Pedro Celestino: A serviço das petrolíferas estrangeiras, Serra manipula dados para entregar o pré-sal

Tempo de leitura: 7 min

serracelestino

Serra e a entrega do pré-sal, por Pedro Celestino

 no Tijolaço 

celestino

Pedro Celestino, candidato de consenso à Presidência do Clube de Engenharia, sintetiza, com clareza e didatismo, as contradições e erros do projeto do Senador José Serra que retira da Petrobras a condição de operadora única e a propriedade de, no mínimo, 30% das jazidas  de petróleo do pré-sal:

“Cabe registrar a disposição do nobre senador José Serra de, finalmente, oferecer à opinião pública as razões que o fizeram apresentar o PL 131, que retira a obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única dos campos do pré-sal.

O debate de idéias em termos elevados é intrínseco à democracia. É pena, entretanto, que tal disposição só tenha se manifestado após 46 senadores terem rejeitado o pedido de urgência para a tramitação do seu projeto; caso o houvessem aprovado, a deliberação sobre assunto de vital interesse para o país seria tomada sem discussão. É que o senador considera o petróleo uma “commodity”, e não um insumo estratégico para o Brasil. Não vê, ou não quer ver, que o controle do petróleo é, e continuará a ser nas próximas décadas, o pano de fundo dos principais conflitos geopolíticos mundiais.

Considere-se, por exemplo, o cenário antevisto pela AIE – Agência Internacional de Energia, que prevê que:

  1. a) a produção mundial de petróleo continuará a crescer, passando dos atuais 85 milhões de barris/dia para quase 100 milhões de barris/dia em 2035;
  2. b) os campos produtores atuais atingiram seu pico de produção (65 milhões de barris/dia) em 2007/2008, entrando em declínio desde a partir daí;
  3. c) em 2035 cerca de 38 milhões de barris/dia serão produzidos por campos já descobertos, (mas não em produção) por campos novos a serem descobertos.

Resultado deste cenário: a ampliação do estoque de reservas para futura produção de petróleo continuará a ser o principal objetivo das petrolíferas privadas mundiais (Shell, Exxon, Chevron, BP e Total). E quando se fala de petróleo, área em que os projetos são de longa maturação, pois envolvem largo espectro de riscos e incertezas, assenhorear-se de áreas já descobertas, em que tais imprevisibilidades sejam minimizadas, torna-se objetivo prioritário dessas empresas. Não foi outro o motivo que levou recentemente a Shell a comprar a BG. Segundo o seu presidente, a Shell, ao adquirir a BG, aumentará nos próximos 5 anos a produção de petróleo no Brasil, dos atuais 100 mil barris/dia para 500 mil barris/dia. Com isso, 20% da sua produção mundial sairá do Brasil.

No planeta, nos últimos 30 anos, a maior descoberta de petróleo foi a do pré-sal brasileiro, com reservatórios a exibir níveis de produtividade incomuns (poços que produzem mais de 20 mil barris/dia), com baixo custo de extração (US$ 9,00/barril, segundo a Petrobrás). Esta é a razão do desesperado interesse das petrolíferas privadas mundiais no nosso pré-sal.

Apoie o VIOMUNDO

Qualquer empresa petrolífera preocupa-se simultaneamente com o aumento da produção e o aumento das reservas. Se é a produção que sustenta financeiramente a empresa, são as reservas que propiciam o lastro econômico que, por sua vez, promove a sustentabilidade do seu futuro. A produção dos campos produtores decai em média 10% ao ano e as reservas se esgotam rapidamente, por isso a atividade de exploração e produção (E&P) é tão frenética na busca de novas reservas.

No Brasil, após a quebra do monopólio estatal do petróleo em 1997, a estratégia das petrolíferas privadas mundiais foi a de aguardar os resultados dos esforços exploratórios – como se sabe, carregados de riscos e incertezas – da Petrobrás, para aí sim, sem risco exploratório algum, adquirir as áreas promissoras, em leilões promovidos pela ANP, agência cada vez mais capturada por interesses privados. Basta dizer que sua diretora-geral defende a revisão da Lei da Partilha. Não por acaso, a ANP é tão cara ao senador Serra, desde o tempo de David Zylberstajn, o competente genro de FHC.

O modelo de partilha foi adotado para assegurar ao país ganhos maiores, em áreas de risco exploratório muito baixo, como é o caso do pré-sal. Ao propor que a Petrobrás deixe de ser a operadora única do pré-sal, o senador Serra presta um serviço às petrolíferas privadas mundiais. É da entrega do nosso petróleo, é disto que se trata, o que não é novidade.

Basta recordar o que ocorreu após a quebra do monopólio da Petrobrás. Para atrair as empresas estrangeiras, determinou-se irresponsavelmente à Petrobrás reduzir a aquisição de blocos para explorar, descobrir e produzir petróleo nas rodadas I, II, III e IV (esta em 2002). Se essa diretriz não fosse revertida a partir de 2003 com a retomada da aquisição de blocos nas rodadas seguintes, a partir de 2008 a Petrobrás não teria mais onde explorar em território brasileiro, comprometendo o seu futuro como empresa petrolífera.

O aumento constante das reservas e da produção a partir de 2003 decorreu da forte retomada dos investimentos em E&P e da decisão de abandonar a política de concentração dos investimentos na Bacia de Campos, com grande produção, mas com declínio de produção já à vista (sucediam-se os poços exploratórios secos perfurados). Essa inflexão permitiu que as sondas fossem espalhadas pelas bacias do Espírito Santo, Santos e Sergipe, que propiciaram, a partir de 2003, as grandes descobertas e o crescimento efetivo das reservas e da produção, processo que culminou com a descoberta do pré-sal em 2006. É bom lembrar que essas bacias tinham sido praticamente abandonadas nos anos anteriores, para permitir a entrada das empresas estrangeiras. Se a Petrobrás continuasse concentrada na Bacia de Campos – a empresa abandonara investimentos em áreas novas – aí sim, teria sido transformada em uma empresa petrolífera sem qualquer sustentabilidade financeira, a curto prazo, e econômica, a longo prazo.

O aumento da produção foi extraordinário a partir de 2003. Extraordinária também foi a elevação das reservas. Apesar dos desmandos, a Petrobras passou a ser a melhor, a mais eficaz e, economicamente, a mais sustentável a longo prazo das grandes empresas petrolíferas mundiais. Definitivamente não está, como diz o senador Serra, “quase arruinada”.

O senador Serra critica o endividamento da Petrobrás, segundo ele quase 6 vezes maior que o endividamento médio das petrolíferas. Para não questionar números, pois caberia arguir a que universo de empresas corresponderia a média por ele citada, basta dizer que há petrolíferas de inúmeros tipos, tamanhos/dimensões e missões/objetivos empresariais.

As estatais do Oriente Médio, por exemplo, têm endividamento baixíssimo, pois produzem em campos terrestres, de geologia bem conhecida; já as petrolíferas privadas mundiais têm reservas e produção cadentes há anos, o que em contrapartida lhes permitiu acumular recursos financeiros para adquirir reservas mundo a fora, o que lhes seria permitido aqui, caso o projeto do senador Serra fosse aprovado.

Nenhuma delas é como a Petrobrás, detentora de reservas totais de petróleo crescentes, que beiram os 30 bilhões de barris, que conta com um corpo técnico reconhecido como entre os melhores e mais bem capacitados – senão o melhor – dentre todas as petrolíferas, que detém tecnologia integral para não só produzir suas reservas de petróleo, como para avançar continuamente no domínio tecnológico, e que apresenta a mais segura e eficaz competência operacional do mundo para produzir em águas ultra profundas, como as do pré-sal, com total segurança paras as pessoas e para o meio ambiente. O mau uso da estatística pelo senador Serra traz à lembrança o falecido Roberto Campos, que acertadamente dizia que a estatística mostra o supérfluo e esconde o essencial.

O senador Serra, para justificar a entrega do petróleo do pré-sal às petrolíferas privadas mundiais, alega que, entre a quebra do monopólio estatal em 1997 e 2010, sob o regime de concessão, a produção de petróleo da Petrobrás passou de 800 mil barris/dia para 2 milhões de barris/dia, enquanto que, sob o regime de partilha, teve um “aumento pífio de 18%”.

Aqui está a justificativa, ainda velada, para o abandono do regime de partilha, iniciado pelo seu projeto. O argumento do senador não se sustenta: o aumento da produção de petróleo da Petrobras até 2010 decorreu, essencialmente, da produção de descobertas anteriores à quebra do monopólio, pois a produção das descobertas posteriores só começou a se fazer sentir a partir de 2005-2006; nada, porém, se compara à extraordinária curva de crescimento da produção de petróleo no pré-sal, que aumenta mês a mês desde 2013, quando lá se iniciou a produção, à taxa de 5% a.m., chegando hoje à casa dos 800 mil barris/dia. Esta é a razão da tentativa, patrocinada pelo senador Serra, de entregar o nosso petróleo às petrolíferas privadas mundiais.

O senador Serra critica a Petrobrás pelo “controle oportunista de preços” e pelos “projetos aloprados de refinarias”, que teriam quase arruinado a empresa.

Quanto ao “controle oportunista de preços”, labora em erro o senador Serra. Administrar o preço na porta da refinaria é do interesse do cidadão brasileiro – em última análise, o acionista controlador da Petrobrás – e cumpre função social de extrema importância, a do controle do custo de vida. Os acionistas estrangeiros, introduzidos na Petrobrás após a quebra do monopólio, é que não concordam com isso, exigem o alinhamento dos preços dos produtos da Petrobrás aos preços internacionais.

A quem serve o senador Serra ao defender essa opinião? Certamente, não aos interesses nacionais. Quanto aos “projetos aloprados de refinarias”, tanto o COMPERJ no Rio de Janeiro, como a RENEST em Pernambuco são tecnicamente justificados, pois agregam valor ao petróleo aqui produzido, e tornam o país auto-suficiente neste insumo.

Na verdade, a posição do senador é coerente com a do governo FHC, do qual foi uma das principais lideranças: buscou-se, então, desinvestir em refino (alienou-se ⅓ da REFAP à YPF e preparou-se a venda da REDUC, suspensa em 2003), para tornar o país dependente da importação de derivados. As beneficiárias da canibalização da Petrobrás seriam, é claro, as petrolíferas privadas mundiais.

Finalmente, o senador Serra comenta algumas decisões da atual diretoria da Petrobrás, em princípio alinhadas às suas ideias. Propõe-se a venda de ativos de produção, solução simplista que suprimirá da Petrobrás justamente a origem dos recursos que, no futuro, garantirão o rolamento das suas dívidas e a sustentabilidade a longo prazo da saúde financeira da empresa. As medidas anunciadas são, na verdade, uma solução obtusa, que beira o suicídio empresarial, em favor de interesses das petrolíferas privadas mundiais, tão caras ao senador Serra.”

Leia também:

Requião demole todos os argumentos dos que querem entregar o pré-sal 

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Iukio Hasegawa

Sugestão:
Vamos divulgar por todo o país o nome completo desse facínora:

JOSÉ CHIRICO SERRA

ou simplificando: ZÉ CHIRICO

Ele tem vergonha do nome que recebeu dos pais. Com isso, sugerimos que sejam confeccionados cartazes no Senado com os seguintes dizeres:

FORA ZÉ CHIRICO

A reação dele será cômica.

Arthur Colombo Duarte

É assim que o Serra rebate as acusações de ser entreguista
https://www.youtube.com/watch?v=jNhrikBrFfI

Carlos Linhares

O q o engenheiro petista não explicou é como se daria essa “entrega” do pré-sal, já q o projeto do Sen. José Serra retira a OBRIGATORIEDADE mas mantém o DIREITO da Petrobras ser a operadora do pré-sal.

Assim, a cada nova área leiloada, caberá à Petrobras fazer a análise de interesse comercial e financeiro para decidir se ela quer ser a operadora daquele poço.

CASO a Petrobras decida livremente por não exercer esse direito, então uma outra empresa poderá fazer esse papel!

A Petrobras poderá até optar por não participar do consórcio q irá explorar determinada área… Tudo de acordo com a SUA conveniência e capacidade econômica e operacional!

Sendo assim, é mentirosa a versão de q o projeto faz parte de uma estratégia para se entregar o pré-sal ao “império do mal”….

    wsobrinho

    Vamos desenhar então: o projeto de Serra atual faz parte de um conjunto de projetos tucanos que por fim inviabilizaria o sistema de partilha. Veja bem se a Petrobrás não tem mais obrigatoriedade, ela vai ficar mercê de pressões do mercado, para reduzir os investimentos. Sem a Petrobrás como operadora, o governo perde o controle, essencial no modelo de partilha, pois ele deve receber uma parte do óleo extraído, o que não tem muito sentido com outra operadora (como controlar a venda deste óleo, e se não for interessante naquele momento vender? lembremos sempre da doença holandesa e da Indonésia). Sem a Petrobrás, perde força a lei de conteúdo nacional, pois fica mais difícil enquadrar um particular, e por aí vai, chegando no que ele PROMETEU PARA A CHEVRON via embaixada americana (wikileaks), mudar tudo e voltar ao sistema de concessão.
    Simples assim.

    Carlos Linhares

    Claro, claro…

    E ainda tem os marcianos q querem o nosso pré-sal!!!

    Como não pensei nisso antes!?

    Flaviano

    Caso a Petrobras decida livremente….kkkk

J Ferreira

Até quando São Paulo vai manter estes políticos no poder.
Os piores políticos ainda surgem de São Paulo. Absurdo

    Julio Silveira

    Meu caro, é perfeitamente compreensivel. É que São Paulo nunca se sentiu, ou quis ser Brasil, na verdade sempre foi um estado de lideranças com pretensões e ambições secessionarias , que só se manteve na republica Brasileira pela força. Por isso, essa rebeldia, e esse olhar sempre enviezado para seus co-irmãos, acham-se locomotivas que carregam vagões pesados e vazios, nunca se viram como um todo, como uma composição. Por isso São Paulo, meu caro tudo isso que a gente vê, por que ele é o estado mais estrangeiro do Brasil.

Carlos Linhares

O q o engenheiro petista não explicou é como se daria essa “entrega” do pré-sal, já q o projeto do Sen. José Serra retira a OBRIGATORIEDADE mas mantém o DIREITO da Petrobras ser a operadora do pré-sal.

Assim, a cada nova área leiloada, caberá à Petrobras fazer a análise de interesse comercial e financeiro para decidir se ela quer ser a operadora daquele poço.

CASO a Petrobras decida livremente por não exercer esse direito, então uma outra empresa poderá fazer esse papel!

A Petrobras poderá até optar por não participar do consórcio q irá explorar determinada área… Tudo de acordo com a SUA conveniência e capacidade econômica e operacional!

Sendo assim, é mentirosa a versão de q o projeto faz parte de uma estratégia para se entregar o pré-sal ao “império do mal”…

    Enrico

    muito “experto ” o Carlos. Ele só se esquece de dizer que Petrobras tem o Governo como seu principal Acionista. Numa democracia é normal a troca de poder e quando este poder cair nas mãos dos entreguistas, como o Serra eo PSDB, então eles dão o golpe final, pois eles indicaram para a presidente da Petrobras alguém para fazer o jogo deles.

    Carlos Linhares

    Pela teoria petista, toda vez q a Petrobras não se interessar em participar da exploração de uma árra do pré-sal, é “entreguismo”!?

    É pra levar a sério?

Julio Silveira

Quando será que o Brasil vai arremedar a legislação americana no trato aos traidores do país? Será que é só nisso que aqui se pensa que o que é bom para os States é ruim para o Brasil?

Cláudio

:

.:.

♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 ! ! ! !

♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Ed

Qual a novidade ? Nenhuma, o psdb e dai pra pior.
Eu entendo que qdo o negocio vai mal a gente procura um socio, mas o psdb faz o contrario. Qto mais burro o povo mais facil de enganar e como o pre-sal seria usado parte dos recursos pra educaçao, o psdb achou um jeitinho de fu.der com os brasileiros.
Sabe onde foi parar a diferença das privatizaçoes, o valor verdadeiro de mercado das empresas vendidas, no bolso desses caras. E e o que vai acontecer com a petrobras. NINGUEM faz isso de graça, algum leva por fora.

C.Paoliello

ADESÃO AOS BRICS GERA REAÇÃO DOS EUA:

http://mundo.sputniknews.com/firmas/20150730/1039805362.html

    Fabio SP

    O que dizer de um site que se chama sputniknews…. rs

Henrique

Excelente, Pedro Celestino, mostrando com argumentos irrefutaveis a precarização pretendida pelo obtuso Nosferatu da sanha anacrônica de poder de grupelhos que, protegidos pela midia, dilapidaram muito mais do que se projeta em apurações de corrupção tão arraigadamente promovidas hoje.
Serra parou no tempo. Não apresenta dados consustentes, manipula a opinião pública com jargões eleitoreiros produzidos pela midia golpista por anos a fio, e que seguem derrotados pela democracia permitida por eles mesmos.
O pais precisa de engenheiros que mostrem suas caras e esclareçam a verdade do progresso tecnológico ameaçado pelos discursos irresponsáveis e sanguessugas de quem so representa aqyela estirpe de ladrões profissionais muito experiente, íntima de todos os poderes e que não toleram mais continuar fora do jogo, apenas com o maior estado do país e algumas migalhas, para eles.
A Petrobras tem meu apoio, o Brasil e brasileiros como Pedro Celestino também.

Urbano

Enquanto isso, os bandidos da oposição ao Brasil estão investindo seriamente no segmento fundamentalismo, para os seus múltiplos poços de escaterina.

Silva

É preciso expressar e combater, de todas as forma, energicamente o avanço terrorista da direita farsista, que aos poucos vêm ameaçando os setores progressistas e as conquistas sociais do povo brasileiro historicamente conseguidos no governo Lula.

Deurival Castro

Digo FORCA.

    Fabio SP

    Nada como um discurso odiento de direita…

Deurival Castro

Esse Patético Senador, não era pra está onde colocaram ele, quem dedicou seu voto a esse Infame, tem culpa no cartório também! Esses Babacas do PSDB que nunca produziram nada, sempre venderam o que estava ao seu redor, merecem é uma força, cadeira elétrica, algo do gênero.

Deixe seu comentário

Leia também