PML: Por que FHC cruzou os braços à denúncia de Paulo Francis?

Tempo de leitura: 5 min

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 Por que FHC cruzou os braços?

por Paulo Moreira Leite, em seu blog  

Hoje capaz de pedir punição dos mais altos hierarcas na Lava Jato, Fernando Henrique cruzou os braços em 1996, quando Paulo Francis denunciou corrupção na Petrobrás e seu governo poderia virar alvo

Confesso que ando cada vez mais espantado diante das homenagens a Paulo Francis em função das acusações de corrupção na Petrobras, feitas em 1996, no programa Manhattan Conection.

A convicção generalizada é que Francis estava absolutamente correto em suas denúncias e, ameaçado por um processo de US$ 100 milhões na Justiça de Nova York, acabou sofrendo um enfarto que provocou sua morte. Em função disso, não paramos de ouvir elogios à sua visão como jornalista e à sua argúcia como analista. Mas se Francis falou a verdade, a pergunta real é saber por que nada se fez diante do que ele disse, o que transforma as homenagens de hoje num caso exemplar de silêncio e covardia, a espera de uma investigação responsável e exemplar.

Em 1996, o país tinha um presidente da República eleito, Fernando Henrique Cardoso, empossado há dois anos no Planalto, com apoio da mais fina flor do baronato brasileiro — e até uma fatia potentados internacionais. Tinha um vice, Marco Maciel, que trazia o apoio do mundo conservador do PFL e dos herdeiros da ditadura. Também tinha um ministro das Minas e Energia, Raimundo Mendes de Brito, afilhado de Antônio Carlos Magalhães, vice-Rei da Bahia. Na Polícia Federal, encontrava-se Vicente Chelloti como diretor. O procurador geral da República era Geraldo Brindeiro, que logo faria fama como engavetador.

Nenhuma dessas autoridades veio a público para esclarecer as acusações, fosse para mostrar que Paulo Francis tinha razão, ou para dizer que estava errado. Ninguém correu riscos, não fez perguntas, nem trouxe respostas, nem confrontou Joel Rennó, o presidente da Petrobras que entrou com ação na Justiça contra o jornalista porque se considerou ofendido pelas acusações.

Paulo Francis falou a verdade? Mentiu? Exagerou? Estava de porre? Não sabemos.

A gravação está disponível na internet. Referindo-se a contas secretas na Suíça, Paulo Francis fala com o desembaraço de quem está fazendo delação premiada para o juiz Sergio Moro. Diz que “todos os diretores da Petrobras têm conta lá.” Alguns jornalistas presentes dão sorrisos maliciosos. Nada que lembre a indignação de hoje. Um deles adverte, sem que se possa ver seu rosto: “olha que isso dá processo…” Em outro depoimento, também disponível na internet, Paulo Francis afirma que os diretores da Petrobras são muito queridos na Suíça, onde têm contas de 50 e 60 milhões de dólares.

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Fernando Henrique Cardoso não deixou sequer um palpite sobre o caso. Estimulado por José Serra, o presidente mobilizou-se para convencer Joel Rennó para desistir da ação.

E a denúncia?

Se hoje FHC enche o peito para dizer que a Justiça deve fazer aquilo que os militares não podem mais, sem poupar os “mais altos hierarcas”, eufemismo para chegar a Dilma e Lula, não custa perguntar por que se calou quando tinha vários instrumentos do Estado na mão. Se hoje as denúncias são uma forma da oposição tentar atingir Dilma, em 1996 e 1997 era seu governo que poderia se tornar alvo.

Não havia nada para ser investigado, nem para com auxílio da Justiça da Suíça?

Soube-se ontem que, em 1997, o ano em que Paulo Francis morreu, o gerente da Petrobras Pedro Barusco, que, em 2015, se tornaria um dos personagens principais do inquérito da Lava Jato, já tinha um bom cargo na empresa. Naquele ano, passou a receber, além do salário e demais benefícios legais, uma propina mensal entre US$ 20 000 e US$ 50 000 de uma empresa holandesa com interesses específicos na área sob seus cuidados.

Em 1998, pouco depois dos primeiros pagamentos feitos a Barusco, os interesses privados, que no mundo inteiro são a mola principal de iniciativas de corrupção em empresas estatais, ganhavam novo impulso na Petrobrás. Neste caso, FHC teve um papel fundamental.

Num decreto assinado por Fernando Henrique Cardoso, e preparado pela subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República, cujo titular era Gilmar Mendes, hoje ministro do STF, aprovou-se a criação de um “procedimento licitatório simplificado da Petrobrás”. O texto do decreto 2.745 pretendia agilizar os investimentos da empresa, o que não está errado, por princípio.

Mas o procedimento “simplificado” está na origem intelectual do hoje célebre “clube das empreiteiras,” denunciado em tom de escândalo.

Haviam se passado apenas dois anos da acusação de Paulo Francis e a alteração ocorrida não foi pequena. Em vez de submeter as obras milionárias da empresa as disputas duras e complicadas de uma licitação pública, autorizou-se a chamada de interessadas pelo sistema de carta-convite, o caminho mais fácil para a seleção de amigos e exclusão de inimigos. É uma situação tão escandalosa que nunca faltaram críticas ao decreto e mesmo ações questionando sua legalidade. O decreto do “clube das empreiteiras” mantém-se em vigor através de liminares. Uma delas, ironicamente, foi concedida pelo próprio Gilmar Mendes, que, já como ministro do STF, julgou o trabalho da subchefia que estava sob sua guarda quando servia ao governo FHC.

Em vários países, as empresas estatais, particularmente de petróleo, vivem uma situação contraditória. De um lado, expressam a vontade política de soberania nacional — que justifica sua existência — diante de reservas de valor estratégico. De outro, são alvo permanente de pressões do setor privado, interessado em transferir ganhos em escala formidável para seus cofres particulares. O resultado é um universo de muita tensão.

A PDVSA venezuelana foi ocupada, historicamente, pela elite econômica do país, aquela que é conhecida por manter um patrimônio maior em Miami do que em Caracas. Depois da posse de Hugo Chávez, cuja vitória criou uma situação política inédita, a alta burocracia da empresa tornou-se aliada da oposição conservadora e chegou a tentar promover um golpe de Estado, impedindo a distribuição de petróleo num país onde o mais refinado produto local é a cerveja e depois o refrigerante.

Na Itália, a estatal ENI servia para enriquecer as campanhas da Democracia Cristã e do Partido Socialista, num tempo em que o Partido Comunista era o demônio da Guerra Fria. Após a Mãos Limpas, ocorreu um desfecho que vale como advertência ao que pode se passar no Brasil, quando se recorda que o modelo de trabalho do juiz Sergio Moro foi a operação italiana: a ENI foi privatizada — e não há dúvida de que os escândalos e o trabalho de jornais e revistas ajudaram a adoçar a ideia.

Num país onde a Petrobras sempre foi alvo de ataque feroz por parte do empresariado conservador e seus aliados externos, após a democratização não houve um governo que não tivesse enfrentado uma investigação em torno de desvios e irregularidades. (É certo como 2+2=4 que havia esquemas sob a ditadura, mas nunca vieram a público).

Em 1989, no governo de José Sarney, a descoberta de um milionário esquema de desvios que levou ao afastamento do presidente da BR Distribuidora e seu principal auxiliar. Em 1992, uma tentativa de intervenção de PC Farias na direção da empresa levou à saída do advogado Luiz Octávio da Motta Veiga, que preferiu ir embora em vez de atender aos pedidos do tesoureiro de Fernando Collor.

A ideia de que os esquemas de corrupção na Petrobras nasceram a partir de 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, é falsa mas tem uma utilidade política óbvia: ajuda a transformar uma operação policial num instrumento de destruição política, cujo alvo final é o governo Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. Também permite acobertar responsabilidades passadas, o que é sempre conveniente em campanhas de moralismo seletivo. Mas o preço é apagar a memória histórica, o que impede qualquer debate sensato sobre o caso.

 Leia também:

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Comentários

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Afonso Guedes

Faltou dizer: em 1989 quando governava o Sr. José Sarney, o jornalista Ricardo Boechat ganhou o “Prêmio Esso de Reportagem” com a reportagem : ” A corrupção na Petrobras”. Palavras dele na Band News.

Carlos de Souza Sampaio

??

Carlos de Souza Sampaio

Hummm
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Seria o caso de perguntar pq Lula tb não fez nada?
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E Dilma, q nada fez?
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Cobrar do Presidente da República uma “investigação policial” é meio complicado…
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Mas se é pra cobrar, então vamos cobrar dos 3!
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FHC, Lula (q chamava Paulo Roberto Costa de Paulinho) e Dilma (q antes de ser Presidente foi Ministra e Presidente do Conselho da Petrobras) nada fizeram para sanear a Petrobras!
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E digo mais:
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Lula e Dilma, fizeram tudo q puderam fazer para impedir as CPI’s da Petrobras!

Luiz (o outro)

Debate sensato sobre o caso? As pessoas que querem colar a história de que a roubalheira começou no governo petista ou são mau intencionadas em virtude de interesses próprios (direta ou indiretamente) ou simpatizantes da tucanalha (ignorantes ou desonestos intelectualmente). Como poderia haver debate sensato?

O Mar da Silva

Muito bem. É sempre bom ler sobre assuntos que foram deixados de lado pela nossa mídia para não fazer corar as carolas.

Bravo!

A justiça precisa ser para todos!

Aliás, e a lista do HSBC?

Julio Delgado

O que o companheiro PML disse em resumo neste magnífico texto foi que a ditadura e o governo FHC se igualaram ao PT nas questões relacionadas ao furto havido na Petrobrás. O que mudou foram apenas as quantidades roubadas.

Israel Just da Rocha Pita

Os deputados e senadores, deveriam ler estes dois artigo, e tomá-los por base para seus pronunciamentos no congresso para defender o governo e o PT, sedo bastante agressivos e impiedosos com a oposição e o PIG. Chama-los para comparar os dois governos. Não aceito a covardia do PT atual.

Zanchetta

Próximo capítulo do PML: “Porque Gregório Fortunato mandou atirar em Carlos Lacerda”…

Julio Silveira

Já coloquei isso em outro Blog e vou repetir. Só mesmo no Brasil, onde a ingenuidade que serve bem ao efeito manada e o maquiavelismo dos “espertos”, antinacionais que servem a si próprios, uma tese fajuta como essa poderia vingar.
Dar ao PT a supremacia nos atos de corrupção por conta desses ladrões capturados pelas investigações é antes de tudo uma maldade e um maquiavelismo dos mais indecentes, alem de canalhas, que se possa imaginar. Maltratam e achincalham com a inteligência e com a lógica. Tenho mostrado a alguns (evidentemente os aceitam a logica e acenam com o interesse por um pouco de bom senso) como é possível que esses meliantes, todos senhores nos sentido de suas idades, possam de uma hora para outra despontar para o crime, fugindo de tudo que se conhece sobre a psique criminosa, do tipo, que ela não surge imediatamente, para roubar milhões ou bilhões, como se mostra. Todos primários, mas na pratica roubando em nível universitário, ou até de doutorado. Falem sério comigo, seriam esses elementos( canalhas impatrióticos) gênios do crime com uma psique dormente, que só resolveram liberar geral, fazer o plim, plim, justamente no momento do governo petista? Realmente, façam-me o favor, me tratem e a minha inteligência com mais respeito.

Mailson

Fora de pauta, mas nem tanto

Fonte: http://jornalggn.com.br/noticia/o-primeiro-mes-do-2%C2%BA-mandato-de-fhc-foi-pior-por-marcos-coimbra

O primeiro mês do 2º mandato de FHC foi pior; por Marcos Coimbra
dom, 08/02/2015 – 11:58

Por Marcos Coimbra

Dois Janeiros

Da CartaCapital

Janeiro foi um mês péssimo para o governo Dilma Rousseff. Nem é preciso enumerar as razões, da falta de chuvas à interminável agonia da Petrobras. Como se não bastassem, a presidenta enfrentou a hostilidade das esquerdas ao ministério e as malcriações da direita, que abusa de um discurso cada vez mais grosseiro. Para coroar os padecimentos, em 1º de fevereiro os deputados elegeram Eduardo Cunha presidente da Câmara.

Ruim? Com certeza, mas esse janeiro está longe de ser o pior primeiro mês de um segundo mandato presidencial em nossa história. O título continua nas mãos de Fernando Henrique Cardoso, no início de seu segundo mandato em 1999.

Para quem está impressionado com os problemas de Dilma no mês passado, a comparação com os de seu antecessor peessedebista é pedagógica. O que dizer de um mês no qual a inflação anualizada saltou de 1,78% para 20%? Do momento em que uma desvalorização não coordenada do real elevaria em pouco o tempo a cotação do dólar de 1,32 para 2,16? No qual as reservas internacionais haviam se exaurido após uma tentativa malsucedida de evitar o derretimento da moeda nacional? Calcula-se que o Brasil perdeu 48 bilhões de dólares naquele período, o que torna coisa miúda os desvios até agora denunciados na Petrobras.

Janeiro de 1999 foi um mês de tanta balbúrdia na economia que o Banco Central teve três presidentes, um dos quais preso pela Polícia Federal. Ficou evidente que o governo tinha “amigos” no mercado financeiro, pois alguns bancos e corretoras receberam informações privilegiadas e amealharam uma fortuna, enquanto o resto do País pagava a conta.

Inflação explosiva, erosão do real, fuga de capitais, descontrole administrativo, suspeitas de favores, policiais a vasculhar a vida do presidente do Banco Central. Assim foi o primeiro janeiro de Fernando Henrique depois da reeleição.

FHC, óbvio, tinha uma vantagem sobre Dilma, a simpatia dos barões da mídia e, por extensão, da maioria dos jornalistas empregados nesses meios de comunicação. Por mais que se inquietassem com o vendaval a vergar a economia e as denúncias de malfeitos, nada do que se vê hoje contra Dilma acontecia. Se você duvida, imagine como ela seria tratada pelas corporações midiáticas se um cenário como o de 1999 se repetisse agora.

A simpatia dos meios de comunicação pouco serviu, porém, a FHC. Todas as pesquisas feitas de janeiro de 1999 em diante mostraram quedas na popularidade e na avaliação positiva do governo. Em fevereiro daquele ano, um levantamento do Vox Populi revelou que a soma de “ótimo” e “bom” ficava em 19%, enquanto a de “ruim” e “péssimo” alcançava 47%. Em setembro, a positiva afundou a minguados 8% e a negativa saltou para estratosféricos 65%.

Dilma, como sabemos, ostenta índices muitíssimo melhores: nas últimas pesquisas disponíveis, sua avaliação positiva estava em 42%, enquanto a negativa era quase a metade, perto de 22%. Quisera FHC obter números como esses.

Os problemas do tucano e da petista no início de seus segundos mandatos não são iguais, mas a grande diferença entre janeiro de 1999 e o deste ano é outra. Por mais que tivesse de lidar com a oposição do PT e dos setores progressistas da sociedade, ninguém discutia, a sério, o impeachment do tucano. Depois dos erros cometidos no primeiro mandato, FHC meteu os pés pelas mãos no início do segundo, mas nunca enfrentou a onda golpista hoje em curso.

É natural emergir o golpismo na opinião pública brasileira, a se considerar quão presentes são os elementos autoritários e antipopulares em nossa cultura política. Nenhum país, particularmente aqueles com trajetória semelhante à nossa, em que a democracia sempre foi exceção e nunca regra, está livre desse fenômeno.

O problema não é existir na sociedade a oposição tosca e ignorante típica das velhas e novas “classes médias”, incapazes de entender os acontecimentos. Grave é o desembaraço com que se movimentam e se expressam lideranças políticas, empresariais e de instituições como o Judiciário, que deveriam ter compromisso com a preservação da democracia, mas, em vez disso, exibem um golpismo cada vez mais escancarado. Que saem derrotadas de uma eleição e, no dia seguinte, se põem a fazer o jogo antidemocrático.

O desafio deste começo de 2015 é saber sustar as fantasias golpistas à solta. Quem preza a democracia tem o dever de denunciá-las e combatê-las…

FrancoAtirador

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Os Tucanos não só cruzaram os braços, na década de 90,

como abriram as pernas para os United States of America.

http://www.endodontiaclinica.odo.br/media/CLINTON%20fhc.jpg
http://imgur.com/4aDY0tD
estreladecouro.files.wordpress.com/2012/09/bill-clinton_fhc.jpg

Ramos de Carvalho

Para colaborar com o Paulo Moreira Leite, a Interbras, importadora e exportadora da Petrobras que comprava petróleo e pagava com carros, tanques, geladeiras, foi fechada e passado os negócios para a CAC. Além do caso PP (Pedro Paulo?). Não me lembro das consequências.

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