A onda conservadora e o impasse da esquerda
por Antônio David, especial para o Viomundo
Em seu mais recente artigo na Folha de S. Paulo (25/12/2015), Vladimir Safatle procura desconstruir a imagem de uma “onda conservadora” na política brasileira.
Reconhecendo que “o Brasil sempre foi um país com uma grande parcela de sua população claramente identificada ao pensamento conservador”, Safatle enumera episódios da história recente do Brasil nos quais o conservadorismo aflorou, para então concluir: “nada disto mudou muito, só perdeu seu contraponto”.
Nesses termos, o problema residiria no contraponto, isto é, na esquerda:
“Mas seria interessante se perguntar se o fenômeno que vemos hoje é realmente uma onda conservadora ou simplesmente a decomposição radical do que poderíamos chamar de ‘campo das esquerdas’. Uma decomposição que não foi fruto de complôs internacionais e de recrudescência do ódio, mas de impasses e erros próprios”.
Onda conservadora – Se é verdade que o conservadorismo deita profundas raízes na sociedade brasileira, é difícil concordar que a atual conjuntura não tenha produzido algo de novo a partir do velho conservadorismo, ou seja, que não estejamos diante de um novo conservadorismo, mais forte e com novas feições.
A onda conservadora existe. Trata-se de algo novo e complexo, que vai do individualismo consumista produzido pelo lulismo nas classes subalternas até o sentimento de mal-estar na classe média tradicional em face da perda relativa de prestígio e status produzida pela mobilidade social dos últimos anos. As recentes manifestações pró-impeachment amparam-se nessa segunda vertente.
Talvez seja no cinema o campo em que aparece de maneira mais nítida a produção do conservadorismo a partir do tecido social.
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Em meio a isso tudo, soa simplista a afirmação de que o fortalecimento de ideias e manifestações conservadoras na sociedade decorra da ausência do contraponto de esquerda. Na verdade, o que a experiência ensina é o exato oposto: o contraponto de esquerda tende a alimentar ainda mais o conservadorismo, como bem mostram nossos vizinhos latino-americanos, que não estão melhores do que nós.
Além disso, seria honesto lembrar que nossa onda conservadora foi sendo incrementada a conta gotas por contrapontos de esquerda, muitos dos quais vindos do governo (como o programa Mais Médicos, a Comissão da Verdade e as políticas das secretarias nacionais vinculadas à presidência da República, só para dar alguns exemplos). Não é por acaso que o alvo principal de Bolsonaro, Feliciano e cia. seja o PT. Uma leitura do conservadorismo no Brasil atual não pode deixar esses dados de lado.
É certo que o objetivo de Safatle é contrapor-se a um tipo de intervenção, próprio de uma militância governista fanática, para quem todos os problemas devem ser imputados à direita. Trata-se de um embate intelectual, no campo da crítica. Todavia, negar pura e simplesmente a existência de uma onda conservadora acaba sendo tão empobrecedor quanto atribuir todos os problemas à dita onda. Se o que se quer é polarizar com a militância governista, o resultado foi um nivelamento por baixo da polarização. Enquanto para uns tudo é onda conservadora, para outros não há onda conservadora. Entre uns e outros, é o pensamento crítico que perece, deixando o campo aberto para o fanatismo.
Impasse da esquerda – Se a decomposição radical do campo das esquerdas foi fruto de erros próprios, resta saber por que razão a crítica de Safatle não alcança o lugar de onde ele fala, isto é, a esquerda socialista. Isso inclui a esquerda do PT, bem como seu próprio partido e a tese à qual ele associou-se no interior do PSOL.
Tem sido lugar comum entre os intelectuais de esquerda a ideia de que apenas e tão somente o PT deve ser criticado. Para estes, a razão pela qual só o PT merece ser criticado é tão óbvia, tão autoevidente que sequer merece justificativa. “A culpa é do PT”, é o que se lê aqui e acolá.
Mas se estamos diante da decomposição do campo das esquerdas, como nota Safatle, não seria o caso de dirigir a crítica à esquerda no seu conjunto? Se a esquerda socialista é pequena ou muito pequena – argumento o mais das vezes utilizado por ela própria para eximir-se da crítica -, cabe notar que sua pequenez não é um dado da natureza, nem deve ser imputado pura e simplesmente ao sistema. Aqui também são os erros próprios que devem ser vislumbrados.
As duas últimas eleições presidenciais mostram que há espaço para uma terceira via. Um espaço eleitoral, político e social que, se ocupado pela esquerda socialista, empurraria a conjuntura para a esquerda. Não é exatamente a capacidade de a esquerda socialista ocupar um espaço social à esquerda a chave para o necessário contraponto à onda conservadora? A quem interessa uma esquerda socialista pequena e isolada, enquanto Marina e o PSDB polarizam com o governo e o PT?
Dizemos isso porque é o próprio Safatle quem lembra: “a última eleição teve uma candidata com 20% de votos e, no fundo, sem partido”. Ocorre que Marina chegou onde chegou não por acaso, mas fundamentalmente porque ela acertou. Não saiu do governo antes de o governo começar, mas na hora certa e do jeito certo. Não fez oposição ao lulismo, antes apresentou-se como continuação e superação deste.
Ao contrário do que muitos pensam, o espaço ocupado por Marina não se situa na classe média tradicional, mas na nova classe trabalhadora. Sobretudo entre os jovens e nas grandes cidades. Esse espaço não poderia ter sido ocupado pela esquerda socialista? Sim, mas as condições para isso não seriam simples. Exigiriam da esquerda socialista e do PT outra estratégia política. Uma estratégia de esquerda, na qual lulismo e esquerda socialista convergiriam.
Apesar de central, a eleição majoritária não resolve o problema da composição do Congresso Nacional. Quanto a isso, tanto quanto é pobre a afirmação de que o Congresso representa a população – como se existisse representação política perfeita -, a negativa também é simplista e empobrecedora. (Para um estudo sério sobre o assunto, ler André Singer, Esquerda e direita no eleitorado brasileiro, Edusp, 1999; há inúmeras monografias produzidas recentemente sobre o assunto).
Ao contrário do que Safatle argumenta, não há uma tendência do voto de presidente influenciar o voto proporcional, ao menos não como Safatle quer fazer crer. Os resultados estão disponíveis para quem quiser ver.
Finalmente, imaginar que, sob outras leis eleitorais e com outra mídia, o Congresso Nacional seria qualitativamente mais à esquerda, soa como uma maneira de apaziguar a consciência. Primeiro porque as leis eleitorais e a mídia são as armas do inimigo, e numa guerra nunca o inimigo abdica de suas armas (1); segundo porque as pessoas pensam, de modo que o voto é sim expressão de uma percepção do eleitor(a) sobre a posição que o candidato(a) e/ou o partido ocupam no espectro ideológico. E, afinal, “o Brasil sempre foi um país com uma grande parcela de sua população claramente identificada ao pensamento conservador”.
Crítica e autocrítica – Veja-se o caso da Espanha: o Podemos teve uma votação impressionante, como bem lembra Safatle. Mas convém notar: com as mesmas regras eleitorais de sempre (2). Nós também podemos, desde que façamos como eles: entendamos o Brasil e inovemos nossa estratégia. Criemos uma estratégia adequada ao Brasil, capaz de fazer frente às condições tais quais existem.
O problema é que isso exige autocrítica, e toda autocrítica coloca em risco a própria identidade e a coesão do grupo, e nem todos estão dispostos a enfrentar o fantasma da crise de identidade e da quebra da coesão. Mais cômodo e seguro é aferrar-se à situação atual, ainda que seja de derrota.
A paralisia não acomete apenas o PT e o governo – que também devem fazer uma dura autocrítica.
Há também na esquerda socialista uma situação de paralisia, ou seja, uma fixação ideológica que impede a inovação estratégica: tanto quanto o PT não consegue incorporar em sua estratégia a esquerda socialista, que não ocupa lugar algum na estratégia do lulismo, esta – esquerda socialista – igualmente não consegue incorporar o lulismo em sua estratégia. Enquanto a única alternativa que o lulismo produziu foi Marina, a estratégia do PSOL segue sendo a mesma dez anos depois de sua fundação: oposição.
Se há paralisia, o ponto é que a paralisia é da esquerda no seu conjunto e só dessa perspectiva ela pode ser compreendida. Daí a razão pela qual a superação dos impasses da esquerda no atual momento histórico exige um esforço mais elevado de crítica, de uma crítica dirigida à esquerda no seu conjunto. Crítica dirigida apenas ao PT ou apenas à esquerda socialista não é crítica, mas caricatura de crítica.
A recusa de Safatle em associar à crítica ao PT a autocrítica – não dele, pessoal, mas do lugar de onde ele fala – é emblemática do momento por que passamos no campo intelectual e político na esquerda brasileira. Momento que carece superarmos.
(1) É conhecido o argumento, preponderante entre a esquerda socialista, de que o PT (o governo) poderia mudar as leis eleitorais e a mídia se quisesse, e de que a mudança não ocorreu porque o PT (o governo) não quis. Por vezes, o argumento é mais sofisticado: o PT e o governo poderiam mobilizar a população para, nas ruas, desequilibrar a correlação de forças do Congresso e, com isso, aprovar quaisquer medidas; mas o PT e o governo abdicaram da mobilização como estratégia – o que é verdade, embora não seja verdadeira a ideia de que a mobilização provavelmente conduziria a um resultado favorável.
Há, enfim, quem compare o Brasil com a Venezuela, ignorando que o chavismo surgiu de processos muito particulares (cada país tem a sua história) e que o PSUV sozinho logrou por muitos anos ter maioria no parlamento venezuelano. Com argumentos como esse, demonstra-se apenas uma profunda ingenuidade, uma visão romântica da política brasileira, na qual se ignora a situação concreta das classes sociais no Brasil – alguns na esquerda socialista chegam a atribuir à classe média uma feição progressista! – e na qual se atribui ao PT (e ao governo) um poder que estes definitivamente não têm. No fundo, estes argumentos apenas demonstram uma fantasia a respeito das classes sociais no Brasil e o desejo de um governo com superpoderes, o que não deixa de ser irônico em face da pouca força daqueles que argumentam nesse sentido.
(2) Para compreender como o Podemos construiu uma estratégia original a partir de uma leitura avançada da situação concreta da Espanha, conferir: Pablo Iglesias, Entendendo o Podemos, Revista Mouro, janeiro de 2016, tradução de Joana Salém Vasconcelos ([email protected])
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Comentários
Antonio C.
“Esquerda”? No genérico, começa com uma mistificação. No mais, “onda conservadora” é um termo que nada explica, ou pior, não apenas dá a entender que o autor do artigo de opinião tem domínio sobre algo que, como o termo coloca, é como se fosse uma maré, com fluxos e refluxos. Ora, é das manifestações em favor do passe livre, esquerda e apartidária (sic) que houve um ânimo contra Dilma e quetais. Será que é isso a que o autor se refere?
Posso perguntar, claro, qual a “esquerda” da qual o autor participa, com uma análise tão exterior, quase “transcendental” (será nosso autor um doutorando em filosofia?) para saber se ele faz autocrítica.
Em tempos de existência de pequeno-burgueses, cheio de vocabulário acadêmico, supostamente de esquerda, autocrítica falta e quem dela fala.
mineiro
nessa eleiçao mesmo que ninguem admita e mesmo longe um do outro, a esquerda se uniu e torno desse governo hoje eleito. muitos da esquerda radical apoiou esse governo sabendo que o lado de la é mais sujo do galinheiro. isso deveria ser levado em conta e tambem agora contra o golpe toda esquerda radical foi contra o golpe. se quiser esse governo mais o pt soubesse , poderia sim de certa forma unir a esquerda. mas vai uniao mesmo que seja fajuta , quando como foi dito em caso de golpe e o conservadorismo querer o poder a força , ai eles unem por bem ou por mal , mas fora isso , nao vai acontecer nada. porque o pt quer uniao é com os banqueiros , latifundiarios , pig golpista e toda a elite, o pt nao quer saber de movimentos sociais e esquerda radical nao.
Otto
Verdade, falta muita autocrítica na esquerda. Muita mesmo…
Alexandre Maruca
Virou ideia fixa do articulista criticar os textos do Safatle. Deve render um bom ibope.
FrancoAtirador
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(http://jornalggn.com.br/noticia/serao-os-ataques-de-odio-uma-receita-%E2%80%9Cmade-in-usa%E2%80%9D-por-ivo-pugnaloni)
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FrancoAtirador
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‘Orgulho de Ser Hétero’: (http://imgur.com/280UNXy)
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As Fronteiras entre a Fala Livre e a Odiosa
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Por Debora Diniz*, no Justificando, via GGN
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Eles são inseguros, mas têm orgulho de ser machos e muitos.
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Descrevem-se como representantes do movimento “orgulho hétero”,
reclamam dia nacional de combate à heterofobia,
apresentam panteão próprio de heróis e representantes políticos.
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Desconheço mulheres participantes do “orgulho hétero”, talvez porque a veadagem
incomode mais aos homens machos que a qualquer outra forma de existência no gênero.
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Mas a ideia de gritar orgulho por formas de viver é uma expressão de grupos
oprimidos e segregados — assim foi com o “orgulho gay” ou o “orgulho surdo”.
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Se me inquietava saber as razões pelo sentimento de exclusão, o bando de machos inseguros
acabou de conquistar o motivo: a página do grupo foi considerada inadequada para o Facebook.
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Não me interessa escarafunchar o ocorrido. Queria pensar a tese
que navegou por entre a controvérsia: os machos tinham fala livre ou odiosa?
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Se falar e odiar são apenas variações de um direito único e fundamental — liberdade de expressão, diríamos —,
gou se há fronteiras entre as duas formas de posicionar-se diante de estranhos morais.
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Sustentarei que há fronteiras entre liberdade de expressão e discurso do ódio,
e que conhecê-las e respeitá-las é importante para a democracia civilizada.
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Parto de uma definição simples de liberdade de expressão:
poder falar, falar muito, só não sei se qualquer coisa.
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Segundo os defensores da liberdade plena, qualquer coisa poderia ser dita,
não haveria limites no discurso, pois julgamentos sobre o dito
seria já uma forma de censura ao pensamento e à falação.
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Há, no entanto, várias camadas nessa tese.
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A primeira delas é que a liberdade de expressão garante o direito de falar.
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Meu estranhamento é pelo deslizamento do falar para o falar qualquer coisa.
Até pode ser, em um sentido hipotético, mas em uma perspectiva consequencialista não é tão simples assim.
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Podemos falar, como fazem os machos inseguros, novidades do léxico (heterofobia),
mas são as consequências do dito o que provoca a conversa sobre as fronteiras entre a falação legítima e a falação odiosa.
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A fronteira entre falar e odiar existe e não deve se esconder pelo relativismo do discurso
— os defensores dos machos poderiam dizer que apenas resistem a um tsunami de veadagem. A imoralidade das crenças gays, continuariam os machos inseguros, seria uma provocação ao ódio — ou pior: este texto seria já falação odiosa.
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Será mesmo assim, discordar é sempre odiar?
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Minha tese é que não, a desavença é parte da democracia,
o ódio é um desqualificador da liberdade de expressão.
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Discordar é o que move a argumentação, o que garante
a pluralidade de pensamentos e de formas de viver.
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Odiar é uma forma de restringir liberdades, de impor
medo, perseguição ou mesmo violência à convivência.
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O caso dos machos inseguros é interessante para pensarmos as fronteiras
entre liberdade de expressão e discurso abusivo.
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Se há terras estrangeiras em que a liberdade de expressão é passe livre para dizer
qualquer coisa, a qualquer pessoa e em qualquer situação, entre nós, o palavrório é regulado.
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Meu ponto é que a regulação não é só um gesto policial de vigilância às boas regras de civilidade
ou, melhor dito, não é apenas uma questão jurídica de convivência pacífica,
mas um marco ético para a boa vida.
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O encontro da boa vida pode se dar na rua, onde sentimos o cheiro de quem nos desagrada;
ou nas mídias sociais, onde lemos ou ouvimos o que não suportamos.
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Os machos podem ser machos, podem provocar os valores e sentimentos
da masculinidade superior: devem ser livres para exibir seus músculos
e palavreado desconhecido pelos dicionários.
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Devem, inclusive, ter espaços para convivência segregada — um clube dos machos que se reconhecem.
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O que eles não podem é ultrapassar a fronteira da mútua admiração
para o ódio contra aqueles que não reconhecem nos músculos,
na voz grossa ou na brutalidade os valores da boa vida.
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Ao contrário do que dizem, a fronteira não é tênue, tampouco difícil de ser traçada
— uma coisa é o orgulho de si, outra coisa é o desprezo pelo outro.
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É assim que entendo a fronteira entre liberdade de expressão e discurso abusivo.
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Não é tudo que vale no campo das crenças sobre os outros, das opiniões
que resultam em restrições de direito, ou de valores que pressupõem desigualdades.
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Ser um macho inseguro é só uma das muitas formas de expressão das masculinidades
— felizmente, nem a melhor ou a única.
Os machos orgulhosos devem ter pleno espaço para a expressão de seus valores;
mas os machos muito inseguros devem ser apresentados às boas regras de convivência.
.
Nem que seja os proibindo de falar.
.
*Debora Diniz (http://lattes.cnpq.br/3865117791041119) é Antropóloga,
Professora da Universidade de Brasília (UnB),
Pesquisadora da ANIS – Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero
e Autora do Livro “Cadeia: Relatos sobre Mulheres” (Civilização Brasileira).
.
Este artigo é parte do falatório “Vozes da Igualdade” (http://www.anis.org.br/p/blogs),
que todas as semanas assume um tema difícil para vídeos e conversas.
.Para saber mais sobre o tema deste artigo: (https://www.facebook.com/AnisBioetica)
.
(http://justificando.com/2015/11/10/orgulho-de-ser-hetero-as-fronteiras-entre-a-fala-livre-e-a-odiosa)
.
(http://jornalggn.com.br/noticia/orgulho-de-ser-hetero-as-fronteiras-entre-a-fala-livre-e-a-odiosa-por-debora-diniz)
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FrancoAtirador
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‘Orgulho de Ser Hétero’: (http://imgur.com/280UNXy)
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As Fronteiras entre a Fala Livre e a Odiosa
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Por Debora Diniz*, no Justificando, via GGN
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Eles são inseguros, mas têm orgulho de ser machos e muitos. Descrevem-se como representantes do movimento “orgulho hétero”, reclamam dia nacional de combate à heterofobia, apresentam panteão próprio de heróis e representantes políticos. Desconheço mulheres participantes do “orgulho hétero”, talvez porque a veadagem incomode mais aos homens machos que a qualquer outra forma de existência no gênero. Mas a ideia de gritar orgulho por formas de viver é uma expressão de grupos oprimidos e segregados — assim foi com o “orgulho gay” ou o “orgulho surdo”. Se me inquietava saber as razões pelo sentimento de exclusão, o bando de machos inseguros acabou de conquistar o motivo: a página do grupo foi considerada inadequada para o Facebook.
Não me interessa escarafunchar o ocorrido. Queria pensar a tese que navegou por entre a controvérsia: os machos tinham fala livre ou odiosa? Se falar e odiar são apenas variações de um direito único e fundamental — liberdade de expressão, diríamos —, ou se há fronteiras entre as duas formas de posicionar-se diante de estranhos morais. Sustentarei que há fronteiras entre liberdade de expressão e discurso do ódio, e que conhecê-las e respeitá-las é importante para a democracia civilizada. Parto de uma definição simples de liberdade de expressão: poder falar, falar muito, só não sei se qualquer coisa. Segundo os defensores da liberdade plena, qualquer coisa poderia ser dita, não haveria limites no discurso, pois julgamentos sobre o dito seria já uma forma de censura ao pensamento e à falação.
Há, no entanto, várias camadas nessa tese. A primeira delas é que a liberdade de expressão garante o direito de falar. Meu estranhamento é pelo deslizamento do falar para o falar qualquer coisa. Até pode ser, em um sentido hipotético, mas em uma perspectiva consequencialista não é tão simples assim. Podemos falar, como fazem os machos inseguros, novidades do léxico (heterofobia), mas são as consequências do dito o que provoca a conversa sobre as fronteiras entre a falação legítima e a falação odiosa.
A fronteira entre falar e odiar existe e não deve se esconder pelo relativismo do discurso — os defensores dos machos poderiam dizer que apenas resistem a um tsunami de veadagem. A imoralidade das crenças gays, continuariam os machos inseguros, seria uma provocação ao ódio — ou pior: este texto seria já falação odiosa. Será mesmo assim, discordar é sempre odiar? Minha tese é que não, a desavença é parte da democracia, o ódio é um desqualificador da liberdade de expressão. Discordar é o que move a argumentação, o que garante a pluralidade de pensamentos e de formas de viver. Odiar é uma forma de restringir liberdades, de impor medo, perseguição ou mesmo violência à convivência.
O caso dos machos inseguros é interessante para pensarmos as fronteiras entre liberdade de expressão e discurso abusivo. Se há terras estrangeiras em que a liberdade de expressão é passe livre para dizer qualquer coisa, a qualquer pessoa e em qualquer situação, entre nós, o palavrório é regulado. Meu ponto é que a regulação não é só um gesto policial de vigilância às boas regras de civilidade ou, melhor dito, não é apenas uma questão jurídica de convivência pacífica, mas um marco ético para a boa vida. O encontro da boa vida pode se dar na rua, onde sentimos o cheiro de quem nos desagrada; ou nas mídias sociais, onde lemos ou ouvimos o que não suportamos.
Os machos podem ser machos, podem provocar os valores e sentimentos da masculinidade superior: devem ser livres para exibir seus músculos e palavreado desconhecido pelos dicionários. Devem, inclusive, ter espaços para convivência segregada — um clube dos machos que se reconhecem. O que eles não podem é ultrapassar a fronteira da mútua admiração para o ódio contra aqueles que não reconhecem nos músculos, na voz grossa ou na brutalidade os valores da boa vida. Ao contrário do que dizem, a fronteira não é tênue, tampouco difícil de ser traçada — uma coisa é o orgulho de si, outra coisa é o desprezo pelo outro.
É assim que entendo a fronteira entre liberdade de expressão e discurso abusivo. Não é tudo que vale no campo das crenças sobre os outros, das opiniões que resultam em restrições de direito, ou de valores que pressupõem desigualdades. Ser um macho inseguro é só uma das muitas formas de expressão das masculinidades — felizmente, nem a melhor ou a única. Os machos orgulhosos devem ter pleno espaço para a expressão de seus valores; mas os machos muito inseguros devem ser apresentados às boas regras de convivência. Nem que seja os proibindo de falar.
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*Debora Diniz (http://lattes.cnpq.br/3865117791041119) é Antropóloga,
Professora da Universidade de Brasília (UnB),
Pesquisadora da ANIS – Instituto de Bioética Direitos Humanos e Gênero
e Autora do Livro “Cadeia: Relatos sobre Mulheres” (Civilização Brasileira).
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Este artigo é parte do falatório “Vozes da Igualdade” (http://www.anis.org.br/p/blogs),
que todas as semanas assume um tema difícil para vídeos e conversas.
.Para saber mais sobre o tema deste artigo: (https://www.facebook.com/AnisBioetica)
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(http://justificando.com/2015/11/10/orgulho-de-ser-hetero-as-fronteiras-entre-a-fala-livre-e-a-odiosa)
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(http://jornalggn.com.br/noticia/orgulho-de-ser-hetero-as-fronteiras-entre-a-fala-livre-e-a-odiosa-por-debora-diniz)
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Alexandre Tambelli
A grande discussão a ser travada nas esquerdas (nos mais radicias) é se ela entende os anseios particulares e subjetivos de cada brasileiro.
É claro para mim que existe uma busca, por parte dos partidos de extrema-esquerda, de olhar o Mundo de um ponto de vista fechado e organizado na base de ideias pré-estabelecidas e que norteariam a sociedade como um todo.
Por exemplo.
Socialização dos meios de produção.
Diminuição radical das diferenças sociais entre o mais rico e o mais pobre, perfazendo uma grande classe média.
É bonito o idealismo. O olhar coletivo. A busca de encontrar no Mundo real o mundo da Teoria marxista e seus assemelhados.
Porém, se tem estudado o Homem?
Ou, apenas, a Teoria social, àquela Teoria que a prática cotidiana não consegue realizar?
Nós, das esquerdas, precisamos entender o que o Homem quer, cada homem, muito menos do que alguns revolucionários querem.
Há na face da terra muitos revolucionários ou muitos sujeitos que querem trabalhar, ganhar uma boa grana e cuidar de sua vida e de sua família?
O homem quer ser socialista ou burguês?
O PSOL é um exemplo dessa dicotomia Teoria e realidade.
Enquanto seus parlamentares entendem o que está em jogo na sociedade brasileira, porque participam dela no campo do concreto, os seus líderes sem mandato vivem uma realidade paralela, onde acreditam que se fizermos exatamente o que a idealização de sociedade perfeita, a partir do que uma Teoria, escrever no papel, tudo acontecerá à-perfeição.
Morre a cada dia o peixe que sai pela boca. O tempo real e a História correm nas ruas, a batalha pela conscientização do povo não é só crer numa Revolução social, porque o povo não quer Revolução, o povo tem, em sua maioria, o instinto burguês.
Quem não sonhou um dia com aquela lancha paradisíaca atracada numa Ilha dos sonhos?
Se a gente quiser impor um coletivo mundo de uma idealização de gabinete para duzentos e poucos milhões de brasileiros a gente não vai chegar a lugar nenhum.
Por isto que o PT foi revolucionário e está anos luz na frente da extrema-esquerda. Ele entendeu com Lula, porque Lula veio da pobreza, das entranhas do povo que o povo queria/precisaria melhorar de vida e soube que o melhorar de vida não significa ser revolucionário nem expropriar os meios de produção nem lutar com armas contra o patrão (o Burguês) e nem empunha qualquer outra bandeira revolucionária.
Melhorar de vida era: comer, se divertir, comprar algumas coisas, visitar os parentes distantes, etc. Estas pequenas coisas que todo mundo gosta de fazer.
A Revolução no Brasil está posta e o PT sabe disso mais do que o PSOL dos gabinetes, da Luciana Genro e do Wladimir Safatle.
A grande Revolução foi feita de maneira silenciosa. O povo foi incluído na sociedade e lhe foi dado o direito de ascender socialmente.
Criou-se o espírito de pertença no indivíduo, e que se tornou coletivo o espírito porque atingiu milhões e milhões de brasileiros, antes alijados do direito de ser partícipe da sociedade.
É o espírito de autoconfiança. Este é um dado revolucionário.
Estamos por causa desta possibilidade a romper com a sociedade de castas, no tempo da perda de identidade da sociedade dos 30%, que agora, não se vê mais identificada com seus ícones particulares, invadidos eles pelo povo: aeroportos, praias paradisíacas, shopping centers, avenidas e seus automóveis populares, os mesmos perfumes importados, o celular da Apple, etc.
O PT transformou o Brasil.
Ao PSOL caberia buscar uma bandeira mais sólida para sua militância.
Ir na esteira de conscientizar o povo brasileiro da importância de sermos patrióticos, da importância da defesa de nossas riquezas naturais com controle estatal e para usufruto do povo brasileiro, de um crescimento econômico mais consciente, administrando crescimento e meio-ambiente e consumo mais consciente, da importância de uma Cultura de paz. E, assim, por diante.
Ai estão pontos de inflexão para a transformação social do País.
Precisamos de uma Esquerda que saia da academia, da sala de ar-condicionado, do campo teórico e entenda o que é possível e não o que o manual determina.
É impensado, um partido que tem mais de 12 anos viver, quase sempre, na esteira da crítica ao PT e não na direção de se apresentar como uma força política capaz de ter votos e formar, ao menos, bancada de parlamentares expressiva e uma centena de prefeituras para governar.
Lembrando e para terminar:
O homem está mais para o desejo de ser burguês do que de ser um Revolucionário de extrema-esquerda.
assalariado.
Um texto inteligente, tentando chamar a esquerda socialista para empurrar o governo social democrata, mais para o campo politico e econômico, com viés menos consumista e mais materialista/ concreto. Cuidado, não disse idealista/ consumista. Resta saber se, dentro desta lógica atual de ”governabilidade”, se o governo está disposto a fazer uma pauta de governabilidade de cunho “esquerdista”. Sim, chamou a responsabilidade critica, todas as esquerdas, como um coletivo divorciado e necessitado de um pragmatismo fora do eixo consumista e, colorir com um bocado de materialismo socialista. E agora? Sim, temos espaço pra isso, dada a conjuntura internacional do modo de produção capitalista. Embora não tenhamos hegemonia dentro das casas legislativas. Também, faltou dois fatos (ou duas táticas?) política que, ao meu ver, careceu abordar e bater mais forte. Ou seja, as esquerdas começarem a tratar a mídia como partido político -(independente da possibilidade, ou não, de uma nova lei das mídias)- e, encostar mais no povo, ao ponto de começar a sentir o cheiro nojento de sua ”formação política”, com forte cheiro (ou bolor?) da lavagem cerebral, das tintas ideológicas da mídia burguesa e golpista, travestida de ”Liberdade de Imprensa”.
Saudações Socialistas/ Comunistas.
Julio Silveira
Tua analise foi bem precisa. Mas creio que a responsabilidade do grupo que governa com esses métodos seja toda dele. Como eleitor e critico não posso aceitar a justificativa de ter um congresso ruim ou coisa que o valha. Aprendi com a vida que a generalização só facilita a vida dos piores. Para mim, só o fato de se postular (para quem pensa responsavelmente) ao cargo maior do país, deveria obrigar o grupo de apoio a essa ambição ter um perfeito conhecimento, uma visão, sobres aquelas personalidades com as quais poderão contar. E convenhamos, tem muita gente boa neste congresso a quem não são dadas as devidas atenções. Que mostram denodo em apoio e espirito publico a todo instante mostrados, inclusive nos diversos espaços que vejo. Para mim a questão é acomodação, demagogia, mesmice politica. O governo tem ferramentas para fazer evoluir a cultura politica nacional, mas optou pelo conservadorismo por pura covardia auto protetiva, desde os primeiro momentos de seus governos dessa linha ideológica. Aceitam a regra do jogo e se tornam cumplices dela, pelo temos da ruptura desejada pela sociedade que acaba dando vazão a cultura e apoio ao que já conhecem, mesmo sabendo da necessidade das mudanças. A anos o povo quer regras diferentes, ou melhor regras para serem cumpridas não apenas por ele, o conservadorismo politico nacional e uma estratégia auto protetiva de grupos, não ideologia apesar de parecer. Na verdade basta aplicar a Constituição Brasileira fazendo dela um instrumento de apoio, coisa séria, urgentemente, tornando-a não um livro mais um ser atuante na pratica politica deste país, quando isso acontecer quando ela deixar de ser uma utopia para se tornar realidade, o Brasil melhora. E quem deve exigir essa nova cultura, transigindo para sua implementação, inclusive regulando seus pontos nebulosos, é o Executivo do país. Mas infelizmente este é evidente que administra para seu próprio umbigo.
Carlos Salgado
Muito bem abordado. Excelente texto!!!
Os Socialistas precisam reconhecer os avanços (tímidos) obtidos pelo PT, para poder traçar novas estratégias com passos firmes para superarmos as contradições que vivemos.
Sobre o Podemos, se organizar como oposição é sempre muito mais fácil do que como situação.
FrancoAtirador
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São os Meios de Comunicação de Massa, Estúpid@(s)!
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