Flavio Aguiar: O insólito autogolpe do candidato a Messias, usurpador do Planalto
Tempo de leitura: 4 minO bizarro autogolpe do candidato a Messias
Terão sido as arruaças de 12 de dezembro um estertor ou um ensaio para o 1º de janeiro?
Por Flavio Aguiar*, em A terra é redonda
“A besta que viste\ foi e já não é\ e há de subir do abismo\ e irá à perdição (Apocalipse de São João, 17, 8).
Para mim não há dúvidas de que o atual usurpador do Palácio do Planalto está tentando manter-se nele através do que se criou a moda de chamar um “autogolpe”.
Ou seja, trata-se de um golpe de Estado promovido por quem já está no locus do poder, em busca de mais poder.
Em nosso passado houve alguns autogolpes, a começar pelo fechamento da Constituinte em 1823, por D. Pedro I.
Os primeiros anos depois da Proclamação da República foram marcados por “autogolpes”, desfechados por Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A proclamação do Estado Novo, em 1937, também foi um “autogolpe”.
Outra tentativa de tal quilate em nossa história, é atribuída, por uma parte das interpretações a respeito, ao então presidente Jânio Quadros, em 1961.
Esta parte das interpretações avalia que Jânio Quadros renunciou com o objetivo de ser reconduzido à presidência nos braços do povo, com plenos poderes. A tentativa falhou.
Apoie o VIOMUNDO
Nem o povo acolheu-o nos braços, nem as Forças Armadas o acolheram dentro de seus quartéis ou blindados.
Instalou-se uma crise política que quase levou o país à guerra civil, com os ministros militares tentando, sem resultado, impedir a posse do vice-presidente João Goulart.
E o desenlace da crise passou pela criação da épica Rede da Legalidade, liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, e pela saída conciliatória da Emenda parlamentarista, articulada, entre outros, por Tancredo Neves.
Uma outra interpretação vai na linha de afirmação atribuída ao então coronel Golbery do Couto e Silva, segundo a qual Jânio Quadros renunciou porque faltou alguém que o trancasse no banheiro.
Quer dizer, Jânio Quadros renunciou porque chegou ao auge das crises de depressão que o assolavam na solidão de Brasília. Talvez a renúncia tenha sido fruto de ambas as hipóteses conjugadas.
Também a proclamação do Ato Institucional nº 5 foi um “autogolpe”, fechando mais o regime já fechado da ditadura de 1964.
Bem, mas hoje a história é outra. Está claro que o usurpador do Palácio do Planalto está tentando algo.
O que será este algo? Provocar o caos, abrindo as portas para uma “intervenção militar”, tradução branda para “golpe de Estado”, e assim permanecer no Palácio usurpado?
Negociar uma “zona de conforto” para si e para sua família depois do 1º de janeiro? Não se sabe ao certo, podendo uma das hipóteses ou ambas estarem certas.
Estará ele deprimido? De início parecia que sim, com aquela pose de cabeça descaída quando ouviu a notícia de que seu adversário ganhara a eleição que ele esperava vencer graças às torpes manobras que o favoreciam.
Agora não se sabe. Pode ter-se retirado para o sepulcro do Palácio que usurpou para ressuscitar gloriosamente depois.
Neste sentido, terão sido as arruaças de 12 de dezembro um estertor ou um ensaio para o 1º de janeiro? Ou seriam ambas as coisas?
O certo é que o usurpador do Palácio se deu, nele mesmo, um autogolpe. Ou seja, renunciou sem renunciar. Escondeu-se. Esfumou-se.
A não ser para provocar mais desmontes no Estado, atingindo a educação, a saúde, até a água do Nordeste.
Criou um vácuo para açular a corja que anseia por uma arrebentação militar que sufoque a legítima e legal manifestação das urnas.
Não há paralelo disto em nossa história.
Um governo instituído, ainda que por usurpação devido às manobras de 2018, que não governa mais, e um governo eleito que já governa por tabela, ainda que mais por retórica do que por atos concretos, uma vez que ainda não é governo, nem de direito nem de fato.
Mas já governa, reconhecido pelos seus pares internacionais e por declarações de intenção, já que o governo, como disse, não governa mais, nem mesmo desgoverna, como fazia antes.
Apenas se ausenta, para estimular o caos, como se viu na “Noite da diplomação” na capital da República, com as hordas de arruaceiros à solta pelas ruas.
O usurpador gerou seu próprio fantasma, como um Macbeth que se auto-assassinasse. Talvez Macbeth seja uma imagem grandiosa demais para tamanho candidato a Messias, pois o personagem de Shakespeare era tresloucado, mas valente.
Quem sabe a melhor imagem para o nosso (nosso?) candidato a Messias seja a de Smerdiákov, o sinistro e prepotente, mas impotente personagem de Os irmãos Karamázov, de Dostoievski.
É uma situação historicamente insólita, sem precedentes.
Quem falou em nome da manutenção da ordem é o futuro ministro da Justiça, enquanto o atual, em meio às arruaças, jantava tranquilamente em um restaurante e as hordas assaltavam outro, queimando veículos e aterrorizando famílias.
Pelo que se vê no noticiário, o usurpador acolheu no Palácio pelo menos um arruaceiro que temia ser preso. No recinto presidencial há ofertas de lanchinhos para quem exige a ruptura com a Constituição, ou seja, o golpe de Estado.
O Brasil segue. O ministro do Supremo Tribunal Federal, antes denunciado pelas esquerdas como antidemocrático, agora é louvado como o campeão da democracia. E com justiça, diga-se de passagem.
Onde estamos? Na completa surrealidade. Em todo caso, algumas balizas se mantém. Curiosas balizas.
Como em 1961, as esquerdas revolucionárias defendem a ordem e a legalidade, dentro da pax que alguns ainda denunciam como a da liberalidade burguesa.
Muita gente das direitas se filia a este movimento de defesa das instituições. A ala conservadora radicalizada prega a subversão das mesmas instituições, querendo solapá-las para impor seus desmandos.
As Forças Armadas continuam em suas casernas, ilhadas pela horda que pede a sua intervenção. Correligionários do usurpador golpista abandonam seu navio, condenando-o ao auto-ostracismo.
O governo dos Estados Unidos, antes semeador de golpes pela América Latina e alhures, também defende agora a legalidade e a posse do presidente eleito, de esquerda.
O tempora, o mores! Decididamente, o Brasil não é para principiantes. Nem mesmo que sejam candidatos a Messias.
*Flávio Aguiar, jornalista e escritor, é professor aposentado de literatura brasileira na USP. Autor, entre outros livros, de Crônicas do mundo ao revés (Boitempo).
Leia também:
Jeferson Miola: Terrorismo em Brasília marca continuidade da guerra fascista contra a democracia
Flávio Dino, sobre o terrorismo bolsonarista em Brasília: “Todos serão responsabilizados”; vídeos
Comentários
Zé Maria
Nesta segunda-feira, 19 de dezembro, será realizada
cerimônia que irá marcar o início da operação
do #GripenBrasileiro no Primeiro Grupo de Defesa
Aérea da FAB”
SAAB
“Quando a @fab_oficial vai agradecer, publicamente,
aos presidentes @LulaOficial e @dilmabr por esse feito?”
Jornalista LEANDRO FORTES
https://twitter.com/LeandroFortes/status/1604457986042257411
Zé Maria
“Nas ações determinadas pelo Ministro Alexandre de Moraes,
contra bolsonaristas fanáticos [leia-se NeoFascistas Criminosos],
a PF encontrou um fuzil, um rifle, munição e uma submetralhadora.
Só hoje [15] foram apreendidas 15 armas.
A sociedade não aceita viver sob a ameaça fascista.
Lugar de golpista é na cadeia!”
IVAN VALENTE
Deputado Federal Reeleito (PSOL/SP)
https://twitter.com/IvanValente/status/1603560999411392514
Zé Maria
Junto às “pessoas de bem” que promoveram a baderna antidemocrática
em Brasília e espalhadas pelo país, um verdadeiro arsenal.
Este é o legado do governo fascista: violência contra as urnas.
Vamos reconquistar um Brasil de paz e respeito pela Constituição!
MARIA DO ROSÁRIO
Deputada Federal Reeleita (PT/RS)
Zé Maria
“Enquanto Bolsonaro negocia a sua imunidade [com Lira],
participantes dos atos antidemocráticos são presos
com fuzis e metralhadoras.”
#AnistiaNão #BolsonaroNaCadeia
PAULO TEIXEIRA
Deputado Federal Reeleito (PT/SP)
https://twitter.com/PauloTeixeira13/status/1603472597357891603
Zé Maria
O Canalionário ou BilioCanalha do TT é Prosélito de Steve Bannon:
https://pbs.twimg.com/card_img/1602982420906708993/maSGJ4IU?format=jpg&name=small
“Repórter do Washington Post, @drewharwell, mostrou
como conspiracionistas do QAnon estão amando Elon Musk
em reportagem publicada ontem: https://t.co/J0af4q8w5W
Foi banido [do TT também.”
Siga o Fio da Meada:
https://twitter.com/Burgos/status/1603554193649946626
https://twitter.com/Burgos/status/1603556964591624193
https://twitter.com/Burgos/status/1603562337495306240
https://twitter.com/slpng_giants/status/1518705751853654016
Zé Maria
https://progressive.org/latest/tesla-history-silencing-whistleblowers-cords-220115/
Zé Maria
.
“Podemos não possuir
65 milhões de seguidores,
mas temos a Verdade.”
Jornalista JANE TURNER
https://twitter.com/fbiwhistlestop/status/1466506336745758729
Zé Maria
.
“Blowing the Whistle on Big Tech”
From Tesla to Apple to Activision Blizzard, a mountain of harassment
and discrimination cases highlight how unsafe working conditions
at tech companies should concern us all.
By Sara Cords in Progressive.Org
https://progressive.org/latest/blowing-the-whistle-big-tech-cords-220316/
Zé Maria
https://twitter.com/i/status/1603096368070942721
“No dia 1° de janeiro, o Brasil todo se encontra em Brasília!
Junte seus amigos, organize sua caravana e acompanhe
de perto a posse de LULA e o #FestivalDoFuturo,
uma nova página na história do país!”
https://twitter.com/LulaOficial/status/1603096368070942721
https://lula.com.br/junte-os-amigos-e-prepare-a-caravana-para-o-festival-do-futuro/
“Todos juntos em Brasília no dia 1º de janeiro
para abraçar o Presidente LULA”
https://twitter.com/JanjaLula/status/1603193240924168194
Deixe seu comentário