Com ajuda das fake news, extrema direita volta ao Parlamento alemão. Com 13% dos votos

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Na Alemanha e nos Estados Unidos: a sopa é a mesma

Da Redação

Primeiro partido de extrema-direita a ascender ao Parlamento alemão desde 1960, o Alternativa para a Alemanha (Afd) deve conquistar 13% dos votos, segundo pesquisas de boca-de-urna.

Uma liderança do Partido Verde, que terá cerca de 60 parlamentares eleitos, denunciou os eleitos pelo Afd como “nazistas”. O Die Linke, de esquerda, terá outros 60 parlamentares.

Com uma plataforma nacionalista e anti-imigração, o Afd tornou-se a terceira maior força eleitoral na Alemanha — poderá chegar a 88 deputados.

A chanceler Angela Merkel garantiu sua permanência no poder com 33% dos votos, contra 20% da social democracia. Tanto os democratas cristãos quanto o SPD perderam votos.

Mas foi o resultado da extrema-direita que capturou as manchetes.

Alexander Gauland, um dos candidatos do Afd, fez campanha afirmando que o nazismo já não afeta a identidade dos alemães.

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Ronald Lauder, do Congresso Judaico Mundial, denunciou o Afd como “um movimento reacionário que relembra o pior do passado da Alemanha”.

Curiosamente, a campanha do Afd foi ajudada pelo poderoso investimento da magnata de origem judaica Nina Rosenwald, em um site especializado em fake news, o do Gatestone Institute, que viralizou vários posts na Alemanha ao longo da campanha eleitoral.

O Gatestone tem tanto dinheiro que traduz suas “notícias” inflamatórias em 17 idiomas, inclusive o português.

Uma das manchetes:

Paquistão: “Meninas Cristãs Servem Apenas para Satisfazer os Desejos Sexuais dos Homens Muçulmanos”.

Outra:

Muçulmanos Avisam a Europa: “Um Dia, Tudo Isso Será Nosso”.

O site é um grande promotor da islamofobia e, com isso, da extrema-direita que governa Israel.

Uma das “notícias” do site que viralizaram na Alemanha dava conta de que o governo havia confiscado propriedades de alemães para entregar a imigrantes recém-chegados.

“Agora as autoridades vão limitar o espaço de vida de cada pessoa e forçar aqueles que vivem em grandes apartamentos a dividí-los com estranhos?”, perguntava o texto.

A “notícia” foi devidamente desmentida. O “fato” por trás dela é que uma única casa havia sido confiscada pelo governo de Hamburgo por permanecer desocupada, sem qualquer relação com a chegada de imigrantes.

É uma tática tradicional dos que se dedicam a produzir fake news: transformar um fiapo de informação, através da manipulação e da descontextualização, num petardo capaz de mobilizar militantes e eleitores.

Em 1989, na eleição entre o ex-presidente Lula e Fernando Collor, um boato dizia que Lula pretendia tomar apartamentos nas cidades para dividí-los com os sem teto. Mas, naquela época, não havia redes sociais.

Mais recentemente, a propriedade da Friboi foi falsamente atribuída a um dos filhos de Lula nas redes sociais. Milhões de brasileiros ainda acreditam nisso.

As fake news são um fenômeno relativamente recente, e ganham importância à medida em que se amplia o alcance das redes sociais.

Mesmo quando desmentidas, deixam um rastro de ‘destruição’.

Servem a dois propósitos:

Disseminar falsidades sobre o inimigo;

Despertar indignação suficiente para fazer com que as pessoas compartilhem as fake news e, em alguns casos, militem fisicamente pelas causas.

Na eleição de Donald Trump, no entanto, as fake news deixaram de ser algo artesanal.

O próprio Trump foi um dos promotores da falsidade de que Barack Obama não tinha nascido nos Estados Unidos. Ele só admitiu que estava errado depois de ser eleito para a Casa Branca.

Na campanha dele, as fake news ganharam organização industrial através de dois sites que rivalizaram em audiência com os grandes jornais e emissoras de televisão dos Estados Unidos: o InfoWars e o Breitbart News, especializados em disseminar meias verdades, falsidades vestidas de notícias e teorias de conspiração.

Um recente vídeo do InfoWars tinha como título: Invasão muçulmana da Europa atingindo massa crítica.

Além da islamofobia, as fake news da extrema-direita europeia e norte-americana descrevem Israel como cidadela que separa e defende o Ocidente dos muçulmanos.

Trabalham com a ideia de que a “civilização cristã” está sob ataque. Usam críticas ao “politicamente correto” para atacar todas as propostas econômicas e sociais da esquerda.

Numa conjuntura de crise econômica e desemprego, as mentiras disseminadas pelas redes sociais servem para mobilizar os deserdados, num movimento que faz relembrar os propagandistas de Adolf Hitler.

Antes mesmo da volta da extrema-direita ao Parlamento alemão, as fake news chegaram fisicamente à Casa Branca.

Com um conteúdo misógino, racista e xenofóbico, nos Estados Unidos o Breitbart News catapultou seu editor-chefe a um posto-chave no governo Trump: Steve Bannon foi estrategista chefe da Casa Branca durante sete meses, apontado como o responsável por articular a reação tênue do presidente dos Estados Unidos à recente ascensão dos neonazistas norte-americanos.

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