Greve geral: Governo pressiona bispos por apoio, CNBB resiste e centrais agradecem; leia notas

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Alinhados com o Papa Francisco e a favor dos trabalhadores, pelo menos 96 bispos, entre os quais estes (no topo, da esquerda para direita): Leonardo Ulrich Steiner (secretário-geral da CNBB),  Walmor Oliveira de Azevedo (MG), Antonio Carlos (Caicó/RN), Anuar Battisti (Maringá/PR), Odelir José Magri (Chapecó/SC), Jaime Vieira Rocha (Natal/RN) e Fernando Saburido (Olinda e Recife/PE presidente da CNBB Nordeste II

Centrais sindicais assinam moção de agradecimento e apoio à CNBB

do site da CUT

As centrais sindicais que lutam contra as reformas Trabalhista e da Previdência reuniram-se nesta quinta-feira (4) para agredecer ao apoio da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).

De acordo com a nota, as organizações decidiram manifestar de forma oficial o reconhecimento e gratidão ao apoio claro e explícito que a CNBB manifestou à luta pela justiça dos trabalhadores e do povo brasileiro no período recente, e particularmente por ocasião da Greve Geral realizada no último dia 28 de abril.

Confira abaixo a nota:

Para
S. Eminência Reverendíssima
Dom Sérgio, Cardeal Rocha
DD. Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Prezado Dom Sérgio,

Reunidos em São Paulo nesta data, dirigentes sindicais das Centrais Sindicais – CSB – Central dos Sindicatos Brasileiros ; CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Brasil ; CGTB – Central Geral dos Trabalhadores do Brasil ; CUT – Central Única dos Trabalhadores ; CSP – Conlutas – Coordenação Nacional de Lutas; Força Sindical ; Intersindical Central da Classe Trabalhadora ; NCST – Nova Central Sindical de Trabalhadores ; UGT – União Geral dos Trabalhadores, decidimos manifestar de forma oficial nosso reconhecimento e nossa gratidão ao apoio claro e explícito que a CNBB no Brasil manifestou à luta pela justiça dos trabalhadores e do povo brasileiro no período recente, e particularmente por ocasião da Greve Geral realizada no último dia 28 de abril.

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A coragem e a generosidade reconhecidas de muitos Bispos ao publicarem explicitamente seu apoio ao Movimento, e sobretudo as declarações claras e enérgicas por parte da própria Assembléia, provocaram, dom Sérgio, um encorajamento, um ânimo muito grande em nossa gente.

Queremos que o Senhor saiba deste nosso reconhecimento porque sabemos também o quanto lhes custa tomar estas posições, e as pressões que os poderosos exercem em defesa de seus privilégios e de seus projetos que legalizam a exploração e a exclusão.

Dom Sérgio, esteja certo: não estamos lutando por privilégios de grupos ou corporações.

Estamos lutando para que os mais pobres e excluídos deste Brasil não sejam ainda mais massacrados por reformas legais que falam em modernização mas que se constituem na prática formas cruéis de aumentar a exploração; lutamos para que nosso País não tenha alienados seus bens mais estratégicos, para que o sistema financeiro e o mercado não sejam a única orientação política deste País.

Confessamos ao Senhor e aos membros desta Assembléia que nem nós imaginávamos que este Governo fosse chegar tão longe em suas ações de retirada de direitos daqueles que historicamente já foram vítimas da exclusão.

E a cada dia uma nova surpresa: veja, dom Sérgio o escândalo desta nova proposta de legislação trabalhista para o campo, que quer impor ao trabalhador condições análogas à escravidão: 18 dias de trabalho seguidos, jornada de 12 horas, pagamento em casa ou alimentação, venda total das férias…

Veja o relatório da CPI da Funai e do Incra, criminalizando aqueles que ousam defender a população indígena, vítima extrema da espoliação.

Dom Sérgio, o combate que eles fazem ao financiamento sindical é outra tentativa de fragilizar a resistência a seus projetos; enquanto isso, as entidades Patronais auferem, através do sistema S, recursos infinitamente maiores.

É contra esta sanha exploradora que nos levantamos e vemos com satisfação que nosso grito se faz ouvir cada dia mais pela população e por entidades da importância da CNBB.

Muito obrigado, dom Sérgio, por podermos compartilhar esta luta pela justiça.

Transmita, por favor a Dom Leonardo e a todos os Bispos, este nosso reconhecimento.

Ao mesmo tempo, devemos lhe dizer que nossa luta deverá ser dura e muito longa.

Continuamos, por isso, contando, com sua generosidade, sua coragem profética e seu apoio de Pastores.

São Paulo, 4 de maio de 2017.

Em Nota Oficial da 55ª Assembleia Geral dos Bispos, CNBB se posiciona sobre o grave momento nacional

O episcopado brasileiro, reunido em sua 55ª Assembleia Geral, em Aparecida (SP), emitiu Nota Oficial sobre o momento que o Brasil atravessa nos últimos tempos. Na véspera do encerramento do encontro anual dos bispos, nesta quinta-feira, 04 de maio, a presidência da CNBB fez um balanço dos trabalhos e leu a Nota para os jornalistas.

O arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, cardeal Sergio da Rocha, destacou que a Assembleia vai além dos textos e documentos publicados: “É um período de convivência entre os bispos, de oração, reflexão e estudo”. Ele citou, ainda, a divulgação do estudo sobre o tema central do evento “Iniciação à Vida Cristã”, aprovado como documento da entidade; o projeto “Pensando o Brasil”, que este ano refletiu sobre a educação no país e a mensagem aos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, por ocasião do dia 1º de maio.

A Nota Oficial destaca que  Brasil é “um País perplexo diante de agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão dos princípios morais, base indispensável de uma nação que se queira justa e fraterna”. No texto, os bispos advertem: “Urge retomar o caminho da ética como condição indispensável para que o Brasil reconstrua seu tecido social. Só assim a sociedade terá condições de lutar contra seus males mais evidentes: violência contra a pessoa e a vida, contra a família, tráfico de drogas e outros negócios ilícitos, excessos no uso da força policial, corrupção, sonegação fiscal, malversação dos bens públicos, abuso do poder econômico e político, poder discricionário dos meios de comunicação social, crimes ambientais”.

Leia a Nota na íntegra:

O GRAVE MOMENTO NACIONAL

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil–CNBB, por ocasião de sua 55ª Assembleia Geral, reunida em Aparecida-SP, de 26 de abril a 5 de maio de 2017, sente-se no dever de, mais uma vez, apresentar à sociedade brasileira suas reflexões e apreensões diante da delicada conjuntura política, econômica e social pela qual vem passando o Brasil. Não compete à Igreja apresentar soluções técnicas para os graves problemas vividos pelo País, mas oferecer ao povo brasileiro a luz do Evangelho para a edificação de “uma sociedade à medida do homem, da sua dignidade, da sua vocação” (Bento XVI – Caritas in Veritate, 9).

O que está acontecendo com o Brasil? Um País perplexo diante de agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão dos princípios morais, base indispensável de uma nação que se queira justa e fraterna. O desprezo da ética leva a uma relação promíscua entre interesses públicos e privados, razão primeira dos escândalos da corrupção. Urge, portanto, retomar o caminho da ética como condição indispensável para que o Brasil reconstrua seu tecido social. Só assim a sociedade terá condições de lutar contra seus males mais evidentes: violência contra a pessoa e a vida, contra a família, tráfico de drogas e outros negócios ilícitos, excessos no uso da força policial, corrupção, sonegação fiscal, malversação dos bens públicos, abuso do poder econômico e político, poder discricionário dos meios de comunicação social, crimes ambientais (cf. Documentos da CNBB 50– Ética, Pessoa e Sociedade – n. 130)

O Estado democrático de direito, reconquistado com intensa participação popular após o regime de exceção, corre riscos na medida em que crescem o descrédito e o desencanto com a política e com os Poderes da República cuja prática tem demonstrado enorme distanciamento das aspirações de grande parte da população. É preciso construir uma democracia verdadeiramente participativa. Dessa forma se poderá superar o fisiologismo político que leva a barganhas sem escrúpulos, com graves consequências para o bem do povo brasileiro.

É sempre mais necessária uma profunda reforma do sistema político brasileiro. Com o exercício desfigurado e desacreditado da política, vem a tentação de ignorar os políticos e os governantes, permitindo-lhes decidir os destinos do Brasil a seu bel prazer. Desconsiderar os partidos e desinteressar-se da política favorece a ascensão de “salvadores da pátria” e o surgimento de regimes autocráticos. Aos políticos não é lícito exercer a política de outra forma que não seja para a construção do bem comum. Daí, a necessidade de se abandonar a velha prática do “toma lá, dá cá” como moeda de troca para atender a interesses privados em prejuízo dos interesses públicos.

Intimamente unida à política, a economia globalizada tem sido um verdadeiro suplício para a maioria da população brasileira, uma vez que dá primazia ao mercado, em detrimento da pessoa humana e ao capital em detrimento do trabalho, quando deveria ser o contrário. Essa economia mata e revela que a raiz da crise é antropológica, por negar a primazia do ser humano sobre o capital (cf. Evangelii Gaudium, 53-57). Em nome da retomada do desenvolvimento, não é justo submeter o Estado ao mercado. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se fraco e acaba submetido a uma perversa lógica financista. Recorde-se, com o Papa Francisco, que “o dinheiro é para servir e não para governar” (Evangelii Gaudium 58).

O desenvolvimento social, critério de legitimação de políticas econômicas, requer políticas públicas que atendam à população, especialmente a que se encontra em situação vulnerável. A insuficiência dessas políticas está entre as causas da exclusão e da violência, que atingem milhões de brasileiros. São catalisadores de violência: a impunidade; os crescentes conflitos na cidade e no campo; o desemprego; a desigualdade social; a desconstrução dos direitos de comunidades tradicionais; a falta de reconhecimento e demarcação dos territórios indígenas e quilombolas; a degradação ambiental; a criminalização de movimentos sociais e populares; a situação deplorável do sistema carcerário. É preocupante, também, a falta de perspectivas de futuro para os jovens. Igualmente desafiador é o crime organizado, presente em diversos âmbitos da sociedade.

Nas cidades, atos de violência espalham terror, vitimam as pessoas e causam danos ao patrimônio público e privado. Ocorridos recentemente, o massacre de trabalhadores rurais no município de Colniza, no Mato Grosso, e o ataque ao povo indígena Gamela, em Viana, no Maranhão, são barbáries que vitimaram os mais pobres. Essas ocorrências exigem imediatas providências das autoridades competentes na apuração e punição dos responsáveis.

No esforço de superação do grave momento atual, são necessárias reformas, que se legitimam quando obedecem à lógica do diálogo com toda a sociedade, com vistas ao bem comum. Do Judiciário, a quem compete garantir o direito e a justiça para todos, espera-se atuação independente e autônoma, no estrito cumprimento da lei. Da Mídia espera-se que seja livre, plural e independente, para que se coloque a serviço da verdade.

Não há futuro para uma sociedade na qual se dissolve a verdadeira fraternidade. Por isso, urge a construção de um projeto viável de nação justa, solidária e fraterna. “É necessário procurar uma saída para a sufocante disputa entre a tese neoliberal e a neoestatista (…). A mera atualização de velhas categorias de pensamentos, ou o recurso a sofisticadas técnicas de decisões coletivas, não é suficiente. É necessário buscar caminhos novos inspirados na mensagem de Cristo” (Papa Francisco – Sessão Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais – 24 de abril de 2017).

O povo brasileiro tem coragem, fé e esperança. Está em suas mãos defender a dignidade e a liberdade, promover uma cultura de paz para todos, lutar pela justiça e pela causa dos oprimidos e fazer do Brasil uma nação respeitada.

A CNBB está sempre à disposição para colaborar na busca de soluções para o grave momento que vivemos e conclama os católicos e as pessoas de boa vontade a participarem, consciente e ativamente, na construção do Brasil que queremos.

No Ano Nacional Mariano, confiamos o povo brasileiro, com suas angústias, anseios e esperanças, ao coração de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Deus nos abençoe!

Aparecida – SP, 3 de maio de 2017.

Cardeal Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília
Presidente da CNBB

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB

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Sebastião Farias

Parabenizamos e nos solidarizamos com a CNBB e toda a Igreja Católica por sua atitude em defesa do direito, dá verdade, dá justiça e do povo trabalhador deste país. Muito bem, à César o que é de César mas, à Deus o que de Deus, portanto, a verdade, o Poder, o amor ao próximo e a justiça, são dons de Deus que nos concedem para fazermos o bem ao próximo e promovermos e fazermos justiça para todos, igualjtariamente.
Infelizmente, o nosso mal contínua sendo a ignorância é a desinformação política, cultural e cívica. Vamos começar a mudar isso?
Duas características essenciais e constitucionais, dos parlamentares (vereadores, deputados estaduais/federais e senadores), além de legislarem: são representantes constituidos e fiscais plenos do povo.
Como representante delegado, deveriam ouvir o povo sobre temas importantes de interesse nacional, com a responsabilidade de votarem como o povo sugere em defesa de seu interesse. Essa, democraticamente, seria a mecânica de representação desses indivíduos: ouvir o povo é votarem afinados com sua vontade e defesa de seu interesse.
Como fiscais do povo, que é o patrão e outorgante do seu poder, deveriam, de fato, fiscalizarem proativamente e certificarem a conformidade, qualidade, agilidade, economicidade e funcionalidade através das Comissões de Fiscalização e Controle-CFC ou Similares dos Poderes Legislativos (Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e Congresso Nacional), auxiliados de forma responsável, pelos TC’s da União, dos Estados ou dos Municípios, que são instituições técnicas vinculados aos Poderes Legislativos para esse fim, ou seja, a execução do Plano Orçamentário e seus desdobramentos em planos, programas ou projetos de obras ou serviços públicos de interesse da população, pelos Poderes Executivos competentes.
Parece difícil né? Mas não é não. A dificuldade é que talvez, mais de 90% dá população não conhece ou não sabe dessa importante é vital responsabilidade constitucional dos Poderes Legislativos de fiscalização, proporcionando a boa vida acomodação desse Poder.
Dessa omissão nossa e dos Poderes Legislativos, o Brasil, que em 2015 era a 6a Economia do Planeta agora, beira a 10a. Dessa nossa omissão é analfabetismo político é que nasce as obras e serviços públicos, de má qualidade, superfaturados, inacabados, recursos desperdiçados e também, nasce a corrupção, o corruptor, o corrupto, os acobertadores e os golpes, no estado de direito e na democracia.
Façamos o teste simples: quem conhece o Presidente e Membros da CFC de Educação de seu município e de seu Estado? E as outras? de Obras Públicas; Serviços Urbanos; Saúde Pública; Segurança; Trânsito; Etc; Viu?
Conclusão: à luz disso acima, não adianta culparmos A ou B, se nós temos interesse de quer, de procurar lê para se informar, uma CF, uma CE ou uma Lei Orgânica do nosso município.
Sebastião Farias é Eng Agrônomo.

Couto

Graças a Deus a Igreja, através dos corajosos bispos e padres, está encorajando o povo a defender seus direitos. Ignorou a hipocrisia dos senhores da casa grande para defender os oprimidos da senzala. Que o Espírito Sando continue iluminando suas eminências e toda a Igreja.

Regina Maria de Souza

Tenho muito orgulho de a Igreja de minha formação ter deixado, neste momento de opressão de um povo soberano, de proclamar sua isenção das causas humanas. Aliás, não existe tal isenção. Não tratar da desumanidade que são as medidas temerosas é apoiá-las. Que bom que parte da Igreja ficou do lado dos pobres!

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