Zeca Dirceu: No governo Bolsonaro, EUA acima de tudo; até isenção de visto para americanos entrarem no Brasil
Tempo de leitura: 3 min“No governo de Bolsonaro, EUA acima de tudo”
Em detrimento de relações multilaterais, o governo de Bolsonaro começou a montar uma estrutura especial para tratar de uma agenda unilateral com os EUA
Zeca Dirceu, na Gazeta do Povo
Na sanha de voltar às ações da política externa para priorizar relações com os Estados Unidos, o governo de Bolsonaro começa a montar uma estrutura, dentro do Ministério das Relações Exteriores, especialmente para tratar de uma agenda unilateral com o país norte-americano, que ganhou pela primeira vez um departamento próprio no Itamaraty.
A medida reflete mudanças e já aponta que teremos um governo que deixa em segundo plano os países da América do Sul e a integração regional. Também perde espaço com o bloco do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), importante para o Brasil fazer crescer sua economia e ter maior participação na economia global.
Além das políticas equivocadas e desconhecimento internacional, como o anúncio da mudança da embaixada de Israel de Tel Aviv para Jerusalém, abalando relações comerciais com o mundo Árabe, que já acarretou no veto da Arábia Saudita de importar carne de frango de mais de 20 frigoríficos brasileiros.
Para entender esse prejuízo, saiba que, em 2017, a balança comercial com os 22 países que formam a Liga Árabe teve superávit (exportações maiores que importações) de US$ 7,1 bilhões para o Brasil, um recorde positivo com a Liga.
No mesmo ano, o comércio com Israel registrou uma balança deficitária de US$ 419 milhões.
Uma cooperação na área militar tende a tornar as forças brasileiras uma espécie de auxiliar dos EUA
São erros que tiram o Brasil do papel de protagonista no cenário internacional, que conquistou por meio das relações multilaterais com todos esses países.
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Passamos de um tempo em que o Brasil tinha voz nessas relações, que construíram um papel de destaque e liderança a partir de articulações com a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e os Brics, e estamos entrando em um tempo de subserviência diante dos EUA.
Como parte desse esforço para agradar o tio Sam, o governo brasileiro quer incluir nas suas novas propostas a isenção do visto para entrada no país para cidadãos americanos, de forma unilateral, o que colide com aplicação histórica do princípio da reciprocidade.
Ou seja, o Brasil só concederia isenção de vistos para países que também concedem esse direito a cidadãos brasileiros.
Mas teremos outras preocupações, depois de recuar em janeiro sobre o uso da base de Alcântara por outros países, o governo volta a renegociar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), para ceder a base de Alcântara, com uma série de exigências impostas pelos americanos, inclusive políticas, com fins militares, ainda não totalmente claros.
Uma cooperação na área militar tende a tornar as forças brasileiras uma espécie de braço auxiliar dos EUA.
Tudo indica, ainda, que todas essas medidas terão interferências na crise venezuelana, onde o Brasil mantinha sua função de “conciliador” da região, e passar a se somar a voz de Donald Trump contra a Venezuela.
Pelo andamento dos discursos e visitas do chanceler Ernesto Araújo aos EUA e dos acordos que começam a ser desenhados, e se o governo continuar a derrubar tarifas, barreiras que ainda protegem o mercado nacional e cooperações com outros países, veremos o Mercosul enfraquecido e sem força competitiva.
O Brasil continuará perdendo sua liderança e destaque entre as dez maiores forças políticas e econômicas no mundo e, internamente, teremos perdas financeiras nas nossas indústrias exportadoras, nossa produção ficará encalhada, o que pode gerar fechamento de empresas, extinção de milhares de postos de trabalho, ou seja, mais desemprego e mais recessão na nossa economia.
*Zeca Dirceu é deputado federal pelo PT/PR.
Comentários
Maria Rejane Rocha
O Brasil precisa de todos os países, menos os Estados Unidos.
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