Os sindicatos italianos e o efeito Berlusconi na mídia

Tempo de leitura: 3 min

September 6, 2011 10:59 am

Italianos em greve por causa do orçamento da austeridade

por Guy Dinmore, em Roma, no Financial Times

Milhares de grevistas saíram às ruas da Itália na terça-feira, na primeira demonstração de massa da oposição ao pacote de austeridade do governo de centro-direita.

Organizados pela CGIL [Confederação Geral do Trabalho Italiana], a principal federação de esquerda dos sindicatos do país, mas boicotada pelos sindicatos mais moderados, a greve nacional de oito horas parou o transporte público, enquanto os trabalhadores demonstravam seu repúdio ao primeiro-ministro Silvio Berlusconi e ao ministro das Finanças, Giulio Tremonti.

A marcha de vários milhares em Roma começou na estação ferroviária de Termini e seguiu parando o trânsito até o Coliseu, onde Susanna Camusso, líder da CGIL, deveria falar à multidão.

Enfrentamentos aconteceram em Milão, com manifestantes atirando ovos e bombas de fumaça em bancos, símbolos para muitos grevistas da crise da dívida da Itália.

Embora o clima em Roma tenha sido de entusiasmo, com os tambores tocando sob um mar de bandeiras vermelhas, muitos demonstraram decepção com o fato de que a participação inicial não era tão grande quanto a esperada. Havia uma marcante falta de rostos jovens.

“A juventude está dormindo”, disse uma mulher que veio às ruas para apoiar.

“As massas precisam acordar. Elas não sabem o que está acontecendo, com o controle de Berlusconi sobre a televisão”, ela acrescentou, numa referência ao domínio do barão bilionário sobre as redes privadas e a influência dele sobre a rede pública de TV.

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“Somos um país de ovelhas. Escreva isso”, disse Franca, uma grevista que faz limpeza de escritórios. “Os italianos esperam que outros resolvam seus problemas. O país está afundando e eles estão dormindo”.

Muitos trabalhadores expressaram sua raiva com as tentativas do governo de usar o debate sobre o orçamento para reduzir ainda mais o já diminuto poder dos sindicatos. A Comissão Europeia e o Banco Central Europeu tem pressionado o sr. Berlusconi a aprovar reformas que liberalizem o mercado de trabalho, mas trabalhadores sindicalizados dizem que os ataques a seus direitos não tem nada a ver com as tentativas de equilibrar o orçamento e reduzir a montanha de dívida da Itália.

“Vocês queriam nos fazer de escravos, mas nos fizeram rebeldes”, declarava uma faixa, em cenas que se repetiram por todo o país no primeiro teste de força entre um governo fracionado e fraco e um movimento sindical dividido.

Pierluigi Bersani, líder do Partido Democrata, de centro-esquerda, participou do protesto em Roma, mas outros integrantes da oposição mantiveram distância. Pier Ferdinando Casini, líder da centrista UDC, de oposição a Berlusconi, condenou a greve.

À tarde os senadores deveriam começar o debate sobre o orçamento de austeridade de 45,4 bilhões de euros, no momento em que o governo acompanhava nervosamente a reabertura dos mercados, que tiveram inicialmente um pequeno fortalecimento depois de 11 dias de perdas. As autoridades esperam uma rápida passagem da lei no Senado — cujo objetivo é equilibrar o orçamento até 2013 –, para que ela em seguida chegue à Câmara, onde o sr. Berlusconi tem pequena maioria.

Giorgio Napolitano, o presidente da Itália, cujo papel constitucional limita a habilidade para interferir diretamente no processo político, pediu na noite anterior um orçamento mais eficaz para acalmar os mercados.

Mas as respostas iniciais das autoridades do governo indicavam que não havia clima para aprovar novas emendas, depois de várias semanas de zig-zag.

O sr. Tremonti teria fracassado em sua última tentativa de persuadir Umberto Bossi, líder da Liga do Norte e um aliado chave da coalizão governista, a aceitar as reformas do sistema previdenciário, que incluiriam o aumento da idade para a aposentadoria das mulheres.

Nas ruas, os trabalhadores atacaram o sr. Berlusconi e seu ministério como parte de uma elite corrupta, envolvida em escândalos e na proteção dos interesses de uma “casta política”, citando como exemplo a negativa do primeiro-ministro de criar um imposto especial sobre a riqueza.

Il Giornale, um jornal de Milão que é da família de Berlusconi, denunciou a greve como irresponsável e organizada por uma federação que não havia entendido que “a história condenou a CGIL ao isolamento, à marginalidade e ao folclore”.

http://www.ft.com/intl/cms/s/0/d2af3600-d864-11e0-8f0a-00144feabdc0.html#axzz1XKilU8rP

PS do Viomundo: Impressionante o duplo papel que a mídia tem jogado nestes tempos, de anestesiar e/ou intimidar.

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Comentários

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Carla

espere aí… Il Giornale é do Berlusconi, e é lido por uma minoria! mas os mais importantes jornais italiano não fazem parte da "mídia golpista"… eles são "oposição"! Não comparamos os jornalões brasileiros com os italianos, por favor! Aliás, os maiores jornais italianos fazem o que os partidos de oposição não conseguem fazer… oposição ao Berlusconi! (Corriere della Sera, La Repubblica, La Stampa…)

ana lucia salgado

Sr Silvio berlusconi nn faz outra coisa, a nn ser suas festinhas c garotas de menor, a base de sexo e droga … "BUNGA BUNGA" junto c seu ex amigo Ghedafi…responde a tantissimos processos, mas faz sempre leis q deixam fora de todos eles … E' esta Italia… UMA VERGONHA !!!!

beattrice

Folclórico é, em meio a uma grave crise socio-política, a ITALIA depender de um pedófilo corrupto e corruptor travestido de ministro.

P A U L O P.

Riccardo Muti speaking about Italian culture, Opera di Roma, 12.03.2011
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embed…!

EMOCIONANTE….

    beattrice

    O enfrentamento do Mutti com o Berlusconi na platéia, em plena Ópera de Roma e ao som de VA PENSIERO, dá até prá voltar a acreditar na ITALIA.

SILOÉ-RJ

TRIPLO papel: ANESTESIAR – INTIMIDAR – DOMINAR. Lá e cá.
"A GENTE DESLIGA VOCÊ" Dizem eles nas entrelinhas com deboche, sem o menor constrangimento.

Marcio H Silva

PS do Viomundo: Impressionante o duplo papel que a mídia tem jogado nestes tempos, de anestesiar e/ou intimidar.

Impressionante mesmo, e isto em países dito desenvolvidos e cuja população tem escolaridade alta. Fico imaginando que daqui pra frente, com ou sem marco regulatório, teremos que ter governos com posições diferentes da mídia ( PIGs locais ). O dia que tivermos um Governo de direita com esta mídia que está aí, nem o marco regulatório segura os caras. Vide os anos FHC….

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