Beatriz Cerqueira: Não se esqueçam do crime da Samarco; o criminoso sempre conta com a falta de memória do povo para seguir impune
Tempo de leitura: 3 min
Não nos esqueçamos de Mariana e da bacia do rio Doce!
por Beatriz Cerqueira, especial para o Viomundo
Quando fui a Bento Rodrigues, senti como se estivesse invadindo a casa e a dor das pessoas. Foi muito doloroso andar pelos vários caminhos antes percorridos pela lama!
Após um mês do crime, o cheiro de putrefação ainda é forte em alguns trechos. É preciso colocar os pés na lama para ter um pouco da dimensão do que se passou. Ver como a vida de uma comunidade foi destruída. Achar o carnê do INSS de algum trabalhador, encontrar a escola municipal, a lata de óleo de cozinha ainda cheia, ver a sinuca do bar retorcida. Ver o que antes era casa estar, completamente, invadida pela lama.
Procurei acompanhar os desdobramentos da Comissão Extraordinária da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Por quase uma hora, deputados indignados com a crítica que fiz discutiram e aprovaram um requerimento me “convidando” a explicar a minha opinião.
Mas não vi a mesma indignação quando um pescador de Conselheiro Pena relatou que a Samarco ainda não havia aparecido na cidade para responder aos mais 140 pescadores da Associação o que pescarão no Rio Doce depois que a lama, que afirmaram não ser tóxica, passou pela região. E, até eu escrever este texto, os mesmos que querem explicações não “sujaram” os pés na “lama da Samarco/Vale/BHP”, pois não foram a Bento Rodrigues.
E o que relatei há um mês continua acontecendo: a Samarco é quem delimita quem é atingido, o que vai receber e qual Comissão de Atingidos vai escutar. São os psicólogos e assistentes sociais contratados por ela que prestam a assistência autorizada às vítimas do crime.
Durante uma reunião da Comissão Extraordinária, sem nenhum constrangimento, alguns deputados estaduais demonstraram preocupação com a empresa, chegando ao cúmulo de associar que a queda no Produto Interno Bruto (PIB) mineiro, em função da paralisação da empresa, afetará a economia do Estado comprometendo o salário dos professores estaduais!
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O rio Doce agoniza, as comunidades atingidas estão expostas ao poder econômico das mineradoras e os governos locais lutam para minimizar os impactos do crime, alimentando a falsa ideia de que está tudo se acertando (com honrosas exceções, como o prefeito de Baixo Gandu/ES), mas a lama continua chegando ao rio Doce, situação que a Samarco afirma só resolver em fevereiro de 2016.
E as vítimas do crime são transformadas em culpadas, erraram por estarem na frente da lama. Era um crime anunciado: a barragem rompida estava recebendo, irregularmente, rejeitos de mina da Vale S/A e não apenas da Samarco; o aumento no consumo de água e energia indica o aumento da produção, numa estratégia de manter os lucros, com a queda do valor do minério.
O local da barragem de Fundão poderia ter sido outro, mas como a ideia era aumentar a capacidade de recebimento de rejeitos unificando com a barragem de Germano, ficou na frente de uma comunidade que antes do crime já sofria com a falta de água ocasionada pela mineração.
E se você prestar atenção agora em Bento Rodrigues, depois da tragédia, fica com uma estranha e absurda sensação de que o lugar para uma nova barragem de rejeitos já está resolvido. Não se esqueçam de Mariana. O criminoso sempre conta com a falta de memória de um povo para seguir impune e cometendo novos crimes!
Beatriz Cerqueira é professora, presidenta da CUT/MG e coordenadora-geral do Sind-UTE/MG
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Comentários
Leonardo de Brezzi
Prezados,
Pois então, ontem estava à casa da sogra já idosa e ela ainda é do tempo onde se assistia Fantástico, daí que assisti uns trechos.
Primeiro uma reportagem onde vão em Mariana e mostram as vítimas do que fica no ar como um “acidente” colocando suas vidas no lugar e “indo em frente”, finalmente “sorrindo e se confraternizando após a tragédia”.
Depois uma reportagem “denúncia” dos “abusos do poder público”, “cheio de vícios de corrupção” e malandragens que, ao que me deu a entender, não ocorrem no mundo privado, onde tudo dá certo, como é o caso das empresas privadas que não têm responsabilidade nenhuma sobre o que aconteceu em Mariana.
FrancoAtirador
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Curiosidade
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Se a Mineradora Samarco (VALE/BHP) fosse uma Empresa Estatal (VRD)
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que tratamento daria, a ela e ao Governo, a Mídia Corporativa Jabáculê?
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Urbano
A própria lama da moral intrínseca aos bandidos da oposição ao Brasil. Enquanto isso a fortuita queda numa enchente, em decorrência das chuvas das últimas horas, vem a ser a verdadeira catástrofe…
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