Brasil abraça austeridade e gregos dão primeiro passo para descartá-la

Tempo de leitura: 3 min

Levy

Angela Merkel aprova

por Luiz Carlos Azenha

Seria irônico, não fosse trágico, que o governo Dilma tenha abraçado a austeridade no momento em que ela começa a ser rejeitada na Europa.

Nos dois casos, o que há por trás da encenação política é o interesse dos banqueiros.

No Brasil, representados pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, eles querem manter intacto o duto que lhes reserva uma parcela considerável do Orçamento, na forma de juros.

No nosso parlamentarismo improvisado, enquanto a presidenta levantava o punho esquerdo cerrado na Bolívia ao lado de Evo Morales, para inglês ver, Levy dava tapinha nas costas em Davos, para banqueiro ver.

A encenação de Dilma, diga-se, é puro João Santana. Bom de ver, mas enganador quando o essencial é seguir o dinheiro.

Na Grécia o que está em jogo é a capacidade dos banqueiros, especialmente dos alemães, de extrair cada centavo do PIB local para fechar suas contas, independentemente do sofrimento causado.

Na BBC de Londres, um comentarista foi direto ao ponto quando disse que o grande temor é de que, com a vitória do Syriza, uma Grécia fora do euro recupere-se a ponto de servir de exemplo para outros paises que sofrem com a austeridade, notadamente Portugal e a Espanha.

Apoie o VIOMUNDO

Foi assim com a Argentina quando Buenos Aires decidiu descartar as fórmulas do FMI — o que explica a contínua má vontade dos “mercados” com um país que decidiu desafiá-los.

É pouco provável que o Syriza conduza a Grécia à porta de saída do euro. Tudo indica que a Alemanha vai acomodar o novo governo, cedendo aqui e ali nos termos do programa de austeridade.

Há novas eleições importantes este ano na Europa, especialmente na Espanha, e tudo o que Angela Merkel quer evitar é uma onda anti-austeridade que implique na implosão de uma arquitetura política e econômica que beneficia, acima de tudo, a Alemanha.

Nossa esperança é de que, dirigindo na contramão, o governo Dilma não comprometa as ferramentas que permitiram ao Brasil se recuperar antes que outros paises da primeira onda da grande crise, em 2008.

Na edição da revista Time que faz uma projeção sobre 2015, Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, descreve as dificuldades que a política externa dos Estados Unidos crescentemente enfrentará em um mundo multipolar.

Deixa claro o valor que o BNDES teve para a soberania brasileira:

“Os paises BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — em 2014 lançaram um banco de desenvolvimento com U$ 50 bilhões, uma alternativa aos bancos emprestadores de Washington. Eles não podem por si só acabar com o domínio dos Estados Unidos sobre o mercado financeiro. Mas acrescentem o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (BNDES) a uma crescente lista de instituições regionais e os tomadores do mundo não são assim tão dependentes do Ocidente. Os números falam por si. Em 2013 o Banco Mundial emprestou U$ 52,6 bilhões. No mesmo ano o BNDES emprestou U$ 85 bilhões e seu equivalente chinês U$ 240 bilhões”.

Não é preciso lembrá-los que o programa eleitoral da candidata Marina Silva era explícito ao advogar uma redução no papel dos bancos públicos, em benefício do Itaú e companhia.

Como no Brasil, ao que parece, os perdedores governam, esperemos para ver o que o primeiro-ministro Levy reserva ao BNDES.

Leia também:

Altamiro Borges: Alta dos juros beira o suicídio político

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Elias

Costumo chamar Dilma de minha querida presidenta Dilma. Apenas uma vez fiz comentário negativo a seu governo. Foi quando ela disse que a mídia se controla com “o controle remoto”. Ainda considero essa frase infeliz.

Agora, ao ler a Opinião do Blog: “Brasil abraça austeridade e gregos dão primeiro passo para descartá-la”, lembrei de Luiz Inácio Lula da Silva. Parece que Dilma inverteu a frase de seu antecessor. Lá é uma marolinha e aqui passou a ser um tsunami. Assim a gente fica meio desconfiado, meio sem ter o que dizer aos amigos de direita (afinal, quem não os tem? amigo, parente…)

Pois bem. Minha querida presidenta Dilma, a senhora terá sempre minha admiração. Sei que não é fácil governar um país de 200 milhões de habitantes. Acredito que terá um saldo positivo ao final dos cem primeiros dias que serão completados no dia 10 de abril de 2015. Não estou gostando de ver todos os dias em todos os jornais a cara do Levy.
Todos os cargos são seus, presidenta, a senhora bem sabe. Não se acanhe em demitir, seja lá quem for. Não esqueça que quando a mídia começa a falar bem de uma autoridade de qualquer governo do PT, só é bom para a mídia, nunca para o PT.

Regina Fe

Austeridade é remédio além da dose, não cura a doença e pode ser fatal. Que presente de grego a Dilma está nos dando. Nem na Grécia.

Etelvina Monteiro de Castro

AUSTERIDADE SIM!
O Syrisa, o Papa Francisco, o Podemos e muito menos o tal de Keynes me representam
E daí que os gregos resolveram romper com a política de austeridade? Afinal, como ficou provado, trata-se de um povo impaciente que não resistiu aos minguados 5 anos de alguns sacrifícios em troca de uma vida de prazeres e riqueza no futuro.
O Dr. Levy mostra que, ao contrário do senso comum, a mãe do Joãozinho estava correta em sua observação durante o desfile do dia 7 de setembro. Apenas para recordar o fato: Enquanto todos no pelotão marchavam esquerda direita o Joãozinho fazia o contrário o que mereceu o seguinte comentário da orgulhosa mãe; “Olha lá todo mundo marchando errado e somente o meu guri no passo certo”.
E por isso eu digo: Enquanto os Estados Unidos, Grécia, Espanha e daqui a pouco Portugal indicam a adoção de políticas populistas em defesa da geração de empregos, manutenção e ampliação de direitos sociais, recuperação dos valores das aposentadorias e salários o Dr. Levy aplica uma política de austeridade – ou recessiva como preferem exagerar os comunistas – cortando os privilégios de aposentados, insinuando o fim do seguro desemprego e aumento da energia.
A austeridade vai educar o nosso povo e no final desta fase, quando voltarmos ao mar de rosas pré-eleitoral, todos vão saber que do salário devemos poupar pelo menos 10% para situações emergenciais.
No futuro vou rir muito da pressa dos gregos ( e dos demais infiéis ) que não tiveram a sorte de possuir um sábio como Dr. Levy.

    Christiano Almeida

    Com a devida vênia, arrisco perguntar (assim como o fazes): Onde, aonde, quando, tu, ó mulher, lestes, ouvistes, vistes um plano de austeridade tal qual o proposto na Grécia trazer equidade, tranquilidade de vida para a população de um País? Tal quadro é o mesmo em que uma família tenta sair das dívidas e estipula ‘cortar’ até o café da manhã da prole para quitar os juros – e não a dívida – dos credores.

    Andre

    Acho que as estatísticas são comunistas. Qualquer um que já tenha visto séries históricas sobre políticas de auteridades sabe que elas são correlacionadas estatícamente com períodos recessivos longos. Ah, esse números comunistas!!!!

Francisco

Falando português:

A fórmula que tirou o Brasil do Mapa da Fome está sendo revogada pelo exato contrário.

Resultado? Fome.

Fernando

Vamos ver o Syriza no governo.

Porque na campanha a Dilma também tinha discurso anti-austeridade.

FrancoAtirador

.
.
Austeridade? Só para os Trabalhadores Assalariados.

Ajuste Fiscal é um Eufemismo para Roubo Oficial.

Além de Furto ao Trabalho, para Acúmulo do Capital,

é Assalto ao Salário, para Enriquecimento Ilícito.
.
.

Leleco

Já está sendo claramente semeada a privatização da Caixa , uma das ferramentas fundamentais para a saída da crise.

Romanelli

a situação é completamente diferente ..aqui há muita coisa desarranjada Azenha, coisas que precisam ser aprumadas.

Aqui já promovemos (mal e porcamente diga-se, cheio de desvios e ROUBOS) medidas anticíclicas.

Aqui tivemos secas imprevistas e alguns episódios externos que nos feriram gravemente.

Antes não tivéssemos feito as tais medidas por sobre investimentos que encareceram e atrasaram, cancelaram, que chegarão tarde, que se corromperam em MILHÕES de U$U

Aqui tivemos chance, mas a inabilidade do governo em promover e propor de reformas fatíveis foi um DESASTRE.

Aqui a população pacificamente falou em 2013, e a presidente não ouviu, tergiversou

Alias antes não tivéssemos feito as medidas por sobre o EFÊMERO e fugaz, mas sim sobre o estrutural, NÃO sobre consumo de bens inservíveis e veículos, mas sim sobre a infra e imóveis (que hoje o minha casa paga R$ 90 mil por 50 m2 enquanto pra particular sai por R$ 30-40 mil, no máximo)

Hoje as contas internas e externas estão novamente comprometidas ..a inflação represada, provocada ..o país com DILMA sucateou o câmbio, as tarifas e os preços relativos, e com eles os investimentos, as perspectivas de CP.

enfim, se a GRECIA teve o FMI, o BRASIL teve DILMA, coisas distintas

    augusto2

    ” a populaçao falou pacificamente em 2013?”
    Isso voce e o PIG viram.
    Eu vi outra coisa: os grupos blackblok apoiados com entusiasmo pela midia. Os adjetivos constantes ‘para manifestantes”eram bem carinhosos.
    Eu ri muito com esse teu a “populaçao falou pacificamente”
    E O ESCRIBA ai esqueceu os cinco pontos e o plebiscito que a presidente propos a seguir.Foi tudo bombardeado pelo teu pig amigo. Exceto o ‘mais medicos’ que ela com sucesso pos goela baixo de voces.Gostou?

    Romanelli

    Depois que a PM bateu meu filhos e esposa foram nos protestos pacificamente

    Lembro de ver parte do povo pedir por tarifa zero, outros saúde, segurança, infra, ética, pelo MP ..depois teve moradia ..quase ninguém falou das creches que Dilma prometia entregar ..mas de reforma política, vi NINGUÉM, só Dilma (A Maria Louca de Brasília)

    Houve infiltrados e baderneiros? sim

    Se gostei do Mais médicos ? SIM, gosteis sim ..mas isso é que nem o BF, todos sanem quando começa, mas não sabem quando termina

    Convenhamos, após DEZ anos de governo devemos reconhecer que aquilo foi um atestado de FRACASSO ..ao invés de virem coma solução, vieram com a gambiarra

    ..fracasso do ministério da saúde, das universidades e do ministério da educação que não conseguiu antever, se antecipar, e acabaram por nos tornar refém de outros países que souberam como fazer

    Inutil, nos fizeram inutil mesmo

    Assim, hoje passado um tempo, fora do engenheiro que já vinha falando, Hoje sabemos que NEM médica conseguimos formar ..mas o HAddad dizem, este vai bem obrigado.

Joel Miranda

Amigos, leiam o livro “Thomas Piketti e o segredo dos ricos”, um trailer do “Capital do Século XXI”, do próprio Piketti, desenvolvido por diversos estudiosos sobre a desigualdade na distribuição das riquezas, no mundo, e que servirá para balizar o foco da nossa luta.
É uma leitura amarga, porem necessária!

    Vlad

    Não.

AT

Ótimas observações, Azenha. Mas ao que parece, este Syriza já começou a “Dilmar”, fazendo com a direita de lá uma coalizão , a qual, com certeza, será observada e devidamente criticada aqui no Viomundo. Parece mais do mesmo o tal partido… Pelo que já pude entender, se Syriza é o equivalente ao PSOL, então, isso não nos traria mudanças realmente significativas numa possível eleição em 2018 que favorecesse o partido de L Genro…
Eficaz seria que o partido comunista grego, o “KKE”, tivesse saído vitorioso…
Aguardemos.

    Vlad

    Será?

    O Syriza não seria o equivalente ao PT da primeira eleição de Lula, que uma vez no governo continuou a privatizar o que pode, controlou as pressões dos movimentos populares e agraciou com subsídios e desonerações o setor do agronegócio, notadamente os usineiros, o setor financeiro e, na indústria, justamente quem menos precisaria: as montadoras multinacionais?

    Não sei se o Syriza seguirá por essa cômoda e garantida via de enriquecimento da elite do partido e perpetuação no poder enganando os militontos.

    Que eu saiba, nas plagas helênicas, algo parecido como o antigo e glorioso PSOL seria o Partido Comunista.

    Com o “novo PSOL” brasileiro, não há nenhum paralelo fora dos manicômios.

assalariado.

Se o Syriza e seu candidato, se somarem aos BRICs, provavemente, esse bloco, cada vez mais, ficará om sendo referencia economica planetaria. A ver!

    FrancoAtirador

    .
    .
    Concordo, camarada assalariado.

    A Alternativa Econômica aos Países do Sul da Europa,

    contra o Monopólio Financeiro dos Bancos do Norte,

    será a Aliança Comercial com o Bloco BRICS/CELAC.

    Aliás, isoladamente nenhum País escapará do Caos.
    .
    .

PENSANDO O BRASIL

UMA AGENDA DE ESQUERDA

O Governo deu uma guinada à direita na economia. Esses ajustes certamente eram necessários, mas não conquistam 1% de apoio dentre aqueles que votaram contra o PT nas eleições passadas. As medidas, porém, tem o dom de fazer ruir boa parte do apoio que veio das esquerdas e do eleitorado de centro, a “insondável” Classe C. Como elo fraco da corrente, essa massa eleitoral, mais concentrada no Centro-Sul do país, precisa de quem a defenda, ajudando o governo a reconquistá-la. Os textos acessíveis a partir do link abaixo propõe uma agenda de esquerda, com propostas para informação, saúde, educação e reformas urgentes que o Brasil precisa. Recomendamos a leitura.

http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR.html

Julio Silveira

Saibam meus caros amigos, as vezes acho que existe uma dose grande de malignidade no método sadico que o PT, e seus parceiros, aplicam sobre seus eleitores, para mim de caso pensado. Parece que, como a Dilma não será mais eleita, e como a oposição não teve relevancia suficiente para vencê-la, e nem terá, ela pode fazer o papel de oposição para dar a nos romanticos a sensação de que nossa salvação virá das mãos do presidente Lula, na verdade, como ele mesmo diz, ambos são um só. É uma pena terem escolhido esse caminho. Espero sinceramente que surja alguem neste país com sinceridade para honrar seus compromissos penhorados em palavras, para que a homra não se torne coisa que se troque por pragmatismos baratos.

Fabio

Ou seja vão dar um calote, pena que não pensaram antes de pegar o dinheiro.
Agora só resta o calote.

JorgeSP

Mas e se for apenas isso?

“Uma velha tática política é a que, nos Congressos do PCCh, durante a Revolução Cultural chinesa, denominava-se “brandir as bandeiras vermelhas do adversário”.

Significava se apropriar de uma bandeira de luta da oposição, radicalizá-la no curto prazo, esvaziando o discurso oposicionista, e adequando-a à estratégia de se manter no poder no longo prazo.”

Vamos aguardar a eleição da presidência da Câmara e a denúncia da Lava Jato. Depois disso todas as cartas estarão na mesa e saberemos o que a presidenta quer.

http://brasildebate.com.br/tatica-fiscalista-e-estrategia-social-desenvolvimentista/#sthash.Wfsl1134.dpuf

Julio Silveira

Infelizmente fomos traidos. Votamos na candidata que se prova não ser a melhor, mas que a demonstra ser a menos pior, por enquanto. Mas a verdade é que estou cansado dos e das judas da política.

leandro

Tudo retorica vazia. Nunca vi sair da crise sem trabalho e poupanca, Já estao quebrados e vao se afundar de vez. Portugal usou a austeridade ecomeça a respirar e a Grécia vai no caminho oposto, seis meses no maximo para ficha cair.
p.s.: não é mais BRICS, é RICS e não demora vai virar ICS.

Luiz (o outro)

É isso que dá colocar tucano pra cuidar de dinheiro público.

Fabio Silva

O PT que faz o que faz porque tem medo do risco à governabilidade, não é questionado pelo PT que não faz o que devia fazer, porque tem medo do risco à elegibilidade. Resumindo, cada vez mais um PTMDB.

Lafaiete de Souza Spínola

Dizem que os norte-americanos afirmam:

1.O melhor negócio do mundo é ter uma empresa de petróleo BEM administrada;
2.O segundo melhor negócio do mundo é ter uma empresa de petróleo;
3.O terceiro melhor negócio do mundo é ter uma empresa de petróleo mal administrada.

“Pois bem, isso é passado. Esqueça empresas ponto com, esqueça fábricas de automóveis, petrolíferas etc. HOJE, o melhor negócio do mundo é ter um banco. Sim, mas não um banco em qualquer lugar. O melhor negócio do mundo é ser banqueiro no Brasil. E não é por outro motivo que muitos bancos no Brasil são estrangeiros.”

Chega a ser chocante os números apresentados pelos balanços dessas instituições.

Banqueiros são empresários poderosos, instalam representantes até no Congresso Nacional para defender seus interesses. E até mesmo o governo não tem cacife para contrariar essa bancada.

É um absurdo a transferência de recursos estatais, pela rolagem da dívida pública. O governo precisa financiar seu funcionamento, o pagamento dos salários da massa de funcionários públicos e os investimentos necessários no país. É uma ciranda!”

Deixe seu comentário

Leia também