Mais capítulos da espionagem dos EUA no Brasil estão por vir
por Carlos Tautz*
A denúncia feita pelo jornalista americano Glenn Greenwald, blogueiro do jornal londrino The Guardian sediado no Rio, em matéria exibida pelo Fantástico (1/9), de que Dilma e assessores foram espionados pela National Security Agency (NSA), indica que essa estória da xeretagem perpetrada por Washington nas comunicações eletrônicas globais ainda vai render muitos capítulos.
Mesmo que possa parecer distante da maioria da sociedade brasileira, às voltas em protestos de rua e Amarildos que são desaparecidos pela Polícia, a invasão eletrônica, pelo seu alcance nas consequências objetivas e significados para a soberania brasileira, pode até ganhar repercussões imprevisíveis, no momento em que a campanha presidencial de 2014 já se acirra.
Se se dispuser a mostrar repulsa clara e firme, Dilma pode simplesmente cancelar a viagem aos EUA programada para outubro. No diplomatiquês light que orienta as relações internacionais, essa seria uma postura agressiva. Mas, no acotovelamento geral em que constitui a política internacional, é o que precisa ser feito, porque muitas mais revelações feitas pelo ex-espião da CIA Edward Snowden, e que Greenwald reverbera, ainda estão por vir. E, a se confirmar a extensão dos grampos cometidos pelos arapongas gringos nas barbas do serviço de inteligência brasileiro, vão atingir muito mais gente e entidades, para além da figura pessoal da presidenta, e em setores extremamente importantes da economia nacional.
Embora urgente, não tem sido firme a resposta brasileira à prepotência xereteira de Obama e cia limitada. Por exemplo, há cerca de um mês, quando veio à tona outra denúncia de espionagem americana no Brasil, também com a assinatura de Greenwald, e quando logo depois seu companheiro David Miranda, brasileiro, foi detido por nove horas no aeroporto Heathrow, em Londres, por policiais ingleses mancomunados com a CIA estadunidense, o chanceler brasileiro ainda era o dândi Patriota, que falou fino com Washington e contemporizou.
Tão errada foi aquela postura de Patriota, que, na semana passada, diante da gota d´água da mal contada fuga para o Brasil de um corrupto senador boliviano antes asilado na embaixada e La Paz, Dilma o exonerou do cargo.
Aliás, além da afinada de Patriota, de mais nada se soube da reação brasileira. Nem mesmo diante da revelação, feita pela edição 761 da revista Carta Capital, da existência de seis endereços que a espionagem dos EUA utiliza em Brasília para interceptar sinais de comunicações com antenas autorizadas pela Anatel.
Agora, a presidente tem outra chance de finalmente mostrar que não fala grosso apenas com o Paraguai (como no caso da aplicação da Cláusula Democrática para suspender a participação daquele país no Mercosul após o golpe que depôs o ex-presidente Lugo) e comprovar que o Brasil se ombreia com os maiores do planeta, como diz a propaganda do PT desde Lula.
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Afinal, se o País chega ao ponto de elaborar uma Estratégia de Defesa Nacional que prevê explorar as enormes reservas do pré-sal e se incluir entre os maiores produtores de petróleo, aumentar seu protagonismo no Atlântico Sul e a África subsahariana, construir um bloco de poder com Rússia, China, Índia e África do Sul e financiar multinacionais verde amarelas para projetar a economia brasileira no exterior, está claro que já passou do tempo de confrontar na medida adequada os EUA, o ente hegemônico global. E de mostrar que, ao contrário do que repetia Lula, omeletes e política só se faz quebrando ovos e consensos.
Para Greenwald, pessoalmente, essa nova postura do Brasil é uma condição necessária a garantir sua segurança no Rio de Janeiro. Principalmente depois que o The Guardian tomou uma decisão que o expôs e fragiliza. Há cerca de 15 dias, o editor Alan Rusbridge assumiu estar sendo pressionado pelo governo inglês a entregar a cópia que mantinha em Londres dos arquivos vazados por Snowden a Greenwald. Rusbridger anunciou ter destruído fisicamente os arquivos que possuía, mas afirmou que continuaria no caso NSA a partir de mais cópias que seu jornal possuía fora da Inglaterra. Na prática, jogou o foco dos arapongas do GCHQ e da NSA sobre Greenwald e seu companheiro Miranda.
Agora, não é apenas a soberania brasileira que aguarda uma resposta por escrito dos EUA, como anunciou nesta segunda (2) o ministro da justiça, Eduardo Cardozo. Também a segurança física de Greenwald e Miranda dependem de uma postura clara e rápida e de ações objetivas da Polícia Federal e da ABIN para evitar que os dois não se transformem, estranha e repentinamente, em mais duas vítimas fatais da violência urbana do Rio.
*Jornalista e coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas
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Comentários
Urbano
Há até a velha frase dos padres e juízes…
FrancoAtirador
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E quem garante que a aproximação da Globo
não é um esquema de espionagem anglo-saxão
montado para se antecipar às denúncias?
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lulipe
O Barão do Rio Branco deve estar se revirando no túmulo com o rumo que a diplomacia brasileira está tomando, outrora tão respeitada, saiu a competência e entrou a ideologia!!!
Valmont
A palavra ideologia é utilizada pelo pessoal “direitopata” como pejorativo, sempre que se refere a governos populares. Parece que só a esquerda sofre dessa doença chamada ideologia.
Os idiotas não percebem que respiram e se alimentam de um “mar de ideologia”, uma atmosfera a eles imperceptível, criada e mantida permanentemente por seres invisíveis e intocáveis, cujos ditames são vocalizados através da velha mídia, propriedade dessa mesma plutocracia invisível.
Os babacas não se dão conta de que essa ideologia não tem nada a ver com a sua própria vida real, com a sua cultura ou com a vida e a cultura do seu povo! Essa ideologia não nasce de suas idéias, não é original, não é pensada por ele. Ela é instilada verticalmente em seu cérebro, todos os dias, pelos feitores das redações e seus escravos pós-modernos.
Até quando veremos pobres lacaios defendendo a ideologia dos bilionários e das megacorporações transnacionais, como se esta fosse fruto de seu próprio processo de reflexão e escolha?
Fernando Soares
Belíssima resposta Valmont, podias dormir sem essa lulipe.
Mário SF Alves
E eu que ainda levava fé no Patriota. Quanta ingenuidade, Dio mio.
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