“Desigualdade para todos” é bem mais que um filme

Tempo de leitura: 3 min

Desigualdade. Esse é o tema, e parte do título, do documentário que estreou em 26 cidades dos Estados Unidos no último fim de semana. “Desigualdade para todos” é bem mais que um filme. Ele é uma convocação. Um chamado aos norte-americanos para que se mobilizem e briguem para reverter o processo que desde os anos 80 vem promovendo concentração de renda cada vez maior no país.

Quem narra, apresenta e deixa claro o quanto a classe média perdeu nas últimas décadas é o economista Robert Reich, que teve cargo equivalente ao de ministro do Trabalho no governo do ex-presidente Bill Clinton e havia trabalhado anteriormente com o democrata Jimmy Carter. No filme, Reich argumenta que a concentração de renda não é apenas um problema para a economia dos Estados Unidos; é um perigo porque solapa a própria democracia.

“Robert Reich viu os resultados de um movimento social bem sucedido. Eu nunca vi isso”, disse Jacob Kornbluth, diretor do documentário. Ele tem 40 anos e se referia aos anos 60, quando os movimentos dos direitos civis e contra a guerra do Vietnã tomaram as ruas e conquistaram vitórias importantes nos Estados Unidos.

Reich é da geração que estava adiante dos protestos, participou das manifestações, e destaca no documentário que a concentração de renda só está avançando agora porque a maioria da população está permitindo, não está brigando por mudanças. Reich acredita no sistema. Defende a democracia dos Estados Unidos, mas diz que ela precisa de ajustes.

Com gráficos muito bem bolados e movimentados, o economista mostra que as duas grandes crises econômicas que os Estados Unidos já enfrentaram (a de 1929 e a de 2007) foram antecedidas por uma concentração de renda extrema. O baque de 2007, ao contrário da crise de 29, não rearrumou a casa. Não estabeleceu novas regras. Não resultou em mudança de rota.

Em 1978, a renda média dos norte-americanos era de US$ 48 mil por ano, enquanto os mais ricos ganhavam, em média, US$ 390 mil por ano. Hoje, a média salarial dos trabalhadores do país é de US$ 33,75 mil por ano, enquanto os do topo da pirâmide ganham, em média, US$ 1,1 milhão.

Apenas 400 cidadãos americanos têm, juntos, uma riqueza superior à soma de toda a riqueza da metade mais pobre da população. Com os lucros e bônus distribuídos no mercado financeiro, no último ano, o quadro só piora.

O documentário acompanha Reich em visitas do economista a sindicatos norte-americanos. Ele lembra que o equilíbrio do sistema capitalista precisa das organizações sindicais. É na luta do trabalho organizado contra o capital que se estabelecem regras mais justas.

Apoie o VIOMUNDO

Só que, a partir dos anos 80, houve um ataque sistemático ao sindicalismo norte-americano que hoje quase não tem poder de barganha, com exceção de alguns sindicatos de professores, como o de Chicago e, talvez, o de Nova York.

Os funcionários públicos, que ainda conseguiam manter algumas garantias, estão, estado por estado, perdendo seus direitos.

Em uma das visitas de Reich aos sindicatos, uma mulher que acompanha o debate se dá conta das discrepâncias, do baixíssimo percentual que os ricos pagam de imposto de renda sobre os lucros acumulados no mercado financeiro, um percentual bem menor do que ela mesma paga. Sentida, ela pergunta: “Por que eles precisam também desse meu pouquinho?”

A resposta, para Reich, está na política. Resposta que serve para qualquer país do mundo. O discurso da não-política serve apenas ao status quo, a quem já tem tudo. Aqui ou em qualquer lugar do mundo.

Leia também:

Requião chama filhos de Roberto Marinho de moleques

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!

Leia também