Formandos de Medicina da UFMG fazem história: 151ª turma homenageia professor que esteve à frente da luta contra covid-19 na Prefeitura de BH; vídeo

Tempo de leitura: 6 min

Da Redação

A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizou nessa quarta-feira, 22-12, a cerimônia presencial de formatura da 151ª Turma de Medicina, que leva o nome do Professor Unaí Tupinambás.

Devido à covid-19, os protocolos de biossegurança foram seguidos, mesmo todos estando trivacinados contra o novo coranavírus.

Álcool gel, uso de máscara, distanciamento físico.

Apenas 67 formandos participaram presencialmente. Outros 11 o fizeram de modo remoto.

Não foi permitida a presença de parentes e amigos, que puderam acompanhar a cerimônia virtualmente.

A íntegra está no vídeo acima.

Compõem a mesa os professores:

Humberto José Alves, diretor da Faculdade de Medicina

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Alamanda Kkoury Pereira, vice-diretora

Eura Martins Lage, coordenadora do colegiado do curso de Medicina

Ana Cristina Simões e Silva, patronesse

Cristina Gonçalves Alvim, paraninfa

Unaí Tupinambás,  nome da 151ª turma

Emblematicamente os alunos escolheram o infectologista e professor Unaí Tupinambás para dar nome à turma que colou grau nessa quarta-feira

Tudo a ver com o lamentável momento que vivemos no País.

É uma resposta ao negacionismo insuflado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro e que Unaí Tupinambás captou muito bem no seu discurso aos formandos.

“Recebo esta homenagem como uma homenagem a todos nós professores, pesquisadores e trabalhadores do SUS que não medimos esforços para enfrentar a pandemia COVID-19”, diz.

Ele é médico no SUS da Prefeitura de Belo Horizonte (MG).

Mais abaixo, a íntegra do discurso dele.

No topo, o vídeo com toda a cerimônia.

A sessão propriamente dita começa aos 21min35s da gravação.

A mensagem da oradora da 151ª turma, Thuanny Granato Fonseca Silva, vai de 38min51s a 45min30s.

Na sequência, o discurso do professor Unaí Tupinambás aos formandos. Sua fala começa aos 45min52s e termina aos 52min31 do vídeo no topo.

A oradora Thuanny Granato Fonseca Silva e Unaí Tupinambás, que deu nome à 151ª turma da Faculdade de Medicina da UFMG. Fotos: Reproduções do vídeo no topo

DISCURSO FORMATURA 151ª TURMA DE MEDICINA DA UFMG PROF. UNAÍ TUPINAMBÁS

Belo Horizonte, 22 dezembro 2021

Inicialmente gostaria de cumprimentar nosso querido Diretor Prof. Dr. Humberto José Alves e assim cumprimentar todos os meus colegas da mesa.

Prezados e prezadas colegas tenham certeza que esta é uma das maiores homenagem para um professor que é emprestar o seu nome a uma turma de medicina. Para mim sem dúvida é uma grande honra.

Ainda mais por estar junto nestas homenagens com as minhas colegas: as Professoras Cristina Alvin e Ana Cristina, paraninfa e patronesse duas colegas que tenho enorme respeito e admiração.

Recebo esta homenagem como uma homenagem a todos nós professores, pesquisadores e trabalhadores do SUS que não medimos esforços para enfrentar a pandemia COVID-19.

Faz 2 anos quando aqui estivemos reunidos pela última vez antes das medidas de contenção e isolamento social impostas pela pandemia.

Vivemos momentos de grandes desafios .

Para vocês foram 6 anos de muito aprendizado, dúvidas, incertezas, descobertas e crescimento.

Coube a vocês se formarem no meio da maior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos.

Se por um lado, vocês foram privados de vários momentos de convívio com seus colegas, professores e seus pacientes, por outro, foi também uma oportunidade de aprendizado única.

Junto com seus professores logo no início da pandemia, vocês tiveram que aprender a se movimentar no ambiente virtual e, assim, que foi possível enfrentar os desafios do ensino presencial.

Não foram poucos as incertezas, medos, angústia , receio de adoecer e de levar a infecção para seus familiares.

Por outro lado, vocês fizeram parte da construção do conhecimento, vivenciando a importância, os limites da ciência e seu impacto na assistência. Andaram juntos com seus colegas e professores na beira do abismo.

Parafraseando nosso ex-aluno João Guimarães Rosa: o conhecimento se dá no meio travessia ou a gente não sabia de nada mas desconfiava de muita coisa.

Esta experiência vocês levarão por toda a vida e já os deixaram ainda mais humanos e cientes do importante papel que irão desempenhar a partir de agora.

Se por um lado, o governo federal não deu as respostas necessárias para o enfrentamento da pandemia, ficou muito claro na CPI da COVID – as Universidades Públicas, agora aqui representada pela nossa querida UFMG, o SUS e os Institutos de Pesquisa (destaco o papel da Fundação Oswaldo Cruz) foram e estão sendo fundamentais nestes tempos. Se não fosse o SUS e as Universidades, a tragédia seria ainda pior.

Se a tradição do SUS não estivesse constituída em nosso país e em grau tão forte em nossa cidade, como poderíamos enfrentar uma pandemia tão devastadora e um governo que frequenta cotidianamente o dicionário da barbárie?

Sem esta raiz, na consciência da população e nos serviços públicos, de uma das mais vastas experiências de cobertura vacinal, como seríamos capazes de vencer o negacionismo, como fomos capazes?

Sem esta rede de cobertura assistencial estabelecida, como seríamos capazes de dar o mínimo de dignidade ao tratamento dos mais pobres, dos negros, das periferias, dos precarizados no trabalho que são multidão?

Sem uma rede pública de informação sanitária, que soube resistir às tentativas mais vis de omissão e fraude nos dados, como poderíamos cumprir esta missão diária e sagrada de oferecer à população um boletim diário de informação científica e orientação de condutas?

Vocês tiveram grande importância neste cenário, participando de inúmeras atividades de assistência, extensão e pesquisas desenvolvidas aqui na Faculdade de Medicina.

Estamos vivendo tempos muito duros.

Como se não bastasse a pandemia o cenário político, econômico, socio-ambiental brasileiro é de extrema gravidade.

Seja pela ameaça a democracia, volta do desemprego e da fome, destruição da Amazônia e de seus povos originários.

Vimos estarrecidos a perseguição dos servidores da ANVISA incentivada pelo presidente da república, após a aprovação por esta agência da vacina contra COVID-19 em menores de 11 anos!

Como se não bastasse, enfrentamos os negacionistas e os antivacinas.

Aqui destaco o papel que vocês tiveram junto com seus professores na produção diária do Boletim Matinal da UFMG – hoje estamos na edição de número 587 —  que muito bem conseguiu divulgar a boa ciência e combater as fake news.

Segundo relatos de vários leitores, este Boletim , serviu de bússola para toda a sociedade.

Diante de uma rede internacional, profissional e criminosamente financiada de fake news, com respaldo daqueles que ocupam indignamente o governo do Brasil, este boletim tornou-se uma verdadeira peça cívica de resistência, uma bússola, uma estrela guia.

Foi graças à cultura de saúde púbica da UFMG, seus professores, cientistas e alunos, que este boletim tornou-se realidade. A inteligência universitária, desde a origem do SUS, faz parte de seus patrimônio.

Isto é motivo de muito orgulho para todos nós e com certeza ficará na história.

Aqueles que tinham o dever de ser os guardiões da ciência, o Conselho Federal de Medicina (CFM), aderiu de forma acrítica e oportunista ao “Kit COVID” e a tantos outros absurdos incentivados pela presidência da república. Com certeza um dos momentos mais triste e vergonhoso da história deste conselho.

Se podemos dizer que tivemos ganhos secundários com esta tragédia foi o reconhecimento que toda a sociedade brasileira adquiriu da importância do SUS e das Universidades.

Sim, fizemos “muita balbúrdia” por aqui. A UFMG juntamente com a FIOCRUZ deverá iniciar ensaio clínico de fase I de um protótipo vacinal anticovid desenvolvida em nossos laboratórios.

Quis a história que vocês se formassem no meio da pandemia e neste momento dramático que vivemos.

A pandemia atingiu o Brasil em meio a uma agenda de aprofundamento da austeridade fiscal e desfinaciamento do SUS.

O Estado não cumpriu a obrigação moral e constitucional de coordenar ações emergenciais e proteger sua população.

No limite da irresponsabilidade, em confronto com a Lei 8080/00, o governo federal provocou conflitos federativos, obrigando muitas vezes o STF a ratificar a autonomia dos governos estaduais e municipais para legislar no âmbito da saúde pública.

O SUS MERECE E PRECISA DE MAIS RECURSOS EM 2022

O cenário pós pandêmico será de grandes desafios.

Já estamos enfrentando as sequelas da COVID-19 com grande impacto na assistência, a ruptura das políticas de controle das diversas doenças crônico degenerativas e endêmicas: arboviroses, sífilis, HIV, IST, tuberculose e das campanhas de vacinação.

Portanto, os desafios de vocês serão ainda maiores.

Contra a barbárie, juntos iremos reconstruir o SUS e porque não a nossa nação, fazê-la novamente mais justa, democrática e livre de preconceitos.

Novos ares sopram por toda a América Latina e estaremos prontos para estas mudanças.

Se não podemos falar quando a pandemia irá acabar, podemos, sim, dizer que o pandemônio tem data para seu ocaso. E estaremos juntos mais uma vez comemorando um novo tempo.

Quero finalizar com citação de nosso patrono da educação Paulo Freire:

“ UM DOS SABERES PRIMEIROS , INDISPENSÁVEIS (…) É O SABER DO FUTURO COMO PROBLEMA E NÃO COMO INEXORABILIDADE. É O SABER DA HISTÓRIA COMO POSSIBILIDADE E NÃO COMO DETERMNAÇÃO . O MUNDO NÃO É. O MUNDO ESTA SENDO”

Vamos juntos construir este novo futuro!

Muito obrigado e boa sorte sua nova fase !

ProfessoR Unai Tupinambás

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Comentários

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Antônio Loyola Filho

Parabéns ao prof. Unaí, pela fala absolutamente sincronizada com a tragédia que vivemos e com a missão da Universidade e dos cientistas. Parabéns aos formandos pela feliz escolha, que nos enche de esperança em relação aos profissionais que estarão trabalhando pela promoção e manutenção da saúde de todos nós, brasileiros.

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