por Luiz Carlos Azenha
O triângulo amoroso entre Carlinhos Cachoeira-Demóstenes Torres-revista Veja tem um aspecto subsidiário pouco discutido até o momento: o da necessidade de fortalecimento da esfera pública da comunicação, aquela que não se guia apenas pela busca de audiência ou de faturamento comercial.
Está claro que foram os óbvios interesses comerciais de Carlinhos Cachoeira que guiaram sua relação com a revista, que perseguia seus próprios interesses políticos e ideológicos. No Reino Unido, o escândalo envolvendo a espionagem em escala industrial dos jornais de Rupert Murdoch acabou favorecendo a imagem da BBC, que nunca se desviou da sobriedade jornalística. Nunca acusou, por exemplo, os trabalhistas de receberem dólares de Fidel Castro baseada em fiapos de informação.
Curiosamente, no Brasil, seguimos no caminho inverso, como está claro no desmonte em curso na TV Cultura de São Paulo. Não sem deliciosas ironias. A Folha de S. Paulo, que militou contra a TV Brasil, a ponto de pedir em editorial a extinção da emissora — com o argumento de que a baixa audiência não justificava o gasto público — agora se acha na condição de ocupante de espaço nobre na TV Cultura, sem licitação, tendo contribuído para derrubar a audiência já magra — em termos quantitativos — da emissora paulista.
Quando eu falei em “caminho inverso” tinha em mente recente perfil que o Financial Times fez do diretor-geral da BBC, Mark Thompson, que deixa o cargo depois das Olimpíadas.
A BBC, emissora pública britânica sustentada com a cobrança mensal de uma taxa dos telespectadores, sofreu ataques de — tremenda ironia — James Murdoch, filho do magnata Rupert Murdoch.
Depois de citar alguns sucessos de Thompson à frente da BBC, dentre os quais se destaca a presença da emissora no mundo digital, diz o FT:
“Apesar de todos estes sucessos, no entanto, Thompson é ou muito educado ou muito cauteloso para se engajar em gozação às custas dos Murdochs. Ele acha que os ataques de James Murdoch contra a BBC foram apenas a defesa dos interesses comerciais da TV Sky? Thompson ri: “Do ponto-de-vista do James… sempre achei que sua visão ideológica, por coincidência, representava também seus interesses comerciais. Não acho que ele seja um amante secreto da BBC, que estava apenas pretendendo odiar. É de verdade”. E sorri.
Se a BBC tivesse ganho apenas por causa de um acidente enfrentado pelo império Murdoch, seu ganho teria sido breve. Mas a corporação também pode ter sido beneficiada por uma mudança mais ampla no sentimento público. “Se você olhar as pesquisas de opinião”, Thompson diz, “as duas únicas grandes instituições que tiveram maior aprovação do público nos últimos cinco anos foram a BBC e o National Health Service [o SUS britânico]“.
As similaridades são óbvias. Os dois são financiados publicamente e sempre enfrentaram oposição dos puristas do livre-mercado, mas despertam profunda lealdade no público britânico. A BBC é frequentemente chamada de “Tia”. O NHS poderia ser chamado de “Mãezona”. Ambos resistiram a ataques da Dama de Ferro [Margaret Thatcher] e seus herdeiros ideológicos. Na verdade, depois da crise financeira, o sentimento público contra a ortodoxia Thatcherista se aprofundou. Thompson avalia que “estamos vivendo em um período no qual a dependência e a ansiedade da população quanto aos serviços públicos está aumentando”.
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No Reino Unido, diga-se, a investigação do escândalo de escutas clandestinas caminha no sentido de fortalecer a regulamentação da mídia, inclusive dos meios impressos. Lá, a classe política parece ter decidido que não dá mais para ficar refém do jornalismo-gângster. E no Brasil?
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Comentários
O Cafezinho » Blog Archive » Cachoeira, Murdoch, e o jornalismo gânster
[…] por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo. […]
Luiz Aldo
Certos comentários aqui têm um cheirinho de "Tea Party" à moda de Pindorama, a terra dos papagaios.
Trata-se de conservadorismo temperado com dose generosa de estupidez!
Luca K
Sr. Azenha, não sei como resolver o problema calamitoso da imprensa brasileira. Mas dizer q a BBC "nunca se desviou da sobriedade jornalística" é uma PIADA. No q diz respeito a cobertura internacional a BBC é infame por fazer propaganda a serviço do governo britanico. E não é de hoje. O caso mais recente eh a cobertura da situação na Síria. Na verdade, não há midia isenta, nem no Brasil nem em lugar nenhum. Verdade q a situaçaõ da brasileira é muito ruim mas longe de ser caso isolado.
Filippini
Minha sugestão de título para o texto e matéria acima Azenha.
No Reino Unido,a classe política parece ter decidido que não dá mais para ficar refém do jornalismo-gângster. E no Brasil?
FrancoAtirador
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O Grupo G.A.F.E.* está impossível nas últimas semanas:
As Organizações Globo fazem de conta que o Cachoeira é petista desde criancinha.
O Estadão faz de conta que a sede do governo de Goiás é em Brasília.
A Folha faz de conta que é jornal.
E a Veja faz de conta que é revista.
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<img src="http://helenasthephanowitz.googlepages.com/CPI_1.jpg">
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<img src="http://i41.servimg.com/u/f41/17/11/51/64/cosano11.png">
Civita, Oltramari, Eurípedes, Policarpo, Augusto e Rosnaldo
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FrancoAtirador
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!!! ALERTA GERAL !!!
!!! RAPOSA NO GALINHEIRO !!!
PSDemB QUER PRESIDÊNCIA OU RELATORIA DA CPMI DO CACHOEIRA !
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11/04/2012 – 18h47
Oposição quer cargo de comando em CPI sobre caso Cachoeira
Líderes da oposição brigam para conseguir ficar com algum cargo de comando na CPI que vai investigar as relações políticas do empresário Carlos Cachoeira, preso sob acusação de explorar o jogo ilegal.
A intenção é que ou DEM ou PSDB fique com presidência ou relatoria na comissão. A tradição no Congresso, no entanto, é que as maiores bancadas fiquem com esses cargos. Por essa lógica, o PMDB do Senado ficaria com a presidência e o PT na Câmara com a relatoria.
"Esperamos que essa CPI não seja chapa branca. A CPI normalmente é um instrumento da minoria, mas neste caso, ela é de todos", afirmou o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE). "Se não tivermos nada vai ficar claro que o governo quer conduzir as investigações da forma como convier aos seus", completou o líder do DEM, ACM Neto (BA).
Mais cedo, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), já havia confirmado que a CPI do Cachoeira deve seguir a tradição. Em sua opinião, para a oposição ficar com cargos de comando seria preciso um amplo acordo entre os líderes.
TEXTO
Durante todo o dia, líderes da Câmara e do Senado negociam o texto a ser apresentado para o início dos trabalhos da CPI. O documento deve obter apenas o objetivo sucinto das investigações, mas ele já causa polêmica.
Alguns deputados, principalmente do governo, defende que a CPI se limite a descobrir as relações do empresário com congressistas. Alguns, no entanto, acham que ela deve analisar os três Poderes além de empresas privadas.
Para Maia, ela deve se debruçar sobre o setor público e privado. Ainda para o presidente da Câmara, a comissão deve sair do papel no meio da semana que vem.
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Câmara começa a investigar ligação de deputados com Cachoeira
A corregedoria da Câmara iniciou nesta quarta-feira os trabalhos de investigação sobre o envolvimento dos deputados Sandes Junior (PP-GO), Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Rubens Otoni (PT-GO) com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
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Protógenes nega vinculação com grupo de Cachoeira
Os três já foram notificados do processo e têm cinco dias úteis para a apresentação de suas defesas. Depois, a investigação terá o prazo de 45 dias para ser concluída.
O caso dos deputados será analisado por uma comissão de sindicância formada por quatro colegas: Maurício Quintella Lessa (PR-AL), Odair Cunha (PT-MG), Jerônimo Goergen (PP-RS) e Evandro Milhomen (PC do B-AP), além do corregedor da Casa, Eduardo da Fonte (PP-PE).
A primeira reunião do grupo deve acontecer ainda nesta noite.
Cachoeira foi preso pela Polícia Federal no fim de fevereiro durante a Operação Monte Carlo. Segundo investigação da PF, o empresário explora jogos ilegais e construiu uma rede de tráfico de influência que cooptou parlamentares, policiais e outros agentes públicos.
Maria Clara Cabral, na FSP, de Brasília
sergio
No Brasil os deputados frouxos ficam com cara de paisagem , digo, deputados porque o Senado já morreu faz tempo. UNICAMERALISMO JÁ.
ratusnatus
Deixa eu adivinhar? Vc é paulista!
Nananina NÃO!
o PROBLEMA É A jUSTIÇA!
Pafúncio Brasileiro
Azenha,
Excelente comentário o seu. Existem pessoas que só transitam entre os extremos, provavelmente são maus resolvidas pessoalmente. O que você colocou (sobre a BBC) é o óbvio e levou a BBC a ser encarada pelo público inglês como entidade séria, se contrapondo ao império dos Murdoch, que lá existe. Aquí o simples fato de se levantar a possibilidade de fortalecimento de uma imprensa pública e colocar uma regulamentação, que já passou da hora, leva a uma série de posts com raiva canina, poucos querem ser sérios. É o que o Thompson declarou "visão ideológica coincide com os interesses comerciais". E aquí, os "nossos" Murdochs nadando de braçada …. Até quando ?
pperez
Tivessemos uma ley de medios a Veja teria que se adequar para retornar as bancas.
Tivessemos uma justiça imparcial Demostenes estaria junto com o cachoeira.
Willian
Neste romance, Agnelo não tem lugar?
reinaldo carletti
eu acho que agora com a cpi, muita coisa irá mudar, principalmente nos meios de comunicacão, pois teremos muitos "jornalistas" seguindo para mossoró. assim como nos juros, a dilma pegou os bancos de calca curta,não é de duvidar que uma surpresa virá para a regulacão das midias, pois talvez ela tenha percebido que a pasta das comunicacões, encontra-se vazia.
reinaldo carletti
Renato
Estranho, eu não vou mudar de banco. Pois para mim, que quero resolver os meus assuntos bancários em casa ou no escritório, preciso de um internet banking muito mais funcional que os do BB e da Caixa. Aliás quero governo longe da vida economica das pessoas, não quero governo decidindo o que eu consumo, compro e vendo e para onde viajar. Como é em Cuba.
Eunice
Vale recordar meu assunto preferido em Termos de BBC: a morte do Dr. Kelly. Dia desses descobri na NET um pedido de reabertura do caso: alguns britânicos duvidam que ele suicidou-se.
Willian
Só na fantasia de alguns um dia teremos um emissora pública como a BBC. Emissora pública no Brasil é instrumento para defesa do partido. Na blogosfera progressista há insistentes exemplos do uso da Cultura pelo governo tucano. Não se fala sobre o uso da TV Brasil pelo governo federal por aqui todos sabemos por quê. De um lado e de outro TV e rádio público é para defesa do governo.
LegalHemp
"socialista"
M. S. Romares
Existem coisas que nem a Thatcher conseguiu anular em sua fúria predatória contra o patrimônio público. Seus sucessores foram um pouco mais amenos, mas não abdicaram totalmente a conduta da "dama de ferro". A sociedade inglesa resistiu bravamente e continua a cobrar bons serviços dessas duas entidades.
Sérgio Ruiz
Correto e bem posto.
Renato
Azenha, a tua posição é clara. COntrole completo do governo socialista (PETISTA) nos meios de comunicação. Logo vocês estarão enganados.
Eunice
Eu levo um choque com esse tipo de agressão ao Azenha. Ele não disse nada a esse respeito, apenas quer o que os mais esclarecidos queremos. Que não continue o assalto ao patrimônio público, isto sim vem ocorrendo pela sanha de pessoas inescrupulosas – que ao se dizerem competentes, criativas e etc, só para disfarce, avançam sobre o patrimônio público sem nos pedir licença. Por que elas não vão praticar o que dizem? por óbvio: trabalho é para trouxas. Por que já sabemos o que elas preferem:pegar limpinho o que foi criado pelo suór dos outros, anteriormente, e imcorporado ao patrimônio. Fácil não?
Renato
Fala isso para os amigos do partido. Para o filho do Lula. assatlo ao patrimonio público eles entendem muito bem.
Sérgio Ruiz
Renato o que você acha das relações da Veja com a máfia do Carlos Cachoeira?
Pelo jeito você apoia a bandidagem na mídia ou você é um ser muito inocente que não consegue distinguir jornalismo e bandidagem .
Renato
Eu prefiro uma mídia "bandida" mas plural como vivemos hoje, do que uma mídia "honesta" mas singular como é na Venezuela e Cuba. Prefiro dizer mais alguma?
Marcos C. Campos
Plural soh a internet no que tange a jornalismo. Voce confunde responsabilidade com liberdade.
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