O neoliberalismo se propõe a transfomar tudo em mercadoria. Que tudo tenha preço, que tudo se possa comprar e vender. Essa proliferação do reino do dinheiro chegou em cheio à política. E o financiamento privado das campanhas eleitorais é a porta grande de entrada, que permite que o poder do dinheiro domine a política.
Dados concretos mostram como as campanhas com maior quantidade de financiamento tem muito maior possibilidade de eleger parlamentares. E que o Congresso está cheio de bancadas corporativas – de ruralistas, de donos de escolas particulares, de meios de comunicação, de donos de planos de saúde, entre tantos outros – que representam os interesses minoritários em cada setor, que se elegeram graças a campanhas que dispõem de grande quantidade de recursos econômicos.
O Executivo representa o voto da maioria da sociedade. O Congresso deveria representar sua diversidade, tanto a maioria como a minoria, assim como os diversos setores presentes na sociedade. Basta ver o tamanho da bancada ruralista – que representa a ínfima minoria da população do campo, os donos de grandes parcelas de terra – e a representação dos trabalhadores rurais – 3 parlamentares para representar a grande maioria da população do campo – para se ter ideia da distorção que a presença determinante do dinheiro representa para definir a representação parlamentar. O Congresso termina representando a minoria que dispõem de dinheiro para se eleger e nao espelha a realidade efetiva da sociedade. Terminam decidindo em nome de todos, mesmo com essa representação distorcida.
Por isso eles defendem com unhas e dentes o financiamento privado de campanha, que representa a tradução em representação política de quem tem mais dinheiro e não da vontade política soberana do conjunto da sociedade. O PMDB até chega a dizer que abre mão do financiamento público para cargos majoritários, mas não cede nas eleições parlamentares, de onde tira seu poder de barganha.
Alega-se que seria o livre direito de colaborar com dinheiro para quem se quer. Mas é um direito de quem tem dinheiro – dos bancos, das grandes empresas nacionais e internacionais, da velha mídia, – e não da esmagadora maioria da população, que fica expropriada desse direito.
O financiamento público de campanha é uma reivindicação da democracia, uma condição para que exista um Congresso representativo da sociedade brasileira, da vontade popular. Lutar por ela é lutar para que tenhamos uma vida para chegar a uma sociedade verdadeiramente democrática no Brasil.
Emir Sader é sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP – Universidade de São Paulo.
Comentários
Taiguara
Me desculpem esse TOTALMENTE "fora de pauta". Mas, com um pouco de boa vontade dá prá tangenciar o assunto "financiamento de campanha".O CARRO DO ANO" . Capa inesquecível do Pasquim, calcada no projeto gráfico da revista Auto Esporte, em que estampava o puma do Rio Centro com o Sargento Rosário "detonado" em seu interior. Há, nesse "imbróglio" da Lista de Furnas, a tatuagem indelével e o modus operandi dos demofrênicos-tucanopatas. Fica claríssimo que trata-se de mais um produto original saído do 'LABORATÓRIO DE REFINO DE CORRUPÇÃO" montado em Minas por volta de 1998, sob a supervisão do Azeredo, e oportunamente auto implodido no colo de alguns aloporados do PT em 2005. Incrível a capacidade dos demofrênicos-tucanopatas em aprontar seus malfeitos e jogá-los no colo dos seus inimigos ( e a palavra é "inimigos" mesmo, sem essa de admitir ser pautado pela dissimulação de "vovô" Tancredo – aquele que, como disse Henfil, deveria ter herdado do Getúlio o revólver ao invés da caneta). E agora josé? Chega a informação dos "staites" de que o tal "perito" é, ele próprio, um FALSÁRIO. Uma espécie de molina movido a coca-cola. E o que dizer do arremedo de Riocentro montado pela teatral polícia do GOVERNO de Minas? Logo a polícia daqui? Tentanto fazer pão de queijo com receita americana? E esse silêncio obsequioso que a mídia pigueana guarda em relação ao perito hot-dog? Esse comportamento subserviente nos trás acerteza de que persistem as ações deletérias da primeira irmã, a Chiquinha do Chaves, também conhecida como Frau Andréa. Parece que o governo do Aócio ( o Anastazista é apenas um despachante de luxo) reserva para o canastrão que melhor representar seu papel nessa ópera bufa uma distinção especial. Seria "O CARGO DO ANO"? O PERIGO MORA EM MINAS. E, pior, dirige bêbado.
Operante Livre
É a velha questão entre igualdade de direitos e desigualdade de oportunidades.
É necessário que muitas pessoas desfavorecidas cheguem às instâncias superiores dos poderes de Estado.
Um juiz advindo de classe abastada é pouco provável que entenda ou queira aplicar a lei para fazer justiça com igualdade.
No irã, com o assassinato de um cientista nuclear houve uma explosão de interessados na carreira.
No Brasil, precisa haver uma explosão de interessados, oriundos das classes marginalizadas, em fazer direito e comporem o judiciário. Assim como o legislativo. E lutarmos para que as instâncias de tribunais superiores tenham em sua composição outros segmentos da sociedade e não apenas os versados em direito, já que o direito não equivale à justiça social.
Não podemos aceitar a divisão entre homens e mulheres, brancos e negros. Precisamos buscar uma distribuição democrática da aplicação da justiça e não algo amparado na grana de uma minoria, que pouco importa a cor , o sexo ou a religião.
A segregação econômica sustenta todas as demais segregações.
luiz pinheiro
Total acordo com este artigo do Emir Sader. O financiamento público eleitoral é a prova dos nove da efetiva democratização da política. Os parlamentares devem representar o capital ou o povo? Parabéns aos partidos que defendem a tese do financiamento público. É com propostas assim que poderemos aprofundar a democratização da sociedade iniciada pelo presidente Lula.
Porco Rosso
O blog do Idelber Avelar tem dois posts muito bons sobre o financiamento público:
http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/08/…
http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2011/09/…
roger
A concentração de renda típica do capitalismo faz isso. Os poucos que possuem quase tudo querem decidir tudo – o poder economico quer o poder total – e faz tudo para construir um sistema que funcione assim. Lá, bem no alto da pirâmide, certos personagens ocultos criaram isso pensando assim. Controlam a imprensa, as instituições e permanecem ocultos do mundo. Conhecem a natureza humana e traçaram um plano que terminou por conceber um sistema que corrompeu (e corrompe) tudo.
Talvez o comunismo e outros sistemas politicos tenham falhado porque nao conseguiram erradicar de vez o capitalismo/monetarismo, que continuou a atuar em sua periferia corrompendo qualquer outro ideal ou sistema diferente.
Num sistema capitalista/monetarista como esse, a única chance de evitar a corrupção do poder político/executivo/legislativo/judiciário, seria fragmentá-lo por todo o povo. Em outras palavras, democracia direta (diretíssima).
Mas enquanto perdurar esse sistema que aí está, idéias como essas continuarão a ser meramente utópicas, porque infelizmente nesse caso, fica difícil fazer brotar uma rosa no meio do lodo…
souza
concordo com o senhor.
infelizmente ainda é preciso abraçar com o diabo (pmdb) para se conseguir vitória no congresso nacional.
mas este momento ha de passar.
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