Juristas vão ao MPF contra jogo do Bolsomito: ”Estimula o ódio e naturaliza a violência contra negros, mulheres, LGBTs e movimentos sociais”

Tempo de leitura: 3 min
Antônio Cruz/Agência Brasil

por Conceição Lemes

No começo, o fascismo é ‘’envergonhado’’; atua na surdina, e os adeptos, “recatados”.

Porém, aos poucos, sorrateiramente, vai saindo da surdina e se expondo aqui e ali.

Até que, sem o mínimo de pudor, é ostentado aos quatro ventos, como neste momento no Brasil.

Da sanha fascista nada escapa, nem mesmo um jogo eletrônico.

De instrumento de diversão vira arma de aniquilação, silenciamento e violência contra o outro.

É o caso do jogo Bolsomito 2k18 lançado dois dias antes do primeiro turno da eleição deste ano.

O personagem Bolsomito, inspirado no candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL),  ganha pontos ao matar mulheres, negros, população LGBT e integrantes de movimentos sociais.

‘’O jogo avilta, agride, fere a dignidade da pessoa humana e estimula agressões, morte, o ódio e preconceitos’’, denunciam os advogados José Geraldo de Souza Júnior, Márcio Sotelo Felippe e Patrick Mariano em representação à procuradora federal Deborah Duprat.

‘’Ademais, incita à prática de crime o que é vedado pelo Código Penal Brasileiro’’, observam na ação (na íntegra, ao final).  Crime de incitação está previsto no artigo 286 do Código Penal.

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José Geraldo é professor e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB).

Márcio Sotelo, ex-procurador-geral do Estado de São Paulo.

Deborah Duprat, da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal (MPF/PFDC).

Os alvos da ação são a BS  Studios, por desenvolver o jogo, e a Steam, por difundi-lo.

A BS Studios descreve assim o jogo:

O jogo é inspirado no atual momento político brasileiro e tem como protagonista um cidadão de bem que está cansado da crescente corrupção e inversão de valores que abala a sociedade.

Seu objetivo principal é acabar com os líderes do temido exército vermelho, responsável por alienar e doutrinar grande parte da nação, para que defendam e lutem por suas causas terríveis.

No entanto, para chegar nos cabeças da organização, o Bolsomito deverá enfrentar diferentes grupos que tinham como missão defender o povo, mas hoje, nada mais são que marionetes do exército vermelho.

Matéria publicada pelo Jornal Folha de Pernambuco detalha um pouco o jogo:

Para ganhar pontos, o jogador deve matar a socos e pontapés militantes gays, feministas, negros, integrantes de movimentos sem-terra e black blocs, colocados como vilões no jogo.

 Os “inimigos” viram emojis de fezes após serem eliminados. Na descrição, recomenda a BS Studios, o jogador deve estar “preparado para enfrentar os mais diferentes tipos de inimigos que pretendem instaurar uma ditadura ideológica criminosa no país”.

Tudo isso à base de “muita porrada e boas risadas”, descreve.

O objetivo principal do jogo, disponibilizado por R$ 9,90, é “acabar com os líderes do temido exército vermelho, responsável por alienar e doutrinar grande parte da nação, para que defendam e lutem por suas causas terríveis”, diz a página onde ele é hospedado.

‘’Esse jogo eletrônico estimula o ódio já demasiadamente presente na sociedade brasileira e naturaliza violência contra negros, mulheres, população LGBT e integrantes de movimentos sociais’’, denunciam os advogados.

Verdadeiro escárnio em cima de tragédias nacionais.

O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo, um a cada 19 horas.

O número de trabalhadores rurais mortos por conflitos no campo saltou de 50 (em 2016) para 61 (em 2017), segundo o relatório anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT), lançado em maio. Um aumento de 22%.

Nas áreas urbanas, em 2017, 5.012 pessoas foram mortas por policiais no País– 790 a mais que em 2016. A esmagadora maioria: jovem, pobre e negro.

Em relação às mulheres, os números são igualmente estarrecedores.

Diariamente, o Brasil registra, em média, 606 casos de violência doméstica e 164 estupros.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, esses dados representam 7,5% a 10% de casos, já que a taxa de subnotificação desses crimes contra as mulheres é alta.

São, portanto, apenas a ponta do iceberg. Estima-se que por ano devam ultrapassar 500 mil.

Antes que alguém diga a ação dos advogados fere a liberdade de expressão, José Geraldo, Sotelo e Mariano rebatem na representação:

 (…) o game em questão ultrapassa qualquer limite quanto aos seus contornos constitucionais e legais.

A proposta do jogo é tão somente ridicularizar, ofender e estimular agressões e violência contra grupos os quais demonstra profundo desrespeito e ódio político.

Diante disso, pedem ao MPF desde já:

* Abertura de investigação pela prática do crime previsto no artigo 286 do Código Penal.

* Oitiva da BS Stúdios e da plataforma Steam.

* Retirada imediata desse do jogo da internet.

“O fascismo se infiltra tanto mais nas mentalidades quanto mais ele se disfarça num simbólico inocente, um jogo’’, explica o professor José Geraldo.

‘’A violência é mais grave quando ela se disfarça numa aparência de não violência, a simulação”, alerta.

‘’A democracia e a constituição são mais agredidas quando são atingidas pelo disfarce da falsa liberdade de expressão’’, afirma.

‘’Por isso não basta resistir, protestar, devemos agir e afastar qualquer forma de contrafação, toda agressão a democracia e a constituição’’, salienta o professor José Geraldo.

“Com o fascismo não se transige, não há diálogo e não há complacência. O fascismo se destrói’’, arremata Marcio Sotelo.

Representação contra Bolsomito by Conceição Lemes on Scribd

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Comentários

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Julio Silveira

Quando na ultima instancia judicial um sujeito “importante” afirma que não houve golpe militar, que foi revolução, rsrsrs (mas do tipo que o povo é obrigado a aguentar por força das armas sequestradas do estado Rsrsrs) ter esperança de justiça equilibrada é utopia.

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