Leonardo Mattos: A tentativa de banir partidos dos protestos

Tempo de leitura: 3 min

por Leonardo Mattos, via Facebook

Cresce neste momento a resistência à presença de bandeiras e militantes de partidos políticos nas recentes manifestações. Relatos de intimidação a militantes que portam bandeiras nos atos, votações online nas páginas dos eventos contra a presença dessas, gritos de “aqui não tem partido” começam a aparecer. Uma confusão perigosa que toma a forma como a causa.

É legítimo o questionamento à democracia representativa e ao sistema partidário, é real o sentimento de que todos são iguais. Mas precisamos ir mais fundo e entender que a falta de democracia na nossa sociedade não é culpa dos partidos em si. Ainda que um hipotético fim de todos os partidos pudesse ser levado em consideração, isso de nada adiantaria sem mudanças nos processos que colocam todos os governos como reféns do capital e que fazem com que o poder seja exercido por poucos e para poucos. É um erro entender que o elemento causador disso tudo é a forma partido, e um erro maior ainda canalizar a as energias num discurso de ódio a estes. É apontar a mira para o alvo errado.

Para os defensores “apartidários” da democracia cabe a explicação: partidos são uma das diversas formas de organização política presentes em nossa sociedade. O direito a liberdade de organização política e a liberdade de expressão foram duramente conquistados e são dois pressupostos essenciais da democracia. Defender que bandeiras, quaisquer que sejam, não devem ser levantadas e rejeitar a participação de militantes de partidos é desrespeitar esses pressupostos da própria democracia que se reivindica.

Integra esse quadro também o fato da grande mídia conservadora, que durante os protestos tem sido colocada contra a parede pela clara manipulação dos fatos, tentar sistematicamente associar o movimento a partidos políticos, como tentativa de deslegitimação. Ser contra a presença dos partidos porque a grande mídia usa disso contra o movimento é errar o alvo novamente! Devemos ser contra a cobertura da grande mídia como um todo, e não contra um grupo de pessoas que são parte integrante do próprio movimento. Esse pensamento ingênuo funciona como armadilha que no fim acaba por colocar os manifestantes contra outros manifestantes.

Além disso, alguns partidos presentes nas manifestações há anos participam da organização de atos pelo passe livre, contra o aumento das passagens, dos comitês contra a copa, de ocupações por moradia, da luta em defesa da educação e da saúde pública, entre diversas outras causas. É no mínimo injusto com estes proclamar que estão nos atos apenas por motivos eleitoreiros, para defender seus interesses partidários.

Ainda que existam partidos com essas práticas, trata-se de um pensamento raso tomar as partes como o todo e generalizar. Cabe aos próprios manifestantes entenderem que partidos realmente são aliados e quais são os oportunistas. Que mesmo sendo oportunistas, em nome da democracia não devem ser impedidos de participar.

Com o passar do tempo, é mais do que claro que ninguém é dono do movimento e que ao mesmo tempo o movimento é de todos. É impossível para qualquer organização se apropriar dele como se fosse seu. Não só é impossível como também seria burrice, sob o risco de tal organização ser rechaçada pelo próprio movimento. Rechaço esse que infelizmente começa a acontecer, não pelo fato de realmente existirem partidos cometendo essa burrice, mas pelo fato da mídia estar conseguindo convencer os manifestantes disso. Vamos manter esse levante como um movimento suprapartidário, ou seja, que vai para muito além dos partidos. E não apartidário, que é contra os partidos.

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Comentários

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Daniel

Os manifestantes não querem bandeiras de partidos porque uma bandeira de partido transmite a ideia de que a manifestação é dele.

Não é. As pessoas que estão ali estão ali por motivos, não para promover partidos. Acho legítimo que estejam pressionando os militantes partidários a baixar suas bandeiras. A manifestação não pertence a nenhum partido específico.

E tratar essa postura como algo infantil ou inocente não vai ajudar ninguém a entender melhor o que está acontecendo. Existe sociedade civil e participação política para além dos partidos. Simples assim.

Oscar Souza

Se o interesse é o apoio e não o voto ou a mídia ocasionada pela massa, que venham desnudos de partido.
Esperamos ansiosos por partidários das idéias la expostas, não por partidos.

Filipe Garcia

Ha gente aqui que ainda nao entendeu o que esta acontencendo. Achando que e´ contra PT e Dilma. Eu estava na manifestaçao e tambem preciso esperar para entender mais e ver se eles conseguirao chegar em um ponto comum. Como exigir um plebiscito por uma nova assembleia constituinte. Isso e´ quase uma utopia mas e´ possivel. A mobilizaçao eh grande. O fato e´ que nao me parece que ha uma manipulaçao da elite ou da midia, muito menos contra um partido especifico.

Sousandrade

Quem é de partido e tá na mobilização como atuação partidária, por identificar na manifestação bandeiras ou pautas do partido, vai com a bandeira, camisa o que for. Não tem pq n levar bandeira de partido. quem n é n leva bandeira, pronto. Vale é fortalecer a mobilização.

Iza

Só mesmo sendo MUITO, mais MUITO trouxa para achar que quem está na liderança desse movimento, não tem partido, não tem tendência partidária.

Se algum INOCENTE ÚTIL acha que isso é verdade, e fica repetindo o slogan “não queremos partido, não queremos bandeira” deveria procurar se informar um pouco mais pra deixar de ser enganado.

OBS: Abram os olhos pessoal! Não é possível que ainda ninguém viu que a Folha e Rede Grobo estão tendando cooptar o movimento da meninada!

Uélintom

Ops! Ou seria: “A tentativa de partidos de se apropriarem do movimento”. PQP! Se há bandeiras de partidos, os manifestantes são chamados de bando de manipulados do PSOL, massa de manobra do PSTU… Isso porque até então eram chamados de burguesinhos controlados pelo PiG (mesmo com a expulsão de jornalistas da Globo, sendo massacrados pela polícia do PSDB e tomando o perfil da Veja no twitter!). E se evitam a identificação partidária, vira um movimento “perigoso”. Como disse Luiz Eduardo Soares, falta humildade, da direita à esquerda, para dizer “não entendo”. Uma dica: comecem a estudar pelos protestos de Seattle, no fim dos anos 1990!

Luiz

Assim fica confuso… como será organizada esta sociedade sem partidos?
E até quando o “partido” dos contra “partidos” permanece sem nome?

Leo V

Não é à toa que os manifestantes não gostam de bandeiras de partidos.
Em geral quando partidários levantam suas bandeiras é pra capitalizar o movimento. Ninguém gosta disso, por isso o repúdio.

E é por não entender a subjetividade das pessoas que os partidos ficam dando murro em ponta de faca e cada vez perdem mais espaço… ainda bem!

Pedro Lima

São Paulo é grande, mas não é o Brasil. O povo que hoje reclama dos 20 centavos deveria ter vergonha de por 20 anos ter mantido os tucanos no poder. O paulista que odeia o Bolsa Família, odeia o Lula, a Dilma e o PT, que concentrou a indústria, o comércio, o dinheiro, o PIG, etc. em detrimento do restante do Brasil, hoje vai às ruas sem saber do que está reclamando. Jogou m… no ventilador e agora quer igualar todos os políticos e a política por baixo, no mais baixo nível. A revolta do paulista é porque o porteiro tem carro, a empregada tem um bom salário e agora estuda na mesma universidade dele, viaja de avião. É por isso que existe uma salada de protestos nas atenções do PIG: corrupção, saúde, educação, etc. Para o paulista, nada de bom está ocorrendo no Brasil. Defendo o direito do protesto e é inegável a necessidade de melhorarmos em várias vertentas, mas daí a dizer que São Paulo é o Brasil e dá ao paulista o direito de dizer que todo o Brasil é uma m… é outra história.

    wagner paulista de souza

    Clap ! Clap !Clap ! Clap !Clap ! Clap ! Não estamos vendo o Mister Ético (Aécio Never)posar de moralista ? Só para ficar nesse exemplo de hipocrisia das elites. Ou o PSDB não é o partido das elites ?

rodrigo vontobel

o movimento é contra diversas coisas. uma delas é a “morosidade” partidária para a mudança do status quo. os partidos pegam carona, e até promovem, em manifestos, mas, quando eleito, pouco ou nada fazem para combater os excessos.

fora, partidos!

    João Paulo

    Até agora, a resposta mais apropriada.

Alex Back

Os partidos precisam SIM dar uma trégua com suas bandeiras para poder vencer o “pré-conceito” coletivo à mobilização, reforçado constante e insistentemente pela grande mídia. O povo precisa vir para a rua para, assim, não estar em frente da TV e poder acordar. Os partidos, independente de quais, precisam segurar seu ímpeto e ansiedade se quiserem ir, junto de todos, no sentido da mudança.

Mauricio Benedito

Concordo que estão tentando isolar e responsabilizar os pequenos partidos de esquerda.
Tem que proibir o Partido da PM-SP e reduzir sua maioridade penal para diminuir a violência na cidade de SP.

Rackeado, twitter da Veja critica jornalismo fascista – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Leonardo Mattos: A tentativa de banir partidos das manifestações […]

Luis Cortinhas

partidos são UMA DAS DIVERSAS FORMAS de organização política… perfeito!

partido não é e nunca foi a ÚNICA FORMA!

Sendo assim, acho legitimo o esforço dos não-partidários, q é a maioria desses movimentos, de tentar impedir q partidos (geralmente nanicos sem expressão popular alguma) surfem na “aba” e queiram aparecer como mentores/organizadores daquilo q não são!

esse movimento nasceu espontâneo e apartidário… q assim continue!

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