Janio de Freitas: Joaquim Barbosa e o leitor black bloc mental

Tempo de leitura: 3 min

Com e sem Joaquim Barbosa

Presidente do STF tornou-se, via TV, o que a linguagem modernosa chama de fenômeno midiático

por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

Está prevista para hoje a última participação do ministro Joaquim Barbosa como presidente e como integrante do Supremo Tribunal Federal, mas da agenda não decorre a certeza de sua presença. É desejável que vá. Considerado o nível de apreço que o ministro tem aparentado pelo Supremo, em referências à corte atual e na renúncia antecipada em relação até ao que já seria grande antecipação, pode bem revelar-se um privilégio vê-lo togado ainda uma vez e, como despedida, em sua plena autenticidade.

O sentido e a dimensão das contribuições de Joaquim Barbosa, para a magistratura e para o Supremo, devem ser medidos e pesados por juristas e magistrados. Seu último e relevante desempenho suscitou, porém, fora do tribunal, admirações exacerbadas e os diferentes opostos disso, além, entre aquelas e estes, de não pouco estarrecimento.

As múltiplas imagens públicas de Joaquim Barbosa, por mais que se devam ao próprio, são obra direta da função de projetá-las que o Supremo deu à TV, ao abrir à indiscrição das câmeras e microfones o que até então era tratado com o temeroso recato da imprensa ante a alta magistratura. Joaquim Barbosa tornou-se, via TV, o que a linguagem modernosa chama de fenômeno midiático. E, em tal condição, protagonista político.

Alguns reflexos desse protagonismo são sociologicamente bastante reveladores. Ministros do Supremo, por exemplo, em especial Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Teori Zavascki, conhecem o efeito, manifestado por parte da opinião pública e da imprensa, de ter posições divergentes das expostas por Joaquim Barbosa. No Supremo mesmo, aliás, a exaltação de Joaquim Barbosa se difundiu, a ponto de ouvir-se o próprio decano do tribunal, Celso de Mello, em voto descontroladamente irado sobre um recurso, chamar de “ladrões” os recorrentes entre os quais nenhum foi acusado ou condenado como ladrão.

Para ficar em exemplo com base ainda mais segura, tenho a correspondência recebida de leitores. Em minhas três décadas na Folha, jamais me faltaram críticas de leitores. Guardei todas, valiosas como elementos de análise histórica. E nelas se comprova um salto extraordinário: criticar ou mesmo registrar qualquer das muitas violações, por Joaquim Barbosa, do equilíbrio e da compostura que são deveres de todo magistrado, e sem as quais o magistrado deixa de sê-lo, provocou a mudança de linguagem das críticas que antes seriam ásperas.

O crescendo da exaltação de Joaquim Barbosa foi acompanhado do crescendo de insultos, da violência a ponto de haver até ameaça. E, com o novo hábito, não mais a respeito só de pontuações do julgamento, mas já sobre qualquer assunto. As deformações caluniosas do que foi expresso no texto, antes próprias dos judeus de extrema direita (agora mesmo fui atacado por lamentar o fim do mandato do presidente Shimon Peres, um raro estadista israelense), hoje são corriqueiras. O salto nítido na linguagem exprimiu como que uma liberação de iras e fúrias por Joaquim Barbosa, por sua exaltação condenatória.

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Não muda nada que a liberação ocorresse à revelia do ministro, talvez desconhecimento. É a revelação de um estrato social que constitui uma espécie de black bloc mental, político e tão ansioso por violência quanto aquele que sai de casa para destruir placas de trânsito, incendiar lixeiras, obstruir partes das cidades e tentar atingir policiais. É a revelação daquela massa que parece compreender, insatisfeita embora, os males da prepotência social e do autoritarismo político, mas está pronta para o contrário. Espera só o pretexto.

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Comentários

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Ulisses

Mas Joaquim Barbosa, aprontou mais uma antes de sair. Aliviou a barra ao candidato do DEM ao distrito federal, José Roberto Arruda, pego com a mão na botija ao ser filmado em ato escandaloso de corrupção. O seu processo foi para a 1º instância. Que isto venha a público para desmascarar este caçador de maracujas e petistas!
http://jornalggn.com.br/noticia/jose-roberto-arruda-comecara-a-ser-julgado-na-1%C2%AA-instancia
Jornal GGN – José Roberto Arruda, denunciado pela operação Caixa de Pandora, também conhecida como mensalão do DEM, será julgado em primeira instância, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. A decisão foi de Joaquim Barbosa, nesta quinta-feira (03), ainda como presidente do Supremo Tribunal Federal.

Isso porque o Superior Tribunal de Justiça decidiu, em junho do ano passado, desmembrar o processo da Caixa de Pandora, caso que acarretou o afastamento do cargo o ex-governador do DF, José Roberto Arruda. O argumento inicial do Ministério Público era do crime de formação de quadrilha, fato que levaria todos os réus investigados a instância superior, assim como ocorreu no julgamento da Ação Penal 470, com a condenação dos petistas pelo Supremo Tribunal Federal.

Levando a primeira instância, o processo tem todos os recursos disponíveis e, consequentemente, interfere na decisão a longo prazo. O início do processo, agora ordenado por Joaquim Barbosa, no Tribunal de Justiça do DF, terá pouco efeito sobre as eleições de Arruda ao governo do Distrito Federal neste ano.

Mesmo que julgado na primeira instância, a candidatura não poderá mais ser contestada, já que o prazo final de registro na Justiça Eleitoral termina amanhã (05), e o julgamento final deveria ocorrer antes disso.

O que poderá ocorrer, posteriormente, é na condição de um julgamento e seguida condenação por um órgão colegiado, José Roberto Arruda poderia, só assim, ser impedido de exercer o mandato, se eleito.

A decisão de Barbosa ocorreu depois que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, solicitou que prossiga a tramitação do processo de improbidade adminsitrativa.

Sabino

Bem lembrado Ricardo, o poder judiciário precisa ser passado a limpo, bem como os tribunais de contas, no Nordeste, em um pequenino estado, um senador que tem uma dúzia de partidos políticos deu um “GOLPE” no legislativo estadual, antecipou a eleição da mesa da casa, e colocou seus “PAUS MANDADOS”, feito isso, não mais aprovou nenhum projeto do executivo estadual, e o pior, numa eleição para a escolha de um conselheiro do tribunal de contas, outro “GOLPE”, a votação que era voto verbal, passou a ser voto secreto, e a diferença entre os dois candidatos fora de 01 voto, vejam a “ARMAÇÃO”, a candidata do legislativo pediu “LICENÇA”, e o suplente (parte interessada) votou, se não fosse essa “ARMAÇÃO” do voto secreto e o suplente votar, a candidata do legislativo não seria a eleita, o perdedor recorreu à justiça, e foi parar no STF, e infelizmente o Lewandosky, certamente não soube desse “GOLPE” e confirmou a vaga para a candidata eleita sob essa condição “SUSPEITA”, novamente outra vaga para o tribunal de contas, e a presidenta da casa é “ELEITA”, sob essa mesma condição (voto secreto), e apois passado 03 meses de eleita, se recusa a deixar o poder legislativo, estranho não.

Heitor

Será que é possível, colocar artigos sem esta foto do JB?

Essa foto me irrita muito. Me desculpem, mas ela me remete aquelas seções deploráveis da ação 470.

ricardo silveira

é

carlos

É indiscutivel a diferença de capacidade, do ex-presidente e do atual presidente do SUPREMO,quem assitiu os debates travados entre ambos na ação ap 470 viu que era um professor dando aula a um aluno, mais que isso, um aluno nervoso e ignorante, ou melhor o mestre dando uma palestra para amador um principiante que demostrou uma tremenda falta de preparo prá execer um cargo de tão alta relevancia, eu não só acredito, em um novo rumo para o poder judiciario brasileiro como acredito que atuação qualifica desta Corte vai ter um salto de qualidade agora.

Sergio Santos

Esse senhor que ora se despede do STF demonstrou que o Brasil precisa se tornar uma Democracia Real, onde “Todo poder emana do Povo”. O Poder Judiciário não pode ser constituído à revelia do povo e sem seu controle. Vimos um mandato do senhor JB como presidente do STF e do CNJ, em um conflito de interesses gritantes. Juízes e ministros do Judiciário não são eleitos pelo povo; possuem cargos vitalícios; o STF determina que juízes não podem ser demitidos do cargo, mas só aposentados, mesmo que julgados e condenados por crimes comuns que suscitariam a demissão do serviço público de qualquer outro servidor (não existe isonomia para o Judiciário). O Brasil precisa se tornar um Estado de Direito; já passa da hora.

ricardo silveira

Vem se tornando claro que Joaquim Barbosa foi um “desastre ferroviário” para o Judiciário brasileiro. Não penso diferente desde as primeiras seções que assisti pela TV Justiça. Mas, acho que, neste absurdo que foi o “mentirão”, há uma coisa a destacar: Joaquim mostrou, a gosto ou contragosto o que é ou pode ser o STF, ele não agiu sozinho, e os que lá ficaram todos sabem do que são capazes. Fica claro que o STF não pode ter a última palavra, esta deve sempre ser dada pela soberania do povo brasileiro, mas com mídia livre, democrática, e não monopolizada, senão o povo também é pautado. Financiamento público de campanhas eleitorais é o primeiro passo.

Mário SF Alves

Incitatus…

Calígulas, impérios, tudo acaba nisso. Incitatus. Ainda vivemos a possibilidade de novos Calígulas e seus Incitatus.

Portanto, Reforma Política, já!

O único meio de o Brasi livrar-se de vez do caixa dois de campanha e de novos Incitatus e seus donos, os, mais do que nunca, invisíveis Calígulas.

Aline C Pavia

Joaquim quem?

Mário SF Alves

A bem da verdade, existe um Brasil (ou seria BraZil?) que é cego demais, insensível demais, exclusivista demais e estúpido demais para reconhecer o valor dos TRABALHADORES BRASILEIROS que hoje estão a erguer econômica e moralmente este incrível, riquíssimo e potencialmente poderosíssimo País.

Eles, os insensíveis, os exclusivistas, os estúpidos, passarão.
Nós, os sonhadores, utópicos do o Brasil, Um País de Todos, passarinho.

Mário SF Alves

A anti-saga do Joaquim Barbosa, o Homem Morcego tupiniquim, o que, bizarramente, segue o engavetador geral e que só apresenta MACHESA contra acusados do PT, nos ensina mais sobre o Brasil do que 500 horas-aula de Darcy Ribeiro e Gilberto Freyre.

Salvas as equidistâncias, quando comparamos Joaquim Barbosa e aquele que permitiu sua posse no STF, o ex-presudente Lula, salta aos olhos a esquizofrenia ideológica que marca e caracteriza politicamente o Brasil. De um lado, o projeto de conquista de soberania nacional do o Brasil Um País de Todos, de outro, a luta injusta, prepotente e desleal pela manutenção a qualquer preço do Brasi Um País de Poucos, submisso, entreguista e vira-latas. De um lado Brasi Um País de Todos, de outro o regime Casa-Grande-Brasil-Eterna-Senzala.

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Ao despedir-se, o ex-presidente do STF não se fez de rogado, e fuzilou: saio de alma leve.

Alma?
Leve?

É… definitivamente, a POLÍTICA no Brasil não é para principiantes.

Eduardo

Trabalhar,ser educado e respeitoso com o semelhante e consigo mesmo, são alguns fundamentos da vida, indispensáveis à existência humana. Diz-se que “tem berço” , quando estes fundamentos afloram e são percebidos em determinado indivíduo. Neste caso, o desprovimento de educação formal nem é importante! Não pode o humano prescindir ou exacerbar tais fundamentos! Pior, até deplorável, é prescindir ou exacerbar quando se tem a oportunidade e o privilegio da educação formal! Inacreditável, mas os fatos fazem constatar que a agressão física, verbal , aos direitos individuais, enfim que uma agressão grave ou não pode ocorrer quando está ausente o “berço”. Está falta é quase impossível de ser corrigida!

Messias Franca de Macedo

… Até hoje soa ordinário e repugnante em meus ouvidos o *decano do **”supremoTF” pronunciar, direto do plenário do STF, via as ondas eletromagnéticas das Concessões Públicas (sic) de Televisão e emissoras de rádio: ***”Os mensaleiros do PT agiam como bandoleiros de estradas!”
*o mesmo ‘advogado de merda’, segundo o jurista Saulo Ramos
**”supremoTF”: aspas monstruosas e letras submicroscópicas! Portanto, nós podemos inferir que, no ‘braZil’, “a corte suprema” é, absolutamente, ÍNFIMA! O que não deixa de ser um risco iminente à nossa subdemocracia de bananas!
***O mensalão do PT porquanto o MENSALÃO do PSDB/DEMo nunca será julgado! Ali, sim, dinheiro público surrupiado, Bemge, Cemig, Copasa… Queira ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mensal%C3%A3o_tucano

Maria Izabel L Silva

Matéria da Globo destacou a despedida de Barbosa. Primeiro ele próprio aparece fazendo seu auto elogio. Fiquei paralisada diante de tanta hipocrisia e cinismo desse homem. Ele se acha o próprio guardião e profeta da Lei e da moral. Escondeu provas, desrespeitou os réus e os colegas, atropelou regimento, manipulou a mídia, e se coloca como um incompreendido? Depois veio o depoimento protocolar do Barroso. Em seguida a sandice do Gilmar Mendes, e por fim, a fala do Marco Aurelio Mello. Esse não alisou. Se mostrou aliviado e não poupou criticas ao estilo truculento do ministro Barbosa. Estamos todos aliviados. Agora o STF pode recuperar a decência perdida.

    Guilherme Souto

    Só não concordo que ele tenha manipulado a mídia.

    Mário SF Alves

    De fato. Ao contrário do que foi dito, ele foi manipulado e impulsionado aos píncaros de efêmera glória por obra e graça do dito IV Poder, a grande e mafiosa mídia.

    Subiu e pairou absoluto sobre as nuvens da prepotência, trepado no lombo de um cavalo-de-Tróia. O mesmo simulacro que a ditadura e seus baluartes estrangeiros fizeram agigantar-se naquele que fora o eterno e bem comportado Brasil, um país de uns poucos.

    Enfim, é mais um que desde Silvério do Reis, cumpriu – à risca e na marra – o papel que lhe delegaram.

    Se a Lei vigente não for capaz de desmascará-lo, que a História o faça. Que a História, que não findou e que não findará jamiais, o mostre como realmente é.

    Neste dia, no dia da verdade, o Brasil dos brasileiros se sentirá mais aliviado. Tomara que não tarde muito.

Rodrigo Carvalho

Barbosa e judiciário tentaram exercer obviamente com a grande mídia , um golpe em cima do atual governo federal, trocou-se os militares de 1964 pelo judiciário. Já citei q tese de doutorado 1964: A Conquista do Estado, que mostra e comprova claramente a armação do golpe de 1964 pela CIA e afins. Tentaram algo semelhante por outros meios e não conseguiram. E o Jânio de Freitas mostra sempre o profissional qualificado que é.

Gerson Carneiro

Acabou o recreio.

Cláudio

… “Com o tempo, uma imprensa [mídia] cínica, mercenária, demagógica e corruta formará um público tão vil como ela mesma” *** * Joseph Pulitzer. … … “Se você não for cuidadoso(a), os jornais [mídias] farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo” *** * Malcolm X. … … … Ley de Medios Já ! ! ! . . . … … … …

Urbano

No Nordeste, não sei se ainda nos dias de hoje, o povo modesto da zona rural gostava muito de se por de cócoras nos quintais, nas laterais das estradas; no mais das vezes a conversar. De cócoras, mas especificamente a posição corporal…

    Mário SF Alves

    Bem lembrado, Urbano.

    Brasil diverso; Brasil da multiplicidade: Hábitos e costumes.

    De cócoras… quem sabe, a aguardar o Dia da Verdade.

    E esse dia um dia virá.

    Urbano

    Diz aí Mário, tudo bem? É que a verdade vem a ser um bom escudeiro para o bem e ambos sempre vencem mais cedo ou mais tarde; apesar da maledicência e invencionice daqueles, que para crescer materialmente se agacham moralmente.

Luís CPPrudente

Joaquim Barbosa????? Era aquele sujeito que ocupava a função de Carcereiro da Papuda?

Luís Carlos

Barbosa e Black Block, tudo a ver.

Francisco (o anônimo)

Dizia o corvo de Poe: “Never more…”.

Nelson

Tenho acompanhado os comentários de Jânio de Freitas por uns bons 20 anos. Não todos, mas, uma grande parte deles.

E, nesse tempo todo, Jânio, pelo menos no que eu li, sempre demonstrou coerência. Quando expunha a realidade do que era o governo FHC, era duramente criticado e taxado de petista.

Quando passou a mostrar as barbeiragens do governo Lula, mantendo sua coerência, muitos passaram a taxá-lo de demo-tucano.

Este texto, sobre a saída, já tarde, do Barbosa, Jânio, novamente, acerta na mosca.

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