Laile Ribeiro: Pelo que Aécio causou à educação de Minas 15% é muito

Tempo de leitura: 5 min

Laile e filha

Resquícios do governo Aécio Neves em Minas Gerais

por Laile Ribeiro de Abreu

Nós, mineiros, conhecemos bem as estratégias governamentais do Sr. Aécio Neves, discípulo de políticos de tradição das Minas e que, por isso, entende bem como articular o discurso e maquiar a realidade. Contudo, nós, que convivemos de perto com o “choque de gestão” do qual fala “mundos e fundos”, sabemos que a realidade é outra, principalmente no tocante à Educação. Faltou, na gestão dele e nessa que o sucedeu, investimentos na infraestrutura escolar, abertura de vagas e, o principal, valorização dos professores.

A retórica dos aliados do Sr. Aécio Neves é ludibriadora: administrador inigualável, exímia capacidade para cortar gastos e montar equipe técnica de ponta.

A realidade, entretanto, é outra. De acordo com dados do SINDUTE/MG, publicados em 10 de agosto de 2014, no jornal O Tempo, BH, no governo desse Senhor e no do Sr. Anastasia, não houve os investimentos mínimos que a Constituição Federal determina que sejam destinados à Educação. Isso significa uma perda expressiva e responde à inquietante questão de por que mais de 600 escolas em Minas não possuírem rede de esgoto, mais de 1900 não terem um refeitório e nem uma quadra coberta e cerca de 2580 não possuírem laboratório de ciências.

Além desses desfalques, estão utilizando algumas informações de feitos do Sr. Aécio Neves, durante o governo mineiro, como “carro chefe” da campanha que me lembram da música do Zeca pagodinho: “Você sabe o que é caviar? Eu não sei, nunca vi, eu só ouço falar […]”.

Trata-se da poupança jovem cujo alcance nunca ultrapassou mais que nove municípios mineiros, ou seja, é um projeto sem a menor expressividade. Se esse modelo de gestão não consegue nem mesmo vagas para toda a demanda jovem que precisa estar no Ensino Médio, imaginem criar um programa de governo que contemple o discente com uma poupança. Quem acreditar nisso deve acreditar, também, em papai Noel, coelhinho da páscoa ou coisas do gênero.

Para o docente não houve outro que o superasse na desfaçatez.

Efetivou através da Lei C 100 mais de 98 mil servidores sem estabelecer nenhum critério.

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Na minha cidade, Papagaios, houve um caso inusitado que, acredito, não tenha se restringido às cercanias desse sertão: uma servidora cuja escolaridade não contempla(va) o magistério, tampouco a graduação, substituiu outra servidora nomeada em férias prêmio na área de Língua Inglesa sem a menor especialização para tal. Efetivou-se e assumiu, no ano seguinte, um cargo completo.

Outra servidora, na mesma área, mas com graduação em Letras (Português, Inglês e suas Literaturas), efetivou-se também. Entretanto, essa não pôde assumir um cargo completo porque a sua efetivação, via Lei C100, dera-se com apenas seis ou oito aulas. A servidora aposentou-se nesse cargo nessa situação, sendo que aquela continua/continuou com o cargo completo.

Ou seja: não houve planejamento nenhum para tais interferências, não foi algo pensado milimetricamente, conforme deve ser uma ação dessa envergadura. Foi um governo que nunca pagou o piso salarial aos professores, mas afinaram o discurso, como bons tucanos que são, e criaram o subsídio (para não dizer outra coisa) e aniquilou através de acordos esmagadores o plano de carreira do professor, exigindo dele que espere pelo menos cinco anos para ter uma progressão por escolaridade.

Eu terminei o meu mestrado em 20 de maio de 2011 e até hoje não fui recompensada com nem um centavo pela minha pós-graduação, tendo que me submeter à tirania dessa equipe que só trabalha em prol da massificação da Educação e da desmotivação daqueles(as) que ainda insistem em participar desse modelo escolar valido. Truculentamente, exterminou os direitos adquiridos dos professores sem dó nem piedade.

E a coisa não para por aí. Em 2013 a SEE lançou o “Reinventando o Ensino Médio” sem dar nenhum suporte às escolas, sem capacitar os professores e, o que é pior, sem pensar que há alunos que precisam do transporte escolar, pois vêm da zona rural.

Resultado? Durante o mês de fevereiro, nas primeiras semanas as escolas e SME receberam da Sra. Ana Lúcia de Almeida Gazolla ofício instruindo que esses alunos não seriam obrigados a fazer o sexto horário de maneira presencial e que deveriam ser liberados no horário anterior para que não tivessem problemas com o transporte e isso porque não foi pensado em verbas adicionais para as secretarias municipais de transporte para arcar com essa demanda. Diante do exposto pergunto: foi bem pensado? Ou foi rearranjado consoante são as ações dessa gestão?

Já partindo para o encerramento dessa comunicação, gostaria de fechá-la, compartilhando um drama pessoal que vivenciei recentemente e que alterou o curso da minha profissão. Sou graduada em Letras (Português e Inglês) por uma instituição privada, sou mestre em Literatura Brasileira pela Fale/UFMG e doutoranda também em Literatura Brasileira pela mesma instituição.

Consegui uma bolsa para fazer o doutorado-sanduíche, na Universidad D. Sevilla, pela CAPES. Meu projeto inicial era ficar por três meses, acompanhando os trabalhos de uma professora espanhola renomada que desenvolve um trabalho de fôlego sobre estudos culturais. A referida professora orientou uma aluna brasileira em sua tese de doutorado sobre a escritora brasileira Rachel de Queiroz cuja escrita é meu objeto de pesquisa de tese.

Ou seja, estar na Espanha, em Sevilla, sendo coorientada por essa professora, tendo a oportunidade de conhecer a pesquisa efetuada pela ex-orientanda da referida professora, as referências sobre Rachel de Queiroz, utilizadas pela pesquisadora em seu trabalho, bem como tomar conhecimento da crítica espanhola e europeia produzida sobre a escrita de autoria feminina são imprescindíveis para o desenvolvimento da minha pesquisa aqui no Brasil.

Encaminhei à minha SRE (Sete Lagoas), dia 01 de junho de 2014, duas solicitações: afastamento para cursar o doutorado, de acordo com a Resolução SEE 2388/2013, de 04/08/2014 a 30/11/2014 e o pedido de autorização para viajar no período de 01/09/2014 a 30/11/2014 para cursar o doutorado-sanduíche.

Recebi, dia 09 de julho, um e-mail do setor de pessoal da SRE, contendo o ofício da SEE, indeferindo o meu pedido de afastamento para cursar o doutorado. O pedido de autorização para viagem sequer foi mencionado no ofício, informando o indeferimento. Protocolei na SRE dia 13/07/2014 um pedido de reconsideração do indeferimento e um pedido de deferimento da autorização.

Não obtive nenhuma informação, embora tivesse passado e-mails para a SRE, solicitando-a. Dia 04/08, enviei mais um e-mail para a SRE, implorando que me auxiliassem na resolução da questão, uma vez que teria que dar uma resposta à universidade espanhola.

Recebi, então, dia 08/08, outro e-mail da SRE, contendo cópia dos ofícios enviados pela SEE, mantendo o indeferimento do pedido de afastamento e anunciando o mesmo veredito ao pedido de autorização para viagem cuja resposta era óbvia para mim, mas, mesmo assim, insisti em obtê-la, pois eu precisava dessa informação para repassá-la para Sevilla e justificar a minha desistência forçada da bolsa.

Alegaram que, de acordo com o Art. 3º da Resolução SEE nº 2388/2013, eu não teria prazo para integralizar o tempo de afastamento, (três meses e vinte e seis dias!), uma vez que completarei idade mínima para aposentar-me em 04/09/2015. Recebi via SRE os ofícios encaminhados pela SEE, assinados pela Sra. Éder Quintão em que dá essa interpretação, no mínimo equivocada, para a resolução, o seu artigo específico, a quantidade de dias (!) em que me afastaria e o tempo que teria para integralizar esse afastamento.

Resumo da ópera: não é uma equipe que trabalhe para manter no eixo a Educação mineira, uma vez que são mal preparados, mal intencionados e mal quistos por toda a sociedade mineira haja vista as pesquisas do Sr. Aécio Neves em sua terra natal. Os números não enganam e, tendo em vista a nocividade que esse candidato imprime à sociedade brasileira, talvez, 15% sejam até muito. Que não passe disso.

Laile Ribeiro de Abreu é mestre em Literatura Brasileira pela Fale/UFMG e Doutoranda em Literatura Brasileira pela mesma instituição; Professora das Redes Estadual e particular; Professora do PRONATEC Papagaios.

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Comentários

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Luzia Helena

A Educação de Minas até pode ser a melhor do Brasil, não por mérito do Governo do PSDB, mas pelo esforço dos MUNICÍPIOS, que não aguentam mais assumir responsabilidades do Governo Estadual. O choque de indiGestão é uma manobra contábil. Minas Gerais está falida.

Rafael Oliveria

É verdade, 15% para Aécio também acho muito, mas os 8% de Padilha em São Paulo e os 9% de Lindbergh no Rio, eu já acho muito!

Sérgio

Não trabalho na Educação, mas também sou servidor de MG, na Cidade Administrativa. Me identifiquei muito com o depoimento.

No meu caso, estou cursando uma segunda graduação e estou tendo violado direito a horário de estudante, previsto no estatuto de servidor. Em consequência, a Educação mais uma vez é posta como política secundária, me forçando a abandonar essa minha graduação, a pretexto do “interesse público”.

Na verdade, eles indeferiram 3 pedidos meus, o primeiro dos quais foi devolvido com uma resposta padrão, sem sequer ser lido.

A justificativa deles: só é interesse da administração eu cursar pós graduação, e na minha área de formação.

Na lei: não existe abertura legal para a Administração regulamentar esse direito, bastando cumprir os requisitos já normatizados.

Na prática: “não é interesse da administração”, mas virei um consultor da minha nova área de interesse, dentro do meu órgão de atuação.

Resultado: o Governo de Minas afronta meu direito legalmente previsto como servidor e me coloca injustamente no difícil dilema de escolher entre o emprego e um sonho.

Minha esperança é que o Fernando Pimentel tenha outra visão.

    Rafael oliveira

    Esse aí é o típico servidor público preguiçoso. Quer receber trabalhando menos, aí acha que a população tem pagar para ele ficar gazetando. No governo federal esse sujeito também não teria moleza. Será que a Dilma também está pondo a educação como política secundária?

    Lei 8.112/Art. 98 – Será concedido horário especial ao servidor estudante, quando comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo.

    Parágrafo único – Para efeito do disposto neste artigo, será exigida a compensação de horário no órgão ou entidade que tiver exercício, respeitada a duração semanal do trabalho”.
    Será que esse sujeito não pode fazer como todos os normais fazem; cursar a segunda graduação fora do horário de trabalho?

Mardones

É essa a gestão de que tanto os tucanos se orgulham: tiram os direitos básicos dos mais carentes e pagam fortunas para a mídia vender a ideia de partido moderno e comprometido com o interesse público.

Infelizmente os mineiros são vítimas dessa quadrilha de tucanos que assaltam o poder e fazem uma destruição nos serviços públicos. Com o auxílio na nossa ‘querida’ imprensa.

E o que dizer da global (Débora Falabela) que fez propaganda dos feitos do Aécio?!

Rose PE

São Paulo não foge muito dessa mesma prática tucana, haja vista que tem um projeto para ser votado depois das eleições .

gustavo

Não confio muito no resultado das avaliações da educação em Minas. Irmãos, irmãs, tios, mãe, colegas trabalham ou trabalharam na rede estadual de educação mineira. Ouço, vez ou outra, que nas vésperas dos exames as escolas, que são previamente selecionadas, passam por uma preparação intensiva com as questões das provas. Além disso, há benefícios recebidos pelos profissionais de educação que estão atrelados ao resultado nas provas. Não tenho como provar que há manipulações, mas vejo indícios de direcionamento. Em uma conversa com minha irmã, ela dizia que a pedagoga da escola em que ela trabalha se desdobrava nas vésperas de uma avaliação para, junto com os professores, preparar os alunos, com cópias das provas recebidas anteriormente da secretaria de educação. Perguntei a ela a quem pensavam estar enganando com isso e ouvi que da pontuação da escola dependia o bônus (não me lembro o nome do benefício). Quem engana quem?

    É geral

    “Há corrupção em todas as empresas públicas ou privadas. A Petrobras tem órgãos internos e externos de controle. Mas quem descobriu foi a Polícia Federal. Se eu tivesse sabido qualquer coisa sobre o Paulo Roberto, ele teria sido demitido e investigado. Eu tirei o Paulo Roberto com um ano e quatro meses de governo. Eu não sabia o que ele estava fazendo. Eu tirei, porque não tinha afinidade nenhuma com ele.”

Laile Ribeiro de Abreu

Esqueci-me de escrever: há manipulação de resultados nas escolas públicas de educação básica. sabe aquela máxima antiga: “Por fora, bela viola, por dentro…”.

Sônia

Laile, sei o que você sentiu… tive que terminar os últimos dois anos do doutorado estudando muito, me esforçando muito… em dois turnos, não obtive licença. Isso também aconteceu no mestrado, insisti até conseguir um semestre, isso no final do curso. Quando precisei ir a Portugal, fiquei faltosa. Fui na marra, na raça e na coragem! Esse é o mundo oferecido pelo “Doutor” Aécio! Eu deveria ter viajado para Cuba, deveria… seria primordial para a escrita de minha tese que também tratava de teatro cubano e um autor renomado, profundamente estudado pela Doutora Maria Elina Cancela… mas, como deve imaginar, nem foi cogitada a possibilidade! Por isso faço das tuas, as minhas palavras!

    Laile Ribeiro de Abreu

    Sônia, vc sentiu nos ombros o peso de ter que deixar um projeto tão bacana em função de uma burocracia, para não dizer outra coisa. Compreendo que haja uma legislação que regulamente a questão, mas não aceito porque não é justo. No ofício que recebi da SEE, via SRE diz, textualmente, que o estado não irá usufruir do meu doutorado e que, por isso, não deve investir. Ora, não é justo! Essa legislação precisa ser reescrita, repensada, há que se dar fôlego ao professor de qualquer rede, mas em especial ao da rede pública para se instrumentalizar e, com isso, exercer melhor a sua profissão, mas tendo que se submeter a “mentes pensantes” dessa natureza, aí, não dá. Sinto muito. Obrigada pelo apoio.

Sagarana

Puxa, mas a escola pública de Minas Gerais é a melhor do Brasil! Pelo menos é o que diz o Ideb do governo federal.

    ronan

    Sagarana, na verdade você deve ser o Pedro Guadalupe, um dos censores do Aecio. Não se esconda.

    sagarana

    Errou, meu caro. Estou apenas repassando informações publicadas pelo IDEB, do governo federal. Quer saber onde fica o IDEB? Pergunta lá no posto Ipiranga.

    Julio Silveira

    Não é isso que a midia corporativa tem divulgado.

    Ronan

    Oh, Pedro Guadalupe. O IDEB não é um índice soberano de qualidade da educação. Ele leva em conta taxa de aprovação mais nota na prova Brasil. Em Minas, o governo pressiona para eliminar as reprovações para elevar o ideb. Além disso, há inúmeras denúncias de que escolas selecionadas pela SEE treinam exaustivamente os alunos para as avaliações mineiras o que repercute nas provas federais. Perceba que “a melhor educação do país” é uma mentira. Entre numa sala de aula e verá.

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