José do Vale: O caminho para o 2º turno é a militância agir onde o povo se encontra
Tempo de leitura: 5 minSegundo turno para a soberania popular
Por José do Vale Pinheiro Feitosa*, especial para o Viomundo
A capacidade de analisar uma situação evoluindo, por sermos humanos, “excessivamente humanos”, carrega memória, emoções, desejos de mudanças e de permanência de situações.
Exponho aqui uma tentativa de análise dos resultados dessas eleições no primeiro turno, avisando da minha condição histórica como indivíduo.
Vou pegar dois momentos políticos da minha experiência como médico.
Em 1977, um grupo de militantes dissidentes do velho PCB se aproximou de um médico que tinha duas características importantes para o momento.
Era da área de saúde mental, com uma visão moderna da questão, e ao mesmo tempo, um sujeito afinado com a questão social das grandes periferias urbanas do Rio de Janeiro. Quando criança fora testemunha de uma grande revolta dos trabalhadores que usavam o transporte das barcas entre Niterói e o Rio de Janeiro.
A segunda característica era a sua relação com Jaime Busnello, do Rio Grande do Sul. No espírito do que ocorreria em 1978 na Conferência da Organização Mundial de Saúde sobre Cuidados Primários de Saúde (Alma-Ata), tinha um trabalho de atenção de saúde com participação comunitária.
Este médico cujo nome vou revelar sem lhe pedir autorização é Jairo Coutinho.
Sempre envolvido em projetos sociais como o Criança Esperança, era diretor de um hospital privado de uma Associação Espírita no Rio Comprido, Rio de Janeiro (RJ).
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A principal clientela do hospital era de segurados da Previdência Social e para que tivesse a primazia de atendê-la necessitava ser beneficente segundo as regras de então.
Isso significava ter um trabalho social voluntário e comprovado.
E agora começa a ligação dos pontos.
O movimento egresso do Partidão já havia mudado suas estratégias e táticas políticas, não se sujeitava ao padrões puramente operários, mas entendia que podia agir no campo social mais desorganizado e de forte matrizes do chamado lumpesinato (sem direitos trabalhistas, fora do mercado formal, pouca educação, mal-informado, sem espaço de lazer e brutalizado pela repressão policial).
O diretor do hospital teria de criar ambulatórios no hospital com consultas médicas grátis para servir de comprovação para o INAMPS.
Foi assim que o grupo de militantes fez o contato entre o presidente da Associação do Moradores do Escondidinho (comunidade do Rio Comprido, Rio de Janeiro) e o diretor do hospital para que esse ambulatório fosse implantado dentro da comunidade e não no hospital.
Enfim, foi criado um Posto de Saúde Comunitário, bem no centro da comunidade, com participação dos moradores, inclusive com voluntários de saúde treinados em reconhecer problemas de saúde e aferir algumas medidas médicas (exame de pele, garganta, olhos e sinais de perigo em diarreias e sintomas respiratórios, aparelho de pressão, balança, termômetros).
Neste momento a ditadura militar estava em xeque. Havia ocorrido uma grande urbanização no país, criando enorme periferia social com assentamento urbano precário, sem recursos universais de saneamento, de água, moradia, educação, saúde, serviços públicos de lixo e iluminação.
Um Posto de Saúde Comunitária na herança de uma sociedade desigual e violenta. Porém, com algumas ressalvas históricas e recentes. No período do governo de direita de Carlos Lacerda, quando violentas remoções de favelas foram realizadas, simultaneamente a Fundação Leão XIII estimulou o comunitarismo e a organização de Associações de Moradores.
O comunitarismo era tão forte que as ruas da comunidade eram identificadas pelos nomes das “rainhas e princesas eleitas nas quermesses” realizadas pela Fundação Leão XIII. Portanto, tratava-se de seguir o percurso da seta da história, levá-la adiante até as contradições mais gerais.
A mídia conservadora estava ansiosa com o futuro do país, pois sabia do passivo social que se criava com as políticas da ditadura. Quando souberam que um médico iria trabalhar no meio da comunidade com uma medicina de participação social, pegaram a pauta.
A primeira medida adotada no trabalho foi reunir as lideranças e participantes mais ativos da comunidade para discutir os principais problemas de saúde: vala negra de esgotamento, atravessando ruas e residências, lixo, falta de medicamentos, de referência de saúde, precariedade de habitação e muitos outros temas.
O jornal O Globo fez um editorial de primeira página enaltecendo a iniciativa.
O Jornal do Brasil mandava jornalistas assistirem às reuniões e repercutiam nas edições.
A Rede Globo fez uma reportagem cuja edição no Jornal Nacional foi: “precisamos de saneamento básico para melhorar a saúde”.
Enfim, houve um grande movimento de doações de medicamentos, mesas de exames e geladeira para guardar vacinas.
Teve-se que convencer o município do Rio que havia condições de armazenar com qualidade as vacinas e, por consequência, o aumento de cobertura vacinal praticamente acabou com a transmissão do sarampo.
A ação organizou um jornal comunitário para estimular a escrita da juventude a discutir seus problemas.
Com ajuda de Luiz F. Taranto foi criado um cineclube que usava filmes em 16 milímetros da Embrafilme.
Foi criada uma cooperativa para comprar manilhas para esgotamento sanitário e mais outras iniciativas.
Ao lado do Posto de Saúde havia uma Igreja da Assembleia de Deus, que funcionava regularmente com os fiéis fazendo a manutenção predial e realizando seus cultos.
Todos eram moradores ativos da comunidade. Havia o reconhecimento implícito da violência policial e do conflito social abrangente com disputas e mortes. Ainda não havia o armamento e a estrutura do tráfico pesado de drogas.
Em 1982, quando Brizola se candidatou a governador do Rio de Janeiro, a comunidade em peso votou nele. E, também, em Darcy Ribeiro, que era o seu vice.
Porém, há um fato importante: a máquina pública de governo não pode substituir a permanência de quadros políticos estimulando e sendo parte da evolução da comunidade.
O partido de Brizola era muito pequeno, dependia muito dele e, praticamente, os principais quadros foram tratar dos assuntos de governo, não percebendo que a realidade na sociedade continuava acontecendo e buscando linhas de força para romper as contradições de sua história.
Os CIEPS eram um projeto bem elaborado e fundamental.
Porém, por ser um projeto essencialmente governamental e não da sociedade, foi se enfraquecendo.
Terminou sendo objeto de disputa corporativa dos funcionários públicos da educação e, por outro lado, uma bandeira eleitoral muito bem usada pelos adversários com desgastes do tipo: “é caro demais, corrupção, é uma escola para os pobres e ninguém quer ir para uma escola que não vença a pobreza”. Por essa maliciosa propaganda seria mero albergue da pobreza.
Em 1986, Darcy Ribeiro perdeu as eleições para Moreira Franco.
Em 1991, Brizola voltou para outro mandato de governador, após acirrada disputa para a Presidência da República, quando foi muito atacado pela Rede Globo.
Outras lideranças surgiram em seu partido, o PDT. A dinâmica real da vida do povo do Rio de Janeiro, a quem o PDT pretendia representar, foi seguindo linhas de força divergentes.
Depois, Brizola foi derrotado para o Senado para um candidato jovem e estreante do PT. Numa eleição em que se candidatou à Prefeitura do Rio de Janeiro, abandonado pelo governador Garotinho e por quadros do PDT, foi derrotado.
O voto é do povo e sua dinâmica é local a partir do qual consciências são formadas com a correspondente decisão no momento eleitoral.
Nas atuais eleições, em qualquer circunstância da emergência de uma política de extrema direita, onde fatalmente o povo pagará a conta, a culpa não é de Ciro Gomes e Simone. Tampouco da Rede Globo, dos institutos de pesquisa, das igrejas evangélicas e do “bolsonarismo” que não existe como categoria permanente, sendo sobretudo circunstancial (crise econômica, pandemia, etc).
Sem a base onde o povo se encontra, sem considerar as milícias, os grupos de tráfico, as relações religiosas, a situação econômica exata, a violência do estado, sem militância agindo onde o povo se encontra, não teremos uma saída política melhor.
Todos devemos considerar que a própria soberania nacional se encontra na soberania popular capaz de, ao mesmo tempo, preservar sua cultura, seu modo de vida e encontrar as soluções para as emergências da história como acesso às melhorias tecnológicas e autonomia social.
*José do Vale Pinheiro Feitosa é médico sanitarista.
Comentários
Zé Maria
No dia de São Francisco de Assis,
LULA conversa com Frei Davi que lhe dá a Bênção da Ordem Franciscana.
https://youtu.be/2K69bQsRE38
Zé Maria
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Do PT, mais uma vez, cabe um Agradecimento Enorme ao Povo Nordestino,
assim como também aos Eleitores dos Estados do Norte, especialmente,
do Amazonas do Pará e do Amapá, que deram uma Surra no Fascismo
e deram a Vitória Esmagadora ao ex-Presidente LULA, também em 2022.
Cumprimentamos, ainda, os Candidatos Eleitos no Primeiro Turno,
e principalmente os Eleitores dos Estados que fizeram a “Tríplice Coroa”,
dando Maioria a LULA e elegendo Senador e Governador, quais sejam:
Ceará, Maranhão, Pará e Piauí.
Cabe também Menção à Reeleição Inquestionável da Governadora Fátima
no Querido Estado do Rio Grande do Norte.
Zé Maria
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Ainda no Nordeste, destacamos os Irmãos Pernambucanos que elegeram
a Candidata do PT Teresa Leitão que representará o Estado de Pernambuco
no Senado Federal.
Assim como a Candidata ao Governo Marília Arraes, que conquistou o 1º Lugar
no Primeiro Turno no Estado Pernambucano, merecerá com certeza o Apoio
do Presidente LULA e e de toda a “Coligação Brasil da Esperança”, para termos mais uma Mulher Guerreira da Esquerda num Cargo Executivo Estadual.
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Cumpre mencionar também o Ótimo Desempenho do Senador Sergipano
Rogério Carvalho (PT) que conquistou a Primeira Colocação no Primeiro Turno
ao Governo do Estado de Sergipe, onde buscaremos a Vitória no Segundo Turno
com Afinco.
Com a Conquista de Rogério Carvalho no Segundo Turno em Sergipe teremos, assim, mais um Governador Petista no Brasil.
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Igualmente na Bahia, o Brilhante Resultado do Candidato a Governador pelo PT
Jerônimo Rodrigues, que por apenas 0,15% não venceu o Pleito no 1º Turno superando todas as Expectativas,
Certamente os Baianos ratificarão a Vitória de Jerônimo com o 13 no 2º Turno, juntamente com o ex-Presidente LULA.
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A Região Nordeste continuará sendo o Baluarte Antifascista do Brasil.
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