por Conceição Lemes
Os remédios para emagrecer são mania nacional. É ligar televisão ou rádio, acessar internet, abrir jornal ou revista. Anúncios deles existem aos montes. Porém, os cientificamente testados e os aprovados são poucos. E todos — atenção! — ainda longe do ideal.
Desde o final de janeiro, um deles, a sibutramina, está proibido em todos os países da Europa. Nos Estados Unidos, a FDA, a agência de controle de alimentos e medicamentos, determinou a inclusão de novas contraindicações na bula do produto. A sibutramina não deve ser usada em pacientes com história de doenças cardiovasculares ou com fatores de risco para desenvolvê-las.
Aqui, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez o mesmo. Ainda em fevereiro, a Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme) fará nova avaliação dos estudos, para decidir se amplia as restrições do uso do remédio.
A decisão da Agência Europeia de Medicamentos (EMA – European Medicine Agency) de proibir a sibutramina foi a divulgação dos resultados do estudo denominado SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcomes). Durante seis anos, ele avaliou 10 mil pacientes obesos com risco aumentado de doenças cardiovasculares.
No grupo que tomou placebo (preparação neutra, com aparência do remédio verdadeiro, mas sem efeito farmacológico), 10% tiveram infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) ou parada cardíaca. Já no que tomou a sibutramina, a porcentagem foi maior: 11,45%. Um aumento de 16%, quando comparado ao tratado com placebo.
“O estudo foi feito com pacientes com história de doenças cardioavasculares para os quais geralmente nós já não prescrevíamos a sibutramina”, explica médica endocrinologista Maria Teresa Zanella, professora titular de Endocrinologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O médico endocrinologista Simão Lottenberg, do Serviço de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP, acrescenta: “Embora não houvesse contraindicação formal, a recomendação era de que fosse administrada com cautela em obesos hipertensos ou com problemas cardiovasculares, já que eventualmente a sibutramina pode aumentar a pressão arterial e causar arritmia [alteração do ritmo dos batimentos cardíacos]”.
A doutora Maria Teresa reforça: “Na prática, nós já adotávamos as contraindicações estabelecidas atualmente pela Anvisa em função do novo estudo”.
A DROGA IDEAL AINDA NÃO EXISTE; TODAS TÊM EFEITOS COLATERAIS
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“O fato é que, mesmo os aprovados, por si só não resolvem a obesidade. Eles apenas ajudam no processo de emagrecimento”, alerta Simão Lottenberg “Se não forem acompanhados de reeducação alimentar e atividade física, eles não funcionam. Todos ainda têm efeitos colaterais.”
“Na verdade, o desafio da ciência é conseguir uma droga que atue essencialmente na queima de calorias, de forma a gastar a gordura estocada a mais”, “Essa droga ainda não existe.”
Os remédios hoje disponíveis agem fundamentalmente no mecanismo de ingestão de calorias:
* Anfetamínicos – Mazindol, femproporex e anfepramona são os nomes químicos. “Primos” da anfetamina, eles aumentam a produção de adrenalina pelo organismo, diminuindo a fome no horário em que é tomado. Custam barato, mas produzem muitos efeitos colaterais: ansiedade, insônia, agitação, irritabilidade, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), devem ser usados em baixas doses, no máximo por três meses, pois causam dependência e, principalmente, tolerância: com o tempo, a pessoa precisa usar doses cada vez maiores para a medicação funcionar. E, aí, aumenta o risco de alterações psíquicas, cardíacas e de pressão arterial.
* Sibutramina – Mais segura do que os anfetamínicos, tira um pouco do apetite e aumenta a saciedade. Como qualquer medicação, pode provocar efeitos colaterais, como dor de cabeça, alterações emocionais e na pressão arterial. Portanto, seu uso deve ser monitorado, até porque não são todos que se beneficiam do tratamento: cerca de 60% dos usuários perdem peso; 40%, não.
“A sibutramina diminui a ansiedade, por isso é mais indicada para os comedores compulsivos”, informa Lottenberg. Outras drogas que aumentam a saciedade e têm sido usadas no tratamento da obesidade são a fluoxetina e a sertralina (antidepressivos) e o topiramato (anticonvulsivante).
* Orlistat – Diferentemente de anfetamínicos, sibutramina, fluoxetina, sertralina e topiramato, o orlistat não age no cérebro, portanto não tira o apetite nem aumenta a saciedade. Sua forma de atuação: ele diminui em 30% a absorção da gordura da alimentação. Seu efeito colateral mais importante é a diarreia: a maior quantidade de gordura no intestino faz com que ele funcione mais rápido, aumentando o número de evacuações diárias. Por vezes acontecem “acidentes”, principalmente quando se come algum alimento mais gorduroso. Assim como a sibutramina, pode ser usado por tempo prolongado e em cerca de 40% das pessoas não funciona. Custa muito caro.
“A opção por um desses remédios depende de cada caso. Tem de pesar risco, benefícios, efeitos colaterais, contraindicações e custo financeiro”, esclarece Lottenberg. “Por si só, nenhum é capaz de solucionar a obesidade. Eles são apenas coadjuvantes do processo de emagrecimento.”
“Além disso, quando as pessoas perdem cerca de 10% do peso, esses medicamentos fazem um platô”, chama a atenção Maria Teresa. “Isso significa que, mesmo que continuem sendo usados, a pessoa pára de emagrecer.”
Por tudo isso, atenção:
1) não existe droga milagrosa para emagrecer, nem aqui nem no restante do mundo; se alguém te prometer o contrário, está mentindo.
2) esses poucos remédios aprovados devem ser usados sob rigorosa prescrição médica;
3) não substituem em hipótese alguma a reeducação alimentar e a atividade física;
4) nenhum deles permite que se coma à vontade e ser sedentário; se não houver mudança no estilo de vida, não funcionam;
5) a mudança de hábitos é a única receita que faz você eliminar os quilos extras e manter o peso saudável por tempo prolongado. Com a vantagem de não ter efeitos colaterais e beneficiar toda a sua saúde.
Comentários
viomundo
Obrigado, Conceição. Estamos juntos.
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