismo financeiro impõe severas limitações ao momento seguinte dos avanços sociais, ao avanço do Brasil em direção ao futuro”.
O caminho é olhar para dentro…
Se entendermos as transformações que ocorrem interna e externamente – estamos numa crise planetária e numa volatilidade extrema, inclusive dos preços das commodities –, o caminho que temos de trilhar torna-se claríssimo. O Brasil é um país muito grande, de mais de 200 milhões de habitantes, e tem tranquilamente 100 milhões de pessoas que precisam melhorar a situação de vida. Nós temos, portanto, como crescer na fronteira interna. E quando a área externa é extremamente insegura, nada como reforçar a base interna de desenvolvimento. Isso implica manter e aprofundar as políticas de inclusão e de distribuição de renda, mas garantindo que isso ocorra simultaneamente às transformações significativas no sistema financeiro.
Um futuro em suspenso
O caminho para frente é o aprofundamento da luta contra a desigualdade por meio da inclusão produtiva, da expansão dos programas sociais e coisas do gênero. A oposição que devemos fazer nesse momento não é contra a presidente Dilma (Rousseff), mas para que ela avance muito mais e retome os processos que tinham sido anunciados.
Uma crise para travar o ciclo
A imbricação entre a situação internacional e a situação econômica interna com o seu respectivo embasamento político trava as reformas estruturais que são indispensáveis à continuidade do processo.
É um ciclo travado, mas não acho que a direita tem qualquer coisa coerente a propor. Não está conseguindo propor nada de coerente nem nos Estados Unidos, nem na França, nem na Grã-Bretanha, nem em lugar nenhum. Por todo lado está surgindo um Podemos, ou um Syriza (partido grego de esquerda). Os Estados Unidos estão paralisados em termos de capacidade de governo.
Capital financeiro contaminou a produção
O capital financeiro tornou-se hegemônico de uma maneira que desconhecíamos até 2011. Naquele ano, foi divulgado o relatório do primeiro estudo mundial sobre o sistema corporativo internacional, produzido pelo Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH), que corresponde ao MIT da Europa e tem 31 prêmios Nobel de Tecnologia, a começar por Albert Einstein. Uma fonte absolutamente inatacável.
Segundo o estudo, 737 grupos do planeta controlam 80% do valor das empresas transnacionais. Destes, 147 grupos, dos quais 75% são bancos, controlam 40% do sistema mundial. A financeirização, portanto, não é abstrata, um mecanismo diluído ou misterioso. Esses grupos financeiros controlam os conselhos de administração das mais diversas empresas e ditam as políticas das corporações. Como são grupos financeiros que têm participações acionárias poderosas em empresas produtivas,
eles dizem a essas empresas o que fazer: “Nós queremos uma rentabilidade de tanto, senão tiramos o nosso capital e quebramos a empresa”. Se uma empresa decide adotar uma política ambiental mais sustentável, ou qualquer outra coisa que pode afetar a rentabilidade da empresa, esquece.
Centenas de exemplos de fraudes das mais variadas corporações internacionais, como as cometidas por empresas farmacêuticas, de agrotóxicos ou os próprios bancos, têm o objetivo central de gerar lucros. Essa estrutura mundial de poder foi suficientemente forte para, na crise de 2008, levar trilhões de dólares de governos para socorrer os bancos que haviam se excedido nos processos especulativos e estavam desequilibrados. Um socorro para os grupos financeiros que criaram a crise.
A contaminação da Justiça
O poder das corporações está estampado na votação, pelo Supremo, da ação de inconstitucionalidade do financiamento empre-sarial de campanha. As corporações não votam nem devem ter interesses políticos próprios. É legítimo a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ser um instrumento de participação política das corporações. Mas uma corporação comprar um mandato para um deputado ou senador, financiando-o, certamente isso não é certo. Seis juízes do Supremo, e portanto a maioria, já votaram pela inconstitucionalidade do financiamento empresarial e um único, Gilmar Mendes, ligado a interesses evidentes, pede vistas antes das eleições. Esta única pessoa transformou radicalmente o perfil do Congresso que foi eleito em seguida, pois se tivesse sido proibido o financiamento empresarial antes das eleições, os candidatos não poderiam ter mantido o vínculo com as corporações empresariais. Isso também é uma medida do grau de aprisionamento da política pelo Judiciário, pelas corporações e pela mídia, e coloca como objetivo central das forças progressistas resgatar o processo democrático da órbita do poder econômico.
Crédito a Fernando Henrique, mas em termos
É creditado ao governo Fernando Henrique Cardoso a ruptura com o processo inflacionário, o que é correto. Mas, segundo o The Economist, em 1992 o mundo tinha 44 países com hiperinflação, e todos eles liquidaram esse problema pela razão simples de que não se abriria a eles a possibilidade de participar do sistema financeiro que se internacionalizava se não resolvessem seus processos inflacionários. A globalização financeira, a formação do sistema especulativo, a chamada financeirização era incompatível com economias que tinham moedas não conversíveis, que mudavam de valor no decorrer do dia.
A articulação do rentismo com a mídia
O maior jornal econômico do país, por exemplo, em fevereiro publicou uma matéria que contém um quadro com as projeções de inflação, com o título: “O que os economistas esperam”. E são listadas 21 “apostas” em índices inflacionários feitas por economistas de instituições. Entre eles, não tem nenhum Amir Khair, um Luiz Gonzaga Belluzzo, uma Tânia Bacelar, um Rubens Ricúpero, um Bresser Pereira ou um Márcio Pochmann; sequer um IBGE ou um DIEESE. Apenas de bancos ou consultorias ligadas ao mercado financeiro – e ambos ganham com a inflação. Esses economistas geram expectativas inflacionárias que se autocumprem, pois os agentes econômicos acompanham as expectativas e elevam preventivamente os preços.
Existe um trabalho de chantagem e contaminação pelo aceno do “risco inflacionário” – e todos sabem que a inflação é um golpe mortal em termos políticos. Esse tipo de chantagem segura o governo pelo pescoço. A inflação virou arma ideológica.
Uma crise civilizatória
Não há mais pobres como antigamente. As pessoas hoje sabem que podem ter uma saúde decente para os seus filhos, acesso à educação decente e a outros direitos. Nesse sentido vivemos uma crise civilizatória. Não é simplesmente uma crise global que o mundo enfrenta. O volume de recursos apropriados pelos intermediários financeiros seria suficiente para enfrentar tanto a reconversão tecnológica que o meio ambiente exige, com os investimentos de inclusão produtiva que a dinâmica social determina.
Isso seria conferir uma outra articulação do sistema financeiro, pois ele não é só moeda, mas o direito de alocar os recursos onde eles são necessários. A função da moeda não é a especulação financeira. Essa é a reconversão que temos pela frente, que une a oposição propositiva que queremos criar no Brasil. Daqui saíram US$ 520 bilhões para paraísos fiscais, ou 25% do PIB, dinheiro que daria para financiar Deus e o mundo.
Rentismo, um obstáculo
O rentismo é um conceito que se vincula ao mercado internacional, que gerou uma espécie de elite que vive dos juros, não da produção. E isso tem uma enorme profundidade no país. O San-
tander, por exemplo, que é um grande grupo mundial, tem cerca de 30% de seus lucros originários do Brasil. Isto é, o mercado financeiro impõe drenos e também estruturas políticas de poder que tornam muito difícil a qualquer governo gerar transformações necessárias para romper essa lógica. De, 2013 a 2014, Dilma tentou reduzir a taxa Selic e os juros de acesso de pessoas físicas e jurídicas ao crédito, e a reação foi de pressões políticas muito fortes. E é curioso como as reações se manifestam. Quando se baixa os juros, nas televisões, nas rádios, nos jornais, imediatamente se consulta os chamados economistas que dizem, “é inevitável, a inflação vai subir”. Em regra, esses economistas são todos eles de empresas financeiras.
Crise internacional não é impedimento, mas oportunidade
É esse contexto internacional que torna fundamental a adoção de medidas inclusivas, a expansão do horizonte interno econômico. É vital nos basearmos nos objetivos internos da nossa economia. Nas condições de hoje, apoiar o país no sistema internacional é suicídio. Nessa perspectiva, superdimensionar o problema fiscal pode ser um erro, pois há ralos muito maiores no sistema financeiro. O país tem que resgatar o que vaza por sistemas especulativos e para paraísos fiscais e financiar a inclusão produtiva da maioria da população.
O Brasil não está quebrado, mas sob ataque
O (Luiz Gonzaga) Belluzzo diz que as forças conservadoras estão criando, politicamente, uma crise e eu concordo. O Brasil não está quebrado. A origem desta crise não está em uma crise econômica que gera recessão. É uma crise política criada por uma elite que quer quebrar o sistema, e em grande parte está conseguindo isso.
A rigor, essa é a ação que envolve grandes interesses, em particular interesses internacionais no Pré-Sal e o interesse dos grandes bancos internacionais que querem manter a mamata da Selic elevada, pois é um grande negócio aplicar aqui e ganhar 12% de juros, enquanto os Bancos Centrais da Europa e dos Estados Unidos estão trabalhando com taxas de juros de 0,5%, quando muito 1%.
A tentativa da Dilma de reduzir a Selic a 7% e de abrir os bancos oficiais para obrigar a concorrência foi, para esses interesses, um grito de guerra. Tanto que ela teve que voltar atrás. Mas nós não podemos continuar a trabalhar para encher o bolso de dinheiro dos especuladores financeiros. Acho que esse não é apenas o objetivo da classe trabalhadora, mas dos empresários efetivamente produtivos. Não é possível desenvolver o país quando todo mundo se vê obrigado a pagar uma espécie de royalties sobre o dinheiro, aliás um dinheiro que nem é dos próprios bancos, mas dos nossos depósitos, ou então dinheiro fictício criado por meio de alavancagem.
Ou avança, ou recua. Não dá mais para ficar onde está
O Brasil vive um impasse – e, a partir desse impasse o país avança, e consolida os ganhos das últimas décadas, ou retrocede, e perde o que ganhou. Por isso considero importante unificar o debate. E estou convencido de que há muita gente que quer avançar. Muitas famílias, pela primeira vez, têm os filhos na universidade, muitas delas apenas agora conseguem alimentar os seus filhos – e todas elas são mobilizáveis. As mudanças não acabaram porque 200 mil tomaram a Avenida Paulista. Este país tem base.
Eu acho que o fato de uma parcela desses manifestantes do atraso pedirem a volta da ditadura mostra o tipo de ausência de uma visão propositiva da direita. O que eles querem? Sangrar mais os pobres, aumentar mais a desigualdade, privatizar mais?
A contaminação da política pelo poder econômico
Hoje o país tem um Congresso com uma bancada ruralista, uma bancada dos bancos, uma bancada das grandes empreiteiras, uma bancada das grandes montadoras, e você conta nos dedos quem é da bancada cidadã. A lei aprovada em 1997 que autorizou as corporações a financiarem campanhas foi um golpe terrível para o processo democrático. Não se pode qualificar de democracia o que vivemos no Brasil só porque a gente vota, porque o voto é rigorosamente determinado por uma gigantesca máquina de financiamento que vai se traduzir no tipo de Congresso que temos. Isso coloca a questão da reforma política e, em particular, o financiamento das campanhas, na linha de frente.
Nada para o planeta, tudo para os bancos
A Rio+20 teve uma grande reunião internacional que firmou como um dos objetivo levantar US$ 30 bilhões para salvar o planeta. Não conseguiu. Em 2008, em meses, os governos levantaram trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro, se endividaram e passaram a pagar juros para o próprio sistema financeiro que foi socorrido com esse dinheiro. Esse movimento dos governos praticamente destruiu o que restava do legado da social democracia nesses países, do chamado Welfare State, ao reduzirem os direitos sociais.
Leia também:
Comentários
FrancoAtirador
.
.
(http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Sem-regular-a-midia-governo-se-torna-refem-do-setor-privado/4/34215)
.
.
Urbano
Salvaguardando-se as raríssimas exceções, a elite brasileira é um verdadeiro câncer que corrói as entranhas da Nação.
FrancoAtirador
.
.
A Reforma das Reformas é a da Mídia-Empresa.
.
Só assim sai a Tributação Progressiva do Capital
.
e, portanto, a Redistribuição de Renda ao Trabalho.
.
O Brasil não tem sequer uma Social-Democracia.
.
.
FrancoAtirador
.
.
“Não haveria razão para tanto Espanto
caso vivêssemos em um uma Sociedade
onde a Tributação fosse Progressiva”
.
Lucros e Dividendos das Empresas [inclusive de Mídia]
não são afetados pelo Imposto de Renda no Brasil
.
.
Imposto de Renda: Retrato da Desigualdade
.
A desigualdade que conhecemos nas ruas, nas empresas, nas periferias, nos campos
fica escancarada e confirmada quando verificamos os números da Receita.
.
Por Paulo Kliass*, na Carta Maior
.
[…]
Só mais recentemente a Secretaria da Receita Federal aceitou iniciar a divulgação
de alguns dados relativos à caracterização do universo de contribuintes de alguns impostos.
[…]
O Imposto de Renda (IR) se divide em dois subconjuntos.
Uma parte se destina às Pessoas Físicas (IRPF)
e a outra se dirige às Pessoas Jurídicas (IRPJ).
.
As informações disponíveis para 2014, por exemplo, revelam
que o total dos recolhimentos de IR atingiu R$ 305 bilhões.
.
Esse valor representa 39% do total da arrecadação federal
no ano passado, excetuando-se as receitas previdenciárias.
.
O volume de arrecadação da parcela relativa às Empresas
é bem superior àquela recolhida pelos Indivíduos.
.
O Montante pago pelas Pessoas Jurídicas foi de R$ 189 bi, representando 62% do total.
.
Os R$ 115 bi restantes referem-se ao volume pago pelas Pessoas Físicas.
.
O aspecto interessante das informações agora disponibilizadas
refere-se à possibilidade de se constatar o fenômeno
da brutal concentração de renda em nossa sociedade…
[…]
As declarações de renda de 2014 referem-se aos fatos ocorridos ao longo de 2013.
.
De acordo com o relatório da Receita, o topo da pirâmide é ocupado pelos contribuintes
que declararam uma renda anual superior a 160 salários mínimos.
.
Considerados os valores atuais, esse patamar corresponderia a R$ 126.080 de renda mensal.
.
Parece óbvio que se trata de uma parcela bastante reduzida da população brasileira,
mas que reflete o nível extremo de nossa desigualdade.
.
Trata-se de apenas 71.040 contribuintes em um universo total superior a 26 milhões de indivíduos
que apresentaram sua declaração. Ou seja, representam apenas 0,3% do total.
.
Não haveria razão para tanto espanto caso vivêssemos em um uma sociedade
onde a tributação fosse equânime e progressiva.
.
Ocorre que a desigualdade que conhecemos nas ruas, nas empresas, nas periferias, nos campos
fica escancarada e confirmada quando verificamos os números da Receita.
.
As distorções incorporadas pelo sistema tributário fazem com que essa ínfima parcela
seja a que menos imposto de renda paga, em termos proporcionais.
.
A renda total desse grupo foi superior a R$ 298 bilhões,
o que representa um rendimento médio anual próximo a R$ 4,2 milhões por cada declarante.
.
Mas as facilidades e benesses concedidas às elites fazem com que 66% da renda total
recebida por esse grupo sejam considerados isentos de tributação!
.
São os famosos casos de Lucros e Dividendos
de Empresas [inclusive de Mídia]
que não são afetados pelo imposto de renda.
.
Em geral, são pessoas que não recebem renda do trabalho, mas renda do capital.
.
Outra informação que chama a atenção refere-se à disparidade na distribuição patrimonial.
.
Ainda que seja apenas declaratória e também sujeita a muito sub-dimensionamento ou sonegação,
a participação da riqueza desse pequeno segmento é muito significativa.
.
De um total de R$ 5,9 trilhões declarados pelo conjunto dos contribuintes,
apenas esses 0,3% dizem ser possuidores de um patrimônio que soma R$ 1,3 trilhão –
algo em torno de 22% do total da riqueza.
.
É importante considerar que o próprio governo avalia em US$ 200 bilhões
o total de recursos enviados ilegalmente para o exterior, o que resultaria
em mais de R$ 700 bilhões – metade do total declarado oficialmente.
.
Além disso, os patrimônios imobiliários normalmente são apresentados
com valores inferiores aos de mercado e corre à margem das declarações
um sem-número de bens não oficializados.
.
Ou seja, o nível da desigualdade é ainda mais elevado do que aparenta.
.
De acordo com as informações apresentadas, a elite-da-elite contribui
com uma alíquota média efetiva de imposto de renda correspondente a 2,6% sobre seus rendimentos.
.
Esse percentual é até mesmo um pouco inferior ao estrato de 5 a 10 salários mínimos (2,9%)
e muito abaixo das camadas médias que chegam a recolher entre 8% e 10%.
.
Ora, esse quadro é exatamente o oposto do princípio da progressividade da tributação,
onde os que mais recebem deveriam contribuir mais para o bem estar coletivo.
.
O retrato aqui descrito está apenas circunscrito à desigualdade expressa
pelo modelo do imposto de renda atualmente existente.
.
Cabem mudanças com o objetivo de eliminar as injustiças, de rever as isenções despropositadas
e de estabelecer novas alíquotas para as faixas de renda.
.
Mas também é importante ter em mente a necessidade de novos instrumentos de tributação
para promover a justiça social, a exemplo do imposto sobre grandes fortunas,
imposto sobre heranças e sobre as transações financeiras.
(*) Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.
.
.
FrancoAtirador
.
.
(http://www.diariodocentrodomundo.com.br/queremos-ser-o-mexico-ou-a-escandinavia)
.
.
FrancoAtirador
.
.
(https://www.sindifisconacional.org.br/images/estudos/outros/BaileDaIlhaFiscal-OCasoBrasileiro.pdf)
.
.
Julio Silveira
Meu caro Franco Atirador, concordo plenamente contigo. Mas esse é um diagnóstico para um governo de esquerda, mas esquerda autentica, com noção de que a direita no Brasil a exemplo da nazista, construiu sua maior trincheira na propaganda. E, que só conseguirá mudanças culturais quando pluralizar esses instrumentos democratizando-os de verdade essa palavra tão utilizada e que sai pela boca desses que mostram desprezá-la, os defensores de monopolios sejam aonde forem. Enquanto os pragmatas do Brasil (para mim uma nova categoria de ideologia política), os que que apenas pedem uma beira na grana e na cultura da direita, estiverem no comando do país se revezando, nada vai mudar de fato, teremos apenas maquiagens. E a cidadania engole tudo no forte apelo midiatico dos multiplos interesses, e acaba com a sensação de que esse país não tem jeito.
FrancoAtirador
.
.
Concordo, Integralmente, Prezado Julio Silveira.
.
Justiça Social é, na Raiz, uma Luta de Séculos.
.
Mas continuemos lutando, pois ‘é preciso dizer’:
.
“É preciso não ter medo!
É preciso ter a coragem de dizer!
.
Há os que têm vocação para escravo,
Mas há os escravos que se revoltam contra a Escravidão.
.
Não ficar de joelhos.
Que não é racional renunciar a ser livre.
.
Mesmo os escravos por vocação
Devem ser obrigados a ser livres,
.
Quando as algemas forem quebradas”
.
Carlos Marighella
(Rondó da Liberdade)
.
.
Julio Silveira
Ah! Sonho meu, o tempo dessa reforma já foi. Agora só resta esperar por uma nova geração de politicos que entendam as necessidades da patria e de seu povo acima de suas proprias necessidades. Mas isso só costuma acontecer em paises de povos cim alto grau de consciência civica e politica, onde a cultura do interesse comum está tão impregnado que deixem de ser excessões aqueles cidadãos que pensam no bem comum. Com grande contingente popular que apreciam ditaduras esse tipo de situação não prospera. Vira utopia.
Deixe seu comentário