Carta aberta do professor Francisco Hardman à artista plástica palestina Heba Zagout
Tempo de leitura: 3 minCarta aberta à artista palestina Heba Zagout
Nenhum holocausto no mundo pode justificar a tirania de antigas vítimas sobre outros povos, outras culturas e outras gerações
Por Francisco Foot Hardman*, em A Terra é Redonda
Não te conheci pessoalmente, Heba.
Mas, sabemos bem do sofrimento do teu povo, desde a criação unilateral do Estado assassino de Israel. Porque sabemos, também, que nenhum holocausto no mundo pode justificar a tirania de antigas vítimas sobre outros povos, outras culturas e outras gerações.
Se existe, hoje, uma ideologia que se aproxima terrivelmente do fascismo, ela se chama sionismo.[1]
Nós, que acreditamos de fato na humanidade, precisamos combatê-la em todas as frentes.
E você, Heba, pertence ao povo de refugiados mais antigo do planeta desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Por isso, nosso padre Julio Lancelotti defende a causa palestina com a mesma fé inquebrantável com que acolhe e cuida dos refugiados internos das guerras urbanas não declaradas no Brasil, desde que aqui começou sua missão, há meio século.
Heba, um dos últimos quadros que você desenhou e pintou, com o esmero e inspiração de sempre, me comoveram muito, sabia?
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Na simplicidade pacífica e harmoniosa de “Jerusalém é minha cidade” (2022),[2] nós todos podemos sonhar com um ideal de cidade tão distante daqueles espaços belicosos em que somos jogados e transportados todos os dias.
Não conheci Jerusalém, Heba. Mas posso compartilhar do sonho que a imagem delicada dessa tua pintura pode nos trazer aqui, neste Ocidente cheio de arrogâncias, violências e blasfêmias.
Aliás, parece mesmo que a sanha assassina de Bibi Netanyahu e seus comparsas é muito mais ocidental, em seu exibicionismo bélico e em seu gosto vampiresco em comer sangue. Já reparou nos olhos e dentes desse anjo exterminador do presente?
Idem, Biden Gagá. O senhor do Império Decrépito perdeu seus anéis faz tempo, e gagueja pragas incompreensíveis, enquanto faz a contagem regressiva de sua próxima derrota.
Quem nos resta, Heba? As mulheres árabes da minha cidade, São Paulo, que abriga comunidade palestina significativa, continuam na linha de resistência.
Nossas e nossos melhores estudantes também resistem, Heba.
Acabo de concluir minhas aulas na pós-graduação e na graduação da Unicamp, neste semestre, Heba, e pode estar certa de que o sacrifício de seu povo foi exaustivamente debatido em classe, e sua tragédia foi pranteada por muitas almas jovens igualmente desinformadas, mas felizmente sensíveis a uma causa simples e justa. E aprendemos, entre tantas coisas, o peso e o sentido da palavra Nakba, a catástrofe e êxodo do povo palestino, já tão antigo e tão dolorosamente atual!
Estamos sendo massacrados nos campos de batalha e na mídia facciosa dos genocidas, mas tenho a convicção de que, com a liberdade de nossos povos nos corações, venceremos, custe muito o que custar, essa guerra contra o povo palestino.
Várias vezes por dia cruzo a praça Estado da Palestina, aqui no bairro do Paraíso, em São Paulo. Ela segue, no mais das vezes, vazia. Vez por outra surpreendo moradores de rua ali acampados, nessa identidade subterrânea entre todos os povos refugiados do mundo.
Como nos alertava, já há cerca de duas décadas, o sociólogo Zygmunt Bauman: cada vez mais, essa modernidade líquida ocidental e esse capitalismo ferozmente decadente estão a produzir e reproduzir, em escalas crescentes, refugos humanos por todo o planeta, que pairam como lixo inadministrável sobre as paisagens do que ora se denominou “a nossa civilização”.[3]
Mas não posso deixar de lembrar aqui, diante da tua presença e memória, das penas e gestos heroicos de todas as mães palestinas. Isso foi cantado em lamento fúnebre numa das manifestações pró-Povo Palestino aqui na praça Oswaldo Cruz, em São Paulo, há cerca de um mês.
Assim, entendo perfeita e tragicamente que você não pode jamais desgrudar dos teus dois filhos quando vieram as bombas do Estado Assassino, na noite de 13 de outubro, lançadas por mais um ataque aéreo israelense.
Vivem vocês agora na memória dos que seguem lutando. E na melhor lembrança de uma cidade pacificada que possa ser chamada de “nossa” em futuro próximo. Porque, “tua”, Heba, e das tuas crianças, ela sempre foi e continuará sendo.
*Francisco Foot Hardman é professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Autor, entre outros livros, de A ideologia paulista e os eternos modernistas (Unesp).
Notas
[1] Cf. o excelente e didático livro do jornalista Breno Altman, Contra o sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista. São Paulo: Alameda, 2023. [https://amzn.to/4aFgNBc]
[2] Ver o importante artigo de Vijay Prashad, “O povo palestino já é livre”, BrasildeFato, 23/10/2023, publicado originalmente pelo Instituto Tricontinental de Pesquisa Social.
[3] Cf., entre outras, as seguintes obras de Z. Bauman: A sociedade sitiada (Lisboa: Inst. Piaget, 2010); Vidas desperdiçadas (Rio de Janeiro: J. Zahar, 2005); Estranhos à nossa porta (Rio de Janeiro: J. Zahar, 2017).
Comentários
Zé Maria
https://pbs.twimg.com/media/GC7hDqnWgAEhHIG?format=jpg
“Participo aqui do movimento cessar-fogo-já na Palestina –
cartunistas estão desenhando personagens de costas,
como Handala (de Naji Al-Ali) aparecia.”
#HandalaBrasileiro #PalestinaLivre #CessarFogoJa
Cartunista LAERTE
https://twitter.com/LaerteCoutinho1/status/1742578906614439971
Zé Maria
“MUITO GRAVE!”
“Israel bombardeou Beirute, capital do Líbano.
Em mais um gesto criminoso, o Governo Netanyahu
viola a soberania de outro país, promove assassinatos
e espalha a guerra.
É urgente dar um basta às agressões de Israel na região
e ao massacre contra o povo palestino.”
Fernanda Melchionna
Deputada Federal (PSoL/RS)
https://twitter.com/FernandaPSoL/status/1742294930045759538
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1742324215045406791
“Denunciamos os crimes que Israel comete contra a Palestina
e perguntamos: qual crime de guerra eles ainda não cometeram?
Agora, atacam o Líbano e matam + inocentes.
Refaço a pergunta: quem mais Israel vai precisar assassinar
para que seja punido?”
Padre João
Deputado Federal (PT/MG)
https://twitter.com/Dep_PadreJoao/status/1742324215045406791
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Zé Maria
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Agora Israel e o Mundo vão Compreender o que é
“o Exercício do Direito de Defesa de um País”.
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Zé Maria
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Definitivamente os Estados Unidos da América (EUA)
terceirizaram a Guerra no Oriente Médio para Israel.
Em 24h, os Sionistas Genocidas já bombardearam
Beirute, Capital do Líbano, e Kerman, Cidade do Irã.
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Thread FEPAL BR:
“O bombardeio de ‘israel’ em Beirute, Líbano, é uma provocação
MUITO GRAVE e pode ter consequências devastadoras.
israel” está completamente descontrolado e quer uma guerra
geral no Oriente Médio.”
https://twitter.com/FepalB/status/1742296158691643832
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Pelo menos 103 pessoas morreram e mais de 140 ficaram feridas
em consequência de duas explosões registradas nesta quarta-feira (3),
na cidade iraniana de Kerman, onde acontecia uma peregrinação
em homenagem ao general Qassem Soleimani, morto em janeiro de 2020
em decorrência de uma Operação Militar dos Estados Unidos.
Segundo a Agência de Notícias Estatal Iraniana IRNA, as duas explosões
aconteceram em um raio de um quilômetro do túmulo de Soleimani,
para onde milhares de pessoas se dirigiam.
A homenagem marcava os quatro anos da morte do líder político.
o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, publicou uma nota dura
em que chama ação de um “crime terrorista”, e disse que
as autoridades do país vão tomar “as medidas necessárias”
para aliviar a dor das famílias das vítimas e tratar as pessoas
que ficaram feridas.
“O presidente ainda anuncia em sua mensagem que os executores
e criminosos que estiveram envolvidos nesse ataque terrorista
vão ser identificados o quanto antes e serão punidos por suas ações”,
prosseguiu a nota assinada por Raisi.
A rede de televisão Al Jazeera afirma que as explosões aconteceram
depois que duas bombas montadas dentro de malas foram detonadas
remotamente.
O canal, que tem sede no Qatar, é uma das principais fontes de informação
sobre os países do Oriente Médio.
Soleimani era uma figura política extremamente importante no Irã,
e ocupava o posto de “número dois” da estrutura política do país,
atrás apenas do aiatolá Ali Khamenei.
Ele foi atingido por um ataque de drones estadounidenses no Iraque.
https://www.brasildefato.com.br/2024/01/03/explosoes-causam-mais-de-100-mortes-no-ira-durante-homenagem-a-general-morto-pelos-eua-em-2020
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Zé Maria
https://m.media-amazon.com/images/I/51SjwmlGq8L.jpg
Resenha ao Livro de Autoria
do Jornalista Breno Altman
“Contra o Sionismo: Retrato de
uma Doutrina Colonial e Racista”
Por Bruno Huberman*
A Questão Palestina/Israel é um assunto que recebe muita atenção pública
quando há eventos violentos como o ataque do Hamas no 07/10/2023
e o massacre cometido por Israel na Faixa de Gaza a partir de então.
Contudo, é um assunto que tem bibliografia escassa em português.
Essa contradição permite que poucos possam monopolizar o debate.
O resultado é a construção de uma áurea de complexidade singular
que afasta muitas pessoas de esquerda da discussão e da solidariedade
pela libertação dos palestinos.
E mesmo aqueles que ousam cruzar essa linha são alvejados com críticas
infundadas de ‘antissemitismo’.
Este livro de autoria de Breno Altman faz uma precisa contribuição
para o debate público em um momento oportuno.
A discussão desde o 07/10 está permeada por más compreensões
reforçadas pela grande mídia.
Herdeiro de uma tradição judaica, comunista e antissionista,
além de jornalista de grande experiência, Altman explica,
em escrita rasante, os fundamentos do sionismo,
da Questão Palestina e do Estado de Israel.
Aponta as diferenças entre judaísmo e sionismo;
demonstra como o sionismo se transformou em
uma ideologia racista, colonial e teocrática;
e coloca como resultado um regime de apartheid
que oprime o povo palestino de diversas formas.
A diversidade de temas que Altman levanta expressa
a óbvia complexidade da Questão Palestina/Israel,
mas a objetividade com que ele narra e analisa os fatos
demonstra que este assunto não deve ser tratado
de forma particular por iniciados.
Todas e todos aqueles solidários aos povos oprimidos
e engajados no combate ao racismo e ao colonialismo
têm neste livro um importante instrumento de formação
para a disputa narrativa que tem impacto direto sobre
o presente e o futuro de Palestina/Israel.
*Bruno Huberman é Professor do Curso
de Relações Internacionais da PUC-SP
https://www.alamedaeditorial.com.br/contra-sionismo-breno-altman
https://www.brasildefato.com.br/2023/12/12/contra-o-sionismo-novo-livro-de-breno-altman-sera-lancado-no-rio-curitiba-e-sao-paulo
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