No estádio Jalisco, um brinde a Pelé, Tostão e companhia

Tempo de leitura: 3 min

Diário de Guadalajara (3)

por Luiz Carlos Azenha

Ontem à noite fomos ao estado Jalisco. Atlas, um dos times de Guadalajara, 2, Tijuana 2.

O time local marcou primeiro, tomou a virada mas empatou no fim, em um pênalti inventado pelo juiz.

Jogo muito ruim, disputado entre duas equipes que correm o risco de cair.

Mas valeu muitíssimo.

Em 1970, em Bauru, menino, vi esse estádio pela primeira vez. Pela TV. Foi na Copa do Mundo, com aquele espetacular time brasileiro.

Já contei anteriormente que meu pai, o seo José, era militante comunista. Ele sabia que a ditadura usava o futebol para animar o povo brasileiro, que enfrentava tremendo arrocho salarial — promover o arrocho tinha sido um dos objetivos do golpe de 64, garantindo aos empresários mão-de-obra farta e barata.

Porém, a seleção brasileira jogou tanto na Copa que todos torcemos por ela, inclusive meu pai.

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Nossa TV, uma Rebratel, se não me engano, pifou durante o campeonato. Recorremos ao famoso televizinho, que era comum numa época em que nem todos tinham TV em casa, ainda mais a colorida (a Copa de 70 foi a primeira a ser transmitida em cores).

Talvez por isso o campeonato tenha sido tão marcante. Decoramos todos a escalação do time (Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Tostão; Jairzinho, Pelé e Rivelino).

E vibrávamos com cada um dos gols, correndo para a rua para ouvir o pipocar dos rojões. Eventualmente, comprávamos nossas próprias bombinhas de 10 (centavos) ou traques (as bombinhas de vinte, diziam nossas mães, poderiam decepar nossos dedos, mas eu acho que elas queriam mesmo é economizar).

Os jogos eram seguidos por refeições de luxo, regadas com a água negra do imperialismo (Coca-Cola) ou, no aperto financeiro, com a famosa Tubaína, também conhecida como Taubaína ou Guaraná maça.

O Brasil fez gols inacreditáveis naquele campeonato.

Três marcados no primeiro jogo, contra a Thecoslováquia (era assim que escrevíamos então) foram particularmente bonitos.

Dois sairam de longos lançamentos de Gerson.

No primeiro, genial, Pelé matou no peito, deu um tempo para o goleiro sair e encheu o pé.

No seguinte, foi a vez de Jairzinho matar, dar um lençol no goleiro e estufar as redes.

Mais adiante, o próprio Jairzinho driblou três zagueiros e completou o placar: 4 a 1.

Mas o jogo ficou conhecido mesmo pelo não-gol de Pelé: ele notou o goleiro Victor adiantado e chutou do círculo central. Perdeu por pouco.

No mesmo estádio, na vitória de 3 a 1 sobre o Uruguai na semifinal, depois de um passe maravilhoso de Tostão, Pelé fez outra jogada genial: o mais bonito gol perdido na história.

Confiram os lances nos vídeos abaixo.

Ontem, no Jalisco, tivemos sorte de sentar bem perto de um mexicano que estava no estádio durante os jogos da Copa de 70 (o Brasil só saiu de Guadalajara para jogar a final no estádio Azteca, na Cidade do México).

E ele rememorou cada lance, mostrando as posições em campo das jogadas geniais.

No México, a venda de cerveja é liberada nos estádios, mas a de tequila, não.

Porém, o filho de Julio, o mexicano que refrescou nossa memória, trouxe ao estádio um binóculo, melhor dizendo, um falso binóculo, cujas lentes escondiam um mini-depósito de tequila.

O jovem depositou o conteúdo num copo de papel e todos nós fizemos um brinde em memória daquele timaço. O aconchegante estádio Jalisco deveria ser tombado como patrimônio histórico brasileiro.

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Comentários

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Gerson Carneiro

Azenhão tá um gato nesse jalecão amarelo.
E essa barba, é pra provocar?

Fabio

TV colorida naquela época era papel celofane com 3 faixas( azul, vermelho e verde) grudado na tv com "durex".
Colorida só na copa de 74

GilTeixeira

Tinha 13 anos e é a única seleção que ainda sei de cor e salteado a escalação. No jogo contra a Inglaterra fiquei afonico de tanto gritar. A minha TV era uma Pedricta. e minha mãe também não deixava a gente comprar os traques de 20 pela mesma razão. hehehe! E se o time do Parreira ou do Felipão enfrentasse aquele de 70 tomariam um chocolate homérico! Só a seleção de 82 se rivaliza com a quela embora não tenha levado o caneco era lindo de assistir! Também voto pelo tombamento do estádio.

Cezarley

Gente, isso que é futebol!!! E pensar que eu só tinha quatro anos e nem sabia o que era futebol. Que pena!! Mas, saudoso pai (MDBista fanático (portanto oposição ao militarismo)) diz que foi uma loucura. E pensar que ele sofreu na política, mas se alegrou no futebol, que paradoxo incrível e memoriável!!!

Gerson Carneiro

Nessa época eu ainda não era gente mas, advinhem porquê me chamo "Gerson"?

E já que é para exaltar os gigantes, eu adorei o comercial da Johnnie Walker. De arrepiar, deu até vontade de tomar uma pinga.

[youtube RTtcNP7lmUo&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=RTtcNP7lmUo&feature=related youtube]

Lapada no PIG:

"No início dos tempos, na parte sul das Américas, habitava um gigante. Um dos poucos que andavam sobre a Terra.

Gigante pela própria natureza, e sendo natureza ele próprio, era feito de rochas, terra e matas, que moldavam sua figura. Pássaros e bichos pousavam e viviam em seu corpo e rios corriam em suas veias. Era como um imenso pedaço de paisagem que andava e tinha vontade própria.

Caminhava com passadas vastas como vales e tinha a estatura de montanhas sobrepostas. Ao norte, em seu caminho, encontrava sol quente e brilhante nas quatro estações do ano. Ao sul, planaltos infindáveis. A oeste, planícies e terras cheias de diversidade. E a leste, quilômetros e quilômetros de praias onde o mar tocava a terra gentilmente, desde sempre. Havia também uma floresta como nenhuma outra no planeta. Tão grande, verde e viva que funcionava como o pulmão de todo o continente à sua volta.

Mesmo diante de tudo isso, um dia, enquanto caminhava, o gigante se inquietou.

Parou então à beira-mar e ali, entre as águas quentes do Atlântico e uma porção de terra que subia em morros, deitou-se. E, deitado nesse berço esplêndido, olhou para o céu azul acima se perguntando: "O que me faz gigante?".

Em seguida, imaginando respostas, caiu em sono profundo.

Por eras, que para os gigantes são horas, ele dormiu. Seu corpo gigantesco estirado, o joelho dobrado formando um grande monte, uma rocha imensa denunciando seu torso titânico e a cabeça indizível, coberta de árvores e limo.

Dormiu até se tornar lenda no mundo. Uma lenda que dizia que o futuro pertencia ao gigante, mas que ele nunca acordaria e que o futuro seria para ele sempre isso: futuro.

No entanto, com o passar do tempo ficou claro que nem mesmo as lendas devem dizer "nunca".
Depois de muito sonhar com a pergunta sobre si, o gigante finalmente despertou com a resposta.
Acordou, ergueu-se sobre a terra da qual era parte e ficou de frente para o horizonte.

Tirou então um dos pés do chão e, adentrando o mar, deu um primeiro passo.

Um passo decidido em direção ao mundo lá fora para encontrar seu destino.

Agora sabendo que o que o faz um gigante não é seu tamanho, mas o tamanho dos passos que dá.
®KEEP WALKING, BRAZIL."

    EUNAOSABIA

    Fantástico.

    Marcio H Silva

    Gerson, legal também é o post do fernando Brito no Tijolaço a respeito deste comercial. De uma olhada.

    O link é este: http://www.tijolaco.com/nao-tem-uisque-gratis/

Wagner Borja

A Copa de 70 foi a primeira transmitida ao vivo via satélite, mas só em 74 tivemos transmissões a cores de uma copa para o Brasil.

Roberto CR

Futebol com inteligência. E, como sempre, tuda manifestação inteligente é bela por si só.
Artigo extinto aqui pelas plagas tupiniquins, aonde não se sabe mais marcar gols fora da grande área.
E me poupem do discurso de que o futebol era diferente naquele tempo.
Aliás, era diferente mesmo: primeiro você mostrava que sabia jogar, depois, se desse, entrava no time. Atualmente deve-se criar uma dancinha para a camera primeiro, guardar o cérebro no vestiário e, se der tempo, tentar mostar algum futebol, se houver.

Renato

Aquele time hoje jogria na terceira divisão do brasileiro. Perderia de 10 a 0 para o time do Felipão e do Parreira.

    Euripedes Ribeiro

    Os jogadores daquele time, hoje, na idade que estão, colocariam na roda, sem correr, apenas com a categoria, qualquer time de trogloditas que acham que jogam futebol hoje.

    EUNAOSABIA

    Ei velho na boa… aquele time foi a maior seleção da história de todas as copas até hoje…… deve ter sido a copa de mais alto nível já disputada….

    Só a título de curiosidade, as letras "CCCP", na camisa do time da antiga URSS, foi implantada durante a Copa de 58, e significava, "Camaradas Cuidado Com o Pelé"… de lá pra cá foi mantido até hoje.

    francisco p.neto

    Você já leu seu nome de trás para frente?
    É o que vc é.

Werner_Piana

Só lembrando, a Copa de 70 foi a primeira transmitida via satélite e a de 1974 – pelo menos no Brasil – a primeira em cores… tá aproveitando em LC? Boas transmissões aí do PAN.

E quando teremos a RecordNews na SKY e na NET – mesmo que seja só em SD?
Essa é a pergunta que não quer calar…

    wagner

    Isso mesmo. A tv a cores só chegou ao Brasil em 1972

Werner_Piana

Só lembrando, a Copa de 70 foi a primeira transmitida via satélite e a de 1974 – pelo menos no Brasil – a primeira em cores… tá aproveitando em LC? Boas transmissões aí do PAN.

Marcio H Silva

Esta seleção me fascina. Lembro de todos os jogos. lembro e de muitos lances marcantes.
Copa com 16 times, com 4 times em 4 chaves. O time do Brasil ficou no grupo 3, o mais difícil, junto com os Tchecos, ingleses e Romenos. Foi quando criaram o termo "grupo da morte".
4×1 contra os tchecos, 1×0 contra os ingleses e 3×2 contra os romenos. Para mim o jogo mais difícil desta fase foi contra a Romenia. Um 3×2 suado.
4×2 contra o peru, 3×1 contra o uruguai e na final 4×1 contra a azurra.
Nesta copa pelé fez gol de falta, de cabeça, driblando e servindo, só não fez de penalty porque não teve nenhum penalty nos jogos do Brasil.
Esta seleção fez 19 gols em seis jogos, sofreu 7, media de 3,2 gols por partida. Quebrou um tabu na época, na final contra a itália, marcou primeiro e foi campeão. Juca chaves ficou rico na itália. Jairzinho marcou pelo menos um gol em todos os seis jogos. Fez sete, mas o artilheiro foi muller da alemanha com 10 gols. Pelé ganhou a bola de Ouro e Carlos A. torres a de bronze. Jairzinho ganhou a chuteira de prata.
Nesta copa foi utilizado pela primeira vez os cartões amarelo e vermelho. Isto porque na copa de 66 houve briga e desentendimento no jogo argentina x inglaterra com o jogador argentino Ratin.
Inesquecíivel esta copa.

Marcio H Silva

Melhor copa que assisti numa TV P/B da marca emerson valvulada.
Tem um lance de pelé no jogo contra o uruguai. O goleiro Mazurkievskii, disputou com Banks da inglaterra, o titulo de melhor goleiro desta copa, ao bater um tiro de meta a bola saiu a meia altura na direção do rei, que num sem pulo bateu de primeira para o gol e este goleiraço agarrou.
Para mim, o melhor 1X0 de todos os tempos foi no jogo contra a inglaterra, então campeã mundial. Tostão, cego de um olho, passou a bola por baixo da perna de Bob Moore, considerado um dos melhores cabeças de área do mundo naquela época, deu um drible de corpo virou e cruzou para a área os pés de pelé. Pelé ia chutar, mas jairzinho gritou e o negão rolou a bola para a diraita. Jairzinho veio correndo e mandou uma bomba para dentro do gol. Banks posteriormente em entrevista declarou que só viu o vulto da bola.
Tem muitas estórias e fatos desta copa inesquecíveis.

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