Flávio Lyra: Estados Unidos pondo cerco a Brasil e Argentina?

Tempo de leitura: 3 min

por Flávio Lyra, via Agência Alba Notícias

Só ingênuos podem admitir que o golpe parlamentar que destituiu o presidente Lugo do Paraguai,  não tem o dedo do Pentágono. Essa nova modalidade de golpe, inaugurada em Honduras em 2009, que destituiu o presidente Zelaya, articulada na base aérea que os Estados Unidos mantém naquele país centro-americano, teria sido mais uma vez aplicada com sucesso, ao menos, por enquanto.

É uma grande coincidência que tais fatos ocorram contra governos de esquerda que tentam realizar reformas em favor dos segmentos mais pobres da população, particularmente reformas agrárias. Tanto Zelaya, quando Lugo vinham tentando melhorar o acesso à terra a camponeses secularmente explorados por grandes latifundiários e realizar ações de proteção social aos segmentos mais pobres da população.

Não surpreende a atitude ambígua que o governo dos Estados Unidos adotou, inicialmente, no caso de Honduras e, posteriormente, favorável à substituição do presidente Zelaya. Agora, a história repete-se com o governo dos Estados Unidos achando que a destituição abrupta do presidente Lugo respeitou as regras do jogo democrático, quando nitidamente tratou-se de um conluio dos partidos derrotados na última eleição para livrar-se de um presidente vinculado a causas populares.

É muito provável que o pequeno Paraguai se dispusesse a confrontar as regras do Mercosul e da Unasul, entrando em conflito com seus dois vizinhos Argentina e Brasil, se não contasse com o estímulo e proteção do governo norteamericano.

Certamente, que os governos do Brasil e da Argentina vacilaram claramente ao não acompanharem o desenvolvimento da conjuntura política no Paraguai, mormente quando se sabe que Washington estreitou muito suas relações com o Chile, depois do governo direitista de Piñera, e vinha realizando gestões para construir uma base militar no Paraguai. Tem sido denunciada a intenção de estabelecer um cerco a Brasil e Argentina.

Do ponto de vista da oligarquia paraguaia nada mais conveniente do que buscar apoiar-se no grande irmão do Norte para manter seus privilégios em desfavor da maioria do povo paraguaio, pois certamente não contaria com a boa vontade de Brasil e da Argentina, cujas políticas econômicas têm forte conteúdo social.

Agora, o problema está criado, pois estamos ameaçados em interesses muito concretos como é a manutenção dos acordos regionais do Mercosul e da Unasul, sem contar que existe a empresa binacional de Itaipu, importante fornecedora de energia para o Brasil, construída na fronteira entre Brasil e Paraguai.

Washington pode muito bem estar contando com o isolamento do Paraguai, no âmbito da região, para estreitar suas ligações com esse pequeno país e transformá-lo em ponta de lança contra as pretensões de maior autonomia de Brasil e Argentina.

No mundo atual, em que é notória a ação intervencionista generalizada, explícita e oculta, das grandes potências, especialmente dos Estados Unidos, nos países mais frágeis, especialmente os mais dotados de recursos naturais estratégicos, qualquer descuido dos organismos responsáveis pela segurança interna em relação ação dos órgãos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e outras potências pode acarretar funestas conseqüências para a segurança nacional.

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Não me admiraria se algum dia vier a ser constatado que a crise do “mensalão”, durante a qual foi ensaiada uma tentativa de golpe, visando a destituição do presidente Lula, tenha contado com o apoio dos Estados Unidos. O denunciante do esquema, o deputado federal Roberto Jeferson, conhecido por sua atuação em episódios obscuros, poderia muito ter sido cooptado pelo departamento de Defesa dos EUA, para dar a sua denúncia o teor que assumiu. Suspeito fortemente que o que se denominou mensalão foi uma das operações, ilegais, porém freqüentes, com que tem sido financiadas as campanhas eleitorais no país, mediante o uso de “caixa 2” de empresas privadas ou públicas.

Não há por que não admitir que as ações que os Estados Unidos e as grandes potências vêm realizando de desestabilização dos governos de vários outros países, como acontece no Oriente Médio, inclusive com o fornecimento de armamento, não possam estar em vias de acontecer na América do Sul. Portanto, senhores governantes, não nos deixamos enganar pela cordialidade aparente dos ministros e governantes das grandes potências. Seus interesses, como tais, estão sempre em primeiro lugar e eles não hesitam em mobilizar meios, nem sempre os mais lícitos, para defendê-los.

Os Demóstenes Torres, Carlinhos Cachoeira e muitos outros infiltrados nas altas esferas do poder público e do setor privado e da grande imprensa, são candidatos naturais a montar esquemas de desestabilização dos governos democráticos, em associação com os serviços secretos das grandes potências e grupos políticos internos ameaçados em seus privilégios. É preciso combatê-los com toda a energia, sob pena de “só fecharmos a porta depois que o ladrão esteja dentro de casa”.

–
Flávio Lyra é economista e ex-técnico do IPEA. Cursou doutorado de Economia na Unicamp.

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Comentários

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Humberto de Alencar

Vamos supor que seja tudo verdade (não estou dizendo que é), que o Brasil esteja mesmo em risco, que os americanos já estão na nossa porta (Colômbia), etc. Com certeza se o Brasil fosse um pais forte, em todos os sentidos, os EUA pensariam duas vezes antes de uma investida, pois eles só atacam os países mais frágeis (política, econômica e militarmente). E um ponto de grande fragilidade do Brasil é justamente nossa área militar, que os governos ditos “progressistas” (eu prefiro chamar de revanchistas)estão negligenciando há muito. Que poder militar o Brasil tem hoje para dissuadir um possível inimigo? Nenhum. Ao longo dos anos os governos de esquerda vêm sucateando nossas Forças Armadas em todos os sentidos: material e humano. Temos blindados que, ou não andam ou não atiram, ou os dois; aviões e helicópteros que não podem sequer levantar voo, navios que correm constante risco de afundar ou se incendiar, armamentos da década de 60, e homens desestimulados e desmotivados pelos baixíssimos vencimentos pagos pelo governo; homens que passam anos estudando e se aperfeiçoando para receber menos que um porteiro do senado e que hoje estão deixando as Forças Armadas aos montes a cada ano. Onde o governo do PT quer chegar com essa política? Parece que estão querendo se vingar daqueles que combateram em 1964-1985 destruindo as Forças Armadas de hoje, que nada têm a ver com aquela época. Hoje quem está no comando dos militares é Dilma, assim como já foi Lula, parece que eles se esqueceram que caso venham a necessitar de poder de combate, é com essas Forças (des) Armadas que terão que contar para defender o país, ou será que a UNE, o MST e outros militantes de esquerda conseguirão derrotar qualquer inimigo sozinhos?

    Pablito

    Oi, lamentavelmente o que acontece no Brasil é o que acontece na Argentina os governos de esquerdas pensam que os soldados tem ainda a mentalidade dos anos 60-70. Isso não é assim não!

    Tacho…

francisco.latorre

a máquina. de guerra. imperial.

não para.

intervenção desestabilização sabotagem.

morte roubo mentira.

..

uns e outros.

tentam inutilmente. negar.

faz rir.

..

darcio

A CIA tem (ou tinha) um escritório em São Paulo, autorizado pelo megaintelectual, supra sumo da inteligência, FHC, ainda tem ???

marcus

Cara acho que essa Americana é a mais pura verdade. Os americanos junto com papai noel e o coelhinho da pascoa associados a famigerada fadinha do dente combinaram tudo para desestabilizar esse país “estratégico” afinal o que seria da geopolitica mundial e sul americana sem Honduras ou Paraguai

Cara, cuidado com o que vc fuma pois isso faz mal a saúde….

João Evangelista Monteiro da Silva

Cadê a ABIN e EMBAIXADA BRASILEIRA que não fizeram uma leitura do processo em curso,municiando o governo brasileiro sobre a situação no Paraguai?Os EUA já estão na nossa ¨porta¨ através da Colômbia, sob o pretexto de combate ao narcotráfico.Devemos sim ¨por as barbas de molho¨.

Valter

Sugiro ainda aos desinformados defensores da política de dominação mundial norte-americana que, ao invés de se deslumbrarem com as vitrines de Nova Iorque, com as férias na Disneylândia e de buscarem cultura e informação na Veja e revistinhas de moda e fofocas, que estudem um pouco de História e, se não conseguem, pelo menos leiam os artigos publicados aqui mesmo neste blog: o de Mauro Santayana é bastante acessível até para mentes medianas e o outro, mais analítico, de Daiana Johnstone. Talvez aprendam alguma coisa…

Valter

O texto pode até ser uma ficção, porém, o que preocupa é ver tanta gente desinformada (ou inocentes úteis ao imperialismo, este real!) sobre o papel decisivo e preponderante dos Estados Unidos em TODOS os golpes de estado do Hemisfério Sul, bem como no apoio direto e na manutenção de TODAS as ditaduras que torturaram, “desapareceram” e assassinaram milhares de pessoas que apenas lutavam (e ainda lutam) para não verem as riquezas de seus países serem roubadas e seus povos transformados e dominados por quadrilhas de assassinos e traficantes, para quem Washington faz vista grossa, como no México, “amigo” dos Estados Unidos, isolado por um muro(!) e destituído de autonomia.

Jose Mario HRP

A Direitalha tenta abafar a clara evidencia que CIA, EUA e nossos barões financistas estão por trás do golpe paraguaio!
Seja em Estadão, ou nos blogs uivam e tentam satirizar a séria ameaça que está por trás da queda de Lugo!
Enquanto isso o Brasil pensa, pensa, pensa e não renoca seus meios militares!
Itaipu já foi usada pelo Paraguay como forma de ameça as ações do Brasil diante do golpe!
É preciso militarizar o redor da usina e estabelecer pelo menos um grande batalhão com 4 mil homens na região e o deslocamento de caças e helicopteros para perto dalí pois o paiseco paraguaio pode sim causar estragos na nossa principal geradora de energia eletrica!

Gino

Caro ex-técnico do IPEA,

Quem tem Hugo Chavez, Cristina Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa, Lula e Dilma (o Lugo já foi devidamente deposto do clube) já tem instabilidade de sobra, não precisa de mais ninguém para isso.
Os EUA nem precisam se preocupar, essa turma faz o trabalho sujo muito melhor do que qualquer conspiração imperialista.

Renato

Flávio viajou na maionese. Tentar relacionar a CIA com o Cachoeira.
Todos da esquerda precisam ir para o Manicomio. Pois são todos loucos.

Helder

Acho que o sr.Flavio foi cooptado por Cuba pra falar bobagem…

MARCIO

TODA ESSA TRAMA JÁ HAVIA SIDO DEMOSTRADA PELO EVO E PELO CHAVES. NADA DE NOVO.

Aluízio Couto

Nossa, passa uma dessa aí porque a viagem é da boa. Mr. Waterfall and Mr. Towers, we have a problem.

Antonio

O blogueiro sionista do Estadão linkou esta matéria. Agora podemos ter certeza de que o Mossad também está envolvido no golpe.

justo

hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!hahahahahahahahahaha!

Esta foi ótima primo. Conte outra…conte!

Juliano

Reação quase instantânea a esse texto:

http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/adivinhe-quem-esta-por-tras-da-crise-no-paraguai/#respond

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