Mark Weisbrot: Quem manda no FMI é a Goldman Sachs

Tempo de leitura: 4 min

IMF’s Rhetoric Still Far from Its Policies

By Mark Weisbrot, no jornal britânico Guardian

No momento em que o Fundo Monerário Internacional (FMI) e o Banco Mundial se reúnem em Washington para seus encontros anuais da primavera, surgem debates sobre quanto mudou o FMI. O diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn citou John Maynard Keynes em seu discurso de quarta-feira na Brookings Institution:

As falhas mais aparentes da sociedade econômica em que vivemos são sua incapacidade de dar pleno emprego e sua distribuição arbitrária e desigual de riqueza e renda.

Em seu discurso inaugural nos encontros do outono do ano passado ele foi além, tratando do aumento da dívida pública em países de alta renda em termos que deveriam ser leitura obrigatória para os jornalistas econômicos dos Estados Unidos:

Não se enganem: este aumento de 35 pontos percentuais [na dívida pública dos países de alta renda] é devido a baixo crescimento, aos gastos ligados ao resgate do setor financeiro, à falta de arrecadação por causa da baixa atividade econômica. Apenas um décimo vem diretamente do estímulo [bancado pelo setor público]. Assim, a lição é clara: a maior ameaça à sustentabilidade fiscal é o baixo crescimento.

Naturalmente, houve algumas mudanças significativas no FMI em anos recentes, a maior parte na área de pesquisa, onde o Fundo admite que o controle da entrada de capitais é uma ferramenta legítima.  Houve alguns empréstimos limitados, sem pré-condições. E embora o FMI tenha incluído condições “pró-cíclicas” — isto é, políticas macroeconômicas que aprofundaram a recessão — na maior parte de seus acordos durante a recessão mundial, sendo otimista é preciso considerar que o FMI mudou de linha em vários casos, depois da piora da situação econômica.

Mas infelizmente as práticas do FMI ainda não alcançam sua retórica ou, mesmo, o que diz o seu próprio departamento de pesquisa. Na Grécia, Irlanda, Espanha, Portugal, Latvia e outros países, o Fundo ainda está envolvido na implementação de políticas “pró-cíclicas” que vão adiar a recuperação destes países por um longo tempo. Para a Grécia, Irlanda e Latvia, por exemplo, serão de 9 a 10 anos antes que eles atinjam um nível de PIB pré-crise.

Não há absolutamente desculpa para isso de um ponto-de-vista econômico. Qualquer política que exija um período tão extenso de desemprego e estagnação é por definição errada. Se isso é o que eles precisam para assegurar pagamento da dívida, então o país se dará melhor simplesmente deixando de pagar. A Argentina enfrentava uma dívida insustentável e declarou moratória no fim de 2001. A economia encolheu por um trimestre e então cresceu 63% nos próximos seis anos, recuperando-se ao nível pré-crise do PIB em apenas três anos.

Retórica de lado, as políticas do FMI ainda refletem o ponto-de-vista dos credores. E do ponto-de-vista dos credores, um país como a Grécia — que os próprios mercados financeiros reconhecem que em algum momento terá de reestruturar sua dívida — precisam primeiro ir ao inferno. As autoridades europeias e o FMI tem tanto dinheiro agora (U$ 750 bilhões do FMI, U$ 635 bilhões da Autoridade Europeia de Estabilização Financeira, U$ 87 bilhões do Fundo de Estabilização Financeira da Europa) que seria relativamente simples resgatar pequenas economias como a Grécia, Irlanda, Portugal ou Latvia — ou mesmo uma economia muito maior como a espanhola — de forma indolor. Em outras palavras, restaurar crescimento e emprego primeiro, e se preocupar com a dívida depois que a economia estivesse de volta aos trilhos.

Mas, do ponto-de-vista dos credores, isso seria recompensar “mau comportamento”. Assim, os povos destes países precisam sofrem anos de desemprego (20% na Espanha, 15% na Irlanda, 11% em Portugal, 14% na Grécia, 17% na Latvia).

Sem mencionar as privatizações e as reformas contra os sindicatos a que estes países são submetidos para que atendam às demandas do FMI e da União Europeia.

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Para ser justo com Strauss-Kahn e com os economistas do departamento de pesquisa do FMI, que gostariam de adotar políticas mais iluminadas, eles não governam a instituição. A palavra final fica com o Comitê Executivo, que é governado primariamente pelo Departamento de Tesouro dos Estados Unidos e por autoridades europeias (os últimos tem a palavra final na Europa, inclusive no Leste europeu).

E sobre o Departamento de Tesouro dos Estados Unidos está a Goldman Sachs.

O FMI acaba de divulgar o “World Economic Outlook” (WEO) que pede “implementação de consolidação fiscal e reformas de direitos” em países de alta renda, dizendo que “a necessidade é particularmente urgente nos Estados Unidos” onde “medidas amplas de reforma da Previdência e do sistema tributário” serão essenciais. O fundo está certo sobre “reforma tributária”, já que os cortes de impostos de Bush para os mais ricos, que continuaram sob o governo Obama, são uma contribuição significativa para o problema do déficit de longo prazo. Mas a Previdência social não contribui para o déficit de agora, nem de longo prazo. A Social Security [Previdência Social americana] pode pagar os benefícios prometidos pelos próximos 26 anos, e precisaria apenas de pequenos ajustes para manter sua solvência indefinidamente. Por contraste, é nosso sistema de saúde falido o responsável pelo déficit projetado a longo prazo.

O Fundo projeta crescimento anual de 2,5% para os países de alta renda nos próximos dois anos e 6,5% para os “países emergentes e de economias em desenvolvimento”. Ao pedir consolidação fiscal nos países ricos, o FMI parece acreditar que eles estão destinados a ter baixo crescimento e alto desemprego no futuro próximo; eles querem que os países em desenvolvimento, com a economia em crescimento, apreciem suas moedas e dêem um empurrão nos países ricos ao importar mais. Ao mesmo tempo o FMI está preocupado que os países em desenvolvimento estejam “superaquecendo” e diz que muitos precisam de “políticas de aperto macroeconômico”.

Mas as mudanças reais — aquelas que contribuiram para a recuperação do crescimento econômico em países de renda baixa e média ao longo da última década — foram resultado da perda da influência que o Fundo tinha há dez ou vinte anos. Isso é especialmente verdadeiro para os países de renda média — na Ásia, maior parte da América Latina, Rússia e outros, embora muitos países de baixa renda ainda sejam dependentes do Fundo e seus empréstimos. O valor dos empréstimos do Fundo despencou entre 2003 e 2007, e embora recentemente tenha voltado ao nível de 2003, o FMI não tem mais a influência que já teve em países de renda média. Assim, se espera que menos e menos países serão obrigados a escutar os conselhos do FMI — a não ser que queiram focalizar a retórica keynesiana de Strauss-Kahn.

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Comentários

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rodrigo.aft

colegas,

vamos aprender a ver o q tem atrás do cenário? vamo começar a interpretar as entrelinhas?

quem é(são) o(s) controlador(es) do Goldman Sachs?

vou começar com o primeiro chute: alguns milionários palestinos infiltrados como pobres na faixa de Gaza?

João

Essas "reformas" propostas pelo FMI nunca acabam. Sempre querem mais aperto dos países que dependem do dinheiro do FMI.
Em um português bem simples: é uma pilantragem o que o FMI faz. E agora, para que os países ricos saiam da crise gerada por eles, querem apreciação das moedas dos países em desenvolvimento para os ricos exportarem mais!!
É muita cara-de-pau. Por que não chamam os Rotschield e colocam esta "bomba" no colo deles? Alguém aí conhece algum empresário que foi punido por causa da crise? Em 1929 eles se jogavam das janelas dos hotéis, hoje recebem dinheiro federal e um tapinha nas costas.
Ainda bem que mandamos o FMI "às favas", e poderemos implementar medidas de proteção (êpa, liberais de plantão, não tenham uma síncope) à nossa economia.

    Nelson

    Meu caro João. Eu gostaria, sinceramente, de ser tão otimista quanto você nessa história de mandar o "FMI às favas". O que vejo, da parte do nosso governo, não é bem isso.

    rodrigo.aft

    Prezado João,

    vamos tornar a história mais didática…

    quem tem dinheiro para desestabilizar países (portugal, espanha, irlanda, grécia), os famosos ataques especulativos, para logo em seguida "socorrê-los" com mais dinheiro e causando GRANDES TRAGÉDIAS SOCIAIS NOS PAÍSES-ALVO? (rússia, ucrânia e países próximos tbém comeram o pão q o diabo amassou)

    quem não quer investir em produção e fazer valer q o mercado joga no "risco" (pode ganhar ou perder), e só fica se masturbando no ganho de capital sobre ganho de capital sem quase nenhum risco?

    vou dar uma dica: acho q são alguns milionários palestinos, travestidos de pobres morando na faixa de Gaza, certo?

Marcelo Fraga

Onde está escrito Latvia leia-se Letônia.

Bonifa

Edição histórica de The Independent: A Inglaterra ajudou na invasão do Iraque a serviço das empresas britânicas de petróleo (os jovens soldados britânicos morreram por isso?):

Secret memos expose link between oil firms and invasion of Iraq
By Paul Bignell
http://www.independent.co.uk/news/uk/politics/sec

Jaime

Uma pequena correção: 'Latvia', em português, é 'Letônia'.

O FMI trocou o pelo, mas não o vício! | ESTADO ANARQUISTA

[…] Mark Weisbrot, no jornal Guardian pelo Viomundo […]

Roberto Locatelli

Os EUA estão espalhando dólares pelo mundo, fazendo desvalorizar sua moeda, declarada "mundial" depois da Segunda Guerra. Ou seja, eles querem exportar mais às nossas custas, prejudicando nossas exportações.

Aí vem o FMI e diz que não podemos tomar medidas para nos proteger da chuva ácida de dólares, pois isso prejudicaria o equilíbrio econômico mundial. Equilíbrio de quem, cara-pálida? Vá catar coquinho, sô.

    Carmem Leporace

    Magistral.

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