Imagine um cenário em que países vitimados pelo desemprego são obrigados a realizar drásticos cortes de quadros públicos e aceitar normas draconianas para pagar juros de uma dívida pública que, na verdade, só virá a aumentar e se eternizar. Também que estão impedidos de investir, fornecer crédito e adotar políticas de crescimentos. E, no comando do país, políticos experientes são substituídos por economistas burocratas e sem qualquer visão de estadista. Tudo isso por determinação externa, vinda de um órgão supranacional que é comandado, de fato, pela nação mais poderosa.
Seria lugar comum cogitar alguma região subdesenvolvida, sem estabilidade política nem histórico democrático. Jamais na poderosa Europa Ocidental. Mas, na opinião do ex-embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, um dos principais artífices da política externa brasileira durante o governo Lula, países como Grécia ou Itália, em maior grau, foram vítimas recentes de um “golpe de Estado comunitário”.
Atual alto-representante geral do Mercosul, Guimarães esteve nesta segunda-feira (27/02) em São Paulo para participar de uma palestra da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) sobre a atuação diplomática brasileira frente às transformações mundiais. Foi quando fez duras críticas à Alemanha e União Europeia na condução da crise do euro e da dívida soberana de seus países.
“Há novos primeiros-ministros na União Europeia que foram impostos aos seus povos. (O grego Lucas) Papademos, (o italiano Mario) Monti… Imaginem se isso ocorresse na América do Sul, como chamariam. De golpe de Estado, isso é um golpe de Estado comunitário. Como são as contrariedades da mídia!”, ironizou o diplomata.
Ex-secretário-geral de Relações Exteriores do Itamaraty durante boa parte do governo Lula (2003-2009), Guimarães afirmou que o Mercosul deve deixar de ser apenas um órgão facilitador do livre comércio para se tornar um instrumento de desenvolvimento regional. O atual estágio de união aduaneira imperfeita do bloco, por sua vez, deve ser mantido em razão das fortes assimetrias entre os quatro integrantes.
Para ele, dificilmente haverá progresso para um acordo comercial com a União Europeia, que já se arrasta há uma década – por falta de interesse dos próprios europeus, que seriam muito exigentes em seus pedidos.
Durante seu discurso, também lembrou que o grupo sul-americano é marcado por grandes assimetrias econômicas e sociais, portanto, defende que os países mais ricos tenham um grau maior de generosidade em relação aos menos favorecidos. “Um bloco só sobrevive se os integrantes estão razoavelmente satisfeitos. E é de nosso interesse que todos se desenvolvam”, lembrando que deve se evitar qualquer tentativa de hegemonia brasileira em um bloco que se entende como cooperativo.
Em contrapartida, o voto em conjunto dos países do Mercosul possibilita grande retorno político: “Cada vez mais se aumenta o número de temas decidido internacionalmente: meio-ambiente, finanças, comércio. O desafio (do Itamaraty) é garantir que as regras internacionais tornem mais fácil o desenvolvimento da sociedade brasileira e lembrar que o que é bom para um país nem sempre é bom para outro. Portanto, nessas negociações, cada país tem um voto.Portanto,fazer parte de um bloco é extremamente importante”.
Guimarães lembrou que, historicamente, o Mercosul foi concebido apenas como uma etapa preparatória de um projeto maior, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas). “Lembrem-se de quem eram os quatro presidentes na época do Tratado de Assunção: (do Brasil, Fernando) Collor, (da Argentina, Carlos) Menem, (do Uruguai, Luis Alberto) Lacalle e (do Paraguai, Andrés) Rodríguez. Tinham perspectivas diferentes. É como se estivessem preparando um casamento para depois pular para um relacionamento aberto”, brincou.
Apoie o VIOMUNDO
Democracia
Um dos pontos mais polêmicos do encontro foi quando Guimarães foi questionado pelo professor da FGV, Guilherme Casarões, se há coerência na diplomacia brasileira em manter relações com países que fogem à definição ocidental de liberdade e democracia. Guimarães defendeu a atuação do Itamaraty e lembrou que o país é contra a seletividade na defesa dos direitos humanos. “O Brasil obedece a dois princípios constitucionais: a autodeterminação e a não-intervenção, que constam também na Carta da ONU (Organização das Nações Unidas). Só que alguns países se esquecem disso. A interferência tende a fracassar, como no caso da Líbia (…) Não podemos interferir nos assuntos dos outros assim como não gostaríamos que interferissem nos nossos”, afirmou o embaixador.
O diplomata lembrou que ações de intervenção são muito seletivas para as grandes potências, que defendem muitas não-democracias. “Israel tem mais de cem ogivas nucleares. Enquanto a própria CIA, nesta semana, admitiu não ter certeza se o programa nuclear iraniano tem capacidade de produzir uma bomba nuclear. Quem representa mais perigo?”, indagou. “A pena de morte é o maior atentado aos direitos humanos. E nos EUA usam isso com extrema facilidade. Em geral, há uma pequena coincidência étnica entre os condenados”, ironizou.
Leia também:
Comentários
CC.Brega.mim
1 week ago @ Viomundo – O que voc&e… – À sombra do Pinheirinho ·
http://www.viomundo.com.br/politica/a-sombra-do-p…
então tá.
revolução.
eu espero a hora mágica em que todos vão sair às ruas quebrando tudo
sem saber o que querem construir
sentada com meu saquinho de pedras
atirando-as em todos
amigos e inimigos
tudo fica como está
porque não largo meu saco..
mas eu conheço um cara
que saiu da merda
e chegou à condição
de fazer 2 milhões de casas de uma vez
hidrelétricas
ter petróleo
saúde
educação
botou 700 mil pobres na universidade
emprestou dinheiro pro chefe
mas não,
sou eu que sou revolucionária.
eu e o meu saquinho de pedras..
beattrice
O rei está nu.
Cresce o sentimento de indignação na eurozona contra a Alemanha e a troika
liderada pelo FMI, pela Comissão Européia e o Banco Central Europeu http://www.attacmadrid.org/?p=6569
Leonardo Câmara
Não seria Fundação Getúlio Vargas?
Sagarana
O problema do verbo dever é ser bitransitivo. Quem deve, deve alguma coi$a a alguém.
Imanuel
Com Dilma o Brasil parece ter voltado à condição de tutelado ianque, se é que algum dia deixou de ser. O fato é que cada vez mais é visível o afastamento de Dilma do bloco da Unasul, ou talvez estes se afastem de Dilma. A Venezuela ainda não se integrou ao mercosul porque o congresso brasileiro ainda não votou o reconhecimento para isso. É claro, faltou empenho do governo Lula e de Dilma também. A politica externa brasileira é tocada em duas frentes: uma ao norte, outra ao sul. Vai depender da conveniência das elites.
beattrice
O MERCOSUL resiste graças às iniciativas de CFK, Correa, Chavez.
Se dependesse do governo Dilma já tinha ido para o ralo.
francisco.latorre
tá doido?..
..
beattrice
E ao invés de nomear um Samuel Pinheiro Guimarães para o Itamaraty dona Dilma nomeou… um "patriota" de Washington.
Joao Barbosa
Você está equivocada…
A época na qual os ministros de relações exteriores eram patriotas aos EUA era na época do Celso Lafer.
Lembra, quando ele tirou os sapatos na revista do aeroporto?
Esse "professor" da FGV e você sentem saudades desse tempo…né!?
Ainda bem, que LULA / DILMA e 80% dos brasileiros NÃO sentem mais saudades dessa época…
beattrice
O "patriota" da dona Dilma é MUITO melhor que o qualquer um, tira os sapatos e as meias.
Joao Barbosa
Só tendo pena de você e suas idéias malucas…
Porque os Serristas não sabem perder?
Trate de correr para eleger o desconjuro, prefeito de Sumpaulo, senão…
Quando você listar pelo menos 5 retrocessos, COMPROVADOS, da política internacional brasileira no governo Dilma, aí…você será levada a sério…até lá….
beattrice
Entre os dilmistas e os tucanos o Brasil virou um bipartidarismo à norte-americana,
se vc não está comigo, está com eles, e vice-versa.
No twitter isso é ainda mais gritante.
Patética essa cópia mal feita de um sistema partidário falido.
francisco.latorre
caríssima beattrice..
que que foi?.. pirou?..
..
não é por aí.
definitivamente.
..
beattrice
Desculpe, é por aí sim!
A atuação do Itamaraty by "patriota" envergonha as diretrizes conquistadas pelo Amorim no Governo Lula.
Fabio_Passos
Análise precisa.
Nações da Europa ocidental completamente subjugadas pelo poder do capital financeiro.
O nome do regime é: Ditadura capitalista.
A "democracia ocidental" é uma completa farsa.
Marcio H Silva
Poderia se chamar também ditadura das elites…..
Fabio
Plutocracia, pois!
Paulo Martins
"…Um dos pontos mais polêmicos do encontro foi quando Guimarães foi questionado pelo professor da FGV, Guilherme Casarões, se há coerência na diplomacia brasileira em manter relações com países que fogem à definição ocidental de liberdade e democracia…."
Concordo em gênero, número e grau com o professor da FGV (aquela faculdade que não conseguiu aplicar 10.000 provas para um concurso do Senado). Onde já se viu o Brasil, teimar em manter relações com países carnificaieros como os EUA (a guerra é mentirosa, mas o lucro é verdadeiro), a China (vai uma penas de morte, aí?) e a Russia (lembra dos Balcãs?)
Temos que voltar a época onde o Itamaraty era comandado por homens probos e sábios, formados na édiges universadades bandeirantes!!!
Já passou a hora do Brasil recolher-se a sua insignificancia sulamericana e voltar a vender somente bananas e café !!!
Que o diga a polícia Australiana, certo?!?
Falando sério: Essa síndrome de vira-latas paulista, na qual tudo no Brasil tem que ser previamente aceito ou copiado de outro canto do mundo enche o saco !!! Para o tal professor, o Brasil deveria ir até Washington e pedir uma cartilha ilustrada contendo, didaticamente, com quem e o quê a diplomacia brasileira poderia fazer….
Ohhh, "professor"…..me ajuda aí, né!?!?
Bonifa
O que espanta é um professor universitário comprar um alinhamento rígido com o interesse de potencias ocidentais sem entender que no fundo se trata de pura hipocrisia.
Luana
Ao invés de Moreira Franco na secretaria de assuntos estratéticos, quem deveria estar lá seria ele com bons técnicos advindos do Itamaraty.
Deixe seu comentário