Jeferson Miola: Na crise da Ucrânia, a mídia hegemônica é mera repetidora dos mantras russofóbicos fabricados por Washington

Tempo de leitura: 2 min
Ilustração: Lori Lipton/Reprodução

A russofobia da mídia hegemônica na crise da Ucrânia

Por Jeferson Miola, em seu blog

“Na guerra, a primeira vítima é a verdade”.
Autoria desconhecida

A cobertura que a mídia hegemônica faz da crise na Ucrânia é alarmantemente viciada, além de claramente racista e preconceituosa.

Os meios de comunicação em todo mundo são meros repetidores dos mantras russofóbicos fabricados em Washington para instrumentalizar a guerrilha geopolítica e ideológica das “forças do bem”, a civilização ocidental, contra a “força do mal” – os russos, caucasianos e eurasiáticos.

Em geral, a mídia não só é subserviente ao “release único” escrito em Washington, como também é indigente e desonesta. Além de omitir aspectos étnicos, históricos e culturais dos povos eslavos, também mente, estigmatiza Putin e falsifica a história.

Na reprodução do noticiário e através de comentaristas vulgares, despreparados ou mal-intencionados, a mídia hegemônica segue omitindo, por exemplo, os antecedentes históricos da crise atual, que se localizam na farsesca revolução Maidan, que desembocou no golpe financiado pelos EUA para derrubar o governo pró-russo de Viktor Yanukovytch, em 2014.

A mídia continua escondendo, também, que a Ucrânia descumpriu o

, assinado por representantes reconhecidos das repúblicas independentes de Donetsk e Luhansk e o governo ucraniano com a fiança institucional da própria União Europeia [aqui e aqui].

E os meios de comunicação a serviço de Washington continuam omitindo o perfil neonazista do presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky e dos agrupamentos de ultradireita extremista que apoiam o governo.

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É cada vez mais conhecida a conexão entre a ultradireita neonazista ucraniana e os grupos fascistas e neonazistas no mundo e, também, com o bolsonarismo – Sara Winter e “Os 300 do Brasil”. Mas, inclusive isso também é sonegado.

Os EUA exercem sua primazia e hegemonia informacional e comunicacional no mundo por meio do pensamento único deste jornalismo de guerra. Um jornalismo sem compromisso com a verdade factual e histórica.

Nas últimas semanas, houve a escalada desta guerra informacional para criminalizar e demonizar o presidente russo Vladimir Putin e incensar o papel dos EUA e da OTAN.

Neste jornalismo de guerra, todos os veículos hegemônicos no Brasil – absolutamente todos, é preciso sublinhar – repetiram como papagaios o viés de análise de Washington. Não ficou de fora nem mesmo um único veículo de nenhum meio de transmissão – nas rádios, TVs, redes sociais e portais da internet.

Somente os portais da mídia independente estão desde o início da crise reportando os acontecimentos desde uma perspectiva abrangente e aberta. Não fossem estes veículos contra-hegemônicos de informação e comunicação, a população brasileira seria totalmente entorpecida com o pensamento único russofóbico.

Em semanas de crise, pela primeira vez apareceu em um veículo da mídia hegemônica uma abordagem dissonante do pensamento único.

Aconteceu só agora, nesta sexta-feira, 25/2. O portal UOL publicou entrevista em que o analista político estadunidense Andrew Korybko afirma que “o Brasil e a Ucrânia foram ambos vitimados pelas guerras híbridas dirigidas pelos Estados Unidos com o objetivo de fortalecer a hegemonia unipolar norte-americana”.

Da mesma maneira que a Ucrânia rapidamente deverá assinar a rendição a Moscou, a mídia hegemônica se verá obrigada a se render às exigências de um jornalismo plural e honesto, se quiser sobreviver no mundo multipolar que começa nascer.

Caso contrário, será enterrada junto com os escombros da ordem unipolar e imperial que está morrendo.

Leia também:

Jeferson Miola: Putin age como Pedro, o Grande, Lênin e Biden agiriam

Celso Amorim: A expansão da Otan é um absurdo, mas a operação militar da Rússia é “erro”; vídeo

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Comentários

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Lucas Amora

É uma guerra que já nasce perdida para os EUA.
Nunca dará certo por mísseis no quintal de países que circundam a Rússia apontados para Moscou. E basicamente é isso que os EUA tentaram fazer com a Otan. A intenção era “sitiar” a Rússia. Cerca-la. A Otan quer influenciar os países que cercam a Rússia. Tipo fazer um círculo em volta da Rússia ou semicírculo.
Claro que não ia dar certo.
Se preparem pq o combustível deve subir bastante aqui.
Aliás, a política PPI da Petrobrás vai jogar a inflação acima da meta esse ano de novo mesmo com o dólar caindo atualmente. Cai o dólar, mas o preço da gasolina e diesel quase nunca volta para trás na bomba. Nunca baixa. Ou seja, os alimentos continuarão a subir bastante.
Guerra sempre é ruim e é pior ainda pq tudo isso foi provocado pelos EUA. Tudo isso poderia ser evitado.
Acho que o Biden dá várias derrapadas.
A mídia monopoliza a opinião pública a favor dos americanos. A mídia tradicional tbm é usada como arma de guerra. Propaganda de guerra.
Ninguém pode saber que foi os EUA que bateu primeiro. O objetivo da mídia é fazer parecer que os culpados são os russos.

Lucas Amora

É uma guerra que já nasce perdida para os EUA.
Nunca dará certo por mísseis no solo de países que circundam a Rússia apontados para Moscou. E basicamente é isso que os EUA tentaram fazer com a Otan. A intenção era “sitiar” a Rússia. Cerca-la. A Otan quer influenciar os países que cercam a Rússia.
Claro que não ia dar certo.
Se preparem pq o combustível deve subir bastante.
Aliás, a política PPI da Petrobrás vai jogar a inflação acima da meta esse ano de novo mesmo com o dólar caindo atualmente. Cai o dólar, mas o preço da gasolina e diesel quase nunca volta para trás. Nunca baixa.

Antonio de Azevedo

Excelente reflexão!!! A hegemonia é tema fundamental para entender os absurdos que estão sendo divulgados nessa guerra.

“Hegemonia cultural é um conceito formulado por Antonio Gramsci para descrever o tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado, o que se manifesta, por exemplo, quando os interesses da alta burguesia de um país são identificados aos interesses de toda a sociedade do país ou quando a historiografia se concentra apenas em grupos ou indivíduos de elite.

Segundo Gramsci, quase nunca é possível o domínio bruto de uma classe sobre as demais, a não ser nas ditaduras abertas e terroristas. Para o pensador sardo, correlacionar poder e classes sociais é, certamente, um imperativo de método, mas uma classe dominante, para ser também dirigente, deve articular em torno de si um bloco de alianças e obter, pelo menos, o consenso passivo das classes e camadas dirigidas. Para tanto, a classe dominante não hesita em sacrificar uma parte dos seus interesses materiais imediatos, superando o horizonte corporativo, de modo a propiciar, exatamente, a construção de uma hegemonia ético-política.”

Parabéns pelo texto!!!

Henrique martins

O líder da Ucrânia mandou civis fazerem coquetéis molotovs para enfrentar os russos e simplesmente fugiu de Kiev.
Ou seja, covarde que é ele mesmo não ficou lá para jogar coquetéis molotovs nos russos e mandou a população civil para o suicídio.
Ele e seu governo se aliaram aos EUA para ameaçar a Rússia e agora quem está pagando o preço é a população ucraniana.
Infelizmente, cada país tem o governo que merece. A população ucraniana está sofrendo por ter eleito um humorista neonazista para governar a nação e por estar mantendo o mesmo no poder. Lamentável.
Não adianta criticar Putin. A Rússia é composta de milhões de russos, não se restringe a um único homem e o território deles está sendo ameaçado sim.

José Espare

Muito bem levantada a questão por Jeferson Miola. Mas, precisamos reconhecer que isto não está acontecendo tão somente com a mídia corporativa. Nos meios considerados progressistas também podemos encontrar vários casos de jornalistas que são fundamentalmente anti-russos, muito mais do que anti-nazistas, por exemplo. Basta que a gente dê uma olhadinha em 247 para ver que ali também existem vários jornalistas autodeclarados de esquerda, mas que se caracterizam mesmo é como russófobos. Podemos mencionar alguns deles: Alex Solnik, Cynara Menezes, Milton Blay, Paulo Moreira Leite, etc. Claro, é diferente do que ocorre na mídia corporativa, pois ali também aparecem exemplos de gente que não se deixou levar pela cegueira antirussa e sabe que o grande perigo do nazismo vem da OTAN e de seus operadores no atual governo ucraniano.

    Gilmar Antunes

    Os jornalistas do Brasil 247, em sua maioria, a meu ver, estão preocupados em ser neutros, para darem a entender que praticam um jornalismo independentes.
    Defender intervenção militar em um país não é algo que se faz a qualquer preço.
    O importante é mostrar as razões dos dois lados do conflito.
    Isto eles vêm fazendo ao mostrar o alinhamento subserviente da mídia hegemônica.
    A Rússia, no meu entender, tem mais razão nessa história, ao interferir militarmente num país dominado por supremacistas de ultra direita apoiados pela maior potência bélica e econômica do mundo, junto com dirigentes lacaios da União Europeia.
    Mas, como numa guerra, a primeira vítima é a verdade, vai ser muito difícil a Rússia convencer o mundo unipolar de suas razões para invadir militarmente a Ucrânia.

Zé Maria

26/02/2022
Observador.pt
Ana Kotowicz
Há 45min

Rússia diz ter abatido “821 objetos da infraestrutura militar da Ucrânia”
O balanço é do Ministério da Defesa da Federação Russa e é citado pela imprensa do país.

Para além de anunciar a captura da cidade de Melitopol e das aldeias de Bakhmutovka e Grechishkino, os russos dizem ter abatido “821 objetos da infraestrutura militar da Ucrânia”.

Segundo o representante do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, foram atingidos, entre outros, 14 aeródromos militares, 19 postos de comando e centros de comunicação, 24 sistemas de mísseis antiaéreos S-300 e Osa e 48 estações de radar.

Terão sido abatidos sete aviões, sete helicópteros e nove veículos aéreos não tripulados, além de 87 tanques e outros veículos de combate blindados.

Zé Maria

.
“Da Censura à Queima de Livros:
as Campanhas que avançam nos EUA para evitar que nas Escolas se leia sobre Racismo, Sexualidade e Diversidade”
[E o problema é a Rússia]
.
“De la censura a la quema de libros:
las campañas que avanzan en EE. UU. para evitar que en las escuelas se lea sobre racismo, sexualidad y diversidad”

“En el ‘país de la libertad’ queman y prohíben libros.
Sí, en pleno siglo 21.”

“Por más desolador que parezca este exitoso ataque a la cultura y a la libertad de expresión, en realidad no sorprende.
Basta con conocer la historia de un país que sigue alardeando que es el mejor del mundo pero que suele esconder la pobreza, el clasismo, la desigualdad, el racismo, la xenofobia y la discriminación, que son estructurales en su sociedad.”

Cecilia González, de RT en español

https://actualidad.rt.com/opinion/cecilia-gonzalez/420852-campanas-censura-eeuu-racismo-sexualidad-diversidad

Lúcido da Silva

É um jornalismo ruim a serviço do patrão.
Logo logo estarão noticiando as primaveras da esposa dos políticos e de suas filhas ou pior as primaveras das mulheres do patrão. Como fazem na esfera municipal.
A Ucrânia virou a bucha do canhão.
Por mais que os políticos da Ucrânia queiram ser espelhos para a “população” “tropa” eles não vão de fato combater na guerra. Quem vai e o povo e sobretudo os pobres.
Só os loucos gostam da guerra. Ninguém quer isso em sã consciência.
A crise dos mísseis em 62 em Cuba é bem parecida com essa crise agora. Bastava ver a história para saber que isso não daria certo.
O biden tá gaga.
Qual a precisão disso ?
Ele vai sair bem enfraquecido disso. A Otan nem vai mandar tropas para a Ucrânia. Terão os ucranianos que lutar sozinhos.
Mourão tome juízo homem. O EB não quer ir para lá não.
Entre usar o fuzil e a diplomacia é melhor ficar com a segunda e evitar a guerra a todo custo.

Henrique martins

Vem cá.
A Ucrânia é aquela nação que está servindo de bucha de canhão dos EUA para ameaçar os russos nas barbas das suas fronteiras insistindo em fazer parte da OTAN?
E o russos são aquele povo que deu o cheque mate na primeira e na segunda guerra mundial derrotando Napoleão Bonaparte e Hitler?

Hah sim. Estou entendendo!!

Zé Maria

Excerto

É cada vez mais conhecida a conexão entre a ultradireita neonazista ucraniana
e os grupos fascistas e neonazistas no mundo e, também, com o bolsonarismo
– Sara Winter e “Os 300 do Brasil”. Mas, inclusive isso também é sonegado.
.
.
“.Está na hora de Ucrânizar o Brasil!
Quem sabe o que foi feito por lá, entenderá.”
#EuApoioBolsonaro
11:58 AM · 28 de abr de 2020 [Twitter]
Deputado Daniel Silveira (PSL-RJ)
Cabo da PM do Rio de Janeiro

https://ichef.bbci.co.uk/news/800/cpsprodpb/2E61/production/_112637811_csm_bandeiraneonazi_144590c00e.jpg

“Por que a Ucrânia, onde Sara Winter diz ter sido treinada, fascina bolsonaristas?”

Presa na manhã desta segunda-feira (15/06), a militante bolsonarista Sara Winter
já disse, com orgulho, ter sido “treinada na Ucrânia”.

Apesar de nunca ter deixado claro quando este treinamento teria ocorrido,
ou por quem teria sido instruída, a ativista estava ecoando um tema
que aparece frequentemente em discursos e postagens de rede social
da militância favorável ao presidente Jair Bolsonaro: o fascínio pela Ucrânia
e até por grupos extremistas do país do leste europeu.

Em redes sociais e discursos feitos durante protestos, Winter e outros ativistas
da [extrema-]direita brasileira falavam em “ucranizar o Brasil” e a bandeira
ucraniana foi adotada como “adereço” ao lado dos nomes de usuários
em plataformas como o Twitter.

Mas, afinal, como a Ucrânia se tornou esse objeto de fascínio para o bolsonarismo?

[ Reportagem: Letícia Mori | BBC News Brasil em São Paulo | 15 junho 2020 ]

A Ucrânia é um vasto país do leste europeu, com uma grande fronteira
com a Rússia e uma relação histórica conturbada com o vizinho.
Russos e ucranianos eram um povo só até o século 9, explica o professor
de história da USP Angelo Segrillo, especialista em história da Rússia.
Ao longo dos séculos, a região da Ucrânia ficou retalhada entre diversos impérios:
foi dominada inclusive pelo Império Russo, e no século 20 fez parte da União Soviética [URSS].

“A Ucrânia se tornou um Estado independente nos anos 1992,
com o fim da URSS”, explica Segrilo.

Na história recente, o país foi palco de violentos confrontos em 2014,
primeiro entre nacionalistas [neonazifascistas] e o governo pró-Rússia,
e depois entre separatistas e um novo governo nacionalista [neofascista].

As desavenças internas começaram em dezembro de 2013,
com intensas manifestações pelo país quando o então presidente,
Viktor Yanukovych, sob pressão do presidente russo anunciou
que não assinaria um acordo com a União Europeia que poderia,
no futuro, levar à entrada do país no bloco.

Os manifestantes pró-Europa [e pró-OTAN] chegaram a ocupar prédios
do governo e entrar em confrontos com forças de segurança,
com um saldo de dezenas de mortos e milhares de feridos.
Em meio ao clima de insurgência pelo país, o presidente ucraniano
foi derrubado. O Parlamento votou por uma eleição adiantada,
e o candidato pró-europa [e pró-OTAN] Petro Poroshenko venceu
em primeiro turno.

“Houve um processo de ruptura com o sistema político nacional”,
explica Odilon Caldeira Neto, professor de história contemporânea
da Universidade Federal de Juiz de Fora.
“Esse momento de insurgência e instabilidade do país potencializou
a organização e o fortalecimento de grupos de extrema-direita
nacionalista [neonazifascista]”, explica Caldeira.

“Ucranizar o Brasil”

Mas o que isso tudo tem a ver com o Brasil?
E porque falar da Ucrânia, quando grupos nacionalistas [neonazifascistas]
estão ganhando força em diversos lugares do mundo?

Segundo Caldeira Neto, que também é membro do Observatório
da Extrema Direita‏, a Ucrânia é tomada como exemplo pela direita brasileira
pela forma como a extrema-direita conseguiu se organizar e agir no país.

“Há dois entendimentos possíveis, um mais amplo, que faz referência
a esse momento de ruptura com o status quo político”, diz Caldeira Neto.
“Há outras leituras mais particulares, mais associadas aos grupos neofacistas,
cuja referência não está necessariamente nessa ruptura, mas em um desejo
de reprodução de ideias, táticas e estratégias usadas no país europeu.”

“É uma dinâmica de buscar experiências que deram certo
para a [extrema-]direita fora do Brasil, e o caso da Ucrânia
teve um impacto midiático muito forte”, diz ele.

Além dos ativistas, o discurso também chegou
a bolsonaristas no Congresso, como o deputado
federal Daniel Silveira (PSL-RJ).

Embora figuras como Silveira falem de forma enigmática
quando fazem referência ao assunto em redes sociais,
a ligação da frase com os episódios de 2014 na Ucrânia
é abertamente explicado em blogs, podcasts e
grupos bolsonaristas.

Quando fala em “ucranizar o Brasil”, a direita brasileira
está fazendo referência direta aos episódios em que
grupos armados invadiram prédios do governo
no país europeu.

“Há vários exemplos de ações de desobediência civil
nos últimos cem anos, mas talvez o mais interessante
de comparar com nossa situação seja o protesto do
povo ucraniano nos 93 dias do inverno entre 2013 e 2014
que ficou conhecido como Euromaidan e levou à
renúncia do presidente Viktor Yanukovych”,
diz um texto com o título “O Dever de Ucranizar”,
no site de [extrema-]direita Vida Destra,
do advogado Fábio Talhari.

https://ichef.bbci.co.uk/news/800/cpsprodpb/4726/production/_112241281_355223a4-0a7a-4782-bf11-4b65d51917c1.jpg

Antes de se tornar bolsonarista, Sara fez parte por alguns meses
do grupo feminista Femen, de origem ucraniana, do qual também
foi expulsa, segundo disse na época uma das dirigentes do movimento,
Alexandra Shevchenko.
Na época, ela foi presa mais de 20 vezes e viajou sozinha para a Ucrânia.

Mas Sara Winter não é a única militante de direita radical brasileira
ligada a nacionalistas [neonazifascistas] ucranianos.

Uma investigação da polícia civil do Rio Grande do Sul iniciada em 2017 encontrou laços entre grupos radicais brasileiros e extremistas ucranianos.

A investigação descobriu que brasileiros estavam sendo recrutados para lutar
contra rebeldes pró-Rússia na Ucrânia — se de fato os extremistas brasileiros
chegaram a adquirir experiência de combate no exterior, no entanto, não é claro.

O delegado Paulo César Jardim diz à BBC News Brasil que não pode dar
mais informações sobre a investigação, que continua em andamento.

Nostalgia nazista
Um dos fatores que causa mais polêmica [repulsa] envolvendo as referências
à Ucrânia é justamente o fato de que muitas delas são vistas como associadas
ao neonazismo, segundo Caldeira e a antropóloga Adriana Dias,
uma das principais especialistas em neonazismo do Brasil.

Um exemplo é o caso de uma bandeira que apareceu em diversos
dos protestos a favor do presidente Bolsonaro em São Paulo.

A presença de uma bandeira vermelho e negra com um brasão em forma
de tridente, símbolo tradicional da Ucrânia, chamou atenção por ser associada
a a grupos extremistas do país europeu.

A bandeira é associada ao partido e grupo paramilitar de extrema-direita
Pravy Sektor [SIC], ultranacionalista [neonazifascista].

Os relatos sobre o símbolo na imprensa levaram a Embaixada da Ucrânia
a emitir nota dizendo que “para milhões de ucranianos… a bandeira rubro-negra
simboliza a nossa terra e o sangue de nossos heróis derramado por Liberdade,
Independência e Soberania da Ucrânia”.

A representação ucraniana enfatiza que seu uso “não tem nada a ver
com o movimento neonazista”.

Ainda segundo a Embaixada, “a bandeira histórica e o brasão da Ucrânia”
foram usados desde o século 16 “por cossacos ucranianos nas lutas
contra invasores estrangeiros, e por isso, durante o século passado e no começo
do século 21, virou o símbolo de luta dos ucranianos contra ocupação,
chovinismo e imperialismo russos”.

Estudiosos de ideologias de extrema direita, no entanto, explicam
que, embora sejam símbolos nacionais na origem, eles foram apropriados
por grupos neonazistas e têm hoje esse significado internacionalmente.
“[Os diplomas ucranianos] Podem negar, mas isso não muda a simbologia.
É um absurdo achar que esse símbolo seja neutro”, diz Adriana Dias.

“O uso disso por brasileiros é para ser visto com grande preocupação.”

Segrillo explica que durante a Segunda Guerra Mundial houve um movimento
de um grupo ucraniano que, para se libertar da União Soviética,
se aliou ao nazismo.
E é esse grupo que é lembrado com nostalgia hoje por grupos ultranacionalistas
[neonazifascistas], diz Adriana Dias.

“O Pravy Sektor, especificamente, mas na Ucrânia em geral hoje, está havendo
uma relembrança das pessoas que lutaram ao lado de Hitler, portanto contra
os judeus, negros e gays, por uma superioridade étnica”, explica Adriana Dias.

“Hitler, quando tomou a Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial,
viu que podia contar com certas forças nacionalistas na Ucrânia.” [SIC]

Esses grupos colaboracionistas que são relembrados com nostalgia pela extrema-direita ucraniana.
“É um tipo de nacionalismo que esteve muito presente no fascismo, no nazismo,
no franquismo, baseado nesse ideário de uma ‘grande nação’.”

“Embora a cooperação internacional de grupos nacionalistas [neonazifascistas]
não seja ampla, até por conta de sua natureza, a circulação dessas ideias
acontece internacionalmente”, explica Caldeira Neto.

“São ideias políticas que circulam, os intelectuais leem as obras uns dos outros
e tentam adaptar as ideias, as táticas e estratégias para o Brasil”, explica.

Ao importar esse símbolo para o Brasil, diz a antropóloga Adriana Dias,
grupos de direita nacionais querem trazer a ideia de que há um só Brasil
a ser construído, um só povo brasileiro.

“Estão tentando recriar esse modelo nacionalista” [neonazifascista], diz ela,
“e veem com admiração a experiência recente da direita ucraniana
nesse sentido”.

Esse ideal de uma só nação, afirma Dias, “é uma negação de toda etnicidade
brasileira, quando na verdade nossa riqueza está na nossa diversidade”, diz ela.

Dias cita como exemplo a fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub,
em uma reunião ministerial, onde ele falou que “odeia a expressão
“povos indígenas” e “quilombolas”, pois ‘todos são povo brasileiro’.

Dias afirma que no Brasil, especificamente, há uma tendência de grupos
se importarem com neonazismo de outros lugares.

“Nos Estados Unidos você não vê muitos grupos de nacionalismo [neonazifascista]
de outros lugares.
Você não vê nazismo dos Estados Unidos na Rússia.
Mas alguns lugares, como o Brasil e na América Latina em geral,
importam símbolos neonazistas”, diz ela.

“[Os neonazifascistas do Brasil] importam símbolos de neonazismo russo, ucraniano, estadunidense, espanhol, inglês…
Eu costumo brincar que até o neonazismo brasileiro é miscigenado”, diz ela.

Símbolos [nazistas] e negação
Um dos militantes [bolsonaristas] que levaram o símbolo aos protestos [no Brasil],
por exemplo, disse ao jornal Folha de S.Paulo que não tinha “nada de nazista”
no símbolo.

“É uma bandeira antiga, usada desde o século 16.
O preto simboliza a terra ucraniana, que é muito fértil,
e o vermelho é o sangue dos heróis.
Não tem nada de nazista”, disse Alex Silva ao jornal.
Silva diz morar no país Europeu desde 2014, onde trabalha
em uma academia de tiro e táticas militares.

Adriana Dias afirma que a apropriação de símbolos nacionais tradicionais
é comum em grupos de direita nacionalistas [neonazifascistas] — e faz
um paralelo entre o uso que a direita ucraniana faz de símbolos ucranianos
tradicionais e o uso da bandeira do Brasil pela direita brasileira.

“A direita no mundo tem feito isso, de usar os símbolos da nação
como se fossem dela”, diz.
“A ditadura militar já fazia isso.”

O uso de símbolos nazistas — e depois a negação da referência — já aconteceu
até dentro do governo brasileiro, lembra.

Em janeiro, o então secretário da Cultura, Roberto Alvim, fez um discurso
com as mesmas palavras de uma fala de Joseph Goebbels,
o ministro da Propaganda na Alemanha Nazista.
Depois Alvim negou a referência, que incluía som do compositor favorito
de Hitler ao fundo. Alvim acabou demitido e substituído por Regina Duarte,
que também deixou o cargo no mês passado.

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro citou nas redes sociais
uma frase do ditador fascista Benito Mussolini, chamando-o
de “o velho italiano”.

“O governo joga as referências ao vento, sai distribuindo símbolos
a torto e a direito, e depois basta que ele negue. Ele sempre nega.
Essa estrutura é uma estratégia da direita que é muito parecida
com a usada pelo Steve Bannon (ex-estrategista político de Trump)”,
afirma Dias.

“Você lê o livro do Bannon e ele fala que você tem que jogar muitos símbolos,
para confundir as pessoas, e depois negar tudo. E continuar criando
essa confusão para as pessoas não verem o que está acontecendo”, diz.

Íntegra: (https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52900757)
.
.
13/08/2020 16:25
Coluna Lauro Jardim

“Carla Zambelli se baseia em lei ucraniana
para tentar criminalizar o comunismo”

Por Athos Moura, n’O Globo

Carla Zambelli (PSL/SP) se baseou em uma lei ucraniana [*]
para propor um projeto de lei à Câmara,
para que o comunismo seja proibido no Brasil …

A proposta da deputada bolsonarista
é que aqueles que propagarem,
comercializaram, distribuírem
ou utilizarem símbolos comunistas
sejam presos por até dois anos.

Carla afirma em seu projeto que a inspiração
foi a lei ucraniana aprovada em 2015
e referendada no ano passado.

A deputada também afirma que o objetivo
do projeto “é reparar uma terrível injustiça histórica.
Enquanto no Brasil e alhures o regime nazista é execrado
o mesmo tratamento não é dado aos regimes comunistas”.

No projeto, ela cita outras duas propostas similares
que já foram sugeridas à Câmara.
Uma de Eduardo Bolsonaro (PSL/SP)
e outra de Julian Lemos (PSL/PB).
E não deixou de transparecer
sua subordinação à família presidencial.

Enquanto o filho de Jair Bolsonaro foi classificado como “admirável deputado”,
Lemos foi citado apenas como deputado mesmo.
.
[*] “Ucrânia proíbe partidos comunistas no país”

EFE, 24/07/2015

Kiev, 24 jul (EFE).- O governo da Ucrânia proibiu nesta sexta-feira [24/07/2015]
toda a atividade dos três partidos comunistas do país e sua participação
nos processos eleitorais, anunciou o chefe do Conselho de Segurança e Defesa
da Ucrânia, Alexander Turchinov.
“Hoje, o Ministério da Justiça emitiu uma ordem que priva o Partido Comunista da Ucrânia e outras duas formações comunistas de participar da vida política do país, inclusive dos processos eleitorais”, informou. Em entrevista coletiva em Kiev,
Turchinov acrescentou que o Ministério atuou “de acordo com uma lei aprovada
pela Rada Suprema (parlamento)” e que a proibição entra em vigor hoje mesmo.
“Este é um momento verdadeiramente histórico”, destacou Turchinov.

A decisão foi confirmada pelo ministro da Justiça, Pavel Petrenko, que detalhou
que a proibição afeta o Partido Comunista da Ucrânia, o Partido Comunista
(renovado) e o Partido Comunista dos Trabalhadores e Camponeses da Ucrânia.
[…]
No mesmo dia a Rada aprovou outra lei que legalizou todas as organizações
políticas e paramilitares que lutaram contra o regime soviético
durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive aquelas que colaboraram
com os ocupantes nazistas [SIC].
“O Estado reconhece que os lutadores pela independência no século XX
desempenharam um papel fundamental na restituição do Estado ucraniano,
proclamado em 24 de agosto de 1991”, segundo o texto do Legislativo.

De acordo com a lei, todos os monumentos que glorificam os líderes soviéticos, incluídas as estátuas de Lênin, devem ser desmontados.
As autoridades ucranianas também querem rebatizar cidades, ruas e entidades
cujos nomes tenham referências soviéticas.

A Rússia condenou essa lei, que equipara comunistas aos nazistas,
e hoje o líder do Partido Comunista russo, Gennady Zyuganov,
disse que a decisão do ministro da Justiça ucraniano é “puramente arbitrária
e uma vingança sobre seus adversários políticos”. EFE

Íntegra: (https://noticias.r7.com/internacional/ucrania-proibe-partidos-comunistas-no-pais-24072015)
.
.

Henrique martins

Os russos colocaram fim na primeira e na segunda guerra mundial. Venceram Napoleão e Hitler. Portanto, nãoo é inteligente ficar 8 anos cutucando eles não.

Zé Maria

É o Sistema de Contra-Informação do Big Báidi.

Henrique Martins

https://www.brasil247.com/mundo/zelensky-aparece-em-video-em-kiev-e-se-diz-disposto-a-defender-a-ucrania

Hah sim. Está tão disposto a defender a Ucrânia que simplesmente aceitou que os EUA a usassem como bucha de canhão.

Henrique Martins

https://www.brasil247.com/blog/do-mar-negro-ao-oriente-medio-nao-cutuque-o-urso-russo

É isso aí. Já fazem oito anos que eles estão cutucando os russos. Primeiro patrocinaram um golpe militar na Ucrânia e em seguida planejaram tomar de assalto a principal base militar deles no Mar Negro. Por causa disso, os russos tomaram a Criméia. Não satisfeitos passaram a armar a Ucrânia, a encheram de terroristas e neonazistas e querem colocá-la na OTAN para ficar ameaçando os russos em suas fronteiras. Não foi a toa que o humorista mor da Ucrânia falou em armas nucleares. A ideia é reativar a usina de Chernobyl. Então, a situação é essa e os russos não vão ceder um milímetro e A OTAN e os EUA/Inglaterra podem esquecer de um eventual apoio da China porque eles estão fazendo o mesmo com Taiwan para afrontar essa nação. É só cego que não vê. Obviamente, a China – por razões lógicas – vai se opor à invasão russa mais não vai levantar um dedo para defender interesses geopolíticos dos EUA que a atacam dia sim dia não.

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