por Marcos Coimbra, no Correio Braziliense
A reação de parte da imprensa às informações sobre a composição do governo Dilma é curiosa. Em alguns veículos, chega a ser cômica.
Outro dia, um dos jornais de São Paulo estampou em manchete que Dilma estava “montando o núcleo de seu ministério com lulistas”. O que será que o editor imaginava? Que ela fosse recrutar “serristas” para os postos-chave de sua administração?
Como ensinam os manuais do jornalismo, essa não é uma notícia. Ou será que algo tão óbvio merece destaque? “Cachorro come linguiça” não é um título para a primeira página. No dia em que a linguiça comer o cachorro, aí sim a teremos uma notícia (que, aliás, deverá ser impressa em letras garrafais).
Na mesma linha, um jornal carioca achou que era necessário alertar os leitores para o fato de que “Lula está indicando várias pessoas para o governo Dilma”. Em meio a estatísticas sobre quantos nomes já havia emplacado, a matéria era de franca desaprovação.
Na verdade, tanto nessa, quanto na manchete do jornal paulista, estava implícita quase uma denúncia, como se um duplo mal-feito estivesse sendo cometido. Por Lula, ao “se meter” na formação do novo governo, ao “tentar interferir” onde, aparentemente, não deveria ter voz. Por Dilma, ao não reagir à intromissão e o deixar livre para apontar nomes.
Quem publica coisas assim dá mostras de não ter entendido a eleição que acabamos de fazer. Não entendeu como Lula, seu principal arquiteto, a concebeu, como Dilma encarnou a proposta, e como a grande maioria do eleitorado a assimilou.
Tudo mundo sabe que, quando Lula formulou o projeto da candidatura Dilma, a ideia central era de continuidade: do governo, de suas prioridades, de seu estilo. Ele nunca disse o contrário e insistiu no uso de imagens que caracterizavam, com clareza, o que ela representava. Para que ninguém tivesse dúvidas, chegou a afirmar que votar em Dilma era a mesma coisa que votar nele. Foi explícito nos palanques, nas declarações, na televisão.
Dilma sempre falou a mesma coisa. Mostrou-se à vontade como representante de Lula e do governo, seja por sua lealdade para com o presidente, seja pela boa razão de que o governo era dela também.
Apresentar-se ao país como candidata de continuidade nunca a deixou desconfortável, pois significava defender aquilo a que havia se dedicado nos últimos oito anos.
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Isso foi bem entendido pelos eleitores. Desde o primeiro momento e até o fim da eleição, as pessoas olharam para Dilma sabendo qual era a natureza de sua candidatura. Muitas descobriram suas qualidades pessoais, mas o núcleo da decisão de votar em seu nome foi outro, como mostraram as pesquisas.
Ninguém votou em Dilma para que o “dilmismo” vencesse o “serrismo”. Só quem quis que a eleição fosse essa foi o próprio Serra, que sabia que perderia se o foco da escolha se alargasse, se os eleitores olhassem para o que cada candidato representava e não se limitassem a fazer a velha comparação de biografias.
Agora, quando Dilma escuta Lula na montagem do governo, ela apenas cumpre a promessa fundamental de sua candidatura, a razão principal (para alguns eleitores, a única) dela ter sido votada. Quando dá mostras de que manterá ministros e dirigentes, faz apenas o natural. Se, por exemplo, se comprometeu durante a campanha com a preservação de determinada política, porque razão não seria adequado que o responsável permanecesse?
O governo que está sendo organizado terá a cara da continuidade, política e administrativa. Terá a cara de Lula, do PT e das outras forças partidárias que venceram a eleição. Terá a cara da atual administração, que é aprovada pela maioria da sociedade. Terá a cara de Dilma, pois é ela que o chefiará.
É isso que foi combinado com o país.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Comentários
Lu Busis
Votei na Dilma por sua atuação como ministra do governo Lula, por sua biografia e pela necessidade de o Brasil buscar uma forma de dar continuidade ao projeto que o Lula emplacou. Pouco me importa se o ministro é novo na pasta ou não, pouco me importa se é do PT, do PMDB ou de qualquer outro partido aliado, ou mesmo de nenhum partido. Importa-me sim, que o ministro escolhido não seja do PSDB, DEM, PPS, PSOL, etc, não porque ali não existam pessoas bem intencionadas e capazes, mas porque os principais representantes dessas agremiações bateram pesado demais no Lula, muitas vezes fazendo uso de desonestidade e descaramento, como nos factóides criados para desestabilizar o governo. A proposta da Dilma é a continuidade com aperfeiçoamento, tanto é que a campanha se identificava pelo: PARA O BRASIL CONTINUAR MUDANDO. Se para isso, for necessário que todos continuem lá, que fiquem e façam tão bem quanto fizeram no tempo do Lula.
Marcio
É que "eles" estão acostumados a brigar entre si. É o caso de SP. Aqui quando um entra muda tudo, mesmo que o outro seja do seu próprio partido. Eles nunca se entenderam e não entendem também como é que Dilma dá continuidade quando falou que…….DARIA CONTINUIDADE.
Laura
Pois eu votei na dilma e voto no Pt e achei, sim, que o Ministério parece que está, sim, continuista demais.Pouco se me dá o que diz a direita. Houve mudança, sim, com o Tombeini no BC. Mas o ue gostaria de ver são projetos e um certo ar de mudança, arejamento, ousadia. Muitos mesmos nomes dá um certo ar de falta de movimento e projeto próprio. A Dilma é maravilhosa, onde está a maravilha no Ministério?por enquanto está meio insonso, sem verve. Não estou gostando, não.
a barbosa filho
Jobim, vai por mim: pede prá sair….
Pedro
Coimbra foi no ponto agora.
Ah, esse PIG…
franklin
Mas a intenção deles é justamente isso. Isolar a Dilma do Lula, e perseguir o governo dela sem ter que enfrentar o GRANDE LULA.
Domngos
Essa "grande imprensa" parece não ter o que falar. LULA é DILMA e DILMA é LULA todos sabem disso.
Lisboa
Na vdd eles (PIG) sabem disso, não são imbecis a tal ponto. O que eles querem
é jogar um monte de asneiras no "ventilador".
E ai, vai que uma asneira dessa pega, no minimo já estaram prontos para o golpe. O
que precisamos é de blogs como esse, para nos munir de informações e não cair
na conversa deles (o PIG).
J.L.Brandão Costa
Como se diz aqui no Rio: lugar quente para chorar é na cama, ou então no Bola Preta. Análise perfeita.
Esse artigo do Coimbra veio a calhar. Parece que ele sabia o que a Dona Miriam Leitão irira escrever na sua coluna do Globo, hoje. Mais cômico que ísso, só a alegação de que a verdadeira democracia demanda "alternância".
Marino Piccoli
PERFEITO!!
Carmen
Concordo plenamente, mas com Palocci fora da Casa Civil e se possível fora do Ministério e Nelson Jobim, O DELATOR, fora do governo.
ebrantino
Coimbra é o cara. Acrescentar o que?!
Edmar
Caro o Marcos Coimbra evitou-me a nescessidade de bradar aos ventos contra os comentários idiotas das "sumidades" globais (não sei porque não "sumem" de vez), criticando as escolhas de DILMA e LULA pro ministério. Nós elegemos essas pessoas (que vergonha do Jobim!) que fizeram os governos chefiados pelo LULA, pra que seguissem fazendo a mesma coisa chefiados agora pela DILMA. Afinal alguém com espaço para manifestar-se brada esso "PORQUE NÃO TE CALAS" nesse idiotas do PIG (PHA). Obrigado!
Sérgio Vianna
"É isso que foi combinado com o país."
Marcos Coimbra foi cruel. Chamou os chorões – todos de uma vez – de estúpidos.
Mas nossa mídia está cheia de estúpidos e medíocres. Não enxergam Dilma como a dona da caneta, que assina a entrada e a saída de quem ELA quiser. Observado o jogo político, que é da vida política. Nada mais que natural.
E aos estúpidos, quem deu a Dilma a autoridade de assinar o que ela quiser também é conhecido por POVO BRASILEIRO. Que está muito satisfeito com a escolha que fez.
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