Luana Tolentino: “Nunca duvidei que eu podia e merecia muito mais. Batalhei. Revidei. Virei o jogo”
Tempo de leitura: 17 minLuana Tolentino: “Nunca passou pela minha cabeça que eu seria empregada doméstica pra sempre. Eu me via fazendo as coisas que eu faço hoje. Juro! Quando lavava o banheiro, por exemplo, ficava imaginando a roupa que eu vestiria para fazer uma palestra – camisa branca, calça social e um scarpim de salto alto (risos)”. Foto: Vanda Godoy
por Conceição Lemes
Luana Tolentino tem 28 anos, é historiadora, professora da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais, pesquisadora da UFMG e militante do movimento negro.
Aos 18, quando entrou na Faculdade, já havia lido Sartre, Dostoievski, Jorge Amado, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Antonio Candido, Zélia Gattai, Nelson Rodrigues. Conhecia muito de música brasileira: Chico Buarque, Dolores Duran, Elis, Paulinho da Viola. Seu interesse era pelo “lado B” da obra desses artistas. “Afinal de contas, o ‘lado A’ todo mundo conhecia”, justifica-se.
Os leitores assíduos do Viomundo já devem ter cruzado com ela nos comentários ou lido algum dos seus textos que publicamos. Estreou aqui com Carta aberta ao grupo antiterrorismo de babás, que nos submeteu por e-mail. O mais recente foi Martinho da Vila, o PT e eu.
Altiva, inteligente, talentosa, inquieta, pronta a combater injustiças e exercer sua cidadania. São características que saltam à vista em Luana e no que ela faz. Encanta. Emociona. Dá esperança no futuro.
A médica, escritora e feminista Fátima Oliveira, com o seu superolho clínico, notou-as, claro. Tanto que, semana passada, recebi um e-mail seu com esta mensagem: “Olha a Luana Tolentino de BH, que de vez em quando escreve para o Viomundo!”
Junto o link da matéria do IG, onde Luana era uma das entrevistadas. Ela participou das pesquisas para a construção do núcleo de empregadas domésticas da novela “Cheias de Charme”, da TV Globo.
“Foi por culpa do Viomundo”, graceja. “A pesquisadora chegou até mim por causa do texto das babás. Ela estava fazendo uma pesquisa sobre o trabalho doméstico no Brasil e queria saber da minha história, das minhas experiências para construção do núcleo de empregadas domésticas.”
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A filha caçula da dona Nelita e do seo Nicolau, irmã do Dennis (o mais velho, é enfermeiro) e da Miriam (a do meio, estudou Nutrição), trabalhou dos 13 aos 17 anos como babá, empregada doméstica e faxineira. Passou maus bocados.
“Comecei aos 13 anos. Cuidava de duas primas e fazia alguns serviços domésticos. Ensinava o dever de casa e levava a mais velha para a escola. Chegava às 8h e saía às 18h. Em seguida ia para o colégio”, relembra. “Vivíamos uma fase muito difícil. Meu pai desempregado. Chegamos a ficar dois meses sem água nem luz. Quando meu pai conseguia pagar algumas contas, passava um mês e eles vinham cortar de novo. Às vezes não ia para a escola porque não tinha água para lavar o uniforme. Uma luta.”
“Eu fui muito humilhada em uma das casas em que trabalhei. E o pior: por uma criança de 10 anos. A mãe não falava nada. A menina deixava as coisas espalhadas só pra eu catar e ainda dizia: ‘Você é a minha empregada. Se não estiver satisfeita, tem muita gente querendo trabalhar’”, abre-se. “Tinha a obrigação de ir buscar o pão todos os dias. As pessoas da casa não comiam o pão amanhecido, que ia sendo armazenado em uma gaveta. Um dia, havia acabado de trazer o pão, fui pegar um pra tomar café. A menina com o dedo em riste falou: ‘Pode deixar esse pão aí. O seu está na gaveta!’ Os pães estavam mofados (lágrimas)… Cheios de bolor (lágrimas).”
“Esse é um assunto do qual me lembro só quando a memória me cobra, como agora. Não vejo sentido em ficar recordando algo que me machuca. O que me interessa é o que eu consegui fazer da minha vida. O barato não está no fato de eu ter sido empregada doméstica e agora estar dando esta entrevista, mas no fato de eu nunca ter duvidado de que aquela não era a vida que eu merecia, que eu podia muito mais”, apruma-se, limpando as lágrimas. “É como se tivesse uma voz no meu ouvido que dissesse: ‘Vai, Luana. Olha pra frente. Segue. Caminha’.”
Luana ainda tem cabelinho nas ventas. Outro dia, numa solenidade na UFMG, encontrou um vizinho, que, ao vê-la lá, perguntou espantado: “O que você está fazendo aqui?” Ela respondeu: “MEU LUGAR É AQUI!”
Com certeza. Luana representa o Brasil que desejamos. Brasil de cidadãos e cidadãs conscientes do seu valor e de seus direitos. Mulher, negra, de origem humilde, trabalhadora, que soube se impor e deu uma virada na sua vida. Mas que não se acomoda. Batalha solidariamente para que outros consigam também. Vocês vão ouvir falar muito – e BEM! – dessa mineira de BH, que deu boas risadas durante a nossa conversa, mas que também lacrimejou várias vezes (desculpe-me, por isso, Luana!) ao recordar certos períodos da sua vida. Eis a íntegra da entrevista.
Viomundo — Quem é Luana Tolentino hoje?
Luana Tolentino — Uma pessoa muito VIVA. Acho que é o que melhor me define. Uma pessoa inquieta, angustiada com as injustiças e certa de que falta muito para termos, de fato, um país democrático, mas que, sem sombra de dúvidas, estamos no caminho certo.
Viomundo — O que é ser mulher e negra no Brasil 2012?
Luana Tolentino — Elisa Larkim, que é outra pesquisadora, diz que “a situação da mulher negra é o próprio retrato da femininização da pobreza”.
Eu concordo. Ao longo da história, a mulher negra sempre teve sua imagem ligada à sexualidade, ao erotismo e ao exotismo, ou comercializada como produto de exportação de baixo custo. Basta ver a forma como é representada nas telenovelas, no cinema e na literatura. Pesa, de forma descomunal, sobre os nossos ombros os quase quatro séculos de escravidão a que a população negra foi submetida.
Há sempre a expectativa de que ocupemos posições subalternas, que estejamos sempre prontas para servir os outros. Mesmo depois de ter deixado o trabalho doméstico, ao me dirigir a alguns prédios da Zona Sul de BH, por diversas vezes, fui interpelada pelos porteiros: “Você é a nova faxineira do prédio?” Quando ascendemos socialmente, somos sempre vistas como pessoas “fora do lugar”.
Aliás, outro dia, numa solenidade na UFMG, encontrei um vizinho, que, ao ver-me lá, perguntou espantado: “O que você está fazendo aqui?” Eu respondi: “MEU LUGAR É AQUI!”
Além de lutar contra o machismo, temos que lutar contra os preconceitos de raça e classe. Somos triplamente discriminadas.
Vejo a criação dos grupos de Mulheres Negras na década de 1980 como um divisor de águas da nossa história. A partir do momento em que as mulheres negras não se viam representadas no Movimento de Mulheres, começaram a fundar suas próprias organizações e, assim, deram maior visibilidade às nossas especificidades. Minha mãe estudou apenas até a segunda série do fundamental. Eu e minha irmã chegamos à universidade.
Viomundo — Na sua casa, são quantos?
Luana Tolentino — Sou gêmea univitelina, mas a minha irmã não está mais aqui. Então somos 3. Dennis, meu irmão mais velho, é enfermeiro. A Miriam, minha irmã do meio, estudou Nutrição. E eu, a filha caçula. Minha mãe estudou somente até a segunda série e meu pai terminou o ensino fundamental. Sempre trabalharam no comércio. Ambos têm hoje um pequeno restaurante.
Viomundo — Com quantos anos começou a trabalhar?
Luana Tolentino — Aos 13, como babá, na casa de uma tia. Cuidava de duas primas e fazia alguns serviços domésticos. Ensinava o dever de casa e levava a mais velha para a escola. Chegava às 8h e saía às 18h. Em seguida ia para o colégio. Vivíamos uma fase muito difícil. Meu pai desempregado. Chegamos a ficar dois meses sem água e sem luz. Às vezes não ia para escola porque não tinha água para lavar o uniforme. Uma luta.
Depois, com a situação ainda muito difícil, comecei a trabalhar como empregada doméstica. Chegava às 7h e saía às 18h. Era muita coisa pra fazer. Eu tinha 15 anos. Lembro da primeira coisa em que a dona da casa me disse: “Você pode trabalhar aqui, mas não temos condições de assinar a sua carteira”. Essa é uma realidade muito comum no serviço doméstico. Depois, fui trabalhar como faxineira em dois apartamentos num bairro de classe média alta. Chegava às 7h e saía, no máximo, às 15h, pois apartamento não tem quintal para limpar, né?
Viomundo — Sei que passou maus bocados em alguns desses empregos.
Luana Tolentino — Esse é um assunto sobre o qual normalmente não falo, exceto quando a memória me cobra, como agora.
Viomundo – Por quê?
Luana Tolentino – Eu não vejo sentido em ficar lembrando de algo que me machuca. O que me interessa é o que eu consegui fazer da minha vida. Acho que o barato dela não está no fato de eu ter sido empregada doméstica e agora estar dando essa entrevista para você, nas no fato de eu nunca ter duvidado que aquela não era a vida que eu merecia, que eu podia muito mais.
Acho que aprendi muito cedo que devemos sempre olhar pra frente. É como se tivesse uma voz no meu ouvido que dissesse: “Vai, Luana. Olha pra frente. Segue. Caminha”.
É assim que levo a minha vida. Acho que é por isso que não tenho mágoa de nada nem de ninguém.
Mas, inegavelmente, a fase de doméstica foi uma época muito difícil. Em uma das casas em que trabalhei fui, particularmente, muito humilhada. E o pior: por uma criança de 10 anos. A mãe dele era indiferente a isso. Não falava nada. A menina deixava as coisas espalhadas só pra eu catar e ainda dizia: “Você é a minha empregada. Se não estiver satisfeita, tem muita gente querendo trabalhar!”
Tinha a obrigação de ir buscar o pão todos os dias. As pessoas da casa não comiam o pão amanhecido, que ia sendo armazenado em uma gaveta. Um dia, havia acabado de trazer o pão, fui pegar um pra tomar café. A menina com o dedo em riste falou: “Pode deixar esse pão aí. O seu está na gaveta!” Os pães estavam mofados (lágrimas)… Cheios de bolor (lágrimas).
A casa era imensa. Três banheiros e um quintal enorme que tinham que ser lavados todos os dias. Um dia fui calçar os sapatos para ir para escola e não consegui. Senti muita dor. Quando vi, de tão rachados, meus pés minavam sangue. Chegava às 7 e saía às 18h. Minha patroa (odeio essa palavra!) dizia que eu era muito mole.
Não esqueço do último dia em que trabalhei lá. Estava no andar de cima e ela, lá embaixo, dizendo que eu era mole, que mexia nas coisas dela, que havia comido as maçãs que estavam na geladeira. Tudo mentira! Eu já não aguentava mais. Trêmula, desci as escadas. Era a hora do almoço. Falei pra ela (lágrimas): “Esse é o último dia que eu trabalho aqui”. Se fazendo de desentendida, ela perguntou: “Por que você não me falou antes, Luana?” Eu respondi: “Estou indo embora porque ouvi você dizer que eu mexo nas suas coisas e comi as maçãs que estavam na geladeira. Coisa que nunca fiz!”
Virei as costas e fui embora correndo. Não pensei em dinheiro, não pensei em nada. Aí, eu chorei. Chorei muito. No dia seguinte, ela foi lá em casa pedir para que eu voltasse. Não voltei. Daí, comecei a trabalhar como faxineira em apartamentos num bairro de classe média alta de BH. No começo, ajudava a minha mãe. Depois, passei a trabalhar sozinha.
Em um deles, o dono da casa não me oferecia nem água. Às vezes passava o dia sem comer nada, pois em diversos momentos o almoço na minha casa só ficava pronto depois que minha mãe e eu chegávamos com o dinheiro da faxina (lágrimas…). Mas eu me vingava dele. Não tenho problemas em dizer isso.
Viomundo – De que maneira?
Luana Tolentino — Tinha prazer de deixar uma lista enorme de produtos para ele comprar. O que podia ser usado em um mês, eu gastava em 15 dias. De propósito. Acho que isso mostra que, embora tivesse apenas 16 anos, eu possuía consciência da exploração que vivia.
Mas nem tudo foi tristeza. Trabalhei num outro apartamento nesse mesmo bairro. O dono do apartamento me tratava com muito carinho. Ele dizia que gostava muito de mim. Dizia que eu vivia sorrindo. Elogiava o meu trabalho. Ele era gaúcho. Eu sabia muita coisa sobre a imigração. Ficava perguntando de qual país a família dele veio, como era a vida no sul. Falava da Segunda Guerra. Acho que ele gostava disso. Ele falava: “Você é muito inteligente, menina!” (risos…lágrimas). Quando eu chegava lá para trabalhar, ele dizia: “Luana, você pode comer o que você quiser. Não precisa pedir”. E quando eu chegava em casa, falava dele. Falava com carinho também, com alegria.
Viomundo – O que mais te marcou?
Luana Tolentino — Foi uma época de muito sofrimento, né? Em todos os sentidos. O tempo todo sendo humilhada, sendo aviltada, um monte de gente se achando no direito (lágrimas) de me tirar o que tenho como um princípio básico: a condição de ser humano que merece ser tratada com respeito (lágrimas).
Por outro lado, prefiro lembrar que, mesmo diante disso tudo, fui em frente. Criei recursos para suportar. Não desisti. Batalhei. Revidei. Virei o jogo. Além disso, penso que a vida foi generosa comigo. Sempre me deu muito. Tenho pais que não fizeram outra coisa na vida a não ser trabalhar para que meus irmãos e eu pudéssemos ser quem somos. A vida colocou pessoas boas no meu caminho que foram essenciais para que eu chegasse até aqui.
Viomundo – E essa história de que fez parte do grupo que a Globo ouviu para a novela, como foi isso?
Luana Tolentino — Foi por culpa do Viomundo (risos e mais risos). A pesquisadora chegou até mim por causa do texto das babás, que vocês publicaram. Ela estava fazendo uma pesquisa sobre o trabalho doméstico no Brasil e queria saber da minha história, das minhas experiências para construção do núcleo de empregadas domésticas. Sei que questões importantes, como a questão racial, não serão discutidas na novela. É um produto feito para entreter, com alguns padrões a serem seguidos, padrões invariavelmente racistas e machistas. Mas o fato de a pesquisadora ter pensado em apresentar empregadas de forma mais humanizada e menos estereotipada a partir da minha história me deixou muito feliz.
Viomundo – Você assiste à novela?
Luana Tolentino – Prefiro não assistir (risos).
Viomundo – O que acha de chamarem as domésticas de secretarias do lar?
Luana Tolentino – Como diz a minha mãe, de boas intenções, o inferno está cheio.
Viomundo — Você trabalhou nessa área até quando?
Luana Tolentino — Dos 13 aos 17. Aí, consegui um emprego em telemarketing. Quando entrei na faculdade, voltei a trabalhar como faxineira para conseguir pagar os meus estudos. Me fFormei no Centro Universitário de Belo Horizonte, uma faculdade particular. Trabalhava de segunda a sexta no telemarketing e, aos sábados, fazia faxina. Foi assim durante o primeiro ano da faculdade.
No telemarketing, especificamente, enfrentei novo tipo de barreira: o fator raça. Numa empresa, soube que a gerente, embora tivesse gostado muito de mim durante a entrevista, ficou em dúvida pelo fato de eu ser negra. A vaga era para o setor de atendimento. Felizmente, fui contratada e os melhores números em vendas eram meus. Em outra empresa, eu era operadora de telemarketing e a gerente me colocou para lavar o banheiro. Pedi demissão e denunciei o fato ao Centro de Integração Empresa Escola. Eu tinha 17 anos. Em compensação, fui muito bem tratada na última empresa de telemarketing em que trabalhei antes de me formar. Fui feliz lá. Era a única negra fora da área de serviços gerais.
Viomundo — O que é mais duro no emprego de doméstica?
Luana Tolentino — É o tratamento dado às empregadas domésticas, que muitas vezes são responsáveis pela criação e educação dos filhos dos patrões, que muitas vezes lhes devotam o amor de um filho. Não existe outra profissão que traga de maneira tão forte os resquícios dos anos de escravidão vividos no Brasil.
Eu me lembro bem da discussão em torno da regulamentação do emprego doméstico. Boa parte da elite e da classe média ficou enfurecida: “Vai gerar muito desemprego, porque não temos condições de arcar com as exigências da Lei”.
O Grupo Antiterrorista de Babás, do qual falei no texto publicado aqui, é uma prova disso. Um grupo de mulheres que se une para “combater” empregadas que reivindicam direitos concedidos a qualquer trabalhador: férias, folgas semanais, 13º salário. Isso mostra a forma como as trabalhadoras domésticas são vistas por muitos: pessoas de segunda categoria, que não merecem qualquer tipo de benefício.
Mas eu me alegro muito ao perceber que isso está mudando. Já se fala em “revolução das empregadas domésticas”. É um trabalho que tem se tornado cada vez mais caro e escasso. Tem havido uma mobilidade considerável. Mulheres que exerciam essa função têm migrado para outras áreas, ingressando em cursos técnicos e no ensino superior. Isso é maravilhoso!
Viomundo – Quando faxinava, lavava quintal, banheiro, te passava pela cabeça que hoje seria professora de História e pesquisadora de grupos de estudos da UFMG?
Luana Tolentino — Às vezes eu me faço essa pergunta. Nunca passou pela minha cabeça que eu seria empregada doméstica pra sempre. Eu me via fazendo as coisas que eu faço hoje. Juro! Quando lavava o banheiro, por exemplo, ficava imaginando a roupa que eu vestiria para fazer uma palestra – camisa branca, calça social e um scarpim de salto alto (risos). Me imaginava escrevendo. Fazia isso para amenizar tudo aquilo e também porque acreditava que era isso o que eu iria fazer.
Acho que nasci professora. Aos 10 anos, alfabetizei uma criança de 5. Quando entrou na escola, ela já sabia escrever o nome, o alfabeto, os números. Tudo ensinado por mim. Mas não me imaginava professora, afinal de contas, todo mundo dizia que ser professor não era bom, era loucura, ganhava mal e todas as leituras que as pessoas fazem da profissão, que, de certo modo, têm um fundo de verdade.
Mas também não conseguia pensar em nenhuma outra profissão (risos…). Então, só aos 48 minutos do segundo tempo, quando não tinha mais jeito, aceitei (acho que essa é a melhor palavra) que seria professora. Aceitei na hora de fazer o vestibular. E hoje quando entro em sala de aula, quando atravesso os portões da UFMG, quando publico um texto aqui no Viomundo e vejo um monte de comentários, não sei explicar o que sinto. Gosto de olhar para a minha estante e ver que tenho uma infinidade de livros. Já não sei quantos são. É uma sensação de alegria, meu coração palpita. Não sei explicar. Me sinto realizada.
Viomundo — Por que História?
Luana Tolentino — Nunca gostei da área de Exatas. Acho que História tem a ver com o meu desejo de querer mudar o mundo. Sou uma sonhadora, questionadora, “malcriada”. Sempre fui assim.
Viomundo — Como avalia a situação hoje do professor da rede pública de Minas?
Luana Tolentino — A situação da educação mineira não difere muito da de outras regiões do país. Baixos salários, escolas com falta de estrutura, violência contra professores. O ensino é precário. As escolas não cumprem o papel de formar cidadãos críticos, participativos. Poucos alunos conseguem ingressar em universidades públicas. A evasão é muito grande. Assim como é muito grande o número de alunos que conclui o ensino médio sem conseguir escrever corretamente nem ler e compreender um texto.
Estamos brigando por um direito que é nosso: o piso salarial, que também é baixo dada a importância da nossa profissão. E não há nenhum movimento por parte do Governo de que indique que essa situação irá mudar a curto prazo. Mas eu sou uma “realista esperançosa”. Minha preocupação maior é com o meu trabalho, com o que eu posso fazer pelos meus alunos. Não estou satisfeita com as condições de trabalho oferecidas e espero em breve estar exercendo a minha profissão em outro lugar.
Viomundo – Mas está feliz com o que tem conseguido fazer atualmente?
Luana Tolentino – Muito! Amo o que faço. Dou aula na periferia. Trabalho principalmente a questão da cidadania e a questão racial. É muito bom ver os alunos mais confiantes, autoestima elevada, questionando a vida, escola, o governo. Cada avanço é uma vitória pra mim.
Na última sexta-feira, levei um escritor de Cabo Verde lá na escola. Os alunos ficaram vidrados. Eram160 em silêncio numa quadra para ouvi-lo. Tiveram oportunidade de conhecer Pedro Matos, escritor africano que fala e escreve em cinco idiomas, faz Mestrado na UFMG, conhece a Europa. Enfim, pudemos desmistificar uma série de estereótipos negativos que eles tinham em relação à África. Eles se sentiram valorizados. Acredito que nunca esquecerão deste dia.
Viomundo — Sei que você lê muito. Sempre foi assim?
Luana Tolentino –– Na infância, o único presente que eu me lembro do meu pai ter dado a mim e a meus irmãos foi uma coleção de clássicos infantis. Meu pai sempre priorizou a nossa educação. Não tínhamos TV em cores, vídeo-cassete, brinquedos… Mas, no início do ano, o material escolar estava todinho lá.
Além disso, meu pai é um homem que sempre leu muito. Ele lê qualquer coisa: jornal velho, bula de remédio, rótulo de maionese (risos). É um homem muito inteligente. Conversa sobre qualquer assunto. Então acho que esse gosto pela leitura veio dele.
Na adolescência, eu lia muito porque sonhava ser inteligente. Na minha cabeça ser inteligente era ler livros, assinar jornais, fazer palestras, dar entrevista no programa da Leda Nagle (risos), ouvir Chico Buarque, escrever livros, ter uma biblioteca em casa. E eu fui atrás desse sonho (lágrimas…).
Achava que gente inteligente lia a Veja (risos…). Tanto que, aos 16 anos assinei a Veja. (risos…). Aos 18, assinei a Folha. Hoje eu sei que, nessa área, fiz tudo errado! (risos…).
Quando cheguei à Faculdade, já conhecia muito de música brasileira: Chico Buarque, Dolores Duran, Elis, Paulinho da Viola. Meu interesse era pelo “lado B” da obra desses artistas. Afinal de contas, o “lado A” todo mundo conhecia.
Já havia lido Sartre, Dostoievski e muita coisa de literatura brasileira — Jorge Amado, Clarice Lispector, Graciliano Ramos (foi lá que aprendi o significado da palavra pederasta – achei o máximo!), Antonio Callado (ali entendi o que foi a ditadura militar), Machado, Lima Barreto (acho que foi ele que despertou a Luana militante do movimento negro) e muitos outros. Lendo Zélia Gattai comecei a me interessar por essas coisas de esquerda. Aí, eu descobri que ler a Veja não era coisa de gente inteligente (risos…). Amava as crônicas do Nelson Rodrigues. Tudo pelo meu sonho de ser inteligente (lágrimas).
Se você observar, os autores que eu lia dizem muito sobre a maneira como eu vejo o mundo. Hoje vejo que isso era uma fuga. Tinha que fugir da vida difícil, das humilhações e do racismo, sim! Eu podia até não entender bem o que era racismo, mas na infância e na adolescência somos assolados por ele da forma mais perversa, através dos apelidos, das discriminações, da indiferença dos professores na escola.
Voltando à questão da fuga, às vezes eu pensava: “Luana, suas amigas não lêem a Folha e são felizes do mesmo jeito. Por que, em vez de pagar a assinatura da Folha você não compra um sapato?” Era um conflito muito grande. Mas eu não tenho dúvidas de que tudo isso valeu a pena. Boa parte da minha formação está aí.
Atualmente, leio mais textos acadêmicos e livros e artigos sobre a questão racial do que literatura. Além de historiadora, pesquiso literatura de autoria feminina e participo de um grupo de Literatura Afro-Brasileira, ambos na UFMG. Tenho bolsa numa pesquisa sobre imprensa feminina. Sinto falta de ler coisas sem compromisso, entende?
Viomundo – E o Estatuto da Igualdade Racial, como o avalia?
Luana Tolentino — No momento da aprovação, em 2010, houve um clima de decepção em função da questão das cotas terem ficado de fora. Passados dois anos, aqui estamos comemorando a decisão do STF [Supremo Tribunal Federal]. Ótimo, não? Isso é sinal de que avançamos. Por outro lado, a punição dos crimes de racismo ainda é muito pequena e um dos pontos principais do Estatuto era a criação de mecanismos para a punição efetiva desse tipo de delito. Políticas públicas em favor da juventude negra precisam ser postas em prática urgentemente. Tem acontecido um genocídio silencioso de jovens negros nas periferias do Brasil e pouca coisa tem sido feita para mudar essa realidade.
Viomundo — O que achou da surra que o DEM levou no STF em relação às cotas raciais?
Luana Tolentino — Foi de lavar a alma. Infelizmente eu não pude acompanhar a votação, meu computador estava sem áudio. Entendo a decisão do STF como o começo de um novo tempo. E, claro, de muitas lutas. Mas uma coisa precisa ser dita: a aprovação da Constitucionalidade das Cotas não foi uma concessão do Supremo Tribunal Federal. Assim como a implementação da lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da História dos Africanos e dos Afro-Brasileiros no currículo escolar, não foi uma benesse do governo Lula. Todas essas medidas que visam à equidade racial são fruto de lutas e reivindicações do Movimento Negro. Aqui, quando falo em Movimento Negro não estou me referindo apenas às Organizações ou aos Grupos, mas a todas as manifestações de apoio à causa negra. Sem a participação dos movimentos sociais nada disso teria sido possível.
Viomundo — O que diria para aqueles que continuam a condenar as cotas raciais?
Luana Tolentino — Sempre que a questão das cotas vem à tona penso logo no que foi dito pelo antropólogo Kabengele Munanga: “Qualquer proposta de mudança em benefício dos excluídos jamais receberia apoio unânime, sobretudo quando se trata de uma sociedade racista”. Eu acrescento: “Uma sociedade racista que não se assume como tal”.
Pesquisas realizadas por órgãos do Governo não deixam dúvidas quanto à situação de exclusão na qual vive a população negra no país. Não se pode admitir que um país onde mais de 50% da população é afrodescendente, apenas 4% dos afrodescendentes estejam matriculados em instituições de ensino superior. As cotas, como já foi comprovado em experiências realizadas em outros países, são um método eficaz de reparação e combate às desigualdades socioeconômicas. Ser contra as cotas é ser contrário também à existência de uma sociedade justa e igualitária.
Viomundo — Tem gente que diz que é a favor de cotas para os pobres e contra para os afrodescentes. O que tem a dizer sobre isso?
Luana Tolentino — Esse é um argumento muito utilizado pelos contrários às ações afirmativas. Esse fundamento advém do famigerado mito da democracia racial que, infelizmente, 80 anos depois de sua criação permanece muito vivo no imaginário coletivo. A idéia de que somos todos mestiços cumpre o papel de escamotear a discussão acerca das desigualdades provocadas pelo racismo e pela discriminação racial. Essas pessoas “esquecem” que as camadas pobres da sociedade são ocupadas majoritariamente por negros e pardos. Também que esse segmento da população é mais vulnerável à violência e enfrenta maiores dificuldades no acesso a bens públicos.
Viomundo – Você às vezes nos manda denúncias sobre racismo na propaganda. Acha que estamos melhorando nessa área?
Luana Tolentino — Sim. E mais uma vez devido às ações do movimento negro. O caso da propaganda da Caixa foi uma vitória inesquecível. A Caixa foi obrigada a refazer o comercial. E, mesmo depois de tudo esclarecido, eu ainda fui obrigada a ouvir: “O Machado de Assis não pode ser negro só porque você quer”.
Não é fácil lutar contra a ignorância. Mais recentemente o Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária] determinou que a cervejaria Devassa alterasse o comercial em função do teor racista e sexista. E, por fim, o cantor Alexandre Pires foi convocado a prestar esclarecimentos ao Ministério Público em função da conotação racista do vídeo Kong, onde pessoas são comparadas a macacos. Ah, já ia me esquecendo. O Azeite Gallo também foi obrigado a mudar sua peça publicitária.
Viomundo — Pelo que eu sei, você votou na presidenta Dilma. O que está achando do governo dela até agora?
Luana Tolentino – Eu tenho acompanhado mais de perto a questão dos movimentos sociais. E nesse segmento vejo que há insatisfação. Grupos de mulheres, homossexuais, indígenas e sem-terra têm criticado o retrocesso no que diz respeito à formulação de políticas públicas que garantam os direitos desses segmentos. Me preocupam o aumento da violência contra os homossexuais e as mortes no campo. Também os impactos que podem ser trazidos pela construção da usina de Belo Monte e a aprovação do novo Código Florestal. Tem-se enfatizado que somos a 6ª maior economia do mundo, mas não consigo digerir que um país que atingiu este patamar tenha um sistema de educação pública tão deficiente e precário.
Viomundo — O que sonha para você?
Luana Tolentino — Acho que já sonhei muito (risos…). Agora eu quero é realizar.
Viomundo – E para o Brasil?
Luana Tolentino — Meus sonhos para o Brasil vão além das questões políticas e econômicas. Desejo que um dia todos nós, independentemente do que somos e das nossas escolhas, possamos ser respeitados e tratados como iguais, como semelhantes.
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Adilson
Luana, mulher guerreira e batalhadora.
Mulher que luta por justiça e por uma vida melhor.
Parabéns!
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[…] Luana Tolentino: “Nunca duvidei que eu podia e merecia muito mais. Batalhei. Revidei. Virei o jogo… […]
Geralda
Graças a Deus o tempo dos coroneis já acabou, quer dizer em termos, porque aqui em Minas o que prevalece ainda é o coronelismo governando.Educação pública para a classe de baixa renda, mas falta pouco para sair do mapa. Se os tucanalhas continuar governando…
Thiago Leite Cruz
Luana, parabéns pela sua luta e perseverança.
Você venceu porque nunca desistiu. Como já comentaram acima, você venceu sem cotas. Por que então com outras pessoas negras seria diferente?
“Luana Tolentino — Meus sonhos para o Brasil vão além das questões políticas e econômicas. Desejo que um dia todos nós, independentemente do que somos e das nossas escolhas, possamos ser respeitados e tratados como iguais, como semelhantes.”
Incrível a contradição com sua frase e seu apoio às cotas. Você não quer que negros sejam tratados como iguais, você quer tratamento diferenciado e especial, com muitos bônus e benefícios. Com as cotas, os negros jamais serão tratados como iguais, pois querem se diferenciar oficialmente na sociedade. Vão ter nível superior e empregos, conseguidos unicamente pelas cotas. Enquanto se as cotas fossem SOCIAIS, a maioria de pobres, negros como você mesma disse, automaticamente teria maior acesso às universidades e concursos públicos.
Eu simplesmente REPUDIO E ABOMINO cotas, e sou plenamente a favor de um mundo onde as pessoas sejam valorizadas pelo caráter e mérito, e não pela cor da pele. Sou mulato, sou miscigenado, sou tão negro quanto sou branco e índio. E não admito ser rotulado por quem quer que seja.
Sempre estudei em escolas particulares de elite, cursei universidade pública e também particular, os melhores cursos de idioma da cidade… E nunca sofri preconceito, e sempre fui o melhor aluno SEM COTA ALGUMA. Mas se eu fosse mais um brasileiro pobre, tenho plena consciência de que sofreria bastante, como você sofreu. Porque é a pobreza que aumenta os preconceitos das pessoas, e não a cor da pele. Caso contrário, eu teria sofrido racismo a vida inteira, nos colégios de elite nos quais estudei. E nunca sofri absolutamente nada.
Querida Luana, parabenizo a você mais uma vez, você é um exemplo de luta e superação. Sua história de vida é linda e emocionante. Mas seja menos radical, por favor. Não rotule as pessoas, não seja a favor do APARTHEID que você está ajudando a construir. Você é historiadora, sabe muito bem o que foi o apartheid, seu funcionamento e as chagas que deixou na sociedade africana até os dias de hoje.
Lute por igualdade para a população pobre – negros, pardos, índios, latinos, brancos-, e não unicamente para um setor da sociedade.
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Savia Oliveira
Excelente relato, Luana.Muito nobre compartilhar suas alegrias e tristezas, pois isso nos fortalece.Sua trajetória de vida inspira a todos que desejam mudar o rumo da própria história.Parabéns.
Daniela
Foi muito importante para mim ler sua história prof. Luana, é um incentivo para todos que pretendem mudar o mundo, ainda que com pequenas atitudes de fé e esperança, podemos mudar!!! Suas lutas me fizeram chorar, porque já passei por algumas parecidas, suas conquistas me fizeram crer que posso chegar lá, realizar, porque “já sonhei demais” tbm!
Daniela
Sua história me fez chorar, prof. Luana!!!!!!! Acredito que muitos se identificarão com suas lutas e renovarão as esperanças com as suas conquistas. Foi muito importante para mim ler sua entrevista, me deu mais motivos para não desistir dos meus sonhos, ainda que “já sonhei muito, é hora de realizar!”
Tito
Sua história é muito tocante e inspiradora, espero um dia poder te conhecer!!! “Achava que gente inteligente lia a Veja” me fez dar gargalhadas também. Parabéns!
Solange Andrade
Me identifiquei com a história da Luana Tolentino. Sou negra de origem humilde, com muito esforço me graduei em pedagogia na UERJ, hoje sou especialista em educação, e funcionária pública na minha àrea de formação. Atualmente na escola em que trabalho não deixo de discutir, e implementar a lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da História dos Africanos e dos Afro-Brasileiros no currículo escolar.
A escola pública por muito tempo “excluiu” de modo velado a população negra dos seus bancos. Está na hora da sociedade refletir, e fazer da escola um agente de transformação social para todas as etnias, que por muito tempo foram discriminadas.
Geysa Guimarães
Conceição, obrigada, você é infalivel.
Fico na aguarda.
Carlos Alberto Santpos de Paulo
Leciono na Universidade Católica de Brasília, recebi essa entrevista de uma professora da mesma instituição. Agradeço a sensibilidade dessa professora ao me brindar com um grande trago de esperança revolucionária
Obrigado
Geysa Guimarães
Demais o “grande trago de esperança revolucionária”.
Parabéns, professor!
João Paulo Ferreira de Assis
Parabéns Professora Luana. Você venceu em História, que é a disciplina que eu leciono. Parabéns por ter vencido em Belo Horizonte, que é uma selva, aliás, como qualquer metrópole. Você venceu dois preconceitos muito recorrentes em nossa sociedade apodrecida: preconceito por ser negra e por ser mulher.
Eu cursei o PREPES da PUC, História e Cultura de Minas Gerais. E uma das minhas professoras, que deve ter tido uma história de vida semelhante a sua, já com mestrado e doutourado na área de História, recebeu oferta de ”emprego” de uma dondoca da sociedade belorizontina, para trabalhar de empregada doméstica na casa da dondoca. A professora nos revelou esse fato em aula. Deliciosa foi a resposta que a dondoca ouviu: empregada com mestrado e doutourado.
Mari
Nem sei o que dizer. Mas saiba que adorei ler a sua história de vida e fiquei impressionada com a sua determinação. Siga, o mundo é seu
NilvaSader
Parabéns, Luana pelo seu exemplo de vida. Dignidade a toda prova.
Abração procê.
Luca K
Parabéns Luana, pelas tuas vitórias e conquistas. Em um país como o nosso, de reduzida mobilidade social, teus feitos não são nada fáceis de serem alcançados.
Você é formada em Historia, uma ciência social. Um campo fascinante porém assim como outras ciências sociais frequentemente grotescamente corrompido. A Ciência ficando de fora em prol da política. Não a toa o ditado; “History is bunk”. Separar Historia, objetivamente, do ativismo será quase impossível, ainda que vc tente.
Alguns comentários; Sou a favor de cotas para pobres mas sou contra cotas raciais. Aliás, cotas raciais no Brasil significam quase que invariavelmente cotas para “negros”, seja lá o que isso signifique na prática. Indagada sobre isso, você, que é a favor de cotas raciais, deu resposta totalmente insatisfatória. Continuo não entendendo porque não seria mais justo cotas para pobres – você mesma admite que muitos dos pobres são negros e pardos – do que cotas para negros. Você afirma que mais de 50% dos brasileiros são afro-descendentes como se mais de 50% fossem negros. Isso é FALSO. Como eu disse anteriormente “A predominância de “negros” se dá através do subterfúgio absurdo e intelectualmente desonesto de somar os pretos aos muito mais numerosos pardos. A desonestidade desse tipo de coisa fica evidente quando se analisa os resultados dos mais recentes estudos genéticos sobre a população brasileira. Entre os pardos, a herança européia PREDOMINA, chegando às vezes a ultrapassar 80%!”. Ou seja, os pardos são mais Euro-descendentes e ainda contém importante contribuição indígena além da africana. Mas ativistas do movimento negro não querem saber dos fatos; varrem isso tudo pra debaixo do tapete. O importante é “inflar” o número de “negros” para justificar ações afirmativas. Você está também errada quanto à eficácia de ações afirmativas. Como disse em outro thread, nos EUA, de onde copiamos tudo isso, elas tem sido desastrosas. E olha que já se vão mais de 40 ou 50 anos desse troço por lá! No artigo http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/stf-derrota-a-tese-da-guerra-civil.html dei alguns exemplos concretos do fracasso das ações afirmativas. Há muito mais; Veja por exemplo esse trecho de um artigo do NYT, jornalão que apóia ações afirmativas. “An achievement gap separating black from white students has long been documented — a social divide extremely vexing to policy makers and the target of one blast of school reform after another.
But a new report focusing on black males suggests that the picture is even bleaker than generally known.
Only 12 percent of black fourth-grade boys are proficient in reading, compared with 38 percent of white boys, and only 12 percent of black eighth-grade boys are proficient in math, compared with 44 percent of white boys.”
E esse trecho talvez explique porque no Brasil os policy makers estejam criando cotas especificamente para negros ao invés de pobres: “A pobreza por si só não parece explicar as diferenças: meninos brancos pobres vão tão bem(na escola) quanto meninos negros que NÃO vivem na pobreza”.(fonte: NYTimes, 9 Nov 2010, Proficiency of Black Students Is Found to Be Far Lower Than Expected).
Claro que a realidade americana é bem diferente da nossa, mas daí porque copiar o modelo “racializado” americano pra cá pode se revelar mal negócio.
[]s
Thaís de Lelis – ENSA
É com essa garra que esperamos ter de todos os brasileiros. É na luta que superamos as dificuldades, e essa história é uma prova de que o Brasil pode se tornar totalmente desenvolvido e com menor quadro de desigualdade social. As oportunidades estão aumentando, entretanto basta que o brasileiro saiba aproveitá-las. E o primeiro passo a ser dado é investir na educação, só assim podemos ver esses fatos de mudança de vida, que são extraordinários, no dia a dia. O Brasil começa a caminhar contra a desigualdade social.
Werner Piana@SAGGIO_2
Emocionante, linda história, entrevista ímpar – Conceição sempre um show…
O que dizer de Luana? Que seu exemplo se replique e mais e mais luanas e luanos existam em nosso país!
Florival
Você é daquelas que enquanto faz a própria história, muda a nossa história.
Parabéns, Luana, pelo exemplo de vida. Beijo na alma.
Maria Amélia Martins Branco
Parabéns, Luana, a sua história é linda e merece ser contada para que sirva de espelho para outras pessoas virarem a mesa, ir à luta e CAMINHAR como você fez “de 1 limão você fez uma gostosa limonada” como bem disse “Nunca duvidei que eu podia e merecia muito mais. Batalhei. Revidei. Virei o jogo” e parabéns, também, ao Azenha, pela bela aquisição.
abraços a todos
Brasília, 5/5/2012
Viviane Freitas
Adorei a matéria Luana. Sou assistente social, e me assemelho muito com sua história de vida. Acredito também em dias melhores, no fim do racismo em nosso país, e infelizmente, acredito que aqui no Sul essa realidade é mais nojenta ainda! Pode acreditar!!!! Mas vamos a luta!!!! Abraços
Geysa Guimarães
Aplausos a Luana, uma brasileira que não desiste nunca.
E parabéns a Conceição Lemes.
Fátima Oliveira
Uma entrevista emocionante: doce, dura, cortante, como a vida sob a batuta do racismo
El Cid
Bertold Brecht, me perdoe, mas vou mudar sua frase para homenagear Luana Tolentino:
” Há mulheres que lutam um dia e são boas, há outras que lutam um ano e são melhores, há as que lutam muitos anos e são muito boas. Mas há as que lutam toda a vida e estas são imprescindíveis”
um grande abraço, Luana !!
Richard
Já dizia Amaral Neto: Brasil terra de oportunidades: Lula, Dilma, Luana, sim é possível vencer na vida. http://www.youtube.com/watch?v=8WFb9vwWFMg
lulipe
Venceu sem depender de cotas raciais, parabéns!!!!
Fabio Passos
parabéns a Luana Tolentino!
E uma vaia prá os branquelos que só “venceram” na vida por ter menos melanina na pele que a maioria do nosso povo.
As cotas já estão diminuindo esta injustiça.
Geysa Guimarães
Sou branquela mas gostei muito de seu contundente comentário.
E repudio o anterior (do lulipe).
Tudo a favor das cotas raciais.
Fabio Passos
É isso aí Geysa!
É preciso reconhecer que o Brasil é um país racista.
Há discriminação contra os negros no Brasil.
Não dói admitir isso.
Não dá mais prá aturar cínicos mentirosos como ali kamel. Esta “elite” afrikaaner não presta.
Temos de fazer algo ou seremos cúmplices dos racistas.
O objetivo das cotas é reduzir a injustiça.
É promover igualdade de oportunidades.
FrancoAtirador
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!!! A LUANA É MARAVILHOSA !!!
Um abraço camarada e libertário !
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Arlete
Parabéns Luana! Fico feliz com o seu sucesso. Sou “parda/negra” mãe de filhos negros que também sofreram muita discriminação na escola.Hoje todos têm um curso superior, e o meu filho caçula trabalha em um projeto de pesquisa na USP preparando-se para o mestrado, acho que você entende o que isto significa para nós negros.
Que Deus continue te iluminando.
Eduardo Bernardes
Falar o quê, depois de uma história dessas?
Parabéns, e não perca este espírito de luta!
Ainda precisaremos (e muito) de vc!!!
Anderson
uau que história e que exemplo de vida é esta moça, parabéns por ter vencido na vida ou seja você nunca deixou de LUTAR, acho isto incrível,assim como a Luana sou professor de História em um bairro de periféria,acho que vou utilizar esta reportagem aqui do Viomundo para levantar a autoestima de muitos desses jovens que acham não são capazes de mudar a própria história de vida.Valeu Luana.
Chico Nunes
Guerreira, inteligente, linda e maravilhosa, nos orgulha.
jose albino zacharias da silva
Lendo o texto na integra pude perceber que a maior dificuldade de nosso povo preto é a autoestima.Luana aponta alguns caminhos importantes para superação.Como educador entendo o recado e continuarei na tecla e tenho certeza que venceremos as barreiras impostas ao avanço de nosso povo preto e de nosso país para superar e se superar.Parabéns!!!
Alberto
Graciosa Luana Tolentino, parabéns!
Fabio Passos
O povo brasileiro tem um potencial fabuloso.
Este potencial é desperdiçado por uma “elite” branca, rica… e crápula, que construiu um abjeto Apartheid Social. É a pior “elite” do mundo.
Já passou da hora de derrubar estas oligarquias inescrupulosas e incompetentes que gozam de privilégios indecentes enquanto a maioria que produz a riqueza não tem acesso a direitos humanos fundamentais.
Parabéns a Luana Tolentino que derrotou a Casa Grande.
Luiz Carlos Azenha
Fabio, derrotar a Casa Grande, todos os dias! É tarefa do povo brasileiro. abs
Luca K
Sua tentativa(e de outros por aqui) de colar o DEM nas pessoas que, como eu, são totalmente contrárias às cotas raciais não passa de uma tática barata que, no boxe, chamamos de golpe baixo. Pois bem, sou contra cotas raciais e no entanto votei as 2 vezes no Lula e agora na Dilma. O que não significa que aprove tudo que fizeram ou fazem ou veja o Lula como um semi-Deus, como é o caso da galera por aqui.
Fabio Passos
Luca k,
Entendo seu constrangimento em estar ao lado do DEM nesta questão.
Mas você está. Que se pode fazer?
Geysa Guimarães
Azenha, juiz criticando no Facebook o STF pela decisão favorável às cotas raciais fica bem?
Refiro-me a Luiz Roberto Dias, postou link com foto de Ayres Brito com o comentário: “The horror. The horror”.
Por favor, responda.
Geysa Guimarães
Azenha ou Conceição:
Se é preciso derrotar a Casa Grande todos os dias, por favor me respondam pergunta que já deixei aqui:
Juiz criticando publicamente (no Facebook) decisão do STF sobre cotas raciais é normal? É ético? Ou é considerado INSUBORDINAÇÃO?
Conceição Lemes
Geysa, para te responder adequadamente vou consultar alguém da área jurídica. bjs
Dimas Antonio Granado de Pádua
Alem de uma intelectual seria e competente,Luana é tambem uma bela mulher.Parabens,Camarada Luana.Saudações comunistas.
Elenice
Luana e Vi o Mundo, parabéns, entrevista excelente.
Penha Rocha
Belissimo depoimento de Vida!
uma mulher guerreira e de coragem!
Me emocionei demais!
Vida que segue! Vamos acreditar num país mais justo!
Beijos afetuosos
Penha Rocha
Adilson
É isso aí, vamos continuar lutando para um país sem preconceito e sem racismo. Parabéns Luana, e que Deus te abençoe e te leve a conquistas mais altas nessa vida.
Luiz Carlos Azenha
Belíssima reportagem da Conceição Lemes. Lemes, não consegui falar contigo, por isso o parabéns público. abs
Luciano Lima
nossa eu me emocionei… parabens linda.
Jorge
UAU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Urbano
Nessa história o que me causa tristeza profunda é a menina de dedo em riste… até porque eu fiz e vi outras crianças fazerem, aquilo que para mim era um momento mágico; ir lá dentro de casa e voltar correndo, saltitante de felicidade por poder entregar alguma coisa para a pessoa, que se encontrava no portão, que pouco antes havia pedido alguma coisa para comer. Lembro-me até que eu conferia a qualidade e a quantidade a ser entregue, reclamando sempre, caso não fossem generosos. Embora houvesse tempo em que a coisa era ruim inclusive para a gente, em casa. Parabéns Luana; e faça sempre questão de incutir essa sua energia altamente positiva nas pessoas que te rodeiam..
assalariado.
Luana diz: ” Nunca gostei da área de Exatas. Acho que História tem a ver com o meu desejo de querer mudar o mundo. Sou uma sonhadora, questionadora, “malcriada”. Sempre fui assim.”
E eu digo: pessoas que pensam e agem desta forma não são ‘malcriadas’. Pessoas assim, conheço por outro nome: Você é uma revolucionária e nem se apercebeu disto.
Vamos juntos, rumo a construção de uma sociedade/ Estado socialista.
Saudações Socialistas.
Emerson
Uau, que bela história. Parabéns pelo esforço e pelo sucesso…. Você é digna de aplausos e mais aplausos. Lia o Viomundo mas nunca tinha atentado para seus artigos, desculpe, agora vejo o que perdi.
PARABÉNS!!!
Seu novo fã.
María Edith
Luana,
Salve, salve…
Continue sonhadora, batalhadora “y otras cositas más”.
Compartilharei esta entrevista com meus alunos (as).
Vida longa ao Viomundo e parabéns.
Grata. Cordialmente, María Edith
Luis Arthur Silva
LINDAAAAAAAAAAAAAA!! Começar o fim de semana com essa inspiração é mesmo um privilégio!! Obrigado Luana, Conceição Lemes e o Viomundo por essa lição de vida!
Luiz G. de Castro
Belíssima aquisição! Tem tudo para ser a cara de um novo Brasil.
Julio Silveira
Alem de tudo isso é lindona. Com todo respeito.
Luiz Carlos Azenha
Julio, concordo contigo. É lindona!
Celso
Sua entrevista me lembrou um depoimento do geógrafo brasileiro Milton Santos, se não me engano no Roda Viva, onde ele decifrara os olhares de indagação de outros acadêmicos que o viam pelos corredores da Sobornne: “O que você faz aqui?” Irmãos na cor, irmãos nas histórias de vida, irmãos na luta. Parabéns Luana. Você tem posição social emblemática para oferecer às nossas crianças e adolescentes que não são brancos. Pois como dizia o filósofo Tim Maia – não é branco é preto.
Jorge
É isto que os demo-tucanos não perdoam nos governos trabalhistas.
Ter que sentar na mesma mesa de um restaurante junto com uma ex-doméstica.
Eles não vão aceitar isto jamais. Ainda bem que já estão na UTI.
Aline C Pavia
DEDO NA FERIDA. É isso aí. Vc falou TUDO.
Imagina?? A ex-doméstica no mesmo curso de inglês e espanhol que o filho da “patroa”? Tomando o mesmo voo pra Nova York? Se encontrando na Disney nas férias?
Alguém podia mandar essa entrevista para aquelas socialites indignadas com a escassez de empregada doméstica no mercado. Como é que foi que uma delas falou? “Empregada agora acha que pode ganhar igual engenheiro!!”
Caracol
Luana, sem comentários (suspiro). Apenas… muito obrigado e um abraço emocionado.
mariana oc.
Parabéns e seja bem-vinda, Luana!!!!! Conceição e Azenha, este blog está ficando insuperável!!!!
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