As Forças Armadas na guerra de ocupação do Brasil
Por Jeferson Miola, em seu blog
O Brasil está submetido a uma guerra.
É uma guerra de tipo diferente, que combina fatores convencionais com dispositivos da guerra híbrida.
Outra diferença, e mais fundamental, além disso, é que não houve invasão e ocupação do território brasileiro por nenhum exército estrangeiro.
Não foi necessário que os norte-americanos invadissem o Brasil como fizeram com o Iraque e Afeganistão.
Aqui, as próprias Forças Armadas brasileiras, em especial o Exército, atuam como força de ocupação que coordena o ataque e a repartição do butim de guerra.
Sobram evidências para se desfazer o mito – ou a ilusão – acerca da existência de generais profissionais, nacionalistas, competentes e patriotas.
Trata-se de uma geração formada na cultura da conspiração e da tutela da democracia, inspirada ideologicamente na extrema-direita estadunidense, e que não se curva à democracia e ao poder civil.
Por meio desta guerra de ocupação engendrada através do governo militar, a oligarquia dominante promove a mais brutal devastação jamais antes imaginada – nem mesmo pelos maiores pessimistas nos seus piores pesadelos.
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É um processo inaudito de saqueio e pilhagem de uma grande – e outrora poderosa – Nação.
Os efeitos catastróficos desta guerra, bastante profundos, serão duradouros.
Alguns deles, inclusive, irreversíveis, como as centenas de milhares de mortes humanas que poderiam ter sido evitadas, não fosse a gestão genocida do enfrentamento à pandemia.
Os alvos centrais desta guerra são a engenharia nacional, o Estado, a inteligência estratégica e a estrutura produtiva nacional; a cadeia de petróleo e gás e de setores estratégicos; os projetos científicos e tecnológicos, a Amazônia, as Universidades, a pesquisa, a educação, o SUS; e, obviamente, os fundos públicos e o orçamento da União. A desvinculação do orçamento da União, para retirar o piso de investimentos obrigatórios no SUS e na educação, é parte deste ataque voraz do capital internacional que guia o exército de ocupação.
Com o processo de desindustrialização e reprimarização, o Brasil vai se consolidando como colônia atrasada que, além de pária do sistema mundial, se distancia ainda mais dos estágios avançados de desenvolvimento do terceiro milênio.
Os militares deturpam o conceito de soberania para, desse modo, justificarem os propósitos de destruição e agressão interna.
Eles reivindicam a soberania não no sentido da afirmação dos princípios de autonomia, independência e autodeterminação, mas como alforria para se verem livres das convenções internacionais firmadas ao longo de décadas e, assim, poderem devastar o país: queimadas, desmatamentos, exploração de áreas indígenas, direitos trabalhistas, direitos humanos etc.
A gestão genocida da COVID, assim como o ultraliberalismo econômico gerador de fome, miséria e desamparo, também compõem esta perspectiva necropolítica da “força ocupante”.
É notório o retrocesso do Brasil em relação a consensos e acordos mundiais que conferem sentido modernizador e civilizatório à humanidade, como o boicote à OMS e o desprezo de protocolos sanitários; o abandono dos compromissos com a sustentabilidade [Protocolos de Quioto, Paris/clima, Agenda 2030]; e o descumprimento da declaração internacional dos direitos dos povos indígenas, da Convenção 169 da OIT, dos tratados de direitos humanos e da decisão histórica da ONU sobre a questão Israel/Palestina.
No livro-confissão “Conversa com o comandante”, e assumindo a natureza destrutiva deste projeto, o general Villas Bôas cita “como exemplo expressivo o que vem sendo feito com nosso destacado e eficiente ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles …” [pág. 123], que “ousa denunciar o que está por trás do indigenismo e do ambientalismo internacionais” [pág. 226].
Villas Bôas não esquece de elogiar, também, a “criatividade” do general-ministro da morte Eduardo Pazuelo, investigado por crime de genocídio, mas que, na visão do ex-comandante, “Sem falsa modéstia, fez com que nos tornássemos referência mundial” [pág. 155] com a acolhida de imigrantes venezuelanos.
Ao lado da devastação interna, e em linha com a submissão às diretrizes de Washington, esta força de ocupação também debilitou a capacidade de iniciativa geopolítica do Brasil.
Instrumentos essenciais para a concretização de interesses brasileiros na região e no mundo, como o MERCOSUL, a UNASUL e a CELAC, foram metodicamente enfraquecidos e cederam lugar a arranjos regionais pró-EUA, como o Grupo de Lima, por exemplo.
Além disso, os militares desprestigiaram os BRICS, bloco que projeta favoravelmente o Brasil no sistema mundial, e que hoje estaria sendo decisivo para a garantia de imunização da população, uma vez que China, Índia e Rússia se destacam na produção internacional de imunizantes.
É preciso averiguar, ainda, se houve articulação operacional e estratégica da Lava Jato com a cúpula militar no desenvolvimento desta guerra de ocupação.
A operação coordenada por Sérgio Moro em conexão com os Departamentos de Estado e Justiça e agências de inteligência e espionagem dos EUA, foi de vital importância para retirar Lula do caminho da eleição do Bolsonaro, que era o projeto acalentado pela cúpula militar.
Sem a farsa jurídica de Moro e Dallagnol para condenar e prender Lula e manipular a eleição, Bolsonaro não seria eleito.
Um indício sugestivo desta associação é a conivência dos militares com a destruição, além da engenharia nacional, do programa nuclear brasileiro e a prisão do almirante Othon Pinheiro da Silva.
Não havia, neste caso concreto, interesse da Lava Jato em combater eventual corrupção, mas sim em destruir o programa revolucionário de enriquecimento de urânio do Brasil com ultracentrífugas – algo de notório interesse estadunidense desde sempre, mas em especial depois que Lula contrariou Obama e intermediou o acordo de desarmamento nuclear do Irã.
Este exército de ocupação, integrado por “políticos armados” do “Partido Militar”, ocupa e devasta o próprio país e se volta contra a soberania nacional e os direitos do próprio povo que dispende mais de R$ 100 bilhões por ano para manter regalias, luxos e extravagâncias, como a entrega de revista Playboy [pág. 106] ou “show de mulatas” [pág. 40] para comandantes militares na Amazônia, como confessou Villas Bôas.
Para consumar a agressão à soberania do Brasil, este exército de ocupação aprofunda o Estado de Exceção e mantém Lula, o líder popular capaz de desbancá-los do poder para iniciar a restauração da democracia e a reconstrução nacional, como prisioneiro sequestrado, sem direitos políticos.
Comentários
Zé Maria
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“Ele [Daniel Silveira] representa os deputados violentos
que se alinharam com a @fpagropecuaria [da Bancada BBB];
em menos de dois anos votou pela anistia de desmatadores
e pela facilitação da posse de armas”
(https://t.co/ND3MpLWGxX)
https://twitter.com/deolhonoagro/status/1362532091074912257
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A Corja da Bancada BBB [Boi, Bíbla, Bala], no Congresso,
tá querendo aliviar pro Bandido da Diarréia Verbal,
no Conselho de Ética da Câmara Federal. Mídia apoia.
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Nelson
Continuação.
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Repito. O Estado brasileiro, mesmo com falhas, defeitos e vícios, demonstrava ainda ter muita capacidade para direcionar o país a bom porto. E isto significava um país que passaria, aos poucos pelo menos, a sair do controle, a se desvencilhar das rédeas, dos países ricos.
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E surge um grande problema. Ao se libertar, o Brasil poderia passar a desenvolver o seu enorme potencial. Moramos em um país que é, certamente, um dos primeiros de todo o planeta na capacidade de se autodesenvolver.
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Duas consequências não desejadas pelos países ricos adviriam disso.
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A primeira. Possuidores de matéria-prima abundante, passaríamos a investir em pesquisa e tecnologia e logo estaríamos prescindindo da tecnologia dos países ricos. A Petrobras, a Eletrobras e outras empresas estatais são provas contundentes da capacidade da pesquisa e da engenharia nacionais.
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A segunda, a agravar, para os países ricos, os efeitos da primeira. Ao dominar determinadas tecnologias, nosso país se habilitaria a exportá-las para países que delas não disporiam, ou seja, nos tornaríamos competidores fortes num mercado mundial já bastante restrito; há abundante oferta para uma não compatível capacidade de consumo.
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O caso das empreiteiras brasileiras é exemplar. Com muito apoio público [BNDES], leia-se ESTADO, essas empresas atingiram níveis de excelência em engenharia compatíveis com as dos EUA, da Europa e Japão. Competidoras indesejadas que tinham que ser eliminadas. A Lava Jato foi um instrumento ideal para concretizar esse intento.
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Então, na visão dos estrategistas dos EUA, principalmente, era hora de dar um basta. Não havia mais como tolerar ver o Brasil avançando daquela forma. Deixado seguir mais um pouco, possivelmente não haveria outra solução que uma invasão militar para evitar que o país passasse a dar “voos mais altos”.
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E foi arquitetado o golpe, de forma extremamente engenhosa, é preciso reconhecer. Procuraram, com exaustiva propaganda, inculpar o Estado e os governos [PT], que dele se utilizaram para imprimir algo como um projeto nacional de desenvolvimento, da crise que eles mesmo insuflaram e de toda a corrupção.
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A reparar neste ponto, que, a meu ver, os governos do PT adotaram uma postura bastante tímida neste quesito. Deveriam ter “pisado muito mais fundo no acelerador” e imprimido um projeto nacional realmente contundente.
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Bem, resgatando o que afirmei no início, tudo isso só foi possível porque, apesar de todo o desmantelamento que vem sendo imposto por décadas, o país ainda tinha um aparato estatal em boa medida estruturado. Ainda dispunha de um Estado capaz de indicar o caminho a seguir.
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Daí que a receita agora é terminar, em definitivo, com o desmantelamento dessa organização, o Estado, para que qualquer governo que seja eleito não possa dispor desse instrumento para implantar um necessário projeto nacional.
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Então, as privatizações finais e a “reforma” Administrativa devem completar o serviço de destruição nacional, de desmonte final do Estado brasileiro para que o país nunca mais consiga ter a mínima capacidade de se autodeterminar.
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Por isso, dos “alvos centrais desta guerra” citados pelo Miola, creio que o Estado é, de longe, o principal. É sabido que só um Estado estruturado e forte pode abrir e garantir espaço para que os outros “alvos” prosperem.
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P.S. A meu ver, o raciocínio que transcrevi em palavras pode ser aplicado, com as devidas adequações, é claro, a inúmeros outros países, não somente ao nosso. Argentina, México, Colômbia, Venezuela e vários outros países também dotados de enorme riqueza já sofreram e seguem sofrendo as mais variadas formas de pressão e de guerras para que não consigam trilhar seu caminho próprio, de soberania e autodeterminação.
Nelson
De onde que os governos do PT conseguiram “extrair gás” para impulsionar o Brasil a um crescimento econômico de 7,5%, em 2010, se não estou enganado? Para criarem 21 milhões de empregos com carteira assinada?
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Ora, daquela organização – conceituemos assim, de maneira mais sucinta – que você vê e ouve, a todo momento, insistente e repetidamente, ser vilipendiada, desprezada, ultrajada, por 11 entre 10 liberais, por 11 entre 10 órgãos da mídia hegemônica e comentaristas de plantão.
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Falo do Estado.
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Durante 10 anos, de 2009 a 2018, dados da Anfip, nada menos de R$ 1,1 trilhão foram extraídos da receita da Seguridade Social – recursos que o Estado brasileiro deveria utilizar para garantir vida digna a todo o povo – para serem destinados a isenções e subsídios a vários setores empresariais. Ou seja, para viabilizarem os lucros privados. Isto sem falar nas benesses concedidas ao empresariado nos anos anteriores.
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Mas, é claro que os liberais e a mídia não vão reconhecer isso. Essa patota vai sempre atribuir o crescimento à suposta capacidade empreendedora superior do empresariado privado. Para “consumo público”, essa patota vai sempre dizer que o Estado só atrapalha. Na miúda, como dizem os mineiros, os liberais gostam é de se deleitar nos subsídios públicos ofertados pela Estado.
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Então, apesar de o desmantelamento do aparato estatal brasileiro vir de longe – começou com o Gal Figueiredo, com os cortes impostos pelo FMI, se ampliou com Sarney e Collor, arrefeceu um pouco com Itamar Franco, e deslanchou de vez com FHC -, o Estado brasileiro ainda demonstrava força e capacidade de direcionar o país a um desenvolvimento mais autônomo e soberano
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O desmantelamento só não se consumou na primeira década dos anos 2000, porque os tucanos não fizeram seu sucessor e também, avalio eu, por causa da grande crise de 2008. A chegada da crise fez ver aos liberais do PT – nesse partido existem liberais demais para meu gosto -, que, ou faziam uso do Estado para “segurar as pontas” ou o país seria engolido, facinho, facinho, pela crise.
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A minha avaliação é de que, cedendo aos ditames do duo FMI/Banco Mundial (países ricos), os próprios governos do PT já planejavam a privatização de nacos maiores do patrimônio nacional.
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É bem provável que, a certa altura, esse duo tenha chegado para Lula/Dilma e imposto: “ter dois grandes bancos públicos é algo inadmissível. É preciso privatizar um deles”. E os liberais do PT já tencionavam – primeiramente, uma vez que a pressão por privatizações não iria cessar -, entregar o BB, por exemplo. Por isso mesmo, não mudaram a lógica mercantilista extremada imprimida ao banco pelo governo corrupto, deletério e vendilhão da pátria de FHC.
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Continua.
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