Uma nova paixão: o piquira, um cavalinho marchador
Criança, sonhava com um cavalo do tamanho do jumento
FÁTIMA OLIVEIRA – médica, [email protected]
Amo cavalos. Tenho um sertanejo e um mangalarga marchador, o Taj Mahal (símbolo do amor eterno), cuja pelagem lembra a cor do mármore do Taj Mahal, branco com umas sujeirinhas esparsas entre o bege e o amarelado. As cavalgadas são meu esporte, minha diversão e terapia.
A cavalo sinto como se ele fosse uma extensão do meu corpo, algo que soma liberdade e poder, signos universais da montaria, sensação que eu não sabia verbalizar até ler a crônica “Andar a cavalo X cavalgar”, do médico gaúcho Eduardo Festugato, na qual diz que “Equitar é ligar o próprio sistema nervoso ao corpo do animal, como se ele fosse extensão do próprio corpo. É comunicar-se com ele através de rédeas, bridões, bucais, cabrestos, mas também com as pernas, com a postura (posição do corpo) e o tom de voz. Para isso é indispensável entender sua linguagem, que ele manifesta através da expressão corporal”.
Ano passado fiquei apaixonada por um cavalinho, que não conhecia, chamado piquira (em tupi: pequeno cavalo), raça em formação, com criação concentrada na Bahia e Minas Gerais, de porte (altura) até no máximo 1,28 cm (fêmeas) e 1,30 cm (machos). É um cavalinho um pouco maior que o jumento nordestino, conhecido por jegue ou jerico, de altura média de 1,15 cm (fêmea) e 1,20 cm (macho); e bem maior que um pônei, de altura média de 70 cm, que não é uma raça de cavalo, pois há mais de cem raças de pôneis.
Diferentemente do pônei, com membros desproporcionais ao corpo, as proporções do piquira são equilibradas entre a altura da cernelha (parte proeminente da escápula, ou omoplata – parte entre a crina e o dorso) e o comprimento do corpo, com angulações dos membros que propiciam liberdade de movimentos ao passo, em marcha e ao galope. Pura elegância mágica!
O padrão racial piquira considera apenas a marcha e o porte, mas sua grande marca é a versatilidade no uso, pois se presta para montaria (sela), concursos de marcha, provas funcionais e demais modalidades hípicas, como o salto. Graças ao estilo dócil e temperamento calmo, é de fácil adaptação para transporte de carga, tração leve e cavalgadas, suportando bem adultos de até 80 kg. Como quero montar um piquira, tenho em mente jamais chegar aos 80 kg. Então, o piquirinha funciona bem como uma balança emocional.
O piquira é um cavalinho (ou pônei?) marchador brasileiro, para alguns um invento mineiro, resultante do cruzamento de pôneis da raça Shetland com éguas nativas de pequeno porte. Visando o porte pequeno e o andamento marchado, foram cruzadas éguas comuns de menor porte com cavalos das raças mangalarga marchador, brasileira e “cavalo pé duro” (nordestino ou sertanejo) – um tipo de cavalo e não uma raça definida, pois não apresenta características próprias permanentes.
Tive pelo piquira uma paixão ao primeiro olhar. Atrás dos porquês, encontrei em meu baú de lembranças a primeira vez que vi o que denominei de “cavalinho-jumentinho”. Era o pônei de “E o Vento Levou”. Como costuma dizer uma amiga diante de coisas impossíveis: “ai, ai”, como desejei ter um! Achava fácil montar jumento, por ser pequeno, mas não gostava da passada dele, que não é de todo confortável, algo entre o “pototó-pototó” duro e o seco. Falta a maciez da passada do cavalo. É o que acho. Quando criança, sonhava com um cavalo do tamanho de um jumento e ao ver um piquira, fiquei fascinada. Era meu sonho concretizado. E não pude deixar de pensar que um dia teria um. Eu e Maria Clara.
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Comentários
Fátima Oliveira
Oi Elias, obrigada pelo sonho.
Agradeço os comentários. De coração!
Elias São Paulo – SP
ONÍRICOS
Os cavalinhos de vidro, guardados há anos na gaveta do criado-mudo, certa noite puseram-se a cavalgar. O barulho inusitado despertou o menino. Ao ascender o abajur e abrir a gaveta, admirado, viu seus cavalinhos de vidro vivos, todos andando, um atrás do outro, lembrava o carrossel do parque. Confuso, fechou a gaveta e o barulho cessou. Ao abrir novamente viu os cavalinhos deitados, e agora não mais se mexiam, voltaram a ser brinquedos novamente. Apagou o abajur e dormiu de novo. Pouco depois, acordou assustado e viu a gaveta do criado-mudo se abrir, e os cavalinhos logo saltaram para sua cama. Agora eram de vidro reluzente e logo se puseram a cavalgar por cima do cobertor. Uns iam até ao pé da cama, outros à cabeceira, o menino impressionado olhava os bichinhos luminosos e de repente o medo, o susto já não lhe incomodavam, ao contrário, sentia-se feliz como se tivesse recebido o mais incrível dos presentes.
PS: Para Fátima Oliveira que aprendi a admirar no blog do Azenha.
Jorge Andrade
Já li outros artigos de Fátima Oliveira sobre cavalos e cavalgadas, que sei que ela aprecia muito. Aprendi muita coisa lendo os artigos dela sobre equitação terapêutica. Já a vi cavalgando em seu Taj Mahal. É uma amazona de categoria.
"A raça Piquira surgiu no sul do estado de Minas Gerais, região do campo das vertentes e no Triângulo Mineiro, espalhando se por Goiás, Bahia e demais estados do Nordeste. Hoje em dia está difundida em todo o Brasil. A Raça Piquira se formou a partir de um lastro étnico de várias naturezas:
Miscigenação das raças eqüinas introduzidas durante a colonização do Brasil, com éguas nativas de pequeno porte.
Produtos que na seleção da raça Pônei Brasileiro, modificaram sua morfologia, seu porte e dinâmica de locomoção.
Não possuem origem exclusiva de regiões áridas do sertão, como querem alguns, quando os chamam, impropriamente, de “caatingueiros”. Esses espécimes foram identificados em regiões diversas e com padrões bastante próximos."
Depaula
"A designação Pônei é aplicada aos eqüinos de baixa estatura e sua altura na cernelha deverá ser inferior 150 cm. Portanto todo eqüino abaixo deste porte é considerado um Pônei. Cada uma das raças acima citadas possui medidas próprias, definidas em seus padrões raciais".
Irene Macedo Costa
O Piquira não é o pé duro. A origem dele está no texto da Fátima. É uma cria mineira, genuinamente. As crianças adoram montar o piquirinha, que se presta bem para a equitação infantil. Inicialmente só gente da roça das Minas Gerais sabia oq ue era um piquira. Hoje em dia podemos dizer que o piquira adentrou aos salões da equitação, embora muita gente ainda torça o nariz, pois ele ainda é visto como um cavalinho de pobre.
dukrai
o piquira não é apenas o pé duro apequenado pelas condições agrestes do "sertão" de Guimarães Rosa e a sua marcha forçada pela recente cruza com o mangalarga?
a minha paixão era a mulinha mineira de pequeno porte, com sangue mangalarga ou campolina difuso e de baixo preço, mas que hoje virou brinquedinho dos urboynóides endinheirados, aí o sonho de caipira deu adeus.
Depaula
Dukrai, com certeza a "mulinha mineira de pequeno porte" nada tem a ver com o piquira. Para originar uma mula o cruzamento é outro.Talvez uma "eguinha mineira de pequeno porte" talvez seja uma piquira. Mulinha jamais! O animal que se origina do cruzamento entre jumento com égua (a fêmea do cavalo), a fêmea chama-se mula ou burra; o macho chama-se burro. Mas do cruzamento do cavalo com uma jumenta nasce um animal diferente, chamado bardoto.
Meus cumprimentos à Fátima Oliveira por essa beleza de crônica sobre a raça Piquira
dukrai
Correto, Depaula, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa rs
Eu perguntei sobre as origens do piquira, que eu conheço há cinquenta do interior de Minas e nunca ouvi dizer que fizesse parte da sua genética pôneis ou mangalarga, era apenas um cavalo de serviço na fazenda, um "viralata" pequeno por origem da sua genética/dieta pobre.
A outra coisa é a mulinha, que todos sabemos ser um híbrido do cruzamento de égua com jumento e no caso mais comum do interior era a mesma eguinha viralata cruzada com um jumento comum, pretendendo um animal rústico, resistente, forte e de dieta pouco exigente. O burro era quase exclusive para a tração e as mulas tinham um uso mais diversificado, inclusive de montaria.
Jairo_Beraldo
Dukrai, uma égua Campolina, cruzada com um jegue da raça Pêga, sempre deu mulas de marcha macia, mas de baixa qualidade de lida. Tenho 2 na fazenda, Ruanas com estrela na testa. As mulas que vc refere, são aquelas da lida, de excelente qualidade para o trabalho. Ainda tem muitos criadores delas na região de Fortaleza de Minas.
dukrai
Ô Jairo, vc é chic demais, este é o top das mulas marchadeiras, a que tinha na fazenda do meu pai em Santa Rosa da Serra era uma autêntica viralata, muito arisca, de difícil domínio e apesar da sua marcha de passos curtos muito bonita, dava medo nos meninos de montar e sobrava para o meu irmão mais velho.
Janice Coelho
Eu fiquei feliz ao ler essa crônica rão diferente e falando sobre um cavalo que montei em minha infância
O Pônei da raça Piquira é, antes de tudo, um animal harmonioso e dócil. A estas qualidades, alia um porte que não deve exceder 1.30cm para machos e 1.28cm para fêmeas. São portanto maiores que os pôneis Shetland e os pôneis de raça brasileira.
Ricardo de Figueiredo Santos em seu conhecido livro "O Cavalo de Sela Brasileiro e outros equídeos " afirma textualmente que "sua mansidão e marcha cômoda são aptidões muito apreciadas…" . …
Na verdade não há nada mais apropriado ao ínicio da equitação infantil do que o piquira, pois este é o único corcel que reúne
docilidade ,comodidade e beleza ao lado da proporcionalidade que deve existir entre o cavaleiro mirim e o porte de seu cavalo.
Mariana Rodrigues
PIQUIRA
Luciano Vilela Teodoro
[Para meu avô Edmur]
Cavalo Piquira que ganhei
De meu finado avô.
Revolve relva Piquira.
Sorriso eqüino trás os dentes
Trás as marcas do tempo.
Minhas pernas cresceram
Já não cavalgo mais você.
Viraste festim de crianças,
Piquira revolve a relva no rumem.
Adeus calendário festivo
Em três anos
Foi-se meu cavalo Piquira,
Agora foi-se meu avô.
Disse Jesus que
quem não receber o céu como uma criança
Jamais entrará nele.
Tenho certeza que um dia
Vou encontrar um menino das minhas feições
Montado num cavalo Piquira!
http://www.alami.xpg.com.br/26.html
Jairo_Beraldo
A cor da pelagem que cita a Dra. Fátima, chamamos de "Baio".
Leider_Lincoln
Meu pai tinha dois baios: Baião e Baiim (ii é um som típico do caipira goiano, o Beraldo há de saber). Saudades.
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