Ministério da Saúde alerta:18,9% dos brasileiros abusam do álcool

Tempo de leitura: 5 min

por Conceição Lemes

Os brasileiros relatam cada vez episódios de abuso de bebida alcoólica. É o que revela pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP). Entrevistou 54 mil adultos.

“Em 2006, 16,2% da população referiram consumo excessivo de álcool; em 2009, cresceu para 18,9%”, observa Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde. “O levantamento mostra que as situações de descontrole são mais entre os homens. Em 2009, 28,8% dos homens e 10,4% das mulheres beberam demais.”

O Ministério da Saúde considera abuso de bebida alcoólica o consumo cinco ou mais doses na mesma ocasião em um mês, no caso dos homens, ou quatro ou mais doses, no caso das mulheres.

“Esse nível de consumo de bebida é bastante elevado e preocupante, pois é fator de risco para acidentes de trânsito, violência e doenças. Mas nem sempre isso é lembrado porque o álcool está presente na cultura brasileira, associado ao lazer e à celebração”, interpreta Deborah Malta.

VOCÊ BEBE MODERADA OU ‘‘PESADAMENTE”?

Os dados do Vigitel se assemelham aos de outros estudos feitos no Brasil.. Um deles é a pesquisa sobre o padrão de consumo de álcool e seus riscos na cidade de São Paulo, coordenada pela médica psiquiatra Laura Helena Andrade, responsável pelo Núcleo de Epidemiologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professora colaboradora da Faculdade de Medicina da USP.

“Pensou em dificuldades com bebida alcoólica, a imensa maioria das pessoas pensa na alcoolismo – a dependência que vem com o uso crônico, por tempo prolongado”, observa a médica Laura Andrade. “Ou seja, só considera problema quem fica doente por causa do álcool. Esse grupo é minoria. Mas existe outro problema, muito mais abrangente, que é o padrão de beber da população.”

“Existe uma porção de gente que, numa sentada, bebe a ponto de se intoxicar, se expondo a comportamentos de risco”, ressalta a professora Laura. “É o heavy drinking, ou beber ‘pesado’.”

“O que é o heavy drinking, ou beber ‘pesado’”?

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Bem, desde que você não vá dirigir, tudo bem, de vez em quando, se reunir com amigos, parceiros, familiares para celebrar, conversar, comer e “tomar alguma coisa”. Em geral, em pequenas doses, o álcool deixa as pessoas mais relaxadas, alegres e descontraídas, sem ameaçar a saúde. É o famoso beba com moderação.

E você, bebe com moderação? Pelo sim, pelo não, que tal fazer um teste bem simples preparado pela doutora Laura? Vamos lá? Primeiro, os homens. Pensem no consumo de bebida alcoólica no último mês. Você lembra de ter consumido em um único happy hour, balada, festa, evento:

1) Cinco latinhas de cerveja ou de garrafa pequena (long neck)?

2) Três garrafas normais de cerveja?

3) Cinco doses de uísque, vodca, aguardente ou rum? Uma dose, aqui, é aquela medida de dosador de destilados, que contém 36 ml. Normalmente, a “dose” de bares e restaurantes contém duas doses de destilado.

4) Três caipirinhas de vodka ou de aguardente? Em geral, são usadas duas ou mais doses do destilado para fazer uma caipirinha.

5) Cinco taças ou copos de vinho?

Agora, as mulheres. Pensem também no consumo de bebida alcoólica no último mês. Você lembra de ter consumido num único happy hour, balada, festa, evento:

1) Quatro latinhas de cerveja ou de garrafa pequena (long neck)?

2) Duas garrafas normais de cerveja?

3) Quatro doses de uísque, vodca, aguardente ou rum? Vale a explicação dada na pergunta dirigida aos homens.

4) Duas caipirinhas de vodka ou de aguardente? Lembre-se de que, em geral, são usadas duas ou mais doses do destilado para fazer uma caipirinha.

5) Quatro taças ou copos de vinho?

“Se respondeu não às cinco questões, significa que é você um (a) bebedor (a) moderado (a)”, diagnostica Laura. “Já o sim a qualquer uma das alternativas indica que você ultrapassou o limite da moderação; é um (a) bebebor (a) ‘pesado’ (a), ainda que ocasional.”

O chamado heavy drinking, ou beber “pesado”, significa o homem consumir cinco doses de álcool numa sentada; a mulher, quatro, já que seu organismo é naturalmente mais suscetível aos efeitos do álcool. “Uma vez por mês já é suficiente para se dizer que a pessoa tem padrão heavy”, justifica Laura. “Ele é bastante freqüente.”

Uma dose de álcool equivale ao consumo de uma latinha de cerveja (350 ml) ou de uma taça de vinho (de 120 ml) ou de uma dose de uísque, rum, vodca, aguardante ou outro destilado (36 ml). Num daqueles copinhos tradicionais de pinga, uma dose de destilado “pega” um pouco acima da segunda listra.

“Então se eu beber todo dia três doses sou bebedor moderado?”

Não.  Considera-se que um homem beba com moderação quando não ultrapassa 14 doses por semana; a mulher, 7 doses. “Acima disso por semana”, adverte Laura, “é um padrão de beber de risco, que pode levar à dependência.”

PADRÃO HEAVY E RISCOS LIGADOS À INTOXICAÇÃO

“É incrível como boa parte dos bebedores ‘pesados’ não tem noção de que ultrapassam o limite da moderação”, observa Laura. “Tanto o padrão heavy ocasional quanto o heavy e freqüente estão associados diretamente a vários problemas devido à intoxicação ou à ação biológica do álcool , independentemente de gênero.”

A lista de possíveis conseqüências imediatas da intoxicação pelo álcool é extensa:

* Estimula a violência doméstica e de rua.

* Favorece acidentes de trânsito (carro, moto, bicicleta, atropelamentos), no trabalho (operação de máquinas) e em casa (quedas). É que, mesmo em baixas doses, diminui os reflexos e a coordenação motora.

* Contribui para relação sexual sem proteção, ou seja, sem camisinha. Aumenta, assim, o risco de HIV, outras doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez não planejada.

* Prejudica a memória e o raciocínio.

* Aflora ou agrava dificuldades emocionais.

* Pode causar arritmia cardíaca: alteração dos batimentos cardíacos, causando palpitação; às vezes, essa alteração leva à morte.

“O padrão heavy nem sempre leva à dependência”, frisa Laura. “Porém, há risco, sim, de a pessoa perder o controle. E, ‘apesar dos problemas por causa da bebida’, continuar bebendo. É o que denominamos abuso do álcool. Se continuar bebendo assim,  pode chegar à dependência..”

BEBA COM MODERAÇÃO. NUNCA DIRIJA DEPOIS!

Por tudo isso, atenção:

1) Se não bebe, não se sinta compelido (a) a começar só porque os seus amigos bebem.

2) Se beber, faça-o – sempre! — com moderação.  A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como de baixo risco até duas doses de álcool por ocasião/dia para um homem e uma dose/dia para mulher.

3) Se estiver grávida, nem uma dose de bebida alcoólica. Há maior risco de aborto e de malformações.

4) Bebida alcoólica também é contra-indicada a quem sofre de doença no fígado ou no pâncreas, utiliza remédios que interagem com o álcool, como antidepressivos, ansiolíticos, antialérgicos e certos antibióticos.

5) Ao beber, faça-o junto com as refeições. O alimento ajuda a competir com o álcool na hora da absorção, tornando-a mais lenta.

6) Beba devagar. Beber deve ser para celebrar, confraternizar, e não para afogar as mágoas e tristezas nem resolver desencantos e dificuldades. O maior espaçamento entre os drinques faz a metabolização do álcool ocorrer aos poucos.

7) Se beber qualquer que seja a quantidade, não dirija carro ou moto nem ande de bicicleta. “Em hipótese alguma”, reforça a professora Laura Helena Andrade.  Vá de metrô, ônibus, táxi, ou peça a alguém que não bebeu para guiar. Você protege a sua vida, a das pessoas de quem gosta e a de quem está passando por perto. Afinal, bebida é para ser curtida e não para causar infelicidade, dor, sofrimento.

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Comentários

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ruypenalva

A porta do vício do alcool é a mesma porta de todos os vícios. Mas é mais fácil recuperar um alcoolatra do que um viciado em heroína e crack. O problema não é o alcool, é a personalidade fraca. Na Rússia, onde o frio torna o alcool uma necessidade, é um problema de saúde pública, mas aqui no Brasil não chega a ser uma epidemia.

Urbano

Só para descontração: quem bebe para ficar sóbrio, deveria abandonar a bebida alcoólica e passar a beber água de coco, refrigerante, café, leite, chá, etc

@rldigital

Álcool e cigarro são drogas pesadas. O fato de serem legalizadas não muda isso.

Só uso álcool para limpar vidros e desinfetar corrimão de escada.

Quem ingere álcool para "descontrair" ou "ficar alegre" deveria procurar um psicólogo.

Elias São Paulo SP

Quem se deleita com os efeitos inebriantes de qualquer etílico, o artigo da Conceição Lemes pode parecer uma pedrada na cabeça. O caso é que álcool é mesmo uma droga. Ninguém bebe só pelo paladar, bebe pelo efeito. Uma dose, sim, o cara sente o sabor, mas na terceira, quinta, sexta é só efeito. E na roda de amigos, então, os papos se inflamam e levam sempre ao "garçom, mais uma". E ainda se faz humor com essa praga. “Prefiro ser um bêbado famoso, a ser um alcoólatra anônimo”. Mas sabemos que a coisa é séria. Há quem seja capaz de dizer ao médico: eu não sou o alegre que o álcool me faz ser, e também não consigo ter a alegria que devia ter sem álcool. Ao que o médico responde: eu não sou médico homeopático e essa frase vai te levar a ser hepático. Enfim, moderação mesmo é não beber. E como?

    Elias São Paulo SP

    Correção: ‘Para’ quem se deleita com os efeitos do etílico…

Urbano

Gente, peraí, né? Isso é conversa para uma antevéspera de São Joao?

Alex

No comments…rsrsrsrs!

@diogojfaraujo

Bebo pq é líquido, se fosse ralado eu cheirava!!!

Hehehe, zueras a parte, acho que o consumo exagerado de qualquer coisa não é uma doença, e sim um problema de disciplina pessoal… Apesar que a OMS discordar e eu sou cozinheiro/economista, com nenhum fato a não ser minha experiëncia para contestar… Tirando crack, cola, heroína e outras drogas pesadas de verdade, o vício é mais psicológico do que físico… E isso digo por ter tido experiëncia no consumo de quase todas, durante os tempos de faculdade (longíssimos, alias – econometria!!!!!!!!!!!!)…

Eu penso que qualquer droga não deveria ter propaganda, e no caso do cigarro, bastaria parar de vender o tabaco em maços e fazer o fumante ter o trabalho de enrolar cada cigarro… Isso ia ser efetivo contra o consumo de tabaco… Quanto ao goró, tem que fiscalizar os motoristas… E legalizar a maconha, para o estado ganhar muuuita grana e financiar alguma coisa que preste, como combate ao cäncer, AIDS, dependëncia do crack, etc…

Hans Bintje

Trecho de "Porre gigante", por Ivan Lessa na BBC ( http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/05/… ):

"Os britânicos deram ao mundo, além da monarquia parlamentar bicameral, aquilo que se convencionou chamar de 'binge drinking'. Que, sem trocar as pernas, podemos serena e sobriamente traduzir por 'pifão colossal'.

Ou ainda, se quisermos mais uma ou duas, 'bebedeira monstro' ou 'pifão comunal'. O nome já diz tudo. Uma porção de gente, de comum acordo, e a horas, ou desoras, marcadas, vai e enche a cara. Mas enche a cara para valer.

Sai depois 'pela aí' fazendo as coisas que o Código de Hamurabi dos bêbedos, e até mesmo dos bêbados, manda que sejam seguidas. Cantam, provocam brigas, ficam sentimentais, quebram coisas, vomitam. A ideia geral já é conhecida. Conhecida nossa e todo mundo."

E no mesmo país, os bares estão em crise ( http://www.camra.org.uk/page.aspx?o=181078 ): "Segundo a nossa mais recente pesquisa em torno de 56 'pubs' fecham no Reino Unido a cada mês."

Uma epidemia de bebedeira ao mesmo tempo que os bares estão fechando? Como isso é possível?

1) A quantidade se tornou mais importante que a qualidade;

2) Na falta de qualidade, a propaganda procura associar a imagem da bebida a Peitos & Bundas, às Devassas da vida. Daí o lema: "não existe mulher feia, foi você que bebeu pouco";

3) A combinação desses fatores – bebida de baixa qualidade, consumida em grande quantidade, escolha de companhia feminina ou masculina sem muito critério – está tornando desnecessária a existência de um espaço de convivência como os "pubs". Para que conversar, se basta vomitar?

A reação de movimentos como a "Campaign for Real Ale" – CAMRA ( http://www.camra.org.uk/page.aspx?o=about ) é quebrar essa lógica perversa item por item:

1) Foco na maior qualidade da bebida;

2) Valorização da imagem feminina, muito mais interessante que um simples objeto sexual;

3) Revitalização dos espaços de convivência, de conversa.

É a certeza que o diálogo pode evitar o "pifão colossal" da existência humana.

dukrai

viiiiiiiiiiiiiiiixi, lasquei-me, ainda mais agora com a Copa. A gente podia fazer esta pesquisa aqui no Viomundo porque eu acho que tenho muuuuuuita companhia, duas doses numa sentada? Dá não, véi, eu vou ser que nem um amigo maconheiro, que diz que fuma da erva há 40 anos e até hoje não viciou.

Jairo_Beraldo

Eu fumei por 26 anos. Achava que nunca conseguiria largar deste vício nojento. E bebo desde os 16 anos, mas de forma moderada, tenho os meus dias para consumir bebida alcoolica. Sempre achei que da bebida largaria quando quisesse, e ainda não consegui deixar este vício. Pelo menos, não uso o alcool para ficar valente, para ficar mais relaxado. E bebo no meu quarto, assistindo Tv ou filmes, e até mesmo usando a internet. Mas é deprimente ser alcoolista e não largar.

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