Azenha,
Sou seu leitor há pouco mais de um ano e sempre o vi recomendar os livros do professor Venício Arthur de Lima. Confesso que tinha curiosidade, mas, ao mesmo tempo, dificuldade para achá-los. Em livrarias, é impossível. Principalmente, porque as livrarias viraram cafeterias com livros. Você toma um cappuccino, come um croissant e, para justificar a ida, compra um exemplar de “Comer, rezar, amar” ou outro lixo qualquer.
Você já viu as livrarias dos aeroportos? Elas só têm livros para ensinar a ficar rico. Não sei se, no futuro, aumentará o número de milionários ou de boçais. Pelo que mostra a história do capitalismo, acredito mais na segunda opção.
Enfim, mas recentemente me mudei para São Paulo e pude visitar a feira do livro na USP. Lá, estive no estande da Perseu Abramo e comprei logo dois (“Crise política e poder”… e “A mídia nas eleições de 2006”). Estou terminando o primeiro e escrevo-te para a agradecer pela recomendação.
Num país em que até o Roberto Carlos proíbe que sua história seja contada, é bom saber que podemos estudar a mídia com obras mais críticas do que o livro do Pedro Bial.
Att,
Rafael
Comentários
André Shalders
Para aqueles que desejarem, recomendo um passeio muito instrutivo: uma visita à um sebo, de preferência não muito criterioso. Com alguma sorte, vocês encontrarão lá uma série de produtos ultrapassados da indústria cultural, pequenos romances folhetinescos , da década de 1980 ou antes, cujos títulos e autores já não nos dizem mais nada hoje, apesar de terem vendido muito bem na época de seu lançamento (se não, não haveriam tantos exemplares nos sebos). Vocês perceberão boquiabertos o quanto eles são parecidos com os seus "livros muito inspiradores" de hoje em dia.
André Shalders
Uma amiga minha, a escritora Lélia Almeida, certa vez me contou sobre um workshop do qual ela participou, com um especialista do mercado editorial. Segundo ela, a indústria do livro é tão sofisticada que chega a ter softwares que, acoplados à um book scanner, contam a quantidade de adjetivos, pronomes, verbos, a frequência destes no texto, o tamanho médio dos períodos e dos parágrafos. Baseado nessas informações, o tal software é capaz de dizer o quanto o livro é palatável ao público. E é com esse tipo de livro, cauculado minunciosamente, pensado de acordo com médias de gosto, que os ricos do Brasil se divertem (ou às vezes apenas posam). E ainda tacham de pernósticos àqueles que denunciam sua mediocridade cultural.
adriano JOE
LIVRO PRA FICAR RICO?!?!?! HSUAHUSHUA …ACHO QUE, se eu ler uma porcaria dessas ou então aquela porcaria de reza, coçar e mama vou avisar pro prates que ja posso dirigir meu carro!!!!!
Geysa Guimarães
Ando preferindo livros da vida, com escritores como o presidente Lula. E nada contra um cafezinho pra acompanhar.
Eduardo Fahl
Os livros do Venício são publicados pela Fundação Perseu Abramo. O catálogo deles está cada dia melhor. Dá para comprar pelo site. Visitem: http://www.efpa.com.br/
FatimaBahia
Quem é mesmo o boçal aqui??
Acho risível essa empáfia de quem acha que só prestam e são dignos os livros dos "professores",falam da empáfia dos paulistas,psdbistas ,anti Lulistas e não enxergam sua face espelhada!
Em tempo: li "Comer,Rezar,Amar" e achei um livro muito interessante e inspirador ,qual o problema em ter esta opinião?quem apreciou é menos capaz do que você,nobre Rafael?
Quanto aos cafés,a combinação livraria/café é muito comum e antiga e a liberdade de ler e apreciar,tb!
Boa leitura a todos!
eu mesmo
Fátima, a carapuça serviu?
Américo
Da-lhe Rafael,
acertou na mosca,
e
na Fátima também.
Gabi
Não é de bom tom se arrogar a autoridade de juiz absoluto do bom gosto cultural. E de fato o leitor Rafael dà um pouco essa impressão.
Se é verdade que por razões relativas de ordem estética os "best sellers" raramente constituem o que de melhor se faz na literatura (mas lembremos que autores como Balzac foram "best-sellers" em seu tempo!), não vejo no entanto porque seus leitores não devem ser respeitados como dignos amantes da leitura. Falo evidentemente daqueles que realmente lêem por paixão!
Mas creio que, embora de maneira um pouco atrapalhada, o que o leitor quis abordar é o fato de que no Brasil, livro não é um objeto de prazer estético ou de enriquecimento intelectual, mas de distinção social.
Num pais de massa (ainda) analfabeta e ignorante, de pouca difusão da leitura, de bibliotecas quase inexistentes, onde o livro é caro e as livrarias se concentram em bairros chiques, onde os sebos são ambientes vetustos e repulsivos para os mais jovens, o livro é um bem raro que confere a quem o consome um status social. Isto é, ele é um simbolo de superioridade intelectual, cultural, portanto de pertencimento a uma classe dominante. Hà uma desiguladade imensa de acesso ao livro no pais.
Por isso, para uma fatia enorme dos leitores (ou consumidores de livros) brasileiros, o importante não é o aspecto autêntico da leitura, mas sim as aparências, o status simbolico que o consumo do livro lhes darà. E assim, as editoras e livrarias estão grandemente voltadas para atender esta demanda. Dai as grandes livrarias estarem se transformando cada vez mais em cafeterias que tem o intuito de proporcionar aos seus clientes não livros mas a aparência de intelectualidade. As livrarias-café estão se tornando também elas espaços simbolicos, cheios de gente pedante que està ali não pelo prazer da leitura mas para beneficiar do prestigio simbolico de ser identificada com uma classe intelectual dominante. Por isso consomem mais facilmente produtos de marketing pasteurizados e facilmente digeriveis oferecidos pelas editoras, best-sellers, livros escritos por jornalistas da tv, celebridades, auto-ajuda, etc., e dificilmente autores de grande literatura, poesia, e obras de reflexão intelectual mais elaborada. Os leitores que procuram por obras destes ultimos gêneros acabam muitas vezes tendo dificuldades de encotra-las, como relata o autor do texto.
Mas é preciso dizer ainda que mesmo os leitores que consomem a grande literatura também o fazem muitas vezes apenas por desejo de distinção social. E neste ponto também as livrarias e editoras se limitam a suprir a demanda. No Brasil é mais facil o mercado publicar edições de luxo requintadas dos grandes escritores do que lançar edições de bolso, simples, baratas e acompanhadas de breves estudos literarios que ajudem a entender as obras.
POr fim, o leitor Rafael trata de "boçais" não os leitores de "Comer, Rezar, Amar", mas de livros do tipo "como ficar rico?".
Abs
Fernando Antonio
Gabi,
Um beijo na testa pelo seu belo texto.
Arrasou.
Rios
Engraçado é que "todo mundo" reclama que o brasileiro lê pouco… mas será que os grandes paises leitores só lêem Foucault? é mais que evidente que o mercado editorial no planeta é diversificado… lá eles tem Dan Brown a "dar na canela"…
Francisco Hugo
Turma,
em estantevirtual.com.br há pelo menos três títulos do Venício Artur de Lima.
Preços a partir de 10 reais.
Pergunto: como vocês ratos-de-sebo não conhecem a estantevirtual?
ChicoHugo
Elton
Muito bem!!! "Matou a pau"……principalmente quando se refere à fabricação de boçais. Perfeito!
socram pb
Na mosca.
Cafeterias com livros é perfeito.
Mariano S. Silva
É que são criadas por boçais podres-de-rico querendo ficar mais ricos ainda. Sinal dos tempos. Antigamente livreiro era quem amava livros e vivia de vende-los. Hoje é um bestalhão rico que enche as prateleiras de livrecos de auto-ajuda e depois serve cafés aromatizados…
Antigamente escola de nível superior era denominada Universidade, hoje até as verdadeiras universidades são denominadas de faculdades, que nem aquelas que servem cafés aromatizados…
Já notaram que nos filmes americanos o ator fala "university" e o dublador traduz como faculdade? Porque será?
Julio Cesar
Não achei o livro do Venício na Livraria Cultura aqui em São Paulo. Mas encomendei e em dois dias eles conseguiram.
Um documentário que estava querendo ver "Linha de Montagem", também não consegui. Mas, pelo serviço de encomenda, em 15 dias estava disponível!
O serviço de encomenda deles é eficiente!
Paulo R Cequinel
Bem, é adequado que a gente tenha muito cuidado com os milionários-boçais, meus caros.
PAULO ROBERTO POOR MAN CEQUINEL
THE POOR ORNITORRINCO COMPANY
PRCEQUINEL.BLOGSPOT.COM
Marcos C. Campos
Sensacional … crítica e relato da realidade … Curitiba também tá assim … uma m… . Livro do Biondi por ex. impossível de achar. Em Sampa acho que na Paulista tem uma livraria boa .. passei por lá e pelo menos livros técnicos de engenharia (minha área) achei alguns bons (importados).
ckoliver
O livro "O Brasil Privatizado" está disponível on-line na Fundação Perseu Abramo: http://www.aloysiobiondi.com.br/spip.php?article4
Pedro Marin
Na Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br), o livro do Biondi é encontrado por 5 merrecas.
Pedro Marin
Outra boa opção que recomendo para compra de livros usados (e novos com bons preços) é http://www.gojaba.com.br.
Há uma livraria que aceita encomendas, inclusive de livros importados e difíceis de encontrar. Chama-se Montanha Mágica, e o e-mail é [email protected]
maisquesaco
Tem livro do Thomas Mann? ;D
Mariano S. Silva
Tá difícil achar livro avançado importado técnico, você só encontra livros de grande mercado, como os dos cursos em pauta nas universidades. Ninguém parece querer estocar coisa alguma, ou a ganância aumentou, ou os livreiros não sabem mais comprar livros técnicos.
a barbosa filho
Rafael tem toda razão, sobre essas coffe-livrarias, um negócio que dá até medo de entrar e onde o livro está em quinto lugar no faturamento.
Nos aeroportos, administrados por uma tal Infraero que emprega milicos de pijama e pensa que só rico voa, um sanduíche de meio pão custa 20 reais. Vale prá SP, Salvador ou Floripa! É o índice Infraero, pouco importa quem frequente os aeroportos, o preço é mais alto que Schipol da pobre Holanda (eu tenho as notas prá provar)
Por isso, o bom mesmo é frequentar sebos, gastar pouco e adquirir o que há de melhor. Além do perfume…
easonnascimento
Finalmente, o Rafael achou os livros do professor Venício ou não? Se encontrou quero saber onde. Também os quero. Se não, seremos dois a procurar.
http://easonfn.wordpress.com
Polengo
Melhor que as livrarias dos aeroportos, só as vitrines das livrarias dos aeroportos.
Pedro
Post de abordagem recursiva e reflexiva ao autor. Não costumo coadunar com donos absoutistas da verdade. Faltou o contraponto da humildade.
Américo
Hummmm!!!!!!!!
Que pernóstico.
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